domingo, 31 de janeiro de 2021

O SAPATEADO INVADE AS CASAS COM AULAS ONLINE E O INCONFUNDÍVEL SOM CADENCIADO

 Por Célia Ribeiro

Quando se fala em sapateado, a primeira ideia remete aos grandes musicais com Fred Astaire, Ginger Rogers e Gene Kelly. Com movimentos graciosos, eles transformavam o “toc..toc” das plaquinhas nos solados em sons cadenciados que entraram para a história. Em Marília, a escola Batukedopé, da sapateadora profissional e educadora Valéria Sanches, não desceu do salto no começo da pandemia: enviou mini tablados para as casas dos alunos e partiu para aulas online investindo na parte teórica sem esquecer da prática.

Apresentação na Virada Cultural

Em entrevista ao JM por WhatsApp, Valéria Sanches revelou que a Batukedopé foi a primeira escola de dança a fechar na pandemia, em 15 de março de 2020. Ela recebeu uma mensagem de uma amiga médica relatando a gravidade da situação e decidiu se antecipar para preservar os alunos de todas as faixas etárias, de crianças aos da terceira idade.

“No início foi muito confuso. Na primeira semana, fui criando e repensando estratégia de aulas online e primeiramente pensei como vou fazer isso? Muitas dúvidas e receio. Coloquei as ideias no lugar e pensei que nós do Batukedopé tínhamos que manter os alunos conectados de alguma forma com a nossa arte”, contou. Além do tablado nas residências, ela enviou vídeos gravados com exercícios e práticas de pequenas sequências de sapateado.

Valéria, sapateadora
 profissional e educadora

Acostumada com a alegria das aulas na escola, Valéria sentia falta de interação com os alunos. Por isso, tentou aulas ao vivo em um perfil do Instagram aberto só para suas turmas. Mas, queria mais: a troca com os alunos e daí surgiu a ideia de migrar para a plataforma Zoom, muito usada em videoconferências.

No entanto, também não deu certo, como ela explicou: “O sapateado tem a sua particularidade do som produzido pelos pés e o aplicativo cortava os áudios, ora da minha fala ora da música e do sapato também. E, finalmente, migramos para o Google Meet e conseguimos com esse aplicativo dar a continuidade nas aulas online tendo a interação esperada, na medida do possível”.

ESTRATÉGIAS

Interação online com alunos

Educadora física com pós-graduação em Educação Infantil e Arteterapia, Valéria Sanches usou seus 30 anos de experiência para incrementar as aulas: “Todo plano pedagógico foi adaptado à situação. Fizemos muitas aulas teóricas com pesquisas sobre a história do sapateado e incorporei noções de musicalidade. Para os pequenos, as aulas foram temáticas. Eu contava histórias acompanhada de vários acessórios cênicos e a cada aula treinávamos os passos novos dando um resultado incrível e encantador”, recordou.

Aluna Luiza Passos e seu mini tablado

Para Valéria, idade não é impedimento: “O Batukedopé atende alunos de três a 99 anos. Temos turmas iniciantes, intermediárias e avançadas, além das aulas para adultos e terceira idade. Uma particularidade da escola são as aulas para crianças de três a seis anos. Temos a turma do Brincatap que é um método de ensino criado por mim, que nasceu junto com a minha filha caçula que me acompanhava nas aulas desde a gestação. Observando-a, percebi que era possível através de uma aula lúdica ensinar crianças bem pequenas”.

A alegria do sapateado

DIFICULDADES

Como todos os segmentos, a escola passou por muitas provações: “Para nós, artistas, está sendo muito difícil. Tivemos que fechar a escola. Com isso, houve perda de muitos alunos e a renda caiu bastante, ao ponto de ter que negociar o aluguel. Houve uma ajuda da Secretaria da Cultura com o projeto Pratas da Casa, onde gravamos um pocket show e uma vídeo aula. Recebemos um cachê que ajudou. Outra situação foi a Lei Aldir Blanc que foi uma grande ajuda, recebemos um subsídio para manter o espaço”, citou.

Valéria contou que “tivemos, também, a honra de ser convidados a participar da Virada Cultural Paulista online. O projeto do Batukedopé, “Ser Tão Bão”, foi gravado no Teatro Municipal de Marília e transmitido para todo Brasil”. Ela lembrou, ainda, do desafio de fazer um espetáculo para encerrar 2020 aonde cada aluno foi gravado em sua casa: “O Que Foi Feito De Nós?”.

João (filho) e os artistas Jarbas Homem de Melo
Claudia Raia com Valéria 

Ela explicou que “as coreografias foram construídas durante as aulas online e ensaiadas. Contei com o auxílio dos pais para fazer as gravações e assim produzimos nosso espetáculo. Foi muito desafiador e emocionante. Transmitimos através do Canal do Youtube do Batukedopé no dia 12 de dezembro e convido todos a assistirem esse trabalho feito com muito amor”.

Para 2021, o que não faltam são planos, a começar de uma turma de sapateado para a terceira idade, a partir dos 55 anos. Valéria espera ansiosa a retomada das aulas: “A minha expectativa é que possamos voltar à vida, não como antes, mas com um olhar mais altruísta, um olhar mais amoroso para com o próximo. Pretendo voltar as aulas presenciais em março de uma forma bem diferente e cuidadosa, pensando que será terapêutico essa volta à prática da nossa arte que é Sapatear”.

Fotos de musicais inspiram na entrada da escola

Ela finalizou afirmando que aprendeu “com essa pandemia que é possível, através da arte, deixar a vida mais leve. Procurei fazer coisas diferentes, como por exemplo, comecei a cultivar orquídeas, várias plantas e essa prática me fez muito bem”. Além disso, fez cursos online com profissionais dos Estados Unidos e da França e ainda encontrou tempo para estudar música: “Estou aprendendo a tocar Ukulelê. Essa pandemia abriu esse espaço. Estamos tão distantes e tão conectados ao mesmo tempo; tudo isso foi possível perante o equilíbrio emocional e a esperança que tudo vai passar. Tenho muita gratidão a Deus e aos meus alunos que confiaram e continuaram conosco nesse momento tão difícil”.

Para saber mais sobre o Batukedopé: www.batukedope.com.br.  Contato 14 997042871 - atendimento pelo WhatsApp. Fan page:  Batukedope Espaço de Arte e Sapateado e Instagram @batukedope

Leia reportagem de 2018 da escola acessando AQUI

*Reportagem publicada na edição de 31.01.2021 do Jornal da Manhã



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