domingo, 20 de setembro de 2020

PATCH & PANO: ALUNAS DE ATELIÊ COSTURAM PEÇAS PARA DOAÇÃO NA QUARENTENA

Por Célia Ribeiro

Destinada ao descarte, uma tirinha de tecido colorido pode se tornar protagonista em uma peça original. Sua sorte está atrelada à sensibilidade e ao talento de quem a observar com cuidado, enxergando além dos fiapos. Em um ateliê de Marília, cada pequeno retalho de tecido é o centro das atenções pelas mãos habilidosas das alunas da professora Adriana Coimbra que, durante a pandemia, aproveitaram o tempo livre para costurarem jalecos e máscaras para doação.

Adriana Coimbra

Localizado na região central, o ateliê “Patch & Pano” sentiu o impacto da pandemia nos primeiros trinta dias. Com 45 alunas, em três períodos, a professora Adriana contou que o choque foi grande porque, mais que um local para aprender artesanato, como a técnica do Patchwork, a escola também possui uma lojinha com criações das alunas. De portas fechadas, sem aula e sem vendas, ela chegou a temer pelo futuro.

Para sua surpresa, as alunas mantiveram o pagamento em dia e aproveitaram para exercitarem a solidariedade costurando máscaras para doação a quem necessitasse, incluindo moradores em situação de rua, além de jalecos destinados aos profissionais de saúde dos hospitais que estão atendendo pacientes do Covid-19. Além disso, estão sendo confeccionadas peças de artesanato para entidades gerarem renda.

As aulas foram retomadas recentemente e com todos os cuidados. Ao invés de cinco alunas por turno, agora são apenas três, todas usando máscara e mantendo o distanciamento nas respectivas máquinas de costura. Frascos de álcool em gel estão por toda parte e, assim, o tempo passa que elas nem percebem.

Mieko, Célia e Adriana

Na última segunda-feira, Adriana recebeu a reportagem do JM acompanhada da pedagoga e ex-diretora aposentada, Célia Carmanhani Branco e da professora aposentada Mieko Chimada que participavam do tradicional lanche do fim da tarde. Elas falaram da alegria em reencontrar as amigas no ateliê e de poder utilizar o artesanato para ajudarem as pessoas neste momento difícil.

Kit berço faz sucesso

“No começo da pandemia, todas se concentraram em costurar jalecos para profissionais de saúde. Resolvemos não fazer coisas para nós, mas jalecos e máscaras para doação. No primeiro mês, o ateliê parou e todo mundo se doou”, recordou a ex-diretora. Cerca de 15 alunas se engajaram e deram sua contribuição para que as doações chegassem a quem mais necessitava.

KIT BERÇO

Com o ateliê inativo, Adriana Coimbra contou um fato curioso: o crescimento de encomendas de kit berço com peças para recém-nascidos. Segundo ela, o aumento pode ser explicado pelo fechamento do comércio e pela necessidade das mamães em adquirirem peças originais; afinal, elas podem escolher a combinação de tecidos e contar com os itens exclusivos para seus bebês.

Quanto à lojinha, a professora disse que havia uma grande quantidade de itens à venda no início de março. E uma amiga, “comentando que as pessoas estavam tristes por não poderem sair para consumir, levou uma sacola cheia de trabalhos e vendeu tudo”, revelou. A procura por encomendas também se refletiu em artigos de cozinha como capas de galão de água, toalhas de mesa, entre outros, “porque as pessoas ficaram mais em casa e resolveram renovar algumas coisas”, justificou.

Colcha de retalhos da garota Bárbara

Célia Carmanhani disse que a pandemia “trouxe pra gente exatamente uma sensação do que está acontecendo no mundo, que nós precisamos uns dos outros. Cada uma de nós colocou uma dose de carinho para doar para alguém. A gente não pode abraçar tudo, mas a gente abraçou um pouquinho”. Ela mostrou as peças que estava confeccionando para doar a um centro espírita: kit composto de cesta para pães e toalha de chá que será sorteado com renda para a entidade.

Babi está costurando uma linda colcha

Ela prosseguiu afirmando que “nós somos seres consumistas. Às vezes, a gente faz sacola, mas a gente só vai usar uma e faz mais três. Nós paramos com isso. Vimos que não precisamos mais fazer tantos panos de prato, mas este ano estamos fazendo para doar. Cada uma de nós cresceu neste momento unindo esta força que nós temos. A Adriana tem uma coisa muito bacana porque ela agrega muito as pessoas”.

Célia Branco mostra tecidos do
próximo trabalho que será doado

Por sua vez, a professora Adriana comentou que “no ateliê, as meninas são muito companheiras, não são só alunas. Isso dá mais força para a gente tocar e trabalhar”. Já Mieko disse que no início, “ficamos três semanas sem ateliê e surtei um pouco vendo as notícias na TV. Desliguei a televisão, desencanei e tudo começou a funcionar. Retomamos a produção de trabalho voluntário e acabamos adaptando a vida com outros afazeres que antes não eram importantes. Uma ajudando a outra e isso mantém a gente unida”. 

Bolsa para bebês

CRIANÇAS

Adriana Coimbra possui algumas meninas entre suas alunas, a partir dos 11 anos. Uma delas, Bárbara Carmanhani, surpreendeu ao aceitar um desafio. Sem festinhas de aniversário que motivavam a confecção de presentes como estojinhos, mochilas e capas de agenda, a estudante de 12 anos acatou a sugestão da professora para costurar uma colcha de retalhos para sua cama.

“Começamos cortando um quadradinho”, lembrou a professora, explicando que a ideia era terminar o trabalho ao fim da pandemia. Mas, a dedicação de Babi, como é chamada, foi tanta que o trabalho já está bem adiantado. Adriana contou que a aluna disse que pregará sua etiqueta na colcha “para que seus netos acreditem que foi ela que costurou durante a pandemia. Imagina o tanto de história que ela vai ter para contar quando crescer?”, finalizou.

Para saber mais sobre o ateliê, nas redes sociais o perfil é https://www.instagram.com/patch.pano/. O endereço é Avenida Sampaio Vidal, 228 e telefone (14) 996356921.

Leia mais sobre o ateliê Patch & Pano, em reportagem de 2018, acessando AQUI

*Reportagem publicada na edição de 20.09.2020 do Jornal da Manhã



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