domingo, 9 de agosto de 2020

PANDEMIA MUDA HÁBITOS DE CONSUMO COM IMPACTO NO DESCARTE DE RECICLÁVEIS.

Por Célia Ribeiro

Além das consequências nefastas para a saúde e a economia, a pandemia do novo coronavírus contribuiu para o agravamento de um problema crônico, em Marília: a correta destinação dos resíduos sólidos. Com a mudança de hábitos da população, que deixou de frequentar bares e restaurantes e passou a consumir mais alimentos e bebidas em casa, as garrafas PET, latas de alumínio e embalagens que eram encaminhadas para a reciclagem acabaram nos aterros sanitários misturadas ao lixo orgânico.
Vera Rojo em frente a um dos equipamentos da recicladora
Enquanto nos bares, hotéis, restaurantes e lanchonetes era comum a separação de recicláveis destinados aos catadores ou recicladores mais organizados, nas residências a maior parte da população não tem o hábito de separar os materiais, optando por colocar no mesmo saco de lixo os resíduos orgânicos e o que poderia ser reaproveitado.

Gerente Milena Dallapria e Vera Rojo, 
que também é artista plástica
A observação é da empresária e artista plástica Vera Rojo, diretora da Vegui Comércio de Recicláveis, localizada no Distrito Industrial, em Marília. Com 11 anos de atividades, a empresa é uma das principais do setor no interior de São Paulo, coletando materiais na cidade e também junto às cooperativas de municípios da região como Pompeia, Assis e Garça.
Área reservada às embalagens plásticas
Com 40 colaboradores, número menor em comparação ao início do ano, a Vegui movimentou 1,026 milhão de quilos de recicláveis no mês de julho, proveniente de garrafas PET, vários tipos de plástico, papel, papelão, metais etc. Ela explicou que o fechamento do comércio fez com que o consumidor migrasse para as compras pela internet. Assim, as embalagens que as lojas físicas costumavam reservar para os recicladores estão sendo descartadas pelo consumidor no lixo comum.
Papelão separado em fardos para transporte
Segundo Vera Rojo, embora Marília não conte com um sistema de coleta seletiva formal, os cerca de 1.000 catadores, os chamados “carrinheiros”, são muito organizados. Eles comercializam os materiais junto a parceiros que os classificam e repassam para a Vegui que trabalha com grandes volumes, sobretudo de empresas locais que se adequaram à Política Nacional de Resíduos Sólidos.

A empresa possui todas as licenças ambientais, segue as rigorosas regras do setor e mantém uma rede de parceiros em vários municípios. Conforme disse, “temos caminhões e caçambas e fazemos a coleta na cidade inteira”, assinalando que Marília poderia reduzir muito o volume de lixo descartado nos aterros sanitários se houvesse conscientização da população e uma ação firme do poder público no sentido de incentivar a coleta seletiva.
 Funcionário manobra empilhadeira
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Vera Rojo afirmou que “o que falta em Marília é educação para o pessoal saber o que é reciclado e o que não é, na hora do descarte. Precisa ter a conscientização da população de Marília e partir para a classificação. Por exemplo, na rua tem só saco preto, e o reciclador tem que abrir o saco para ver o que tem dentro. Se tivesse saco de lixo em cores diferentes já ajudaria”, pontuou.
Tela pintada por Vera Rojo

Ela comentou que a crise econômica, que agravou o desemprego em Marília, também pode ser sentida no aumento do número de catadores. Muitas pessoas estão encontrando nos materiais recicláveis uma fonte de renda, ainda que tímida, e concorrendo com os catadores que já viviam da atividade.

Vera Rojo defendeu a educação ambiental como uma importante aliada para aumentar a coleta seletiva e reduzir o volume dos aterros sanitários: “É preciso fazer alguma coisa, o poder público incentivar, fazer campanhas nas escolas orientando as crianças desde pequenas. A natureza está sofrendo muito e o que temos vivido, ultimamente, é reflexo dos danos ao meio ambiente”, frisou, referindo-se ao surgimento do Covid-19.

Finalizando, a empresária ressaltou que a Vegui não recebe materiais avulsos e nem direto dos catadores, mas de parceiros que se organizaram e estão em contato com esses recicladores. No entanto, sugeriu que a população se organizasse, como no caso de condomínios residenciais, “para adotar um programa de gerenciamento de resíduos com benefícios para todos e para a natureza”.

A Vegui está localizada à Avenida Carlos Tosin, 1195, Distrito Industrial, em Marília. O telefone é (14) 21058000.

Reportagem publicada na edição de 09.08.2020 do Jornal da Manhã

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.