sábado, 1 de agosto de 2020

DE PASSATEMPO À GERAÇÃO DE RENDA: ARTESÃO SE REINVENTA COM RECICLÁVEIS


Por Célia Ribeiro

No meio corporativo, muito se fala do ideograma chinês segundo o qual crise é sinônimo de oportunidade. Mas, para quem está fora do mercado de trabalho e tem que lutar por um lugar ao sol em plena pandemia, vale tudo para sobreviver, até transformar o passatempo de finais de semana em ganha-pão para reforçar o orçamento doméstico, como fez o profissional de marketing Carlos Roberto Milani.
Roberto recebe ajuda do Rafinha, o "filho-neto".

Aos 58 anos, com passagens por grandes empresas nas áreas comercial e de marketing, sua experiência e currículo irretocáveis não foram suficientes para vencer a crise do desemprego. Por isso, diante de tantas negativas, ele viu que era hora de tentar algo novo, quando tomou coragem para mostrar seus trabalhos aos amigos.

Os pingômetros, que utilizam garrafas de uísque que seriam descartadas, adegas confeccionadas com retalhos de madeira, bandejas com sobras de azulejos, entre outros itens, aos poucos se tornaram conhecidos. Como resultado, vieram as encomendas: um presente personalizado aqui, outra lembrancinha de última hora ali, e a área de lazer da residência transformou-se em uma oficina de artesanato.
Pingômetro para cachaça e destilados
Ao lado do “filho-neto” como ele se refere ao Rafinha, e com apoio da esposa Elaine e da filha Larissa Milani, Roberto uniu o prazer das artes manuais à geração de renda. Com isso, enquanto aguarda uma oportunidade no mercado formal, segue criando uma peça melhor que a outra aonde coloca atenção e cuidado aos detalhes.

HORA DE ARRISCAR

Disponível no mercado há quase um ano, Roberto atribui à idade o principal fator limitante. Disse que seus amigos relatam o mesmo e lamenta ter um currículo com muita experiência, inclusive em empresas multinacionais e, mesmo assim, não ter uma oportunidade de mostrar seu potencial.
Bandeja para café da manhã

Diante desse cenário desanimador, o artesão encarou o desafio de colocar a mão na massa e focar na produção de uma linha que reaproveita vidro, madeira, ferro, entre outros recicláveis: “Eu fazia algumas artes em casa, mas com madeira rústica e não tinha tempo. E que bom que não tinha, pois estava trabalhando e fazia isso nos finais de semana. Como gosto de flores e plantas, queria colocá-las em um lugar bonito e via na casa de amigos trabalhos em madeira e vasos de flores em artesanato. Fui pesquisar e percebi que conseguiria fazer”, recordou.

Usando o tempo livre para pesquisar na internet, acessou blogs e sites em que artesãos ensinavam algumas técnicas. Aliás, a essas pessoas ele faz questão de agradecer porque foram inspiração para que seguisse adiante. No caso do vidro, foi sugestão do noivo da filha, Marcelo Amancio. Após quebrar muitos vidros em tentativas frustradas, Roberto apurou a técnica e hoje faz trabalhos impecáveis como os pingômetros para armazenar cachaça e outros destilados.
Mini-adega: espaço para vinhos e taças

Como matéria prima, ele encontra muita coisa em locais de descarte: “Hoje se alguém passar e me vir mexendo em uma caçamba de entulho dirá ‘nossa o que o Roberto Milani está fazendo, mexendo em uma caçamba de lixo ou entulho de construção?’ É ali que está o segredo da arte do artesão, transformar o lixo em luxo. Vejo o que tem, seleciono e o que me interessa pego sim e transformo em artes de lixo a luxo”, destacou, bem humorado.

O filho, Lyon Milani, marceneiro que reside em Campinas, deu uma sugestão ao pai: procurar uma marcenaria e negociar os retalhos porque naquela cidade muitas pessoas sobrevivem do resíduo da marcenaria em que ele trabalha. E assim fez Roberto ao procurar a Marcenaria Carvalho, cujos proprietários Carvalho e Danilo aceitaram fornecer os retalhos de madeira que o artesão transforma em lindas peças. 
Suporte para vasos de plantas
SUPERAÇÃO

O artesanato, enquanto atividade terapêutica, é um santo remédio para afastar a depressão e a tristeza nesses tempos bicudos. No caso do Roberto Milani, a arte tem imposto a ele um desafio atrás do outro. Quando alguém pede uma peça que ele nunca fez, começa a pesquisar, a estudar o projeto e se surpreende, feliz da vida, com o resultado alcançado. Ele se supera a cada dia.

Roberto na oficina de casa
Falando sobre o futuro, Roberto Milani disse que sonha em voltar ao mercado formal de trabalho, sobretudo em suas áreas de maior conhecimento como a comercial e o marketing. Mas, o artesanato o acompanhará para sempre, como atividade de fim de semana quando, ao lado da satisfação de concluir cada peça estará a tranquilidade pelo equilíbrio profissional conquistado, afirmou, cheio de esperança.

Para entrar em contato com o artesão, seu telefone é: (14) 997326811. Entre os principais produtos que disponibiliza estão: pingômetro em MDF fórmica com madeira rústica, bandejas de café da manhã, porta-canecas de chope e adegas para vinho e taças.


*Reportagem publicada na edição de 02.08.2020 do Jornal da Manhã



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.