“Deus sempre nos perdoa. A natureza não”. A frase, lançada durante a entrevista sobre a Campanha da Fraternidade 2.011, pelo padre Marcos Roberto Marques Ortega, é autoexplicativa. O planeta não suporta mais as agressões do homem e se manifesta em incontáveis desastres ambientais, contabilizando um nefasto saldo de perdas materiais e, pior que isso, de milhões de vidas.
Cartaz da campanha |
Coordenador diocesano da Campanha da Fraternidade da Diocese de Marília, o padre Marcos Ortega explicou que a campanha aproveita o período quaresmal, de preparação para a Páscoa (morte e ressurreição de Jesus Cristo), para lançar uma semente de reflexão aos fiéis. Embora organizada com muita antecedência e exigindo o envolvimento de todas as paróquias e a comunidade, a campanha só terá resultados mensurados a longo prazo.
“A igreja traz o tema para a reflexão, justamente para um conhecimento maior e uma tomada de consciência do povo, não só do católico, mas de outras comunidades, a respeito da problemática do aquecimento global”, assinalou o coordenador. Conforme disse, “nosso papel diocesano é formar multiplicadores. A iniciativa de atividades é bem paroquial e cada um faz a sua ação”.
Na prática, continuou o padre, “cada comunidade tem a liberdade e o dever de trabalhar o tema na sua cidade”. Ele citou a destinação do lixo urbano: as pessoas de determinada paróquia “podem procurar as autoridades municipais e solicitar que seja trabalhada essa ideia para que Marília tenha coleta seletiva de lixo”, exemplificou.
Padre Marcos Ortega, coordenador diocesano |
AQUECIMENTO GLOBAL
Tendo como tema “Fraternidade e Vida no Planeta” e o lema “A criação geme em dores de parto” (citação bíblica de Romanos 8,22), a campanha da igreja católica foca no aquecimento global . “Nós, o povo, de uma maneira geral, temos o dever de preservar o planeta e o dever de cobrar das autoridades” que façam sua parte, afirmou o coordenador.
Ele lembrou que os estragos não podem ser revertidos: “A água que já derreteu das geleiras nos polos norte e sul não volta mais pra lá; essa água vai, com certeza, ao longo dos anos, tomando posse das áreas costeiras dos continentes. Isso é uma coisa clara. Não se volta atrás”. Dessa forma, prosseguiu o padre, “a tomada de consciência, agora, é para a gente tentar frear o processo de aquecimento global. Mas, o que danificou, danificou.”
O padre Marcos Ortega também falou sobre as mudanças climáticas no Brasil: “A devastação da Amazônia está mudando o clima, as queimadas estão abrindo buracos na camada de ozônio. Os raios solares vão entrar com maior intensidade e teremos mais câncer de pele. O clima está maluco. Já viu carnaval com frio? Este ano tivemos carnaval com frio”, enfatizou.
Todas as iniciativas ecologicamente corretas devem ser praticadas enquanto é tempo, frisou o padre, citando: a destinação correta do lixo, a reciclagem e reutilização de materiais que seriam descartados na natureza, não lançar óleo vegetal na pia, substituir sacolas plásticas pelas de tecido, economizar energia elétrica e adotar o consumo consciente de água etc.
“Este é um grito de alerta. A missão primeira da igreja é a evangelização. Mas, o lado social está muito ligado a isso”, observou para, em seguida, acrescentar: “Evangelizar é falar da palavra de Deus. E a palavra de Deus não fala do amor ao próximo? O amor ao próximo passa por isso, preocupar-se com as futuras gerações. Daqui a 200 anos a situação poderá estar muito mais complicada”, afirmou.
SUSTENTABILIDADE
De acordo com o coordenador diocesano da Campanha da Fraternidade, a sustentabilidade entra em cena para que todos pensem no futuro: “Uma parte da campanha é que nós precisamos começar a pensar numa economia que seja sustentável. Você não pode só tirar da natureza. Uma hora vai acabar”.
Mário César Vieira Marques, secretário municipal do Meio Ambiente |
Ele citou o consumismo exacerbado como outra questão a ser observada: “Se todo mundo resolver consumir no ritmo dos norte-americanos, precisaríamos de três vezes mais de matéria prima no planeta”. Olhando para a caneta esferográfica, o padre comentou: “Ao invés de jogar essa caneta fora, por que não comprar só o refil dela? E se possível devolver o refil interno para que a BIC preencha com tinta de novo?”
“A vida não foi criada por Deus simplesmente para se consumir, mas para que ela possa se realizar como ser humano”, observou o padre, concluindo: “Pela gravidade, não é uma campanha que estamos falando dos índios, de quem está passando fome na África. Pobre e rico sofrem os efeitos do aquecimento global. Se o rico tem casa na praia a água vai chegar lá, se a encosta não cair antes. Não tem alternativa nem para o pobre, nem para o rico. A gente tem que fazer alguma coisa e agora”.
No site da CNBB, há vasto material da campanha como partituras de músicas, informes e o cartaz. Acesse: http://www.cnbb.org.br/ e clique em campanhas.
RECICLAGEM
Algumas sugestões: em Marília, os consumidores podem levar o lixo reciclável na estação do Supermercado Pão de Açúcar: papel, plástico, vidro e metal. O lixo reciclável é doado para os catadores da Cotracil (Cooperativa de Catadores de Recicláveis Cidade Limpa) que sobrevivem da venda dos materiais.
Aposentado leva recicláveis ao Pão de Açúcar |
No caso do óleo usado de cozinha, o Supermercado Confiança recebe o produto armazenado em garrafas pet. A cada 4 litros de óleo usado, o consumidor recebe uma garrafa de 900 ml de óleo de soja novo. Este óleo é usado na fabricação de biodiesel.
Vale lembrar que cada litro de óleo lançado na pia da cozinha, e que vai para o esgoto, contamina um milhão de litros de água nos córregos e rios.
* Reportagem publicada na edição impressa de 20.03.2011 do "Correio Mariliense"
http://www.correiomariliense.com.br/
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