domingo, 26 de abril de 2015

“Dentistas do Bem”: Megatriagem selecionará crianças e adolescentes de baixa renda para atendimento odontológico gratuito.

Por Célia Ribeiro

No próximo dia 28 de abril, quando se comemora o “Dia Mundial do Sorriso”, milhões de crianças e jovens, sem acesso à saúde bucal, não têm motivos para sorrir. Felizmente, graças a uma ação de voluntariado essa realidade vem mudando no Brasil, em Portugal e em mais 12 países da América Latina onde a “Turma do Bem” (TdB) aportou com o projeto “Dentistas do Bem”. Marília, que participa desde 2.009, realizará na terça-feira, uma megatriagem para selecionar estudantes da rede pública, na faixa de 11 a 17 anos, para receberem atendimento odontológico gratuito até completarem 18 anos.


Atendimento gratuito até a maioridade
Com resultados que crescem em projeção geométrica, Marília se destaca entre 1.300 municípios do Brasil e exterior. Apesar de contar com aproximadamente 500 cirurgiões-dentistas, a cidade registra 80 profissionais voluntários. Parece pouco. Mas, em 2012 eram 46 participantes e a coordenadora local, Dra. Ana Carolina Massaro, continua incansável na missão de atrair mais voluntários necessários à ampliação do número de beneficiários.

Há dois anos eram 100 crianças e jovens atendidos. Em 2014, o “Dentistas do Bem” de Marília registrou 220 beneficiários, o que representa um aumento de 120 por cento. A esses números soma-se a capacidade de articulação da coordenadora Dra. Ana Carolina que conseguiu apoio da Prefeitura e da Câmara Municipal para avanços nas políticas públicas.
 
Dra. Ana Carolina: "Melhor Dentista do Mundo"
Como reconhecimento, a coordenadora, que já tinha se classificado entre os 50 melhores profissionais, por três anos consecutivos, recebeu a maior honraria concedida pela Turma do Bem aos voluntários melhor avaliados, em 2014. “Para a Turma do Bem, o ‘Melhor Dentista do Mundo’ é aquele que fez mais por seu município. Ou seja, além de atender jovens e crianças, ainda fez a diferença na sua cidade e região conquistando mudanças nas políticas públicas, espaços na imprensa, divulgação do projeto e o aumento de parcerias e voluntários”, afirmou o fundador e presidente voluntário da TdB, Dr. Fábio Bibancos.


Triagem: dentistas voluntários examinam as crianças e jovens
Após três dias de capacitação e integração, o “Prêmio Sorriso do Bem”, que escolheu o “Melhor Dentista do Mundo”, foi entregue à mariliense em noite de gala. “Foi uma surpresa enorme. Eu não imaginava que Marília fosse ficar com o melhor resultado entre 1.300 municípios do Brasil, Portugal e 12 países da América Latina”, comentou.

Ela explicou que “são avaliados quesitos como número de dentistas voluntários novos que a gente consegue trazer no período de um ano; o número de crianças encaminhadas e o que se consegue em políticas públicas”. Neste sentido, Dra. Ana Carolina destacou a distribuição de kits de higiene bucal (escova, creme e fio dental) às escolas e Unidades Básicas de Saúde.
 
Vereadora Sonia Tonin e Dra. Ana Carolina na homenagem
prestada pela Câmara Municipal de Marília
A coordenadora afirmou que o secretário municipal da Assistência Social, Hélio Benetti, “abraçou a causa distribuindo kits de higiene bucal também em todas as unidades da Casa do Pequeno Cidadão, fornecendo vale-transporte para as crianças e acompanhantes durante o tratamento e a medicação necessária, como antibiótico, anti-inflamatório e analgésico. Antes, muitas crianças não iam para o tratamento porque moram na periferia e os consultórios dos dentistas voluntários ficam no centro da cidade”, justificou.

Solidariedade
 
Recordistas: Dr. Walter atende 10 crianças
“A gente sabe que está fazendo o bem para a criança e para o jovem. Mas, acho que o bem maior é para a gente que está atendendo”, disse a coordenadora determinada na busca de melhores resultados. “É preciso ter um pouco mais de amor ao menos favorecido, àquele que não teve uma oportunidade na vida”, acrescentou.

Para a Dra. Ana Carolina, com boa vontade será possível aumentar o número de profissionais: “Em Marília temos 80 voluntários na rede. O dentista é quem define quantas crianças ou adolescentes ele quer atender”, explicou. Enquanto tem profissional que atende um, e ajuda muito o projeto, existem casos como o do Dr. Walter Katsumi Kamigashima que oferece atendimento gratuito a 10 crianças. Ele foi eleito o “Melhor Dentista do Bem de Marília”. Merecidamente!

Megatriagem

Em Marília, a megatriagem, promovida pela Turma do Bem e Oral –B, acontecerá no dia 28 de abril, das 9 às 16 horas, no Espaço Cultural Ezequiel Bambini. Crianças e adolescentes, na faixa etária de 11 a 17 anos, devem estar acompanhados de um responsável e apresentar: documento de identidade, comprovante de matrícula em escola pública e comprovante de residência. Após responder a um questionário aplicado por estudantes da Faculdade de Odontologia da Unimar, os interessados passarão pela avaliação clínica com os dentistas voluntários.
 
Triagens já aconteceram em escolas e unidades da "Casa do Pequeno Cidadão"
Após a seleção, crianças e adolescentes encaminhados terão o atendimento odontológico gratuito até completarem 18 anos. Serão considerados “os que estão em piores condições bucais; os mais próximos de obter o primeiro emprego e os mais carentes”, explicou a coordenadora local.

“Este ano, escolhemos o ‘Dia Mundial do Sorriso’ para mostrar que ainda existem milhões de pessoas, em todo o mundo, sem acesso a uma saúde bucal digna”, explicou o fundador e presidente voluntário da Turma do Bem, Dr. Fábio Bibancos. No Brasil e exterior o projeto deve receber por volta de 60 mil crianças e jovens na megatriagem de 2014.

Para entrar em contato com a Dra. Ana Carolina, escreva para: acarolmassaro@hotmail.com Para conhecer mais sobre a ONG, acesse: www.turmadobem.org.br
Em 2013, “Marília Sustentável” fez uma reportagem sobre os “Dentistas do Bem” que você confere aqui: AQUI


Obs: Fotos cedidas pela Dra. Ana Carolina de seu arquivo pessoal

domingo, 19 de abril de 2015

"Escolinha da Mata": com os pés na terra, crianças se divertem e aprendem educação ambiental.

Por Célia Ribeiro

Brotando da terra, a água cristalina flui acariciando as pedras e a exuberante vegetação em direção ao Rio Canganha, na Fazenda Rosângela da Amoreira. Localizada no município de Oriente, altura do km 465 da Rodovia João Ribeiro de Barros, a propriedade abriga um dos mais instigantes projetos de educação ambiental: a Escolinha da Mata que atrai milhares de crianças ansiosas por vivenciarem experiências incríveis em contato com a floresta nativa.
Água pura na Escolinha da Mata

A idealizadora da Escolinha da Mata, Fernanda Redondo Peixoto, 36 anos, cresceu em contato com a natureza. Entretanto, encontrou a inspiração para realizar um antigo sonho durante o período em que morou em Chicago. Formada em Hotelaria, ela deixou Londrina para trabalhar em um hotel nos Estados Unidos, oportunidade em que conheceu a ONG “Trees for the Future”.
 
Ampla área para atividades








Em pouco tempo, Fernanda já estava estudando e pesquisando sobre agroflorestas. Da teoria para a prática foi um pulo. “Fiz cursos na ‘Trees’, que me pareceu muito séria e mantém projetos em mais de 80 países”, contou, explicando que acabou contratada pela ONG para atuar na elaboração e gerenciamento de projetos agroflorestais.


Fernanda: sonho da vida inteira
“Dentro da agrofloresta a gente trabalha com 11 espécies implantando o sistema para tornar o solo improdutivo em produtivo, através do plantio de árvores para alimentação do gado e diferentes funções para gerar recursos para o produtor”, informou, destacando a moringa como uma espécie considerada “superalimento” por suas propriedades medicinais.

Em 2.009, de volta ao Brasil para implantar um projeto elaborado por ela e aprovado pela ONG, Fernanda foi convidada a coordenar projetos no País. “Trabalhando com a moringa eu abri projetos no Nordeste, Mato Grosso, Acre e interior de São Paulo, em assentamentos, associações de apicultores etc, sempre em grupo porque é mais fácil trabalhar”, assinalou.

Através de parcerias, a “Trees for the Future” ostenta a invejável marca de 2,8 milhões de árvores plantadas. “Eu vou aos locais, dou o curso, dou a semente e os parceiros fazem o monitoramento”, explicou Fernanda, citando que a maior procura está relacionada à contenção de erosão e plantio de cercas-vivas. “Os técnicos parceiros monitoram os projetos uma vez por mês. Eu volto depois de um ano ao projeto”, acrescentou.

Educação ambiental
 
Monitor dá informações antes do passeio
Viajando o Brasil inteiro, Fernanda constatou, com tristeza, “que as crianças e os jovens estavam indo embora do campo, deixando seus pais nas atividades porque eles não queriam trabalhar em áreas rurais”. Foi quando teve a ideia de fomentar um projeto de educação ambiental para que os pequenos valorizassem a terra, respeitassem a natureza e pudessem se fixar no campo dando continuidade ao trabalho de suas famílias.
 
Espaço projetado para as crianças
Com a comprovação científica dos benefícios da moringa para a saúde (tem quatro vezes mais cálcio que o leite, três vezes mais potássio que a banana, quatro vezes mais Vitamina A que a cenoura e sete vezes mais Vitamina C que a laranja), a espécie tornou-se uma importante aliada da ambientalista.


Trilha na floresta
“O Centro de Recursos Agroflorestais Trees for the Future, com sede nos Estados Unidos, desenvolveu no estado de são Paulo, projetos de cunho socioambiental com famílias de pequenos produtos rurais, de junho de 2008 a junho de 2014 e projetos educacionais em escolas promovendo a disseminação da espécie moringa oleífera, apoiando pesquisas e doando mudas”, destaca a apresentação da Fernanda.

A ambientalista explicou que além de dar aula de educação ambiental nas escolas e de plantar sementes de moringa, incentivava o uso da farinha das folhas da árvore. O resultado desse trabalho foi comprovado na alimentação diária dos estudantes em algumas escolas. Através do exame de sangue realizado nos alunos, os indicadores mostraram os benefícios do superalimento. Como não poderia deixar de ser, “o trabalho conquistou um prêmio internacional pela ONG com quem mantinha vínculo de trabalho”, acrescentou.

E nasceu a escolinha

Feliz por levar aos estabelecimentos de ensino as informações de cunho ambiental, Fernanda decidiu incrementar as ações trazendo a escola para o meio da floresta. Assim nasceu a “Escolinha da Mata”: na propriedade da família, onde vive com o marido e dois filhos, Fernanda colocou em prática um pouco do que aprendeu com a “Trees”.
 
Crianças aprendem a valorizar a água
Tratou de construir uma casa com base na permacultura: “Comecei a construir minha casa aqui. Não tinha muito dinheiro, mas queria seguir a filosofia de uma construção com o mínimo de impacto ambiental. A bioconstrução usa parede de barro, tratamento de esgoto natural e a casa foi ficando muito legal. Foi dando tudo certo”, recordou.
 
Lápis coloridos
para os desenhos
“Quando consegui juntar um pouco de dinheiro deu para construir a ‘Escolinha da Mata’. Eu ia às escolas, mas se eu tinha tudo isso aqui eu queria que as crianças pudessem vir aqui, também”, enfatizou. E o sucesso foi tão grande que, atualmente, a escolinha recebe de 120 a 150 crianças por dia, distribuídas em dois períodos.


Farinha e bolo de moringa: delicioso
Com muito verde, as crianças conhecem a nascente de água, o sistema de tratamento natural de esgoto, o reuso de água (chuveiro e pia), horta, percorrem a trilha na floresta nativa e de vez em quando são brindadas pela visita dos macaquinhos em busca de frutas deixadas em locais estratégicos. As crianças plantam sementes de moringa e depois participam da oficina de culinária onde fazem bolo da farinha da planta que é degustado com suco natural ao fim do passeio.

Aproveitando a oportunidade, Fernanda preparou um cinema onde são exibidos filmes de educação ambiental. Já os professores são brindados com material didático completo para continuarem a exposição do assunto em sala de aula.
 
Parede de barro: bioconstrução
“Em 2015, começamos a trabalhar por temas. Esse ano é a água, pela problemática que estamos enfrentando. Tem uma mina que é uma das nascentes do Rio Canganha. Bem no fundo da minha casa nasce a água puríssima. As crianças fazem o passeio na floresta e vão conhecer a mina d’água, onde bebem a água”, assinalou.
 
Reuso da água do chuveiro e
da pia na irrigação
Como Fernanda ainda está vinculada à ONG norte-americana que a remunera, a Escolinha da Mata só cobra uma pequena taxa para as visitas visando custear a estrutura e os três funcionários. São 12 reais por criança.

“Hoje estou viajando menos e coordenando menos projetos. Estou desacelerando. Não abri novos projetos e vou ao Nordeste só uma vez por ano para dar os cursos”, disse, acrescentando: “O que mais quero é fazer isso, estruturar a escolinha”. E, com os olhos verdes, da cor da mata, brilhando, encerrou explicando a mudança de foco: “Consegui o sonho da vida inteira”.
 
Com a filha Pietra, mamãe mostra as maquetes sobre o ecossistema
Para agendar uma visita à “Escolinha da Mata”, entre em contato pelo e-mail: escolinhadamata@outlook.com No Facebook, o endereço é: facebook.com/escolinhadamata.

Links úteis:


Obs: Fotos de atividades na escolinha são do arquivo pessoal de Fernanda Redondo Peixoto

domingo, 12 de abril de 2015

Educandário: a obra idealizada, há 60 anos, por Bento de Abreu sobrevive graças à solidariedade dos vicentinos.

Por Célia Ribeiro

No final de 2013, esgotando-se o prazo concedido pela Santa Casa de Misericórdia de Marília para a desocupação da área doada por Bento de Abreu, para a construção de um orfanato, religiosos e voluntários do Educandário Bento de Abreu Sampaio Vidal entraram em desespero diante das incertezas que cercavam a manutenção de uma das mais longevas e importantes obras sociais do município. Quase um ano e meio depois, a instituição está de pé graças à Sociedade São Vicente de Paulo, que assumiu a obra, e voluntários da Associação Amigos do Educandário, com apoio do poder público municipal.
  
Modelagem de pães: delícias que os meninos consumem na entidade
Funcionando provisoriamente no prédio do Patronato, cedido pela Comunidade Santa Izabel, o Educandário atende cerca de 90 meninos, de 07 a 15 anos, de famílias de baixa renda moradoras das zonas norte e sul de Marília. As instalações tiveram que passar por adaptações que demandaram muitos recursos. Mas, como em tudo que envolve a entidade, a solidariedade falou mais alto e o dinheiro apareceu pelas mãos dos voluntários da Associação Amigos do Educandário e da indústria Carino, que doou 20 mil reais para a construção dos vestiários.

A área que abriga o Educandário, apesar de menor que a anterior e sem as instalações de outrora, permitiu a continuidade do atendimento que faz com que os meninos dos bairros mais pobres recebam acompanhamento escolar, alimentação, pratiquem atividades físicas e aprendam sobre cidadania. Desde 1957, passaram pela instituição mais de 3000 meninos, a maioria formada por órfãos.

Oficina de marcenaria do prédio antigo: sonho
de retomar as atividades na nova construção
“Não temos o espaço de antes. A oficina de marcenaria, por exemplo, não conseguimos instalar. Ela funcionava no período da tarde, com orientação do SENAI, para capacitação dos adolescentes”, explicou o Irmão Agenor Lima, diretor religioso da entidade. Ao lado da assistente social Anilza Damine de Lima, ele  se mostrou esperançoso diante da nova fase que se delineia, com a construção de prédio próprio em área da Sociedade São Vicente de Paulo, na zona sul.

O número de garotos atendidos, por sua vez, diminuiu bastante. Dos cerca de 150, apenas 90 estão sendo assistidos. “Muitas escolas da região que atendíamos passaram a funcionar em período integral”, comentou o Irmão Agenor. Por isso, ainda há vagas disponíveis uma vez que a Prefeitura de Marília tem dado suporte à instituição, através da cessão de funcionários, transporte escolar e alimentação.
 
Laboratório de informática: preparando para o futuro
“Não podemos reclamar. Tudo o que o prefeito Vinicius nos prometeu está sendo cumprido”, elogiou o religioso, destacando o papel da Câmara Municipal: “Quando fomos falar com o prefeito e pedir ajuda para não fechar o Educandário, os vereadores estavam lá nos apoiando”, ressaltou. Conforme disse, com a mudança na documentação da instituição, que agora tem CNPJ próprio, os dirigentes vão em busca dos Certificados de Utilidade Pública Municipal e Estadual.

Semeando para o futuro

De segunda a sexta-feira, pouco depois das 7 horas, chegam os primeiros ônibus trazendo os garotos das zonas norte e sul. Eles são recebidos com um nutritivo café da manhã e depois seguem para atividades em sistema de rodízio: enquanto um grupo faz a tarefa com acompanhamento de professoras da Rede Municipal de Ensino, outro participa de atividades esportivas e os demais vão para aulas de informática.
 
(Esq) Irmão Agenor e Anilza na saída das crianças
Após passarem por todas as atividades, os meninos tomam banho, almoçam e são transportados às escolas de seus bairros. Por isso, ao final do dia, da aula seguem direto para suas casas, informou a assistente social.

Ela explicou que uma das atividades mais importantes é a tarefa monitorada. Além das professoras cedidas pela Secretaria Municipal da Educação, há professores voluntários que atuam no reforço de determinadas matérias. “Por exemplo, se um aluno está com dificuldade em matemática, temos uma professora voluntária que o ajuda”, afirmou Anilza Damine.

“A nossa preocupação é que a criança não apenas passe de ano, mas que consiga aprender porque lá na frente vai precisar disso”, observou o Irmão Agenor. Segundo ele, o maior investimento que se pode fazer é na educação de qualidade para que esses meninos possam desenvolver suas potencialidades no futuro: “Queremos preparar essas crianças para o amanhã”.
 
Irmão Agenor acompanha os meninos em atividades externas.
Neste dia, a pescaria foi boa!
Embora estejam suspensas as oficinas profissionalizantes (Panificação e Marcenaria), antes desenvolvidas junto aos jovens de 15 a 18 anos, a panificadora é utilizada como atividade lúdica e também para a produção de pães, roscas e doces consumidos pelas crianças. Com a orientação do padeiro, os meninos ajudam a modelar pães, aprendem a fazer salgadinhos etc. Eles não manuseiam equipamentos e nem chegam perto do forno, assinalou Irmão Agenor, mas têm contato com a atividade e poderão se interessar por ela futuramente.

“É sempre uma alegria quando eles estão lá. Na Páscoa, fizemos chocolatinhos e eles levaram para casa”, contou o religioso. Por sua vez, a assistente social informou que as atividades na panificadora também contribuem para “trabalharmos a questão da higiene e até da coordenação motora dos pequenos que usam massas para modelar os pães”.

Promoções

Sonhando com a construção que será levantada em área da Sociedade São Vicente de Paulo, na zona sul, Irmão Agenor destacou o apoio da Associação Amigos do Educandário. Graças aos eventos promocionais (venda de pizza, feijoada, almoços beneficentes etc), são levantados recursos que ajudam na manutenção da entidade e serão de grande importância quando iniciarem as obras.
 
Alegria na saída do Educandário: bem alimentados e prontos para a aula.
Irmão Agenor também agradeceu o apoio da Comunidade Santa Izabel: “O prédio do Patronato gerava renda para a comunidade que o utiliza para catequese, mas não pode alugar o salão para eventos como antes”. No local funciona o refeitório do Educandário: “Graças a Deus, tivemos muito apoio e a obra continua”, concluiu, enquanto seguia para acompanhar a saída dos meninos até o transporte escolar.

E assim, de banho tomado, bem alimentados e com a lição de casa pronta, os garotos partiram cheios de energia para uma tarde na escola, com a certeza que amanhã será um novo dia com todas as coisas boas que a solidariedade humana, presente na obra de Bento de Abreu, pode proporcionar-lhes.
Para saber mais sobre o Educandário, acesse reportagem de novembro de 2013, clicando AQUI.

Obs: Fotos das crianças são do arquivo pessoal do Irmão Agenor.

sábado, 4 de abril de 2015

COMO A APICULTURA ESTÁ AUMENTANDO A RENDA NO CAMPO E CONTRIBUINDO PARA A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL.

Por Célia Ribeiro

Os benefícios do mel são conhecidos desde a antiguidade por suas propriedades medicinais e valor nutricional. Mas, para centenas de pequenos produtores rurais da região de Marília, a apicultura representa uma importante fonte de renda além de contribuir para o equilíbrio ambiental em suas propriedades, tendo em vista o papel das abelhas na polinização das culturas.
Flor de eucaliptos atrai abelhas

Olhando para algumas décadas atrás, os apicultores têm hoje bons motivos para comemorar. Após anos de incontáveis desafios, a Associação dos Apicultores de Marília e Região (AMAR) conquistou uma sede própria, a “Casa do Mel”, e obteve o registro do SIF (Serviço de Inspeção Federal) que lhe permite colocar no mercado um produto de alta qualidade testado nos laboratórios da Unimar (Universidade de Marília).

“A ideia de formar a associação vem de mais de 10 anos”, contou o presidente da AMAR, Fernando Mauro Lopes Ferreira, citando o pioneirismo do zootecnista Valter Eugênio Saia e de Antônio Fernando Scalco que aceitaram o desafio de reunirem pequenos agricultores interessados na apicultura, além daqueles que já se dedicavam à atividade.
 
As caixas ocupam pouco espaço na natureza
“Os dois organizaram a primeira reunião na CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – Secretaria Estadual da Agricultura) convocando interessados através do jornal. Eles esperavam meia dúzia de apicultores. Mas, para surpresa geral, lotou o auditório com mais de 100 pessoas”, recordou Fernando.
 
Apicultores na sede da entidade
Depois deste pontapé inicial, o projeto ganhou corpo. A Prefeitura abraçou a ideia e construiu uma sede para a associação, na zona norte (Rua Eugênio Coneglian, 2558), inaugurada em 2012. No entanto, sem o registro do SIF e a estrutura necessária ao envase do mel, muitos desanimaram e ficaram pelo caminho, desligando-se da instituição. Dos cerca de 150 associados iniciais, apenas 100 apicultores permaneceram.

Esforço recompensado

Quem perseverou hoje colhe doces frutos. Com o apoio do SEBRAE, os associados participaram de cursos de capacitação para extração do mel, manejo das caixas com enxames, aquisição de maquinário em inox e adequação das instalações seguindo as rígidas normas sanitárias que norteiam o setor.

De acordo com Fernando Ferreira, “ainda não temos unidade extratora na associação, o que pretendemos no futuro quando mudarmos para um local maior. Hoje, o produtor tem o apiário na propriedade dele, onde extrai o mel e faz a centrifugação. Ele traz os baldes com o produto para a associação que encaminha amostras para análise na Unimar. Após a aprovação, o mel é decantado por 48 horas e envasado em embalagens de um quilo, meio quilo e 280 gramas”.

Rigoroso controle de qualidade
antes do envase da produção
Com o selo da AMAR e rótulo do SIF contendo todas as informações técnicas, o mel é entregue ao produtor que se encarrega de comercializa-lo junto aos seus clientes, geralmente pequenos mercados, padarias, farmácias etc, pagando à associação uma pequena taxa pelo envase. “A ideia é um dia contarmos com uma cooperativa. A AMAR é uma instituição sem fins lucrativos e por isso não pode comercializar a produção”, explicou o presidente.

O pequeno produtor entrega o mel a 14 reais o quilo para revenda. Apesar disso, o consumo per capita no Brasil é muito pequeno em relação a outros países. Segundo o presidente da AMAR, consome-se 200 gramas por pessoa, por ano. Nos Estados unidos, o consumo é de dois quilos per capita. “Com a disparada do dólar, muita gente está preferindo exportar e poderá haver falta de mel no País”, observou.
 
Marca registrada: segurança para o consumidor
Abelha não respeita cerca

“O pequeno agricultor tem as abelhas como uma fonte de renda viável economicamente. Hoje, com a questão ambiental, todos os proprietários têm que fazer o cadastro rural e determinar uma área de 20 por cento que tem que cercar, como área de preservação permanente. É uma área do proprietário, mas que não pode explorar”, informou o presidente da associação.

Entretanto, prosseguiu, “como abelha não respeita cerca, pode usar para a apicultura. É uma opção para transformar aquilo em uma fonte de renda. A abelha vai voando na flor, pega o néctar e traz para a colmeia. É uma atividade alternativa de baixo custo, fácil de manejar e que dá renda”.


Fumaça controlada para acalmar as abelhas
e realizar a retirada do mel com segurança
Uma abelha chega a fazer 17 viagens por dia até a colmeia, em um raio de 500 metros, passando por 50 mil flores. Por isso, seu papel é essencial na agricultura para a polinização das culturas. Já existe mercado de locação de colmeias para propriedades com queda na produção. Um dos fatores que impacta na redução da população de abelhas é o uso indiscriminado de defensivos agrícolas.

“Na Europa e Estados Unidos tem um produto banido, que ainda é usado no Brasil, que está acabando com as abelhas”, alertou Fernando Ferreira. No Rio Grande do Sul há notícias sobre uma devastação que atingiu 4.500 colmeias. “A abelha é muito sensível. Quando ela pega o agrotóxico ela não produz mel, ela morre. E se ela levar esse veneno para a colmeia vai matar as outras abelhas, também”, enfatizou o apicultor.
 
Detalhe da caixa no apiário
“A apicultura tem muitas vantagens porque é uma atividade que pode colocar em qualquer lugar na zona rural, não ocupa espaço, aproveita a mata e ainda faz a polinização das culturas”, acrescentou o presidente da AMAR, citando que “no Rio Grande do Sul é onde mais se ganha dinheiro com aluguel de colmeia para polinização de culturas, como a maçã e a pera. No estado de São Paulo já começou essa tendência, também, só que por causa do agrotóxico tem apicultor que prefere vender a colmeia ao invés de aluga-la devido aos riscos de mortandade”.

Paixão à primeira vista

A história de amor de Fernando com a apicultura começou há quase 20 anos. Profissional de Recursos Humanos de uma grande metalúrgica, por 36 anos, ele nunca se imaginou no meio do mato. Até que um dia, passando o fim de semana no sítio da família no distrito de Jafa (Garça), ele foi chamado para filmar a colheita de mel.
 
Apicultores vão a congressos nacionais e internacionais: eventos o ano
todo para troca de experiências e obtenção de conhecimentos.
“Nunca tinha colocado aquela roupa. Meu pai criava abelha e produzia mel só para consumo da família e naquele dia comecei a me interessar”, recordou com o sorriso entregando o momento da conquista. Não tardou e Fernando foi atrás dos equipamentos necessários, como a roupa protetora que lembra trajes de astronautas, e dos primeiros enxames comprados em Quintana.


Fernando: dedicação total à AMAR
onde faz até o envase de mel
“Era uma válvula de escape. Eu ficava preso no escritório o dia inteiro, na área de RH onde comecei aos 14 anos e fiquei até me aposentar, um ano atrás. Era uma terapia mexer com apicultura”, contou Fernando que disse estar imune às ferroadas das abelhas: “Toda semana era uma ferroada. No começo inchava. Com o tempo fui criando resistência”, disse, entre gargalhadas.

Aos 51 anos, gozando da merecida aposentadoria, Fernando dedica-se à atividade profissionalmente com muito prazer. Tem mais de 150 colmeias espalhadas por áreas de Pompéia, Padre Nóbrega, Garça, Vera Cruz e Marília onde consegue de duas a três colheitas por ano.
Trajes de proteção (Foto: Mercado Livre)
“Quem quiser se iniciar na apicultura precisa se informar, ter noções de segurança, principalmente, além de comprar equipamentos (bota, macacão, luvas), fumegador, formão etc, encontrados em lojas especializadas”, disse o presidente da associação. Só com orientação e a estrutura adequada é que se pode começar a atividade com segurança.

Projeto urbano

Com tempo para se dedicar à apicultura, Fernando comemora uma nova conquista: a Fundação Banco do Brasil aprovou um projeto para a AMAR adquirir equipamentos de envase de sachês, além de um veículo utilitário. Serão 94 mil reais doados para a instituição. “Com os sachês de mel poderemos entrar na merenda das escolas. Isso representará um grande avanço para os apicultores da cidade”, destacou.
 
Enxame retirado de uma
residência: perigo na cidade.
Outra ideia que pretende colocar em prática é um programa em parceria com a Prefeitura, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros para instalação de “caixas-isca” para captura de enxames de abelha na zona urbana. “Dessa forma, resolveremos um problema sério porque com a falta de locais adequados na zona rural, como buraco de árvore, de pedras, onde se sintam seguras, as abelhas estão migrando para a cidade, formando enxames em caixas de energia, em forro de residências e isso é um problema grave”. Ao capturar essas abelhas com as iscas, a associação poderá doa-las aos novos apicultores que se iniciarem na atividade.


A Associação participa de eventos
 educativos nas escolas e locais públicos
Depois de tanto tempo como de gestor de Recursos Humanos, Fernando Ferreira só poderia mesmo se interessar pelas abelhas. Afinal, elas são amigas da natureza, trabalham sem cessar e ainda adoçam a vida. Merecem o prêmio de colaboradoras do ano!


Para entrar em contato com o presidente da AMAR, Fernando Mauro Lopes Ferreira, escreva para: fmlferreira@terra.com.br ou ligue: (14) 997254917

Obs: À exceção da foto do Fernando, as demais imagens são de seu arquivo pessoal.