domingo, 19 de abril de 2015

"Escolinha da Mata": com os pés na terra, crianças se divertem e aprendem educação ambiental.

Por Célia Ribeiro

Brotando da terra, a água cristalina flui acariciando as pedras e a exuberante vegetação em direção ao Rio Canganha, na Fazenda Rosângela da Amoreira. Localizada no município de Oriente, altura do km 465 da Rodovia João Ribeiro de Barros, a propriedade abriga um dos mais instigantes projetos de educação ambiental: a Escolinha da Mata que atrai milhares de crianças ansiosas por vivenciarem experiências incríveis em contato com a floresta nativa.
Água pura na Escolinha da Mata

A idealizadora da Escolinha da Mata, Fernanda Redondo Peixoto, 36 anos, cresceu em contato com a natureza. Entretanto, encontrou a inspiração para realizar um antigo sonho durante o período em que morou em Chicago. Formada em Hotelaria, ela deixou Londrina para trabalhar em um hotel nos Estados Unidos, oportunidade em que conheceu a ONG “Trees for the Future”.
 
Ampla área para atividades








Em pouco tempo, Fernanda já estava estudando e pesquisando sobre agroflorestas. Da teoria para a prática foi um pulo. “Fiz cursos na ‘Trees’, que me pareceu muito séria e mantém projetos em mais de 80 países”, contou, explicando que acabou contratada pela ONG para atuar na elaboração e gerenciamento de projetos agroflorestais.


Fernanda: sonho da vida inteira
“Dentro da agrofloresta a gente trabalha com 11 espécies implantando o sistema para tornar o solo improdutivo em produtivo, através do plantio de árvores para alimentação do gado e diferentes funções para gerar recursos para o produtor”, informou, destacando a moringa como uma espécie considerada “superalimento” por suas propriedades medicinais.

Em 2.009, de volta ao Brasil para implantar um projeto elaborado por ela e aprovado pela ONG, Fernanda foi convidada a coordenar projetos no País. “Trabalhando com a moringa eu abri projetos no Nordeste, Mato Grosso, Acre e interior de São Paulo, em assentamentos, associações de apicultores etc, sempre em grupo porque é mais fácil trabalhar”, assinalou.

Através de parcerias, a “Trees for the Future” ostenta a invejável marca de 2,8 milhões de árvores plantadas. “Eu vou aos locais, dou o curso, dou a semente e os parceiros fazem o monitoramento”, explicou Fernanda, citando que a maior procura está relacionada à contenção de erosão e plantio de cercas-vivas. “Os técnicos parceiros monitoram os projetos uma vez por mês. Eu volto depois de um ano ao projeto”, acrescentou.

Educação ambiental
 
Monitor dá informações antes do passeio
Viajando o Brasil inteiro, Fernanda constatou, com tristeza, “que as crianças e os jovens estavam indo embora do campo, deixando seus pais nas atividades porque eles não queriam trabalhar em áreas rurais”. Foi quando teve a ideia de fomentar um projeto de educação ambiental para que os pequenos valorizassem a terra, respeitassem a natureza e pudessem se fixar no campo dando continuidade ao trabalho de suas famílias.
 
Espaço projetado para as crianças
Com a comprovação científica dos benefícios da moringa para a saúde (tem quatro vezes mais cálcio que o leite, três vezes mais potássio que a banana, quatro vezes mais Vitamina A que a cenoura e sete vezes mais Vitamina C que a laranja), a espécie tornou-se uma importante aliada da ambientalista.


Trilha na floresta
“O Centro de Recursos Agroflorestais Trees for the Future, com sede nos Estados Unidos, desenvolveu no estado de são Paulo, projetos de cunho socioambiental com famílias de pequenos produtos rurais, de junho de 2008 a junho de 2014 e projetos educacionais em escolas promovendo a disseminação da espécie moringa oleífera, apoiando pesquisas e doando mudas”, destaca a apresentação da Fernanda.

A ambientalista explicou que além de dar aula de educação ambiental nas escolas e de plantar sementes de moringa, incentivava o uso da farinha das folhas da árvore. O resultado desse trabalho foi comprovado na alimentação diária dos estudantes em algumas escolas. Através do exame de sangue realizado nos alunos, os indicadores mostraram os benefícios do superalimento. Como não poderia deixar de ser, “o trabalho conquistou um prêmio internacional pela ONG com quem mantinha vínculo de trabalho”, acrescentou.

E nasceu a escolinha

Feliz por levar aos estabelecimentos de ensino as informações de cunho ambiental, Fernanda decidiu incrementar as ações trazendo a escola para o meio da floresta. Assim nasceu a “Escolinha da Mata”: na propriedade da família, onde vive com o marido e dois filhos, Fernanda colocou em prática um pouco do que aprendeu com a “Trees”.
 
Crianças aprendem a valorizar a água
Tratou de construir uma casa com base na permacultura: “Comecei a construir minha casa aqui. Não tinha muito dinheiro, mas queria seguir a filosofia de uma construção com o mínimo de impacto ambiental. A bioconstrução usa parede de barro, tratamento de esgoto natural e a casa foi ficando muito legal. Foi dando tudo certo”, recordou.
 
Lápis coloridos
para os desenhos
“Quando consegui juntar um pouco de dinheiro deu para construir a ‘Escolinha da Mata’. Eu ia às escolas, mas se eu tinha tudo isso aqui eu queria que as crianças pudessem vir aqui, também”, enfatizou. E o sucesso foi tão grande que, atualmente, a escolinha recebe de 120 a 150 crianças por dia, distribuídas em dois períodos.


Farinha e bolo de moringa: delicioso
Com muito verde, as crianças conhecem a nascente de água, o sistema de tratamento natural de esgoto, o reuso de água (chuveiro e pia), horta, percorrem a trilha na floresta nativa e de vez em quando são brindadas pela visita dos macaquinhos em busca de frutas deixadas em locais estratégicos. As crianças plantam sementes de moringa e depois participam da oficina de culinária onde fazem bolo da farinha da planta que é degustado com suco natural ao fim do passeio.

Aproveitando a oportunidade, Fernanda preparou um cinema onde são exibidos filmes de educação ambiental. Já os professores são brindados com material didático completo para continuarem a exposição do assunto em sala de aula.
 
Parede de barro: bioconstrução
“Em 2015, começamos a trabalhar por temas. Esse ano é a água, pela problemática que estamos enfrentando. Tem uma mina que é uma das nascentes do Rio Canganha. Bem no fundo da minha casa nasce a água puríssima. As crianças fazem o passeio na floresta e vão conhecer a mina d’água, onde bebem a água”, assinalou.
 
Reuso da água do chuveiro e
da pia na irrigação
Como Fernanda ainda está vinculada à ONG norte-americana que a remunera, a Escolinha da Mata só cobra uma pequena taxa para as visitas visando custear a estrutura e os três funcionários. São 12 reais por criança.

“Hoje estou viajando menos e coordenando menos projetos. Estou desacelerando. Não abri novos projetos e vou ao Nordeste só uma vez por ano para dar os cursos”, disse, acrescentando: “O que mais quero é fazer isso, estruturar a escolinha”. E, com os olhos verdes, da cor da mata, brilhando, encerrou explicando a mudança de foco: “Consegui o sonho da vida inteira”.
 
Com a filha Pietra, mamãe mostra as maquetes sobre o ecossistema
Para agendar uma visita à “Escolinha da Mata”, entre em contato pelo e-mail: escolinhadamata@outlook.com No Facebook, o endereço é: facebook.com/escolinhadamata.

Links úteis:


Obs: Fotos de atividades na escolinha são do arquivo pessoal de Fernanda Redondo Peixoto

2 comentários:

  1. Muito boa a matéria que mostrou mais um equipamento turístico educacional da nossa região. A Amoreira é muito bonita, um dos recantos com maior biodiversidade aqui a região e abriga e preserva muitos animais silvestres.

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  2. Tive a oportunidade de conhecer parte da fazenda Amoreira, isso foi antes da escolinha, já era um local cheio de exemplos do bom relacionamento entre os seres humanos e a natureza, vários projetos seguindo técnicas de permacultura me chamaram a atenção. Parabéns Fernanda por ter criado as condições necessárias para estar socializando tantas informações para nossas crianças. Parabéns também à Célia que com sua magnífica matéria, trouxe o melhor desse paraíso para o conhecimento dos que tiverem a sorte de acessar seu lindo blog, que também é uma conquista para nós marilienses.

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