Por Célia Ribeiro
Brotando da
terra, a água cristalina flui acariciando as pedras e a exuberante vegetação
em direção ao Rio Canganha, na Fazenda Rosângela da Amoreira. Localizada no
município de Oriente, altura do km 465 da Rodovia João Ribeiro de Barros, a
propriedade abriga um dos mais instigantes projetos de educação ambiental: a
Escolinha da Mata que atrai milhares de crianças ansiosas por vivenciarem
experiências incríveis em contato com a floresta nativa.
Água pura na Escolinha da Mata |
A
idealizadora da Escolinha da Mata, Fernanda Redondo Peixoto, 36 anos, cresceu
em contato com a natureza. Entretanto, encontrou a inspiração para realizar um
antigo sonho durante o período em que morou em Chicago. Formada em Hotelaria,
ela deixou Londrina para trabalhar em um hotel nos Estados Unidos, oportunidade
em que conheceu a ONG “Trees for the Future”.
Em pouco
tempo, Fernanda já estava estudando e pesquisando sobre agroflorestas. Da
teoria para a prática foi um pulo. “Fiz cursos na ‘Trees’, que me pareceu muito
séria e mantém projetos em mais de 80 países”, contou, explicando que acabou
contratada pela ONG para atuar na elaboração e gerenciamento de projetos
agroflorestais.
“Dentro da agrofloresta
a gente trabalha com 11 espécies implantando o sistema para tornar o solo
improdutivo em produtivo, através do plantio de árvores para alimentação do
gado e diferentes funções para gerar recursos para o produtor”, informou,
destacando a moringa como uma espécie considerada “superalimento” por suas
propriedades medicinais.
Em 2.009, de
volta ao Brasil para implantar um projeto elaborado por ela e aprovado pela
ONG, Fernanda foi convidada a coordenar projetos no País. “Trabalhando com a
moringa eu abri projetos no Nordeste, Mato Grosso, Acre e interior de São Paulo,
em assentamentos, associações de apicultores etc, sempre em grupo porque é mais
fácil trabalhar”, assinalou.
Através de
parcerias, a “Trees for the Future” ostenta a invejável marca de 2,8 milhões de
árvores plantadas. “Eu vou aos locais, dou o curso, dou a semente e os
parceiros fazem o monitoramento”, explicou Fernanda, citando que a maior
procura está relacionada à contenção de erosão e plantio de cercas-vivas. “Os
técnicos parceiros monitoram os projetos uma vez por mês. Eu volto depois de um
ano ao projeto”, acrescentou.
Educação ambiental
Viajando o
Brasil inteiro, Fernanda constatou, com tristeza, “que as crianças e os jovens
estavam indo embora do campo, deixando seus pais nas atividades porque eles não
queriam trabalhar em áreas rurais”. Foi quando teve a ideia de fomentar um
projeto de educação ambiental para que os pequenos valorizassem a terra,
respeitassem a natureza e pudessem se fixar no campo dando continuidade ao trabalho
de suas famílias.
Com a
comprovação científica dos benefícios da moringa para a saúde (tem quatro vezes
mais cálcio que o leite, três vezes mais potássio que a banana, quatro vezes
mais Vitamina A que a cenoura e sete vezes mais Vitamina C que a laranja), a
espécie tornou-se uma importante aliada da ambientalista.
“O Centro de
Recursos Agroflorestais Trees for the Future, com sede nos Estados Unidos, desenvolveu
no estado de são Paulo, projetos de cunho socioambiental com famílias de pequenos
produtos rurais, de junho de 2008 a junho de 2014 e projetos educacionais em
escolas promovendo a disseminação da espécie moringa oleífera, apoiando
pesquisas e doando mudas”, destaca a apresentação da Fernanda.
A
ambientalista explicou que além de dar aula de educação ambiental nas escolas e
de plantar sementes de moringa, incentivava o uso da farinha das folhas da
árvore. O resultado desse trabalho foi comprovado na alimentação diária dos
estudantes em algumas escolas. Através do exame de sangue realizado nos alunos,
os indicadores mostraram os benefícios do superalimento. Como não poderia
deixar de ser, “o trabalho conquistou um prêmio internacional pela ONG com quem
mantinha vínculo de trabalho”, acrescentou.
E nasceu a escolinha
Feliz por
levar aos estabelecimentos de ensino as informações de cunho ambiental,
Fernanda decidiu incrementar as ações trazendo a escola para o meio da
floresta. Assim nasceu a “Escolinha da Mata”: na propriedade da família, onde
vive com o marido e dois filhos, Fernanda colocou em prática um pouco do que
aprendeu com a “Trees”.
Tratou de
construir uma casa com base na permacultura: “Comecei a construir minha casa
aqui. Não tinha muito dinheiro, mas queria seguir a filosofia de uma construção
com o mínimo de impacto ambiental. A bioconstrução usa parede de barro,
tratamento de esgoto natural e a casa foi ficando muito legal. Foi dando tudo
certo”, recordou.
“Quando
consegui juntar um pouco de dinheiro deu para construir a ‘Escolinha da Mata’.
Eu ia às escolas, mas se eu tinha tudo isso aqui eu queria que as crianças
pudessem vir aqui, também”, enfatizou. E o sucesso foi tão grande que,
atualmente, a escolinha recebe de 120 a 150 crianças por dia, distribuídas em
dois períodos.
Com muito
verde, as crianças conhecem a nascente de água, o sistema de tratamento natural
de esgoto, o reuso de água (chuveiro e pia), horta, percorrem a trilha na
floresta nativa e de vez em quando são brindadas pela visita dos macaquinhos em
busca de frutas deixadas em locais estratégicos. As crianças plantam sementes
de moringa e depois participam da oficina de culinária onde fazem bolo da
farinha da planta que é degustado com suco natural ao fim do passeio.
Aproveitando
a oportunidade, Fernanda preparou um cinema onde são exibidos filmes de educação
ambiental. Já os professores são brindados com material didático completo para
continuarem a exposição do assunto em sala de aula.
“Em 2015,
começamos a trabalhar por temas. Esse ano é a água, pela problemática que
estamos enfrentando. Tem uma mina que é uma das nascentes do Rio Canganha. Bem
no fundo da minha casa nasce a água puríssima. As crianças fazem o passeio na
floresta e vão conhecer a mina d’água, onde bebem a água”, assinalou.
Como
Fernanda ainda está vinculada à ONG norte-americana que a remunera, a Escolinha
da Mata só cobra uma pequena taxa para as visitas visando custear a estrutura e
os três funcionários. São 12 reais por criança.
“Hoje estou
viajando menos e coordenando menos projetos. Estou desacelerando. Não abri
novos projetos e vou ao Nordeste só uma vez por ano para dar os cursos”, disse,
acrescentando: “O que mais quero é fazer isso, estruturar a escolinha”. E, com
os olhos verdes, da cor da mata, brilhando, encerrou explicando a mudança de
foco: “Consegui o sonho da vida inteira”.
Para
agendar uma visita à “Escolinha da Mata”, entre em contato pelo e-mail: escolinhadamata@outlook.com No
Facebook, o endereço é: facebook.com/escolinhadamata.
Links úteis:
Obs: Fotos de atividades na escolinha são do arquivo pessoal de Fernanda Redondo Peixoto
Muito boa a matéria que mostrou mais um equipamento turístico educacional da nossa região. A Amoreira é muito bonita, um dos recantos com maior biodiversidade aqui a região e abriga e preserva muitos animais silvestres.
ResponderExcluirTive a oportunidade de conhecer parte da fazenda Amoreira, isso foi antes da escolinha, já era um local cheio de exemplos do bom relacionamento entre os seres humanos e a natureza, vários projetos seguindo técnicas de permacultura me chamaram a atenção. Parabéns Fernanda por ter criado as condições necessárias para estar socializando tantas informações para nossas crianças. Parabéns também à Célia que com sua magnífica matéria, trouxe o melhor desse paraíso para o conhecimento dos que tiverem a sorte de acessar seu lindo blog, que também é uma conquista para nós marilienses.
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