Por Célia Ribeiro
Os
benefícios do mel são conhecidos desde a antiguidade por suas propriedades
medicinais e valor nutricional. Mas, para centenas de
pequenos produtores rurais da região de Marília, a apicultura representa uma
importante fonte de renda além de contribuir para o equilíbrio ambiental em
suas propriedades, tendo em vista o papel das abelhas na polinização das
culturas.
Flor de eucaliptos atrai abelhas |
Olhando para
algumas décadas atrás, os apicultores têm hoje bons motivos para comemorar.
Após anos de incontáveis desafios, a Associação dos Apicultores de Marília e
Região (AMAR) conquistou uma sede própria, a “Casa do Mel”, e obteve o registro
do SIF (Serviço de Inspeção Federal) que lhe permite colocar no mercado um
produto de alta qualidade testado nos laboratórios da Unimar (Universidade de
Marília).
“A ideia de
formar a associação vem de mais de 10 anos”, contou o presidente da AMAR,
Fernando Mauro Lopes Ferreira, citando o pioneirismo do zootecnista Valter
Eugênio Saia e de Antônio Fernando Scalco que aceitaram o desafio de reunirem pequenos agricultores interessados na apicultura, além daqueles que já se
dedicavam à atividade.
“Os dois
organizaram a primeira reunião na CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral – Secretaria Estadual da Agricultura) convocando interessados através do jornal. Eles esperavam meia dúzia de apicultores. Mas, para surpresa geral,
lotou o auditório com mais de 100 pessoas”, recordou Fernando.
Depois deste
pontapé inicial, o projeto ganhou corpo. A Prefeitura abraçou a ideia e
construiu uma sede para a associação, na zona norte (Rua Eugênio Coneglian,
2558), inaugurada em 2012. No entanto, sem o registro do SIF e a estrutura necessária ao envase do mel, muitos desanimaram e ficaram pelo caminho, desligando-se da instituição. Dos cerca de 150 associados iniciais, apenas 100 apicultores permaneceram.
Esforço recompensado
Quem
perseverou hoje colhe doces frutos. Com o apoio do SEBRAE, os associados participaram de cursos de capacitação para extração do mel, manejo das caixas com enxames,
aquisição de maquinário em inox e adequação das instalações seguindo as rígidas
normas sanitárias que norteiam o setor.
De acordo
com Fernando Ferreira, “ainda não temos unidade extratora na associação, o que
pretendemos no futuro quando mudarmos para um local maior. Hoje, o produtor tem
o apiário na propriedade dele, onde extrai o mel e faz a centrifugação. Ele
traz os baldes com o produto para a associação que encaminha amostras para
análise na Unimar. Após a aprovação, o mel é decantado por 48 horas e
envasado em embalagens de um quilo, meio quilo e 280 gramas”.
Com o selo
da AMAR e rótulo do SIF contendo todas as informações técnicas, o mel é
entregue ao produtor que se encarrega de comercializa-lo junto aos seus
clientes, geralmente pequenos mercados, padarias, farmácias etc, pagando à
associação uma pequena taxa pelo envase. “A ideia é um dia contarmos com uma
cooperativa. A AMAR é uma instituição sem fins lucrativos e por isso não
pode comercializar a produção”, explicou o presidente.
O pequeno
produtor entrega o mel a 14 reais o quilo para revenda. Apesar disso, o consumo
per capita no Brasil é muito pequeno em relação a outros países. Segundo o
presidente da AMAR, consome-se 200 gramas por pessoa, por ano. Nos Estados
unidos, o consumo é de dois quilos per capita. “Com a disparada do dólar, muita
gente está preferindo exportar e poderá haver falta de mel no País”, observou.
Abelha não respeita cerca
“O pequeno
agricultor tem as abelhas como uma fonte de renda viável economicamente. Hoje,
com a questão ambiental, todos os proprietários têm que fazer o cadastro rural
e determinar uma área de 20 por cento que tem que cercar, como área de
preservação permanente. É uma área do proprietário, mas que não pode explorar”, informou
o presidente da associação.
Entretanto,
prosseguiu, “como abelha não respeita cerca, pode usar para a apicultura. É uma
opção para transformar aquilo em uma fonte de renda. A abelha vai voando na
flor, pega o néctar e traz para a colmeia. É uma atividade alternativa de baixo
custo, fácil de manejar e que dá renda”.
Uma abelha
chega a fazer 17 viagens por dia até a colmeia, em um raio de 500 metros, passando
por 50 mil flores. Por isso, seu papel é essencial na agricultura para a
polinização das culturas. Já existe mercado de locação de colmeias para propriedades
com queda na produção. Um dos fatores que impacta na redução da população de
abelhas é o uso indiscriminado de defensivos agrícolas.
“Na Europa e
Estados Unidos tem um produto banido, que ainda é usado no Brasil, que está
acabando com as abelhas”, alertou Fernando Ferreira. No Rio Grande do Sul há
notícias sobre uma devastação que atingiu 4.500 colmeias. “A abelha é muito
sensível. Quando ela pega o agrotóxico ela não produz mel, ela morre. E se ela
levar esse veneno para a colmeia vai matar as outras abelhas, também”, enfatizou o apicultor.
“A
apicultura tem muitas vantagens porque é uma atividade que pode colocar em
qualquer lugar na zona rural, não ocupa espaço, aproveita a mata e ainda faz a
polinização das culturas”, acrescentou o presidente da AMAR, citando que “no
Rio Grande do Sul é onde mais se ganha dinheiro com aluguel de colmeia para
polinização de culturas, como a maçã e a pera. No estado de São Paulo já começou
essa tendência, também, só que por causa do agrotóxico tem apicultor que
prefere vender a colmeia ao invés de aluga-la devido aos riscos de mortandade”.
Paixão à primeira vista
A história
de amor de Fernando com a apicultura começou há quase 20 anos. Profissional de
Recursos Humanos de uma grande metalúrgica, por 36 anos, ele nunca se imaginou
no meio do mato. Até que um dia, passando o fim de semana no sítio da família
no distrito de Jafa (Garça), ele foi chamado para filmar a colheita de mel.
Apicultores vão a congressos nacionais e internacionais: eventos o ano todo para troca de experiências e obtenção de conhecimentos. |
“Nunca tinha
colocado aquela roupa. Meu pai criava abelha e produzia mel só para consumo da
família e naquele dia comecei a me interessar”, recordou com o sorriso
entregando o momento da conquista. Não tardou e Fernando foi atrás dos
equipamentos necessários, como a roupa protetora que lembra trajes de
astronautas, e dos primeiros enxames comprados em Quintana.
“Era uma
válvula de escape. Eu ficava preso no escritório o dia inteiro, na área de RH
onde comecei aos 14 anos e fiquei até me aposentar, um ano atrás. Era uma
terapia mexer com apicultura”, contou Fernando que disse estar imune às
ferroadas das abelhas: “Toda semana era uma ferroada. No começo inchava. Com o
tempo fui criando resistência”, disse, entre gargalhadas.
Aos 51 anos,
gozando da merecida aposentadoria, Fernando dedica-se à atividade
profissionalmente com muito prazer. Tem mais de 150 colmeias espalhadas por
áreas de Pompéia, Padre Nóbrega, Garça, Vera Cruz e Marília onde consegue de
duas a três colheitas por ano.
Trajes de proteção (Foto: Mercado Livre) |
Projeto urbano
Com tempo
para se dedicar à apicultura, Fernando comemora uma nova conquista: a Fundação
Banco do Brasil aprovou um projeto para a AMAR adquirir equipamentos de envase
de sachês, além de um veículo utilitário. Serão 94 mil reais doados para a
instituição. “Com os sachês de mel poderemos entrar na merenda das escolas.
Isso representará um grande avanço para os apicultores da cidade”, destacou.
Outra ideia
que pretende colocar em prática é um programa em parceria com a Prefeitura,
Defesa Civil e Corpo de Bombeiros para instalação de “caixas-isca” para captura
de enxames de abelha na zona urbana. “Dessa forma, resolveremos um problema
sério porque com a falta de locais adequados na zona rural, como buraco de
árvore, de pedras, onde se sintam seguras, as abelhas estão migrando para a
cidade, formando enxames em caixas de energia, em forro de residências e isso é
um problema grave”. Ao capturar essas abelhas com as iscas, a associação poderá
doa-las aos novos apicultores que se iniciarem na atividade.
Depois de tanto
tempo como de gestor de Recursos Humanos, Fernando Ferreira só poderia mesmo se
interessar pelas abelhas. Afinal, elas são amigas da natureza, trabalham sem
cessar e ainda adoçam a vida. Merecem o prêmio de colaboradoras do ano!
Para entrar
em contato com o presidente da AMAR, Fernando Mauro Lopes Ferreira, escreva para: fmlferreira@terra.com.br ou ligue:
(14) 997254917
Obs: À exceção da foto do Fernando, as demais imagens são de seu arquivo pessoal.
Obs: À exceção da foto do Fernando, as demais imagens são de seu arquivo pessoal.
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