Por Célia Ribeiro
Há um lugar no bairro Alto Cafezal, em que as limitações da idade ficam do lado de fora. Nas tardes de quinta-feira, um grupo de descendentes de japoneses se reúne em torno do chá-bingo cujas prendas são disputadas como em uma gincana escolar. Essa foi a válvula de escape que os frequentadores do templo budista Honpa Hon Gwanji encontraram no período pós-pandemia, quebrando o isolamento que afetou a todos.
Nair no sorteio das pedras |
O JM acompanhou o encontro desta semana no salão ao lado do templo, à Rua José Anchieta, nº 531. O bingo já havia começado e o que se viu foi um misto de concentração, a cada pedra cantada, com muita alegria pelo reencontro tão esperado entre as mais de 20 pessoas, a maioria de representantes da colônia japonesa.
Concentração na hora de conferir a cartela |
“Criamos este grupo com o objetivo
de interagirmos uns com os outros, fazendo novas amizades, com lazer e
aprendizados”, afirmou Nair Kyoto Sakamoto Miura, enquanto sorteava os números.
Conforme disse, o encontro das quintas-feiras foi “uma forma de fortalecermos
uns aos outros pois passamos por momentos delicados durante a pandemia”.
Ester e a mascotinha Gabi |
Nair observou que o evento semanal “Lazer e Aprendizado” foi criado “pensando no bem estar emocional. O nosso chá-bingo tem dado muito certo e isso é muito gratificante. Mal termina o nosso encontro e elas já ficam contando o dia para a chegada da próxima semana. Saber que esse momento, essas poucas horinhas fazem a diferença na vida delas, é bom demais”.
EXEMPLO AOS 89 ANOS
Às vésperas de completar 89 anos, dona Benta Haruka Narazaki era uma das mais animadas. Sorridente, ela contou que adora reencontrar as amigas e que espera, ansiosamente, pela quinta-feira. Sobre o que mais gosta, diante de uma mesa farta de doces e salgados, ela não titubeou: “Gosto é de ganhar os prêmios”.
Prendas embaladas para surpreender |
É que todos os participantes levam duas prendas, de valor acessível, embaladas para presente, além de um prato de doce ou salgado, explicou Ester Ika Ikeda que estava acompanhada pela Gabi, a mascotinha do grupo. “A nossa dificuldade era tirar os idosos de casa por não ter uma atividade própria para eles. Procuramos várias opções”, e o bingo, que tem atraído cada vez mais participantes, não exige esforço físico. “A única dificuldade é escolher os brindes”, brincou.
Eliza Iwashita |
Nair e dona Benta de quase 90 anos |
Com 80 anos, Tieko Hayashi é presidente do grupo de senhoras do Templo. Ela falou sobre os benefícios do chá-bingo semanal que entrou para a agenda de atividades do local, sendo aberto a outras pessoas fora da colônia japonesa, das 14 às 17h. Conforme destacou Mieko Marutani, a vontade de encontrar as amigas é tanta “que a gente larga o serviço de casa e corre aqui”.
Doces e salgados para a partilha |
Ela finalizou explicando que o chá-bingo acontece em sistema “Motiyori, que é uma expressão japonesa que significa reunião, onde cada participante leva um prato de comida e partilha dessas delícias culinárias, seja doce, salgado ou bebidas. Para o bingo é a mesma coisa: cada participante leva duas prendas baratinhas como guardanapo de pano, copos, sabonetes etc, mas leva já embrulhadas para o sorteio. A Comunidade é bem vinda a participar. Não é somente promover a interação para a Comunidade japonesa, nipônica”.
Primeiro chá-bingo em março de 2022 |
*Reportagem publicada na edição de 19.02.2023 do Jornal da Manhã
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