domingo, 12 de fevereiro de 2023

MÉDICO ORTOPEDISTA CONSTROI BERÇOS E DOA PARA BEBÊS DE FAMÍLIAS CARENTES.

Por Célia Ribeiro

Entre os profissionais liberais, os médicos têm as mais longas jornadas de trabalho que podem passar, facilmente, de 12 horas por dia. Por isso, ter uma válvula de escape é um ativo valioso para manter a saúde física e mental, como prova o médico Amauri Pereira: à noite, ele tira o jaleco e se transforma em um marceneiro habilidoso que constrói berços para bebês de famílias carentes. 

Berços finalizados para receber os bebês

Médico ortopedista com consultório na região central, professor universitário e servidor público estadual, o Dr. Amauri recebeu a reportagem do JM esta semana quando falou sobre a produção de berços. Ele contou que tudo começou com a chegada de Enrico, de quase dois anos. Ao construir um berço para o primeiro neto, vislumbrou a possibilidade de fazer outros para doação.

O médico não imaginou que sua ação atrairia tanto a atenção e, a princípio, nem queria ser entrevistado. No fim, concordou ao observar que outras pessoas podem se inspirar no seu exemplo e, dentro de cada área, também contribuir com quem precisa exercitando a solidariedade. 

Dr. Amauri Pereira

“Eu sempre gostei de marcenaria e pensei que precisava fazer alguma coisa para canalizar esse hobby para um benefício”, afirmou, acrescentando que quando o berço do neto ficou pronto, “olhei e pensei que podia fazer para mais gente”. Assim, ao comentar com conhecidos sobre sua ideia, logo surgiram pessoas indicando famílias em situação de extrema pobreza que não teriam onde abrigar os recém-nascidos. 

Móvel pronto para transporte

Sem saber para quem doar, o médico iniciou a construção do segundo berço após realizar algumas pesquisas sobre as medidas corretas, configurações das grades etc, visando oferecer um móvel seguro e útil que pudesse ser usado até a criança atingir dois ou três anos. Foi então que uma assistente social da Prefeitura o procurou com a indicação de uma família peculiar: a mãe estava na terceira gestação gemelar. Isto é, já tinha quatro filhos gêmeos e esperava mais dois.

SEGURANÇA

“Tem uma estatística americana de que 20 por cento das mortes de crianças por asfixia é por esmagamento dos pais. Imagina um pai e uma mãe sem o berço. Onde a criança vai dormir? No meio dos pais”, observou Dr. Amauri, justificando sua iniciativa de, aos poucos, construir e doar os berços para quem mais precisa. 

Equipe da Assistência Social da Prefeitura
com o berço que tem trocador e espaço para fraldas

Ele disse que é bem criterioso e só doa para famílias em situação de muita vulnerabilidade. Ele nunca foi às residências, mas se cerca de informações para que apenas os mais carentes recebam os móveis. Quem leva as doações fotografa as casas e as famílias. Ele mostrou à reportagem, mas as fotografias não serão publicadas por causa da Lei Geral de Proteção de Dados já que não houve autorização para uso da imagem. 

Um dos primeiros modelos, mais simples, mas com rodízio

Se para as famílias os berços são um presente inesperado, para o médico a atividade é uma válvula de escape. Ele contou que costuma se exercitar na academia e que pratica tênis. No entanto, o trabalho manual tem um efeito mental relaxante: “Enquanto estou fazendo o berço estou imaginando uma criança ali, imaginando que vai sair da cama dos pais para não ter nenhum acidente. Vejo lá na frente para que o berço vai servir”.

Em poucos meses, ele produziu e doou seis berços que fabrica no tempo livre, geralmente à noite, o que acabou atraindo apoios como o do marceneiro da fábrica de móveis Estilo, da zona sul. Dr. Amauri disse que o fabricante “ofereceu chapas de MDF que não usa nos móveis dele, sugeriu cortar e fazer a cabeceira dos berços o que me tirou um monte de serviço”.

 

Detalhe da madeira na
marcenaria do médico
Um outro conhecido, que tem um familiar atuando com representação de colchões conseguiu doar alguns, o que veio em boa hora: “Colchão de berço é mais caro que de adulto”, disse, contando que entrega os berços completos. O médico compra a madeira de primeiro uso, leva cerca de um mês para a fabricação, e entrega o móvel pronto, investindo recursos próprios.

Outra boa notícia é que a corrente de solidariedade começa a ganhar corpo: recentemente, algumas voluntárias começaram a doar cobre leitos e os próximos berços já terão também esse item importante do enxoval de recém-nascidos.

Detalhista, o médico revelou que está diversificando o projeto original que tem trocador e espaço para armazenar fraldas na parte inferior: “Para as mães mais baixinhas, estou fazendo um modelo com grade dividida no meio com dobradiça”. Assim, quando o bebê crescer, a grade pode subir e travar com segurança facilitando colocar e retirar a criança do berço.

 Para o Dr. Amauri, a segurança dos bebês vem em primeiro lugar: “O meu negócio é fazer uma criança crescer protegida até onde eu posso chegar. O Estado, o município e os pais, cada um também tem seu papel”, assinalou. Ele concluiu afirmando que espera que seu exemplo inspire outras pessoas que possam, de alguma maneira, contribuir com quem mais necessita.

 *Reportagem publicada na edição de 12.02.2023 do Jornal da Manhã

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