Por Célia Ribeiro
Como muitas pessoas, o sonho da ex-docente e pesquisadora da UNESP era aproveitar a aposentadoria para viajar mundo afora. Mas, os desafios da doutora em Geografia, dona de um currículo invejável, migraram da sala de aula para um ambiente bem diferente: a cozinha construída especialmente para se aventurar na confeitaria. Assim, o que começou por acaso se tornou uma atividade que elevou Sueli Andruccioli Félix ao posto de referência na arte dos macarons.
Ela construiu uma carreira sólida
após graduar-se em Ciências Sociais e concluir Mestrado e Doutorado em
Geografia Social. Chegou a ter 20 orientandos ao mesmo tempo e viveu entre
projetos e desafios toda a vida acadêmica. Sueli Félix ocupou vários cargos
públicos, entre os quais a coordenação da área de Análise e Planejamento da
Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
E onde entram os delicados doces
franceses tão difíceis de fazer? Sueli contou que sempre foi apaixonada pela
França e que, cinco anos atrás, a nora pediu sua ajuda para organizar uma festa
com o tema Paris para surpreender o marido: “Eu, muito metida, disse que faria”,
recordou, gargalhando.
Sueli nunca tinha feito macarons.
Mas, “o bichinho da pesquisa ainda corria nas veias e fui pesquisar sobre o
assunto”, lembrou. Os macarons não ficaram como esperava: “Todo mundo adorou,
mas era horroroso. Era o que eu conseguia fazer. Mas, a vida inteira fui
desafiada. E por que não fazer?”, comentou, acrescentando que dali em diante
resolveu se aprimorar na técnica para chegar ao macaron perfeito.
Halloween: festa temática tem também
Os macarons exigem muita técnica
e, além da matéria prima muito cara, dependem das condições climáticas: “Quem é
macaroneira sabe que se chover em Bauru, vai estourar o macaron em Marília. Se
comprar uma farinha de amêndoa e ela for um pouquinho mais oleosa,
imperceptível, eles estufam, ficam feios”, explicou.
Decoração com macarons que
tem sabores variados
Entretanto, a dificuldade para
acertar o ponto não foi obstáculo suficiente para quem estava acostumada a ir
fundo em suas pesquisas. Assim, Sueli chegou ao ponto em que os amigos já
faziam encomendas e ela só cobrava o custo da matéria prima. Na base do boca a
boca, o negócio tomou uma proporção que a levou a investir no negócio,
construindo uma cozinha só para macarons.
Naturalmente sem glúten, porque
são feitos à base de farinha de amêndoas, os macarons de Sueli Félix também são
acessíveis aos veganos. Ela criou uma linha sem ingredientes de origem animal,
substituindo as claras de ovo e, dessa forma, abriu um novo nicho de mercado.
Ela se emociona ao falar sobre os
cuidados que tomou ao empreender na confeitaria, seguindo os mais rigorosos
padrões fruto de muitas pesquisas: “Minha cozinha é meu santuário. Não entra
ninguém comendo um pedaço de pão. No meu forno, só asso macaron”, explicou em
referência aos riscos de contaminação cruzada para as pessoas com doença
celíaca (reação exagerada do sistema imunológico ao glúten).
Sueli disse que sua maior alegria
é quando uma mãe de criança celíaca a procura para uma encomenda porque são
poucas as opções de doces produzidos como se deve. Ela se realiza ao poder
ofertar algo feito com cuidado, critério e seguro para quem não pode ter
contato com nada de glúten.
Postagem mostra o começo de tudo
Assim, da pesquisa para a receita
ideal, passando pela importação de litros de água de rosas da Turquia (porque o
estoque que ela trouxe acabou), para um dos sabores de macarons mais pedidos (Pétalas
de rosas), Sueli Félix segue adoçando a vida das pessoas, não apenas em
Marília, mas através de pedidos de várias regiões do País e do exterior
(Inglaterra, Portugal, Espanha, América do Sul).
Muito embora em algumas padarias
se encontre macarons (diferentes do original), Sueli produz a iguaria cobrando
apenas cinco reais por unidade, enquanto em São Paulo e na Europa sai por até
dois euros (12 reais). De sabores especiais como caramelo com flor de sal,
nozes, lichia, frutas vermelhas, limão siciliano etc, os macarons da
pesquisadora aposentada são equiparados aos franceses. Mais uma vez, ela concluiu
um trabalho merecendo nota 10 com louvor.
* Reportagem publicada na edição de 29/08/2021 do Jornal da Manhã