O que Robert Redford e o banqueiro bengali Muhammad Yunus têm em comum? Ambos colocaram seu conhecimento a serviço de uma causa nobre. No caso do ator e diretor, criou o Sundance Film Festival para ajudar cineastas independentes. Já o economista fundou o banco Grameen, focado no microcrédito, para tirar pessoas da pobreza em Bangladesh. Ambos são empreendedores sociais e suas ações não podem ser mensuradas pelo lucro financeiro e sim pela mudança que causam na vida das pessoas.
Roda de conversa com lideranças femininas no Jardim Julieta |
Em Marília, a delegada aposentada da Delegacia de Defesa da Mulher, Rossana Rossini Camacho, segue exemplos inspiradores. Ela começou a trilhar esse caminho ao atuar na difusão de conhecimento para o empoderamento das mulheres: “O meu empreendedorismo é transformador, é a aplicação das políticas públicas para as mulheres, é a realização daquilo tudo que é necessário para tirar as mulheres da situação da violência, da ignorância e do medo”, explicou.
Desde 2014 integrante do Conselho Estadual da Mulher, Rossana é referência na luta pelos direitos das mulheres e combate à violência doméstica. Em 2012, pouco antes de se aposentar, ela viajou aos Estados Unidos, a convite do governo norte-americano, juntamente com representantes de vários países, quando conheceu trabalhos de ONGs que a impactaram.
Materiais distribuídos nos eventos |
De volta ao Brasil, Rossana não se conformou em guardar para si o que aprendeu nos 25 anos à frente da Delegacia da Mulher, quando passaram por suas mãos mais de 70 mil ocorrências. Aposentada, ao invés de aproveitar o tempo livre para o merecido descanso, ela resolveu comprovar suas teses: “Como delegada, o problema já tinha acontecido e eu não podia fazer nada. Por isso, pensei como seria importante agir na prevenção, levar informação e orientação às mulheres”.
No dia 24 de junho, quando completou 62 anos, ela começou a colocar em prática os planos gestados com paciência nos últimos sete anos. Após concluir o Empretec, curso do SEBRAE para empreendedores, lançou um folder onde estão elencadas, de maneira simples e de fácil consulta, orientações sobre como enfrentar e superar a violência doméstica.
Encontro “Mulher Cidadã”, no Espaço 96 |
COMO TUDO COMEÇOU
Ela contou que sempre se preocupou em como apoiar as mulheres: “Não basta apenas a lei, não basta apenas a intervenção judicial e policial para tirar a mulher da situação de violência.
Tem que dar apoio, uma injeção de ânimo para ela. Então, eu criei, dentro da Delegacia o Núcleo Multidisciplinar, busquei parceria com assistentes sociais, psicólogos, advogados, enfermeiros, com todas as pessoas que pudessem apoiar e ajudar aquela mulher a sair daquele calvário”.
Reunião do Conselho Estadual da Mulher, na Capital |
Nas rodas de conversa que realizou com as mulheres nos mais diferentes bairros, ou durante as palestras em empresas e entidades, a delegada aposentada concluiu que a informação era a arma mais importante na luta contra a violência. E, a partir daí, elaborou um kit com folder, banner, cartaz e cartão de apresentação em que as orientações são detalhadas sobre como proceder diante de uma situação de violência.
Trabalho voluntário: Centro Comunitário S. Vicente de Paulo |
ESTATÍSTICAS ALARMANTES
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança, uma a cada quatro mulheres sofreu algum tipo de violência no Brasil em 2018, sendo que 42 por cento das ocorrências foram registradas no ambiente doméstico. Em 2019, levantamento realizado no Estado de São Paulo mostrou que houve 72 feminicídios de janeiro a maio, o que representa um aumento de 333 por cento em relação aos últimos dois anos.
Rossana e amigas no Recanto do Terço |
Ela comentou que “a vida inteira eu fiz esse trabalho, só não sabia o nome. O divisor de águas foi o curso de Empretec no Sebrae. Estava angustiada e então consegui compreender esse universo. Compilei tudo o que eu queria fazer e, ao invés de escrever um livro, preferi fazer um folder onde mostro todo o organograma para se enfrentar a violência”.
Roda de conversa com integrantes do Conselho de Mulher Empreendedora da ACIM |
Rossana tem percorrido os bairros para levar informação |
Empreendedora social com grupo do SEBRAE |
Rossana pretende levar às indústrias e às empresas em geral palestras para homens e mulheres sobre a violência. Como ela fez questão de destacar, foi privilegiada por ter tido uma carreira bem sucedida, com marido e filhos que lhe dão suporte e que chegou a hora “de retribuir um pouco para a sociedade”.
Ela espera obter patrocínio na iniciativa privada para expandir esse trabalho e planeja a realização de um grande evento regional em Marília. Dessa forma, quer continuar difundindo informação e contribuindo para minimizar o grave quadro de violência doméstica, muitas vezes silenciosa, que deixa marcas para sempre.
Para entrar em contato com a Rossana Camacho, o e-mail é: drarossanacamacho@hotmail.com e nas redes sociais: @rossanacamacho (Instagram) e rossanacamacho (Facebook)
* Reportagem publicada na edição impressa de 04.08.2019 do Jornal da Manhã
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