domingo, 2 de setembro de 2018

UM TIME CAMPEÃO: ATLETAS DA AMEI SOMAM VITÓRIAS NAS COMPETIÇÕES E NA VIDA.

Por Célia Ribeiro

Em um mundo globalizado e altamente competitivo, as pessoas se deparam com os mais diferentes desafios, seja no ambiente profissional, no meio acadêmico ou social. Mas, para um grupo significativo, é preciso vencer primeiro a voz interior e calar o conformismo e a resignação. E, então, partir para a vitória. São esses campeões, no esporte e na vida, que a AMEI (Associação Mariliense de Esportes Inclusivos) está moldando ao despertar em cada um a chama olímpica da confiança. Sim, eles podem!
Daniel Martins, bi-campeão mundial patrocinado pela Nike
Fundada há 15 anos pelas mãos do professor Celso Parolisi Filho, a instituição funciona em área cedida pela APAE nas imediações do SAMU, na zona leste de Marília. Aproximadamente 150 pessoas portadoras de deficiências (física, auditiva, visual e intelectual) treinam natação, atletismo e futsal, além de crianças da rede municipal, de 07 a 14 anos, sem qualquer deficiência, que integram o projeto “Golfinhos do Futuro”. Elas praticam natação, com professores diferentes, mas na mesma piscina e nos mesmos horários em um verdadeiro processo de inclusão.
Antonio Sérgio Nunes: prova de lançamento de dardo para amputados
A AMEI é nacionalmente conhecida pelos atletas de alto rendimento (cerca de 25) que conquistam medalhas em torneios nacionais e internacionais e estão sempre nas manchetes dos jornais. Mas, o trabalho social da ONG, ao oferecer a oportunidade da prática esportiva aos portadores de deficiências, merece não só aplausos como, principalmente, o apoio da comunidade.

Formado em Ciências do Esporte pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), Levi Henrique Magron Carrion cuida da gestão, dos projetos de captação de recursos e ainda dá aula de futsal para crianças com síndrome de Down. Ele relata, com visível emoção, as conquistas diárias dos frequentadores e é um entusiasta dos projetos que estão por vir.
Judoca Alana Maldonado
Levi recordou que a AMEI foi criada, em 2003,  pelo professor Celso que trabalhava na APAE atendendo pessoas com deficiência intelectual: “Ele enxergava que essas pessoas tinham um potencial muito grande para fazer esporte. Se hoje a gente vê que o esporte de pessoas com deficiência é alguma coisa que rasteja, imagina 30 anos atrás quando ele começou a trabalhar dentro das APAEs”, observou.
Equipe AMEI nos Jogos Regionais
Inicialmente, as aulas eram no Yara Clube com até 10 alunos. Mas, a notícia rapidamente se espalhou e a procura começou a aumentar. Sem condições de permanecer naquele espaço, em 2007, a entidade conseguiu uma área em que foram construídos piscina coberta e aquecida, vestiários e demais instalações e que foi cedida em comodato pela APAE.

DUAS FRENTES

A evolução da AMEI seguiu o fluxo natural da demanda: os que não se adaptavam à natação foram encaminhados para o atletismo e o futsal. O trabalho conta com duas frentes: a dos atletas de alto rendimento, que vivem do esporte e conquistam torneios nacionais e internacionais, e a área social em que os portadores de deficiência podem desenvolver suas potencialidades através do esporte.
Artur, Daniel Martins e Gerolino
Levi coleciona muitas histórias que mereciam um documentário. Uma delas é do atleta Daniel Martins que conquistou inúmeros títulos correndo os 400 metros rasos: “Apesar da deficiência intelectual, ele tem outras potencialidades que o esporte mostrou. Ele tem uma vida totalmente autônoma, é um dos poucos atletas paralímpicos do Brasil patrocinado pela Nike. Então, quer dizer que o deficiente intelectual não precisa ser visto como coitadinho e incapaz. Só precisa ser encaminhado para onde possa mostrar as potencialidades dele. O que a gente faz aqui é simplesmente dar oportunidade”, assinalou.
Gustavo Dias, paratleta campeão mundial juvenil dos 400 metros rasos
Outra história de superação é da judoca Alana Maldonado, de Tupã, que compete pela AMEI. O professor Celso a conheceu em uma visita à Secretaria Municipal de Esportes e a convidou a visitar a  entidade. Inicialmente, ela praticou natação e atletismo, mostrando muita desenvoltura. Foi quando o treinador perguntou se ela já havia praticado algum esporte, quando soube que até os 14 anos era judoca e que, ao perder grande parte da visão por conta de uma doença, abandonou a atividade.
Rogerio Ruy e Juliano Alves em corrida de cadeira de rodas
Alana foi estimulada a voltar a treinar judô e, na primeira competição, em 2014, conquistou o campeonato brasileiro. Em 2015 venceu novamente e foi convocada para a Seleção Paraolímpica Brasileira, passando a conquistar um título mais importante que o outro em torneios disputados na Coreia, Canadá, Inglaterra, Alemanha etc. Hoje, aos 22 anos, ela compete pela AMEI  e treina em São Paulo, na Sociedade Esportiva Palmeiras.
Levi e Prof. Celso com troféus e medalhas: essa é  apenas a parte visível 
Com indisfarçável orgulho, Levi afirmou que “para nós é algo muito significativo, é muito maior que uma medalha. É o resgate de uma vida toda através do esporte pelo simples fato de uma oportunidade que foi dada”.

Neste sentido, citou outros campeões que, se não colecionam tantas medalhas, venceram na vida superando seus desafios pessoais. Um deles é o advogado Rogério Ruy. Aos 20 anos fraturou a coluna em um acidente de moto vendo se esvair o sonho de ser mecânico de uma grande montadora.
Juliano Alves durante corrida 
Ele começou a frequentar a AMEI e, como nem sempre seu pai podia leva-lo de carro, começou a ir aos treinos usando o transporte coletivo. Foi quando percebeu que poderia ir para a faculdade da mesma forma e tudo se transformou: com uma bolsa de estudos do Univem, graduou-se em Direito, casou-se e hoje estuda para concursos, destacando-se como um dos primeiros atletas a correr em cadeiras de rodas.

CAMPANHA

Para se manter, a ONG conta com uma subvenção de R$ 5.500,00 mensais da Prefeitura e cessão de três funcionários. Os pais de atletas e doadores anônimos contribuem com o que podem e, assim, ajudam a custear outros três funcionários e as despesas de água, energia elétrica, telefone, material de limpeza etc.
Fundador da AMEI, Prof. Celso e Levi na piscina da entidade
Ao lado do sonho de ter uma sede maior para ampliar o atendimento ---hoje apenas 150 pessoas entre atletas de alto rendimento e crianças, adolescentes e adultos com deficiências são assistidos--- a AMEI tem se preparado para melhorar sua infraestrutura. O conceituado escritório Gomes Altimari contribuiu com a reestruturação da área jurídica da instituição e a agência de publicidade Mustache refez a logomarca e o novo site repleto de informações.

Assim, teve início a campanha para conquistar um elevador para a piscina. Segundo Levi,  “a entidade já tem 15 anos e não tem um elevador de piscina que é algo que dá uma acessibilidade incrível para as pessoas com deficiência. A gente conseguiu conquistar uma escada toda em inox, com 08 degraus, em que a pessoa com limitações, como paralisia cerebral ou que tem limitações de caminhar, consegue entrar e sair da piscina de forma autônoma”.
Equipe de Futsal Down
Ele prosseguiu assinalando que “o que a gente preza é dar autonomia para essas pessoas. A autonomia, muitas vezes, não é enxergada pela sociedade em geral. Mas, a autonomia da pessoa conseguir fazer por si própria as coisas que ela quer dá uma autoestima muito grande”.

Levi revelou que havia atletas  “que a gente tinha que tirar da piscina usando a técnica de puxar pelo braço e via que eles ficavam constrangidos de outras duas pessoas pararem o que estavam fazendo para tira-los da piscina. Com a escada eles podem entrar e sair na hora que quiserem, ficam extremamente felizes”.

Festival de Natação da AMEI
Conforme disse, “o elevador também é para isso: ajudar pessoas com mobilidade mais reduzida, como cadeirante, a entrar e sair da piscina de forma autônoma. O atleta vai encostar a cadeira do lado do equipamento, se transferir para o equipamento,  acionar um botão e o equipamento vai colocá-lo na piscina. Na hora de sair é a mesma coisa. Isso representa autonomia, conforto e segurança”.

Para contribuir com a vaquinha virtual, basta acessar o site da entidade:  https://ameimarilia.com.br/ É possível assistir a um vídeo mostrando o funcionamento do elevador e como ele dará autonomia para os deficientes. Há várias maneiras de contribuir, por boleto bancário, cartão de crédito etc.  Até meados da semana, já tinham sido arrecadados aproximadamente 4 mil reais. O valor total necessário é de 15 mil reais.

Acesse AQUI para doar qualquer valor.

Piscina coberta e aquecida: falta um elevador para os atletas
A AMEI  está localizada à Rua Dr. Archimedes Manhães, 1113, telefone (14) 34323083 e email: contato@ameimarilia.com.br

SUPERAÇÃO

Sabrina: história de superação
Aos 25 anos, Sabrina Norberto Romeiro Linares é mais um exemplo de superação. Com apenas 10 por cento da visão desde que nasceu, ela conheceu a AMEI aos 10 anos quando começou a praticar natação. Aos 14 anos já competia chegando a conquistar medalha de prata em torneio nacional.

Obstinada, ela contou que à medida em que avançava nas competições, graças ao suporte da AMEI, entendeu que poderia ir cada vez mais longe. Como atleta, conseguiu uma bolsa para cursar o ensino médio no Colégio Interação e depois outra bolsa de estudos na Unimar para a Faculdade de Educação Física.

Em entrevista nesta quarta-feira (29), ela recordou que para acompanhar os colegas de classe precisava se esforçar muito mais. Nas aulas de anatomia, por exemplo, o empenho era triplicado o que a obrigava a ficar muitas horas no laboratório da universidade. Tanta determinação foi premiada: formou-se como uma das melhores alunas da turma.

Atualmente, Sabrina pratica natação, dá aulas na AMEI e conseguiu um emprego no SESI. E continua correndo atrás de seus sonhos, como o de cursar uma pós-graduação para aperfeiçoar-se ainda mais. “Quero melhorar a cada dia. O desafio é se impor na sociedade como pessoa normal. Não me resumo a ser deficiente, tenho qualidades e defeitos e posso ajudar de outras formas. Não sou limitada. Tenho possibilidade de dar meu melhor”, finalizou.

Fotos: Arquivo AMEI
Reportagem publicada na edição impressa do Jornal da Manhã de 02.09.2018

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