domingo, 9 de setembro de 2018

ACUPUNTURA: PACIENTES TÊM ACESSO À MILENAR TERAPIA CHINESA NA POLICLÍNICA


Por Célia Ribeiro

Nas primeiras horas da manhã, em uma rua estreita da Vila Coimbra, o movimento já era grande na entrada da Policlínica da Zona Oeste, na semana passada. Unidade de referência para onde são encaminhados pacientes das Unidades Básicas de Saúde (USFs) e Unidades da Estratégia Saúde da Família (ESFs) para atendimento com especialistas, há quase 10 anos, também é conhecida como o único local a oferecer acupuntura para os pacientes do SUS, em Marília.
Dr. Galvani durante aplicação de agulha
A acupuntura é reconhecida pelo Ministério da Saúde que credencia serviços públicos há 20 anos.
Atualmente, somente no Estado de São Paulo, "as práticas de medicina tradicional chinesa, terapia comunitária, dança circular, yoga, massagem, auriculoterapia, massoterapia, arteterapia, meditação, musicoterapia, acupuntura, tratamento termal, tratamento naturopático, tratamento quiroprático e reiki são oferericas na Atenção Básica para o tratamento de usuários do SUS, em 367 municípios", informa o Ministério da Saúde em seu Portal. A acupuntura é a mais difundida com 707 mil atendimentos e 277 mil consultas individuais registrados somente em 2017.

O responsável por difundir a acupuntura na rede pública de Marília é um médico apaixonado pelo que faz. De fala mansa e sorriso tímido, o Dr. Luiz Eduardo Galvani é formado pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA) e, ainda acadêmico, interessou-se pela área.
Cada sessão dura de 20 a 25 minutos
Ele recordou que descobriu a “medicina chinesa e a acupuntura no quinto ano da faculdade. Fui para a Escola Paulista de Medicina e conheci, dentro do Hospital São Paulo, um ambulatório que há 25 anos atendia 100 pessoas todas as tardes”. O médico acrescentou que ao ver “aquele fluxo de pessoas sendo atendidas e conversando sobre os benefícios que eles recebiam com o tratamento de acupuntura, sem medicamentos, cada vez mais fui me certificando que essa seria uma excelente possibilidade para eu trilhar”.

O Dr. Galvani fez sua formação sob orientação de um dos médicos mais conceituados do País, o Prof. Dr. Ysao Yamamura, ortopedista que é referência na área. E, tão logo concluiu a formação como clínico geral, abriu um consultório em Marília para oferecer a especialidade que tanto o fascinava.
A Acupuntura é usada na medicina chinesa há 8.000 anos
ACESSO GRATUITO

O médico observou que, por muitos anos, a acupuntura “era uma coisa meio elitizada. Nem os convênios e planos de saúde cobriam esse tratamento”. No seu consultório, ele disponibilizava a terapia para os pacientes particulares. Na rede pública, onde ingressou por concurso em 1.998, atendia como clínico geral.

Conforme os anos foram passando e, diante dos resultados satisfatórios da acupuntura em seus pacientes particulares, o Dr. Galvani contou ter vivido um dilema: procurou o então secretário municipal da Saúde, Dr. Júlio Zorzetto, e falou de sua frustração chegando a pensar em pedir exoneração do cargo de médico da rede pública.
Cláudia fez tratamento há 9 anos


Sensível, o Dr. Júlio propôs criar um ambulatório para a acupuntura justamente no novo espaço que estava com uma boa infraestrutura, a Policlínica da Vila Coimbra: “Chegou um momento em que falei que não dava mais. Procurei o Dr. Júlio  e disse que não consegui mais medicar as pessoas com dor sendo que, no consultório, eu fazia acupuntura que é mil vezes melhor, tem muito mais eficácia, muito menos prejuízo à saúde das pessoas”.

O Dr.Galvani fez questão de destacar o apoio integral obtido do secretário da saúde da época por permitir iniciar o ambulatório que, em breve, completará 10 anos. Os atendimentos ocorrem diariamente, das 7 às 10h30 às segundas, terças e quintas-feiras e das 7 às 10h às quartas e sextas-feiras, sempre mediante encaminhamento das USFs e ESFs.

São várias as indicações para utilização da acupuntura. Segundo o médico, “as unidades encaminham para a Policlínica quadros diversos. Predominante é a dor lombar, de ombro, processos osteoarticulares, fibromialgia, enxaqueca”, entre outras. No caso de dor crônica, são realizadas sessões semanais, sendo indicadas, inicialmente, 10 sessões.

Conforme disse, “a dor crônica tem o aspecto mais internalizado na mente da pessoa e é mais difícil o manejo. Disponibilizamos 10 sessões por paciente. Quando tem evolução favorável e é possível executar, até tratar e curar 100 por cento, podemos ampliar o número de sessões”. No caso da dor aguda, afirmou que “a resolubilidade é bem mais rápida” e os pacientes experimentam melhoria expressiva logo após as sessões iniciais que duram de 20 a 25 minutos.

AGULHAS DESCARTÁVEIS

O Dr. Galvani informou que “a Secretaria da Saúde tem nos atendido em tudo que solicitamos. São usadas agulhas de qualidade, descartáveis. Não falta nada de material, nem toalhas descartáveis e outros insumos que geralmente costumam faltar”. Ele elogiou a secretária Kátia Santana afirmando que sua gestão tem apoiado o Ambulatório de Acupuntura.
Maria de Fátima com Dr. Galvani: alívio da dor desde as primeiras sessões
Sobre a técnica, ele explicou que as agulhas são aplicadas em pontos específicos para o combate à dor: “A acupuntura é uma forma de, estimulando somaticamente o corpo da pessoa, fazer com que a reação que ele assuma, frente à lesão que causou a agulha, promova uma reação benéfica”.

E prosseguiu: “Quando estimulo com agulhamento seco em determinados pontos, aonde é entendido no sistema nervoso que foi lesado, promove uma determinada reação que, em alguns indivíduos equilibra as glândulas, em outros promove a liberação de hormônios, em outros agentes analgésicos e em outros promove a liberação de agentes anti-inflamatórios”.

O médico concluiu afirmando que “a acupuntura, muitas vezes, surpreende. A pessoa foi em vários lugares, tratou com diversos anti-inflamatórios, já fez fisioterapia e de repente a gente aplica uma ou duas vezes e, praticamente, desaparece” a dor.

Sobre pacientes que já se trataram muitos atrás e voltaram ele explicou que “parece que o corpo já entende aquela linguagem. Parece que o corpo da pessoa já conhece aquilo ali”. Sobre as contraindicações, ele  comentou que “criança não vai parar com agulha” e que há um questionamento científico sobre o uso em gestantes.

PACIENTES RECOMENDAM

A moradora do Bairro Polon, Maria de Fátima Oliveira Batista, 53 anos, explicou que procurou a acupuntura para tratar de fibromialgia. Ela contou que realizou a sétima sessão e desde as primeiras notou uma sensível melhora.

Por sua vez, Cláudia Nascimento Pinheiro Vieira, 45 anos e moradora do Nova Marília II, na zona sul, disse que fez tratamento com o Dr. Galvani há 9 anos: “Naquela época eu ia muito ao ortopedista e tomava muita injeção para dor. Depois da acupuntura, melhorei muito”. Na semana passada ela realizou a segunda sessão e comemorava os resultados no alívio da dor no ombro.
Quadro na Policlínica mostra os pontos
estimulados no corpo


Depoimentos como esses funcionam como as endorfinas, conhecidas como hormônio da felicidade, para o médico entusiasta: “Eu tenho muito orgulho de ser médico da rede pública. Até algum tempo atrás se podia dizer que algo que era elitizado era a acupuntura. Era caro, os planos de saúde não pagavam, e não tinha no serviço público. O município de Marília implantou e está mantendo muito bem. Se achar que é importante, pode ampliar porque tem condições para isso.”

Localizado na Rua Eduardo Neves, 161, na Vila Coimbra, o Ambulatório de Acupuntura realiza, em média 280 sessões por mês.

* Reporagem publicada na edição impressa do Jornal da Manhã de 09.09.2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.