Por
Célia Ribeiro
Nas primeiras horas da manhã, em uma rua
estreita da Vila Coimbra, o movimento já era grande na entrada da Policlínica
da Zona Oeste, na semana passada. Unidade de referência para onde são
encaminhados pacientes das Unidades Básicas de Saúde (USFs) e Unidades da
Estratégia Saúde da Família (ESFs) para atendimento com especialistas, há quase
10 anos, também é conhecida como o único local a oferecer acupuntura para os
pacientes do SUS, em Marília.
Dr. Galvani durante aplicação de agulha |
Atualmente, somente no Estado de São Paulo, "as práticas de medicina tradicional chinesa, terapia comunitária, dança circular, yoga, massagem, auriculoterapia, massoterapia, arteterapia, meditação, musicoterapia, acupuntura, tratamento termal, tratamento naturopático, tratamento quiroprático e reiki são oferericas na Atenção Básica para o tratamento de usuários do SUS, em 367 municípios", informa o Ministério da Saúde em seu Portal. A acupuntura é a mais difundida com 707 mil atendimentos e 277 mil consultas individuais registrados somente em 2017.
O responsável por difundir a acupuntura na
rede pública de Marília é um médico apaixonado pelo que faz. De fala mansa e
sorriso tímido, o Dr. Luiz Eduardo Galvani é formado pela Faculdade de Medicina
de Marília (FAMEMA) e, ainda acadêmico, interessou-se pela área.
Cada sessão dura de 20 a 25 minutos |
Ele recordou que descobriu a “medicina
chinesa e a acupuntura no quinto ano da faculdade. Fui para a Escola Paulista
de Medicina e conheci, dentro do Hospital São Paulo, um ambulatório que há 25
anos atendia 100 pessoas todas as tardes”. O médico acrescentou que ao ver “aquele
fluxo de pessoas sendo atendidas e conversando sobre os benefícios que eles
recebiam com o tratamento de acupuntura, sem medicamentos, cada vez mais fui me
certificando que essa seria uma excelente possibilidade para eu trilhar”.
O Dr. Galvani fez sua formação sob
orientação de um dos médicos mais conceituados do País, o Prof. Dr. Ysao
Yamamura, ortopedista que é referência na área. E, tão logo concluiu a formação
como clínico geral, abriu um consultório em Marília para oferecer a
especialidade que tanto o fascinava.
A Acupuntura é usada na medicina chinesa há 8.000 anos |
ACESSO
GRATUITO
O médico observou que, por muitos anos, a
acupuntura “era uma coisa meio elitizada. Nem os convênios e planos de saúde
cobriam esse tratamento”. No seu consultório, ele disponibilizava a terapia
para os pacientes particulares. Na rede pública, onde ingressou por concurso em
1.998, atendia como clínico geral.
Conforme os anos foram passando e, diante
dos resultados satisfatórios da acupuntura em seus pacientes particulares, o
Dr. Galvani contou ter vivido um dilema: procurou o então secretário municipal
da Saúde, Dr. Júlio Zorzetto, e falou de sua frustração chegando a pensar em
pedir exoneração do cargo de médico da rede pública.
Cláudia fez tratamento há 9 anos |
Sensível, o Dr. Júlio propôs criar um
ambulatório para a acupuntura justamente no novo espaço que estava com uma boa
infraestrutura, a Policlínica da Vila Coimbra: “Chegou um momento em que falei
que não dava mais. Procurei o Dr. Júlio
e disse que não consegui mais medicar as pessoas com dor sendo que, no
consultório, eu fazia acupuntura que é mil vezes melhor, tem muito mais
eficácia, muito menos prejuízo à saúde das pessoas”.
O Dr.Galvani fez questão de destacar o
apoio integral obtido do secretário da saúde da época por permitir iniciar o
ambulatório que, em breve, completará 10 anos. Os atendimentos ocorrem
diariamente, das 7 às 10h30 às segundas, terças e quintas-feiras e das 7 às 10h
às quartas e sextas-feiras, sempre mediante encaminhamento das USFs e ESFs.
São várias as indicações para utilização
da acupuntura. Segundo o médico, “as unidades encaminham para a Policlínica
quadros diversos. Predominante é a dor lombar, de ombro, processos
osteoarticulares, fibromialgia, enxaqueca”, entre outras. No caso de dor
crônica, são realizadas sessões semanais, sendo indicadas, inicialmente, 10
sessões.
Conforme disse, “a dor crônica tem o
aspecto mais internalizado na mente da pessoa e é mais difícil o manejo.
Disponibilizamos 10 sessões por paciente. Quando tem evolução favorável e é
possível executar, até tratar e curar 100 por cento, podemos ampliar o número
de sessões”. No caso da dor aguda, afirmou que “a resolubilidade é bem mais
rápida” e os pacientes experimentam melhoria expressiva logo após as sessões
iniciais que duram de 20 a 25 minutos.
AGULHAS
DESCARTÁVEIS
O Dr. Galvani informou que “a Secretaria
da Saúde tem nos atendido em tudo que solicitamos. São usadas agulhas de
qualidade, descartáveis. Não falta nada de material, nem toalhas descartáveis e
outros insumos que geralmente costumam faltar”. Ele elogiou a secretária Kátia
Santana afirmando que sua gestão tem apoiado o Ambulatório de Acupuntura.
Maria de Fátima com Dr. Galvani: alívio da dor desde as primeiras sessões |
Sobre a técnica, ele explicou que as
agulhas são aplicadas em pontos específicos para o combate à dor: “A acupuntura
é uma forma de, estimulando somaticamente o corpo da pessoa, fazer com que a
reação que ele assuma, frente à lesão que causou a agulha, promova uma reação
benéfica”.
E prosseguiu: “Quando estimulo com
agulhamento seco em determinados pontos, aonde é entendido no sistema nervoso
que foi lesado, promove uma determinada reação que, em alguns indivíduos
equilibra as glândulas, em outros promove a liberação de hormônios, em outros
agentes analgésicos e em outros promove a liberação de agentes
anti-inflamatórios”.
O médico concluiu afirmando que “a
acupuntura, muitas vezes, surpreende. A pessoa foi em vários lugares, tratou
com diversos anti-inflamatórios, já fez fisioterapia e de repente a gente
aplica uma ou duas vezes e, praticamente, desaparece” a dor.
Sobre pacientes que já se trataram muitos
atrás e voltaram ele explicou que “parece que o corpo já entende aquela
linguagem. Parece que o corpo da pessoa já conhece aquilo ali”. Sobre as
contraindicações, ele comentou que “criança
não vai parar com agulha” e que há um questionamento científico sobre o uso em
gestantes.
PACIENTES
RECOMENDAM
A moradora do Bairro Polon, Maria de Fátima
Oliveira Batista, 53 anos, explicou que procurou a acupuntura para tratar de
fibromialgia. Ela contou que realizou a sétima sessão e desde as primeiras
notou uma sensível melhora.
Por sua vez, Cláudia Nascimento Pinheiro
Vieira, 45 anos e moradora do Nova Marília II, na zona sul, disse que fez
tratamento com o Dr. Galvani há 9 anos: “Naquela época eu ia muito ao
ortopedista e tomava muita injeção para dor. Depois da acupuntura, melhorei
muito”. Na semana passada ela realizou a segunda sessão e comemorava os
resultados no alívio da dor no ombro.
Quadro na Policlínica mostra os pontos estimulados no corpo |
Depoimentos como esses funcionam como as
endorfinas, conhecidas como hormônio da felicidade, para o médico entusiasta: “Eu
tenho muito orgulho de ser médico da rede pública. Até algum tempo atrás se
podia dizer que algo que era elitizado era a acupuntura. Era caro, os planos de
saúde não pagavam, e não tinha no serviço público. O município de Marília
implantou e está mantendo muito bem. Se achar que é importante, pode ampliar
porque tem condições para isso.”
Localizado
na Rua Eduardo Neves, 161, na Vila Coimbra, o Ambulatório de Acupuntura
realiza, em média 280 sessões por mês.
* Reporagem publicada na edição impressa do Jornal da Manhã de 09.09.2018
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