“O essencial
é invisível aos olhos”, escreveu o pensador francês Antonie de Saint-Exupéry
quando imortalizou “O Pequeno Príncipe”, sua obra mais conhecida, no início do
século passado. Distante quase 10 mil quilômetros de Paris, uma aposentada
segue enxergando o que poucos veem em suas andanças na região do Aeroporto de
Marília, onde vive com a família. É no bairro da zona leste que ela recolhe toda
matéria-prima para criar peças únicas, inspiradas na natureza.
Caixas de leite e suco se transformam em belos vasos |
Teresa de
Oliveira, cujos trabalhos com galhos secos, folhas, sucata garimpada em
caçambas e restos de materiais de construção, foram objeto de reportagem
publicada nesta página, em outubro de 2.011, continua fazendo experiências para
o reaproveitamento de descartáveis que resultam em peças originais a partir de
embalagens de caixas de leite e de suco (Tetra Pak).
Após
curar-se de uma depressão, quando começou a trabalhar com artesanato, a
aposentada de 65 anos mantém uma rotina de dona de casa, que inclui os serviços
domésticos e os cuidados dos netos Giovana (12 anos) e Dudu (07 anos). Por
isso, procura aproveitar ao máximo cada momento livre.
Teresa e o certificado do concurso "Talentos da Maturidade" do Banco Santander |
ORIGINALIDADE
Teresa de Oliveira contou que não costumava fazer trabalhos manuais na adolescência e que nunca freqüentou cursos de artesanato. Sua fórmula é a curiosidade: “Gosto de experimentar coisas novas. Vendo um monte de caixinhas de leite pensei que também poderia usá-las nos meus trabalhos. Mexi daqui e dali, usei jornais colados às lâminas das caixinhas para dar mais firmeza, esperei secar bem e passei massa corrida. Quando vi, estava pronta a base dos vasos e o trabalho seguinte seria pintar e decorar com renda, fitas, e tudo o mais”.
Caixinhas de chá: novidade que custa 10 reais |
Olhando
atentamente os vasos tão bem confeccionados, é difícil imaginar que cada um
consumiu cinco caixas de leite (04 para as laterais e 01 para fazer a base).
Após ficarem prontos, a artesã se ocupa de decorá-los com flores secas, galhos
e tudo o mais que encontrar. Ela compra pouquíssimas coisas. Prefere aproveitar
o que tem em casa: retalhos de tecidos, botões, linhas etc.
As caixinhas
de chá foram a última novidade. Forradas com retalhos de tecido, elas são
práticas e podem ser posicionadas sobre os móveis ou penduradas na parede,
porque vêm com um prático lacinho e são vendidas por apenas 10 reais.
Mas, a grande surpresa ficou com os discos de
vinil: nas mãos de Teresa, eles se transformam em objetos de decoração
inusitados. Podem estar riscados, com a etiqueta desbotada, nada importa: a
sonoridade não é o principal. A ideia é dar uma utilidade aos “bolachões”, como
são conhecidos, livrando-os dos lixões.
Disco de vinil e carretel de madeira decoram a sala |
“Quando ando
de carro com minha filha, gosto de ficar olhando pela janela, atentamente. Ela
fica brava comigo porque estou sempre de olho em alguma coisa jogada na rua,
numa caçamba de entulhos”, contou às gargalhadas a divertida artesã. Foi assim
que, observando a vizinha reformar o jardim, ela correu para pegar as raízes
jogadas na calçada que viraram um belo centro de mesa com detalhes delicados.
Vaso de vidro é um dos mais encomendados para presente de casamento |
E como nada
escapa ao olhar atento de Teresa, que vê utilidade onde as pessoas veem
entulho, o formato dos quadros ganhou mais um reforço na versão redonda: garimpadas
pela cidade, as rodas de madeira dos carreteis de fiação são, agora, a nova
base de sua arte. Esse tal de Exupéry sabia das coisas!
Para entrar
em contato com a artesã, escreva para: oliveira.teresah@gmail.com ou
telefone para (14) 34139486 e (14) 81431481.
* Reportagem publicada na edição de 29.04.2012 do Correio Mariliense