Por Célia Ribeiro
“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo. E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”: a letra da canção Aquarela, imortalizada pelo compositor de MPB Toquinho, quase salta dos potinhos de tinta para os tecidos rústicos dando vida aos desenhos coloridos dos panos de prato. A cena, que reúne meninas e mulheres na zona oeste, se repete toda terça-feira à noite quanto o grupo se encontra para as aulas de artesanato.
Garotas como Tainara (à direita), também estão no curso |
A iniciativa partiu da comunidade, através da Associação de Moradores do Jardim América IV. Dos bate-papos informais, nas reuniões na Unidade de Saúde da Família (USF) do bairro, surgiu a ideia das mulheres se organizarem para as aulas de artesanato visando à geração de renda. Mesmo sem ter um local adequado, já que nem Centro Comunitário existe no bairro, falou mais alto a vontade de aprender as técnicas.
A dona de casa Marli da Silva, 45 anos e dois filhos, cedeu a garagem da residência localizada nas proximidades da USF, à rua Arnaldo Silva, 104. Foram providenciadas mesas e cadeiras e a Associação se encarregou da ajuda de custo para trazer a professora Zilda de Fátima Menegon Fernandes, que atravessa a cidade, vinda do Jardim Maria Izabel, na zona leste, especialmente para as aulas.
Garagem da casa reúne as alunas |
Dona Marli cedeu a garagem de casa |
MOSTRUÁRIO
Com duração de três meses, o curso de pintura em tecidos completou 60 dias no começo da semana. Das 19 às 22h, toda terça-feira, o grupo heterogêneo se encontra na casa da dona Marli e aproveita cada minuto. Concentradas, as alunas estão preparando um mostruário das peças para atraírem a freguesia quando concluírem o aprendizado.
A professora quer promover uma exposição dos produtos para divulgar o trabalho e, evidentemente, abrir as portas para a venda do artesanato: “A aula não é só aquele momento de pintura. Mas, é também um momento de relaxamento, de distração, é uma terapia que a gente faz aqui dentro”, observou a professora Zilda Fernandes.
A professora mostra os trabalhos do futuro mostruário |
Na noite de terça-feira, concentrada na atividade, uma das alunas tinha um motivo especial para frequentar o curso. Segundo informou uma das moradoras, a moça sofria com frequentes crises de convulsão. Após começar a frequentar as aulas, a saúde se estabilizou e sua qualidade de vida é outra.
Para ela, assim como para todas as participantes do curso de pintura em tecido, atrás do arco-íris dos potinhos de tinta se esconde a beleza que têm o desafio de revelar em singelos trabalhos manuais.
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