domingo, 25 de novembro de 2012

PESQUISA CIENTÍFICA MOSTRARÁ A REAL SITUAÇÃO DA POLUIÇÃO AMBIENTAL NO ENTORNO DE MARÍLIA

Por Célia Ribeiro

O impacto da poluição na degradação ambiental do entorno de Marília será mensurado, a partir de 2.013, num dos mais sérios trabalhos de pesquisa já realizados na região: a ONG Origem coletará amostras em córregos e rios para dimensionar o tamanho de um problema conhecido por todos. Os estudos pretendem apontar as reais condições da contaminação por agrotóxico e metais pesados e servir como subsídio para a implantação de políticas visando minimizar ou, se possível, remediar os efeitos das agressões registradas até o momento.
Rio Tibiriçá, antes do Ribeirão dos Índios, será um dos pontos de coleta.
À frente do trabalho estão dois profissionais de primeira linha: a consultora ambiental Suzana Más Rosa, médica veterinária, com mestrado em Geoquímica e Meio-Ambiente e doutorado em Química Analítica, ex-coordenadora de pesquisa da Universidade Federal da Bahia (UFBA) tendo no currículo consultorias a grandes empresas e organizações como Petrobras, Aracruz Celulose e IBAMA. Outro profissional é o presidente da ONG, Antonio Luiz Carvalho Leme, formado em economia e geografia com diversas especializações em Recursos Hídricos e Meio-Ambiente.

Leme e Suzana à frente dos estudos
Antes de embarcar para Salvador, quinta-feira, onde buscará apoio à pesquisa de Marília, Suzana concedeu entrevista exclusiva ao Correio Mariliense, acompanhada de Antonio Leme. Ela contou que quando trabalhou no “Instituto Baleia Jubarte” e nas pesquisas sobre a vida marinha deparou-se com análises cujos resultados da “causa mortis” eram inconclusivos. Foi então que iniciou as pesquisas sobre a relação da poluição química e a mortalidade de animais marinhos.

 Dos inúmeros estudos que participou na Universidade Federal da Bahia, Suzana foi atraída para as pesquisas que relacionavam a contaminação à saúde pública. Dessa forma, de volta a Marília, em setembro de 2.010, ao encontrar a situação “precária da cidade, que não trata seu esgoto”, começou a pensar num estudo que pudesse mostrar as condições da poluição ambiental para que providências sejam tomadas o quanto antes.

CUSTOS ELEVADOS

Idealista, paralelamente à atividade de consultora ambiental, Suzana Más Rosa encontrou na ONG Origem a parceria perfeita. Ao ingressar no grupo, a troca de informações com Leme e demais membros resultou na ideia do estudo científico. No entanto, devido aos custos elevados, o trabalho só poderá sair do papel com apoio financeiro (estima-se entre 20 a 30 mil reais) enquanto o apoio científico deverá vir da parceria com universidades.

Imagem de satélite de um dos pontos do Palmital/Tibiriçá
 Após retornar da Bahia, a pesquisadora tem encontros agendados na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e na UNESP (Campus de Assis). “Se a gente conseguir fazer a pesquisa através de uma universidade, os custos das análises diminuem bastante”, explicou Suzana, acrescentando que “a universidade quer dados para publicar e nós queremos usar a estrutura da universidade e diminuir custos”.

Segundo ela, cada análise de pesticida, por exemplo, custa em torno de mil reais. “Se a iniciativa privada ou alguém se sensibilizar com a causa e que entenda a importância de um levantamento como esse, do bem que fará para cidade, toda ajuda será bem-vinda”, assinalou.

ETAPAS

Segundo Leme, a “Avaliação da Saúde Ambiental de Marília” começará com a visita aos pontos de coleta de material. As áreas serão marcadas no GPS e avaliados itens como a acessibilidade aos locais para preparação do trabalho de campo. Na fase de coleta de materiais, serão recolhidas amostras de água, sedimentos e peixes (quando houver) para identificar níveis de pesticidas, agrotóxico e metais pesados.
Serão recolhidas amostras de água, de sedimentos e de peixes.
“Vamos observar como é a qualidade da água que chega aos córregos, à zona rural, recolhendo amostras. Depois vamos recolher amostras de pontos mais adiante para comparar e checar os impactos”, explicou o presidente da Origem. Conforme disse, “não somos uma ilha isolada e, com certeza, encontraremos problemas, metais pesados etc”.

Por sua vez, Suzana Más Rosa assinalou que as informações corretas são necessárias para “tentar encontrar soluções e com isso fazer um apelo aos órgãos públicos, às empresas que poluem, aos poluidores, para tomarem medidas de precaução e de remediação, se possível, porque quem polui tem que se responsabilizar por fazer a limpeza”.
Rio do Peixe, após o Córrego do Pombo, é um dos locais escolhidos,
mas de difícil acesso para a equipe de pesquisadores.
Os ambientalistas destacaram que existe legislação específica, mas que a fiscalização é deficiente por falta de pessoal. Através de dados científicos de uma pesquisa séria, amparada pela universidade, eles buscam identificar as fontes poluidoras e os poluentes que causam impactos devastadores ao meio-ambiente para que providências comecem a ser tomadas visando reverter ou frear os prejuízos já consolidados.

 BIODIVERSIDADE

“O avião que pulveriza agrotóxico acaba com as abelhas, com os pássaros, destrói os elos da cadeia alimentar, o equilíbrio ecológico, além de causar problemas à saúde pública”, observou Leme. Já Suzana explicou que “existem poluentes que conseguem alterar o código genético da pessoa” e são apontados como causadores do câncer. No caso dos metais pesados, de resíduos industriais, é ainda mais sério: “Chumbo, cadmio, mercúrio, arsênio etc, usados em indústrias metalúrgicas, são acumulativos e não se degradam”.

Eles afirmaram que “o que já foi lançado está no meio ambiente  e não tem o que fazer. A partir da detecção desses problemas poderá se exigir o tratamento de efluentes das indústrias. Não pode mais ter indústria que não trata seus efluentes e que os lança ‘in natura’ na rede de esgoto, que vai chegar ao rio mais próximo onde coletamos a água que vamos beber, que irriga as plantações, que usamos para cozinhar o alimento”.

Locais serão marcados no GPS e haverá levantamento
para checar as condições de acessibilidade.
Leme informou que, desde 2.008, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos: “Ingerimos 5,2 litros de veneno, por pessoa, por ano” e que já passou da hora da tomada de consciência para o enfrentamento do problema.

Pelo cronograma da Origem, o projeto deverá ser iniciado no princípio de 2.013 com a divulgação dos primeiros resultados no fim do primeiro semestre. Agora, o desafio é formalizar as parcerias com universidades e conseguir o auxílio financeiro para os ambientalistas fincarem os pés nas margens dos rios e córregos e desvendarem a real situação da poluição ambiental de Marília.

Obs: Fotos do arquivo pessoal de Antônio Luiz Carvalho Leme

* Reportagem publicada na edição de 25.11.2012 do Correio Mariliense

domingo, 18 de novembro de 2012

COM RECICLÁVEIS, CHAPLIN CRIOU DECORAÇÃO ORIGINAL E EDUCATIVA PARA FESTAS DE FIM DE ANO.

Por Célia Ribeiro

As mãos habilidosas de duas irmãs, acostumadas a encantarem seus familiares com criações inusitadas, passaram os últimos quatro meses trabalhando duro para que outras famílias possam mergulhar no clima natalino de uma maneira diferente: refletindo sobre a importância da preservação ambiental. O resultado da empreitada pode ser visto no Chaplin Restaurante e Pizzaria que inovou ao utilizar garrafas PET, garrafas de vidro, potes de conserva, rolhas de vinho, rolos de papel higiênico, entre outros materiais recicláveis, na decoração de fim de ano.
Garrafas de vidro na árvore de natal
inspirada em Barcelona
Eneida Felipe de Melo e Cleide de Melo Diniz são as responsáveis pela concepção e montagem da decoração que surpreende pela criatividade. De Barcelona, Cleide trouxe a ideia da árvore de Natal de vidro, que tem na ponteira o frasco de um Prosecco trazido de Portugal. Esposa do proprietário do Chaplin, Paulo Diniz, ela conta que ao ver a peça na Espanha logo pensou em criar algo parecido para o restaurante da família que ansiava por uma opção sustentável para os enfeites natalinos.

Vidros de palmito receberam
pintura  e Papais Noel
Devido ao amplo espaço dos ambientes foi preciso dosar, com critério, a elaboração das peças. Em primeiro lugar, as artistas trataram de resgatar materiais utilizados em anos anteriores de modo a reaproveitarem o que fosse possível, dando uma nova roupagem a estruturas antigas. Um exemplo é a imensa vela do balcão do restaurante, pinçada de 2.007, que foi reformada e ocupa posição de destaque perto da “cama” de folhas secas de palmeiras recolhidas da EMEI “Monteiro Lobato”, do outro lado da rua.

“Gosto de andar pela cidade e de pesquisar na internet”, revelou Cleide Diniz, explicando que pensando nos resíduos que o restaurante gera---e que são enviados para reciclagem---ela e a irmã selecionaram alguns materiais que poderiam ser aproveitados, sem custo. Assim, dezenas de rolhas de vinho formaram enfeites de parede, garrafas PET deram vida a adornos no interior do bar, os potes de vidro de palmito foram pintados para acomodar os bonecos de “Papai Noel”, cones de papelão foram revestidos de tecidos e fitas etc.

Detalhe das flores feitas com rolo de papelão de embalagens de papel higiênico
 Uma das surpresas ficou por conta dos rolos de papelão do interior das embalagens de papel higiênico. Com 70 rolos foi possível fazer margaridas de papelão com direito a folhas de sobras do material. Elas enfeitam uma parede inteira no fundo do restaurante e chamam a atenção ao lado dos CDs riscados e inutilizados que ganharam pintura e colagem de guardanapos com motivos natalinos. Um primor!

Cleide Diniz e a "cama" de folhas secas
No teto, galhos de jabuticabeira pintados com tinta spray receberam luzes e se tornaram lustres acolhedores. E até sobras da lembrancinha do aniversário de 15 anos da filha Paula Diniz, hoje com 28 anos e chef da conceituada cozinha do Chaplin, foram aproveitados numa árvore original: na entrada lateral, perto do caixa, pingentes do cantil com o nome da aniversariante de 13 anos atrás mostram que tudo pode ser reaproveitado com elegância.

COISA DE FAMÍLIA

Os últimos 20 dias foram intensos para Eneida e Cleide. Os trabalhos, iniciados há quatro meses, foram intensificados e concluídos na última quinta-feira. Mas, elas estão acostumadas a essa correria: nas festas de família a dupla está sempre junta nas criações. Cleide diz, modestamente, que “a artista é a Eneida. Tudo o que faço é influenciado por ela. Eu monto as coisas e ela dá o acabamento”. Eneida, por sua vez, sempre gostou de desafios e junto com a irmã tem se dedicado a criar coisas novas para o restaurante desde que Paulo Diniz assumiu o negócio.

Rolhas de vinho usadas com criatividade
 “Quando a gente era pequena, a gente era arteira até”, recorda Cleide arrancando uma sonora gargalhada da Eneida que comentou sobre as brincadeiras em cima das árvores e das corridas com carrinho de rolimã. Sempre unidas, as duas que têm mais uma irmã e um irmão, disseram que o artesanato sempre lhes chamou a atenção e que a parceria, iniciada na infância, foi se fortalecendo com o passar dos anos.

SUSTENTABILIDADE

Para o proprietário do Chaplin, Paulo Diniz, a opção por usar a temática da sustentabilidade na decoração está alinhada às práticas ambientalmente corretas do estabelecimento. Semanalmente, são enviados para reciclagem: papel, papelão, vidro, óleo, garrafas PET, latas etc, além de o restaurante manter torneiras com sensor automático para economia de água, entre outras iniciativas.

(Esq.) Eneida, Paulo e Cleide Diniz
“O Chaplin já tem uma tradição. A gente recicla tudo o que é possível. Então, não poderíamos fazer um Natal diferente daquilo que já é uma postura do Chaplin e vai ser sempre assim”, garantiu o empresário. Ex-diretor do Banco Santander, onde se aposentou após uma brilhante carreira, Paulo Diniz concluiu: “Eu tenho uma formação de sustentabilidade muito forte, em razão da empresa financeira que eu trabalhava que investe muito nisso e continua investindo, e tenho essa consciência da sustentabilidade para tocar pra frente”.

Miniaturas de cantil com
colônia, de 13 anos atrás,
decora a árvore
A decoração de fim de ano e a iluminação foram apresentadas aos clientes na noite da última quinta-feira. Para saber mais sobre o Chaplin, acesse: www.chaplinmarilia.com.br

Cones de papelão viraram velas
*Reportagem publicada na edição de 18.11.2012 do Correio Mariliense

domingo, 11 de novembro de 2012

ARTESÃ INOVA AO DEIXAR SETOR FINANCEIRO PARA SE DEDICAR AOS TRABALHOS COM RECICLÁVEIS.

Por Célia Ribeiro

O setor financeiro, com seus números e cálculos complicados, perdeu para as artes plásticas uma profissional que deixou as ciências exatas pelos pincéis, tecidos e, principalmente, pelos recicláveis que ganham vida nova em belas peças de decoração. Aos 35 anos, Andréia Salles Gonçalves é um exemplo da nova geração de artesãs que se dedicam a transformar materiais inservíveis, com muita criatividade.
Amdréia no ateliê de casa
Andréia começou a manifestar o gosto pelo artesanato desde menina. Não costumava brincar de boneca, mas quando via uma parede neutra lá ia a pequena colar adesivos. Se um vaso estava velho e descascado, ela tratava de encontrar uma maneira de reforma-lo pintando com cores vibrantes ou colando massinhas de modelar. A artista estava, assim, ensaiando os primeiros passos neste mundo surreal.

Com o passar dos anos, a artesã expandiu seus horizontes deixando fluir a criatividade ao redecorar cômodos das casas de amigos e familiares. Mas, quando se casou o interesse pelo artesanato ganhou novos contornos e sua residência virou um laboratório onde, até hoje, testa soluções inovadoras como os lustres feitos de sobras de canos de PVC, quadros de rolos de papel higiênico ou luminárias de barbante.

A VIRADA

Na adolescência, Andréia conciliava a vida profissional com a paixão pelas artes. Formada em Segurança do Trabalho, também atuou, por mais de 10 anos, na área financeira: “Sou de extremos. Quando trabalho, eu me dedico 100% porque sou perfeccionista”, contou explicando a causa de uma forte crise de estresse que a levou à emergência do hospital.
Vista da entrada do ateliê aguça a curiosidade
“Pensei que fosse morrer. Meus braços formigavam, apaguei mesmo”, recordou explicando que, naquele momento, decidiu parar com tudo e se dedicar a algo mais leve que pudesse garantir-lhe uma fonte de renda. “Meu forte são os quartinhos de bebê”, disse citando o pontapé inicial das atividades do ateliê que finalmente montou na entrada de casa, na zona oeste.

 Com o tempo, as encomendas foram aumentando impulsionadas pela famosa propaganda boca-a-boca. E a saída natural foi organizar o trabalho no ateliê onde amostras de produtos ficam em exposição. Da experiência financeira, ela aproveita os conhecimentos para gerenciar seu pequeno negócio pesquisando fornecedores para reduzir os custos e oferecer produtos a preços competitivos.

 Ela lamentou a falta de opção para encontrar matéria prima com preços acessíveis em Marília. A diferença de custo de uma cola, item básico, chega a 100% quando comprada pela internet. “Eu tenho que ganhar. Mas, todo mundo também merece ter uma casa bonita. Por isso, pratico um preço justo nos meus trabalhos”, assinalou.

O colorido do tecido dá vida nova aos caixotes de feira
Cores vibrantes dão um toque especial aos caixotes
E pensando em democratizar o acesso ao artesanato, Andréia se prepara para uma nova empreitada: nas próximas semanas estará com seu ateliê numa tenda da Feira do Pôr-do-sol: “Vou levar um pouco de tudo e principalmente dos artigos feitos com recicláveis, como os caixotes de madeira, garrafas PET, rolos de papel higiênico etc, para as pessoas verem que não precisam jogar fora muitas coisas. Basta ter imaginação que coisas bonitas podem ser feitas”.
(Esq.) Luminárias de PVC
forrado  de tecido e de barbante

Sonhando com um mundo colorido, a artesã também dedica um pequeno espaço do seu tempo a repassar os ensinamentos que aprendeu testando técnicas. Individualmente ou em pequenos grupos, ela atende adultos e crianças que saem do ateliê levando suas criações: “Já estou pensando num espaço maior e, com isso, ampliar as aulas”.

Até o fogão pode ficar especial: ideia que artesã
incorporou na cozinha da sua casa
Finalizando, Andréia mostrou-se feliz com a valorização crescente da arte com recicláveis: “Às vezes, a pessoa pinta a casa usando dezenas de latas de tinta e quando vai fazer um jardim não pensa que pintando as latas e parafusando na parede pode ter hortas suspensas ou belos jardins com flores na mesma lata que seria jogada fora”. Como ela diz: “É só olhar bem que dá para aproveitar um pouco de tudo”.
"Bolo" de fralda
faz sucesso

O ateliê da artesã, batizado de “Andréia Fiz Arte”, fica na Rua Santo Marco Gravena, 107. Seu telefone é (14) 97691918.
 
Reportagem publicada na edição de 11.11.2012 do Correio Mariliense

domingo, 4 de novembro de 2012

COM BAIXO CUSTO E SEM EFEITO RESIDUAL, FITOTERAPIA É USADA COM SUCESSO POR VETERINÁRIO DE MARÍLIA.

Por Célia Ribeiro

Embrenhado mato adentro ou explorando aldeias indígenas, onde absorveu conhecimento dos pajés de diferentes etnias, o médico veterinário Ricardo Cavichioli Scaglion aproveita a rica diversidade da flora nativa em experiências voltadas ao tratamento fitoterápico de animais. Alguns experimentos, realizados nos últimos seis anos, e cujos resultados encontram-se em fase de sistematização para publicação científica, serão conhecidos nesta entrevista exclusiva que ele concedeu ao Correio Mariliense.

Ricardo e as ervas cultivadas no quintal
Da infância na zona rural entre os avós de descendência italiana, o veterinário de 38 anos e 16 de formado, guarda lembranças dos “remédios naturais” aplicados nos ferimentos após as travessuras: “Erva de Santa Maria com vinagre e sal, que minha avó amarrava com um pano, curava os machucados pra gente fazer estripulias tudo de novo”, conta com o olhar maroto de menino arteiro.

Ambientalista da ONG Origem, Ricardo resgatou essas lembranças quando decidiu pesquisar alternativas diante de situações que o entristeciam profundamente na vida profissional: após um período de tratamento com medicamentos veterinários alopáticos, o quadro não evoluía a contento. Tanto para animais de pequeno, médio ou grande portes, o problema permanecia aguçando sua curiosidade.

O veterinário iniciou as pesquisas a partir da literatura disponível, deparando-se com grande dificuldade para reunir informações que embasassem seus estudos. Além da fitoterapia animal não estar presente na grade curricular das faculdades de veterinária, faltam cursos de especialização e capacitações para os profissionais, observou.

Fitoterápico aplicado no lombo do cavalo
Sem se abater com os percalços, Ricardo Cavichioli deu prosseguimento às pesquisas a partir de um viveiro de plantas medicinais cultivadas no quintal de casa. Uniu a teoria dos livros aos experimentos práticos realizados  principalmente em bovinos e equinos, nas propriedades em que presta assistência veterinária, após a devida autorização dos proprietários.

SAÚDE PÚBLICA

“A maior parte dos produtos que consumimos vem de origem animal ou vegetal. No caso dos produtos lácteos e carnes, o grande vilão que está por trás disso é a danada da alopatia. São produtos sintetizados em laboratório que resolvem em parte o problema. Em contrapartida, têm efeito colateral que ninguém sabe, ninguém vê e não é divulgado”, afirmou.

Segundo ele, os medicamentos para tratar os ectoparasitas (carrapato, mosca do chifre, bernes etc) quando usados em doses maciças “têm grande poder residual. O produto é aplicado externamente, na forma de pulverização, no dorso do animal e outros são injetáveis. Todos eles vão cair na corrente sanguínea e, para produzir leite, tem que circular sangue na glândula mamária”, assinalou, citando os riscos de contaminação do produto final.

Ricardo Cavichioli alertou que, por questões econômicas, muitos pecuaristas não respeitam o período de carência entre a aplicação dos remédios e a ordenha. Mesmo com a análise do leite, no momento da venda às cooperativas, os produtos com resíduos não são descartados podendo trazer sérios prejuízos à saúde dos consumidores com o passar do tempo.

Veterinário manda manipular chá para pequenos animais
 O veterinário lembrou, ainda, outro problema: os produtos podem ser adquiridos facilmente e nem sempre os trabalhadores que vão manipulá-los no campo seguem as normas de segurança, aumentando os riscos aos animais e à saúde dos próprios aplicadores. Como consequência do uso indiscriminado, alguns medicamentos não fazem mais efeito culminando em mais prejuízos, “porque está acelerando o processo de ganho de resistência frente àquele organismo, ao carrapato, à mosca”.

A experiência do veterinário consistiu em relacionar algumas plantas com reconhecido poder repelente (Citronela, Erva de Santa Maria, Guiné, Limonete), antiinflamatório, cicatrizante etc. Muitas plantas possuem mais de um princípio ativo. Ele utiliza as plantas de três formas: macerado (ervas amassadas), chá (manda formular em farmácias de manipulação) para doenças renais, hepáticas, do aparelho urinário etc, e tintura (ervas maceradas e conservadas com álcool).

CAVALARIA: LABORATÓRIO NATURAL

Atuando como voluntário na Cavalaria da Polícia Militar, Ricardo Cavichioli fez estudos de casos relatando, semanalmente, a evolução dos equinos. “Fiz um trabalho fitoterápico paralelo ao alopático e me deparei com todo tipo de problema: lesões, machucados, além de parasitas. Foram quatro meses seguidos de acompanhamento que registrei caso a caso”, explicou. Ele contou que uma égua machucada há tempos, já aposentada, foi curada em 10 dias de tratamento fitoterápico e voltou a andar.
Cãozinho recebe chá diretamente na boca
O veterinário destacou que na Cavalaria, “o emprego da fitoterapia ficou visível. O método é indolor, não agride o animal, não gera estresse, aproximou o cavalariço do animal e a relação homem-animal melhorou muito”.

No caso de bovinocultura de leite, a grande preocupação é com a saúde pública. Casado e pai de um casal de filhos pequenos, Ricardo Cavichioli disse que existem pesquisas sérias atestando a contaminação do leite por resíduos de medicamentos veterinários. “Ao ingerir esse leite, a mãe acaba passando ao filho na amamentação”, ressaltou.

A solução, segundo ele, é o governo investir na fitoterapia para uso animal e apostar no uso consorciado de tratamento: alopatia e fitoterapia. O veterinário também acredita que os futuros profissionais devam ser formados com acesso às informações dessas alternativas e os que se encontram no mercado de trabalho necessitam receber capacitações e passar por cursos de especialização.

Do ponto de vista econômico, Ricardo acredita haver um grande mercado para os produtores que apostarem no manejo mais natural de seus rebanhos, atentando-se à questão do uso de medicamentos no tratamento das doenças. “Tem que ter pessoas vocacionadas, sem medo de ser feliz, dando a cara pra bater”, finalizou. Para contatar o médico veterinário, seu e-mail é: rcavichioliscaglion@yahoo.com.br

PALAVRA DO CRIADOR
 
No “Sítio Paixão Antiga”, localizado no Distrito de Avencas, os animais são tratados com fitoterápicos com excelentes resultados. Segundo o proprietário, Luiz Arnaldo Cunha de Azevedo, diretor-executivo do Sindicato Rural de Marília, os preparados de ervas medicinais são levados pelo veterinário Ricardo Cavichioli que monitora a aplicação: “Os animais ficam mais saudáveis, com pêlo mais bonito”.
 
Conforme disse, “as pessoas deveriam usar mais isso até por problema de saúde de quem aplica porque os remédios hoje em dia são fortes”. O criador disse ainda que “dependendo do veneno que fica no dorso do animal, cria resistência” aos parasitas, o que não ocorre com os produtos naturais.

 * Reportagem publicada na edição de 04.11.2012 do Correio Mariliense