domingo, 28 de outubro de 2012

“O QUE EU SEMPRE QUIS FALAR”: PROJETO VOLTADO PARA A JUVENTUDE AMPLIA ATUAÇÃO E VAI PARA A PERIFERIA.

Por Célia Ribeiro

Os traços delicados e a voz suave da garota recém-saída da adolescência escondem a personalidade forte de alguém que optou por arregaçar as mangas e trabalhar na transformação da realidade de jovens em situação de vulnerabilidade social. Demonstrando maturidade incomum para a idade, Jaqueline Santana Alves, 22 anos, aproveita os conhecimentos da universidade e a experiência de anos de militância nos grupos de jovens da igreja católica para coordenar o inovador Projeto “O que eu sempre quis falar”.
Ao ar livre, roda de conversa no Espaço Juventude.
Formada em Serviço Social e cursando pós-graduação na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Goiás, em parceria com a Rede de Institutos da Juventude, Jaque, como é conhecida pela moçada, cresceu independente. Aos 12 anos já trabalhava vendendo desde chinelos e toalhas bordados por ela, até louças, enxovais de Ibitinga, cosméticos etc. “Sempre fui muito inquieta e essas questões sociais sempre me afetaram, principalmente na área da juventude, que desde o primeiro contato me apaixonei pela causa”, revelou.

E a causa da juventude começou a interessa-la bem cedo: “Cresci na comunidade da ‘Sagrada Família’, entrei para o grupo de jovens e essa vivência me ajudou a escolher minha profissão. Cursei Serviço Social e faço pós-graduação porque quero conhecer outras realidades e atuar mais com a juventude”, afirmou.
Jaqueline, 22 anos e muita garra.
Da atuação na Pastoral da Juventude, dois anos e meio atrás, surgiu a fagulha responsável por acender o fogo interior que a motiva. A jovem queria abrir os horizontes de garotos e garotas, tinha inúmeras ideias, mas faltavam um local e estrutura para que os projetos se materializassem. Foi quando chegou ao Espaço Juventude IRSC da Congregação Irmãos do Sagrado Coração, conhecida pelas escolas de alto nível (como o Colégio Cristo Rei de Marília) e manutenção de obras sociais em sete municípios (SP, MG e PR).

O PROJETO

Localizado estrategicamente na Avenida Campinas, 240, o Espaço Juventude IRSC foi criado sob medida para o desenvolvimento dos projetos voltados aos jovens. Tem alojamento com beliches e armários, cozinha, salas de reunião, ampla área verde com bancos, equipamentos de som etc. O local é cedido para seminários, encontros e atividades diversas, explicou Jaqueline.

Contratada da entidade, onde faz um pouco de tudo, a jovem vislumbrou a possibilidade de emplacar ali um projeto social que recebeu o apoio da Secretaria Municipal da Juventude: “O que eu sempre quis falar”. Desde meados de 2011, já foram realizadas oficinas, workshops artísticos e culturais e inúmeras outras atividades mobilizando jovens de várias camadas sociais, mas com foco naqueles mais carentes.

Descontração na oficina de artesanato
Jaque explica que o projeto tem por objetivo “auxiliar os jovens e as jovens a serem agentes de seu meio, discutindo e fomentando a ideia do protagonismo, a emancipação e o empoderamento juvenil, através de grupos de discussão com temáticas que envolvem a dinâmica da vida dos jovens e das jovens, ressaltando a vida comunitária, a cena política, a cidadania e estimulando seus desenvolvimentos pessoais e sociais”.

Conforme disse, “o Espaço Juventude quer se tornar um espaço para acolher os jovens e as jovens”, oferecendo local para aprendizado, troca de experiências e vivências, “visando articular ações socioculturais de prevenção e proteção, assim como desenvolvimento de capacidades e potencialidades através de oficinas artísticas e culturais, além de rodas de conversas com temáticas recorrentes à vida das juventudes”.

Muito espaço nos alojamentos da instituição
 A primeira edição do “O que eu sempre quis falar” aconteceu no período de agosto a dezembro do ano passado. Em encontros semanais, foram realizadas rodas de conversa com temática voltada às políticas públicas da juventude, a questão das mulheres, a violência contra jovens negros e negras etc. “A gente sempre tenta intercalar a discussão com alguma linguagem artística, oficina de teatro, artesanato, fanzine (jornal), grafite, stencil”, explicou a coordenadora.

Jaque observa a entrada do Espaço Juventude
Em 2.012 estão acontecendo workshops mensais: o de fotografia chamou muito a atenção e o de questões de gênero atraiu um público interessado em discutir o tema controverso. Mas, as atividades não se restringem ao “Espaço Juventude”. A ideia, segundo Jaqueline, é levar o projeto aos bairros.

CULTURA

Para chegar às comunidades mais distantes, o grupo segue conquistando aliados, como a ONG “Psicologia e Integração Social” que atua em favelas da zona norte: “Fizemos uma parceria para entrar na comunidade e conhecer a realidade deles e delas. Vamos trabalhar com poéticas visuais, arte urbana, técnicas de grafite, stencil, stiker (pinturas) e rodas de conversa sobre a questão juvenil”.

Ontem, o projeto foi realizado durante todo o dia no salão anexo à Capela São Francisco, no final da Rua Dermânio da Silva Lima. Nos intervalos entre as discussões em grupo e as atividades culturais e artísticas foram servidos lanches aos participantes.  A previsão é que essa etapa do projeto seja realizada até fevereiro de 2.013.

Grafite no mural interno: criatividade
Jaqueline contou que elaborou o projeto com auxílio de professores e que as ações pretendem ser voltadas à juventude, como um todo: “Minha visão não é trabalhar apenas com os jovens da igreja”, afirmou. Ela destacou o grande apoio da Pastoral da Juventude, a quem inicialmente apresentou a ideia, e do Espaço Juventude IRSC que abraçou a proposta viabilizando sua concretização.

PROTAGONISMO JUVENIL

“A pressão é muito grande. A família, a escola e a sociedade empurram o jovem muito cedo para o mercado de trabalho, sem ter vivenciado muitas coisas”, analisou Jaqueline, que acrescentou: “A gente trabalha na contramão. A maioria dos cursos é para formar para o mercado de trabalho formal e a gente quer mostrar outras possibilidades. Por exemplo, tem o curso pré-vestibular da UNESP, de graça, onde os jovens podem continuar estudando”.

A questão das drogas e da violência é um dos temas que merecem muita atenção, também: “A gente acredita na prevenção”, destacou a coordenadora explicando que nas rodas de conversas esses assuntos são debatidos e que para prevenir a violência são necessárias políticas públicas.

 
Workshops atraem muitos jovens
Dizendo-se apaixonada pela causa da juventude, Jaqueline observou que a linha do projeto “tem tudo a ver com a proposta de Cristo, de construção do reino. Esse é um projeto que eu sempre quis vivenciar, ter um espaço onde poderia conversar sobre as minhas dúvidas e inquietações. A maioria dos jovens é inquieta e não tem espaço onde conversar, para onde direcionar essas inquietações”.

Questionada como imaginava-se no futuro, Jaque mudou o semblante e disse, com firmeza: “A causa da juventude, para mim, é proposta para a vida toda. Que eu saiba enxergar meu papel hoje como jovem e, amanhã, como adulta que trabalha com jovens”, finalizou.

* Reportagem publicada na edição de 28.10.2012 do Correio Mariliense

domingo, 21 de outubro de 2012

VETERINÁRIO DEFENDE CAMPANHAS EDUCATIVAS PARA POSSE RESPONSÁVEL DE ANIMAIS E ALERTA SOBRE AS DOENÇAS.

Por Célia Ribeiro

“As doenças transmissíveis entre animais e seres humanos correspondem a 60 por cento das doenças infecciosas conhecidas hoje”. A informação é do médico veterinário Lupércio Garrido, que por 12 anos coordenou a Divisão de Zoonoses da Secretaria Municipal da Saúde e para quem o complexo problema que envolve a posse responsável de animais só será resolvido a médio prazo, através de campanhas educativas.
 
Lupércio Garrido, da Divisão de Zoonoses
Dando continuidade ao tema que o Correio Mariliense abordou domingo passado, mostrando a bonita iniciativa de voluntários da entidade “Adote Animais Vira Latas de Marília”, responsável por recolher, tratar e dar em adoção animais abandonados, mostraremos hoje outro lado deste controverso assunto: os riscos à saúde da população.

“O Centro de Vigilância Ambiental, unidade financiada com recursos do SUS, centraliza as ações voltadas à vigilância das zoonoses, como castração, vacinação antirrábica, observação de animais agressores, isolamento de animais suspeitos etc”, explicou o veterinário. Ele assinalou que “sua finalidade é exercer ações de vigilância em saúde, logicamente dentro de rigorosos princípios éticos, mas não se trata de órgão voltado para a promoção do bem-estar animal”.

Lupércio Garrido afirmou que “ao longo dos anos, os abrigos destinados ao acolhimento de animais sem dono acabaram se transformando em simples depósitos, carentes dos recursos mais básicos”. Em sua opinião, “o País deve buscar políticas públicas sustentáveis e investir na redução da superpopulação animal para que se obtenham avanços significativos nesta área”.

Animais em observação no canil
Em Marília, estimativas indicam a existência de 50 mil cães e 15 mil gatos. Deste total, 60% são domiciliados, mas 30% são os chamados semi-domiciliados que causam preocupação: “A cadela entra e sai de casa na hora que quer, pode apanhar duas crias por ano. O proprietário vai alimenta-la durante a gestação, mas depois joga esses filhotes para o poder público, joga na rua, no bosque, enfim, dá uma destinação inadequada que resulta em crueldade e uma série de problemas em relação à saúde”, afirmou.

DIVISÃO DE ZOONOSES

Das 174 doenças infecciosas conhecidas hoje, 60 por cento são transmitidas entre animais e seres humanos. “Por desconhecimento ou confusão, as pessoas acabam trazendo problemas para a Divisão de Zoonoses que não são dela”, observou Lupércio Garrido, assinalando que os Centros de Controle de Zoonoses “são unidades que devem fazer a vigilância ambiental, vigilância epizoótica e a vigilância epidemiológica buscando evitar que ocorram doenças dentro das populações humanas por conta dos erros de manejo entre as espécies”.

O veterinário alertou para os riscos que representam os animais soltos nas ruas: “Não estão sendo vacinados, estão invadindo estabelecimentos em busca de comida e vão acarretar acidentes de trânsito tendo em vista o grande número de motocicletas e carros que transitam em Marília”.

Informação à população em eventos públicos
Ele prosseguiu explicando que “por não serem bem alimentados, nem vermifugados, estarão sujeitos a doenças”, como a temida Leishmaniose que leva à morte do paciente em 80 por cento dos casos. “A Leishmaniose Visceral Americana acaba de ser introduzida no município de Marília. Há mais de uma década a SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias), o Instituto Adolfo Lutz e a Divisão de Zoonoses vêm pesquisando, num trabalho muito intenso de vigilância, e observando essa doença avançar e se alastrar”, relatou.

LEISHMANIOSE MATA

Para se ter uma ideia da gravidade do assunto, o veterinário informou que o mosquito palha, transmissor da Leishmaniose, foi observado pela primeira vez em Marília, em 2.010. No ano passado, um menino de seis anos, residente na zona norte contraiu a doença, mas conseguiu se curar porque foi tratado a tempo. No entanto, muitas vezes a doença é descoberta em estadios avançados levando à morte dos pacientes.

Segundo Lupércio Garrido, nos primeiros casos foi descoberto tratar-se de animais vindos de outros municípios (Bauru, Lins, Guarantã e Araçatuba). Uma explicação é que, diante da necessidade de eliminação do animal doente, muitos donos optaram por mandar seus cães a casas de parentes ou solta-los em Marília evitando a eutanásia dos mesmos. A doença é transmitida quando o mosquito palha pica o animal doente e depois pica um animal sadio, (doença no animal) ou pica o animal doente e depois pica o ser humano (doença nas pessoas). Hoje, a Leishmaniose já não é mais importada e está circulando em Marília.
Equipes fazem monitoramento de casa em casa
O veterinário destacou a importância da detecção precoce da Leishmaniose a partir dos seguintes sintomas nos cães: crescimento exagerados das unhas, lesões ulcerativas da pele (em torno dos olhos e na ponta das orelhas), além de emagrecimento, perda de apetite, vômito, diarreia e descamação da pele.

Nas pessoas, os sintomas da Leishmaniose são: febre prolongada (mais de 15 dias), perda de apetite, vômito, diarreia, distúrbios gastrointestinais, emagrecimento e aumento do volume abdominal (crescimento do fígado e baço). Cerca de 80 por cento dos pacientes não resistem e vão a óbito.

“Não tem tratamento para o cão que tem que ser eliminado por ser um reservatório”, explicou o veterinário. No caso das pessoas, o tratamento é feito à base de medicamento quimioterápico administrado em ambiente hospitalar.

CONQUISTAS SIGNIFICATIVAS

De acordo com Lupércio Garrido, a cidade registrou muitos avanços nos últimos anos. “Temos um Centro de Vigilância Ambiental, 12 canis de isolamento para observação de Raiva, Leishmaniose e outras zoonoses”, citou. No entanto, ressaltou que “não temos abrigo para animais e nem pretendemos. Não é obrigação da Secretaria Municipal da Saúde, mesmo porque o Ministério da Saúde não vai financiar esse tipo de atividade”.

Centro de Vigilância Ambiental, na zona norte.
Para ele, a solução é o investimento em programas educativos para posse responsável de animais que só surtirão efeito a médio e longo prazos. Enquanto isso, a Prefeitura iniciou um Programa de Castração em parceria com 11 clínicas veterinárias da cidade. Por mês, cada clínica castra 10 animais, com material cirúrgico doado pelo município: 08 castrações são realizadas a baixo custo (40 reais pagos à clínica) e 02 castrações gratuitas (indicadas pelas ONGs que cuidam de animais).

Ele reconheceu que as 110 castrações mensais são insuficientes, mas significam uma grande ajuda para minimizar o problema da superpopulação animal. “O programa tem sido conduzido com a boa vontade das clínicas veterinárias”, disse, elogiando os profissionais “que devem ser parabenizados e respeitados”.

Finalizando, Lupércio Garrido informou que há muita expectativa quanto ao retorno da vacinação antirrábica, após 03 anos de suspensão pelo governo federal. Neste sábado, foram imunizados cães e gatos das zonas norte, leste e distritos. No próximo sábado, dia 27, a vacinação chegará às zonas sul e oeste em 63 postos (praças, escolas, unidades de saúde, clínicas veterinárias etc). Foram disponibilizadas 35 mil doses da vacina.

* Fotos: Mauro Abreu

* Reportagem publicada na edição de 21.10.2012 do Correio Mariliense

domingo, 14 de outubro de 2012

DOENTES E ABANDONADOS, VIRA-LATAS SÃO RECOLHIDOS, MEDICADOS E OFERECIDOS PARA ADOÇÃO.

Por Célia Ribeiro

Correndo de um lado para outro, alegres e brincalhões, alguns cães sem raça definida, conhecidos por vira-latas, chamam a atenção de quem passa pela praça próxima à Rua José Medina, na zona leste. São oito animais cuidados comunitariamente pelos moradores do entorno que levam ração, água e se cotizam para custearem as vacinas e os medicamentos. Infelizmente, esses vira-latas são uma gota no oceano quando se observa o grande número de cães abandonados que uma associação protetora luta para salvar em Marília.
Com cinco anos de atividades e gozando de boa reputação entre os usuários das redes sociais, a “Adote Animais Vira-Latas de Marília” sobrevive graças ao apoio de voluntários e à determinação da presidente, a advogada Lucimara Fernanda Costa, de 35 anos. Casada e mãe de um filho de 10 anos, ela tem um profundo amor e respeito pelos animais.
Fernada: amor pelos animais desde a infância
Filha única, desde a infância Fernanda mantém uma relação diferenciada com os bichos. “Sempre tive contato com animais. Cheguei a ter 26 gatos quando morava com meus pais. E não me lembro de nenhuma época da minha vida que não tenha tido cachorro em casa”, contou.

DESPESAS ELEVADAS

Antes de conhecer a “Associação Adote”, Fernanda recolhia das ruas os animais abandonados e doentes por conta própria: “Comecei a cuidar sozinha. Pegava o tanto que eu aguentava, que o marido permitia, deixava num espaço que sabia que eles estariam bem e cuidava todos os dias. Conforme ia doando, abria outra vaga, castrava, vacinava e doava, fazendo o rodízio”, recordou.
Inspirada pelo trabalho considerado modelo em proteção animal, realizado na cidade de São Carlos, de onde veio há 10 anos, Fernanda Costa se juntou ao grupo de voluntários interessados em tocarem o projeto que visa resgatar, cuidar, castrar, vacinar e na medida do possível oferecer os animais para adoção.

Atualmente, a associação utiliza uma chácara no Distrito de Padre Nóbrega: a casa rústica, sem acabamento, faz as vezes de abrigo. Assim que chegam, os animais são levados para o isolamento até que os exames veterinários atestem a inexistência de doenças contagiosas. Depois da quarentena, eles continuam sendo cuidados e, quando surgem interessados, são doados. Nas feiras de adoção, ou mesmo através do álbum de fotos disponível no Facebook, as pessoas podem contatar a entidade e adotar os animais.
Akita abandonado
Para arcar com as despesas mensais, que ultrapassam cinco mil reais, os cinco voluntários fixos da associação precisam usar a criatividade: promovem feiras de artesanato, vendem camisetas da entidade e realizam eventos beneficentes. A  instituição também recebe doações diversas da comunidade, seja em dinheiro, seja através do pagamento das contas das clínicas veterinárias, do fornecimento de ração ou da doação de medicamentos.

“Atualmente, estamos com 30 animais. Mas, já tivemos 78”, contou a militante. Ela coleciona muitas histórias tristes de cães que sofreram todo tipo de abuso e maus-tratos antes de serem jogados na rua. Um caso, em especial, emociona os membros da associação: o “Bocão”, cachorro que chegou muito magro, à beira da morte, tinha orelhas e rabo cortados e os dentes serrados pelo antigo dono!
Em poucos meses ele engordou 35 quilos: é alimentado à base de papinha e das caras rações pastosas porque não consegue comer a ração normal. Até para beber água o cachorro sofre, comentou Fernanda, informando que um veterinário da Universidade de São Paulo (USP) dará o tratamento gratuito para fechar os canais dos dentes do cachorro: “Nem água fria o Bocão consegue beber por causa da sensibilidade”, explicou.

 DEDICAÇÃO DIÁRIA
O trabalho dos voluntários é árduo: pela manhã e à tarde, o grupo se reveza para ir ao abrigo de Padre Nóbrega, distante 16 quilômetros de Marília. Quando chove, a lama é outro complicador que não chega a desanimar os cuidadores. Eles têm que limpar o local, medicar os animais doentes na hora certa (aplicando até injeções), colocar água e comida. Os voluntários também olham animal por animal para checar se não há parasitas.
Anúncios nas redes sociais, como Facebook, dão resultado

“Nossa maior dificuldade é a financeira”, acrescentou a presidente, destacando que muitos doadores anônimos contribuem com o trabalho, arcando com os elevados custos das clínicas veterinárias que chegam a mais de quatro mil reais. “Não temos desconto de nenhuma clínica veterinária. Se chegamos às 7h30 da noite, vamos pagar preço de plantão. O que eles fazem é dividir bastante e isso facilita”, explicou.
Sobre as adoções, Fernanda disse que os filhotes conseguem novos lares rapidamente. Já os animais adultos esbarram no preconceito da idade: “Erroneamente, as pessoas acham que os animais mais velhos não aprendem mais nada, que têm comportamento da rua e não vão se adequar a casa. Não é verdade. Muitos se adaptam. Eu peguei um cachorro adulto e parece que ele é meu desde filhote”.
Animais são cuidados, vacinados e castrados

Além dos mais velhos, outros animais permanecerão na entidade até a morte: “São animais doentes, que não andam, com câncer no maxilar etc”, informou a presidente, dizendo que até o mascote “Bocão”, pelas condições em que se encontra, não será colocado para adoção e será cuidado pelos voluntários enquanto viver.
 CONSCIENTIZAÇÃO

Para adotar um animal da entidade, além de ser maior de idade, o interessado deve assinar um termo de posse responsável. Os voluntários também realizam visitas aos novos lares para se certificarem que os animais estejam bem cuidados. Fernanda assinalou que as pessoas podem devolver os animais ou trocá-los por outros, se não houver adaptação. Mas, não podem abandoná-los na rua.
Aliás, esse é um trabalho a que a presidente da associação, como advogada, também se dedica. Ao receber denúncias de abandono e maus-tratos de animais, ambos considerados crimes, a entidade verifica e coleta provas para que os responsáveis sejam denunciados  e punidos na forma da lei.

No lado da prevenção, a entidade realiza palestras em escolas exibindo fotos de animais doentes e abandonados; depois ilustra com novas imagens da recuperação dos bichos. Fernanda foca suas apresentações na importância da posse responsável de animais. Além disso, em todas as oportunidades, são distribuídos folhetos informativos à população.
Os animais chegasm debilitados e precisam de muitos cuidados
Apesar da relevância do trabalho, as críticas são constantes: “Tem gente que passa e me vê cuidando de cachorro na rua e diz que eu devia cuidar de crianças. Mas, se esquece que esse é um problema de saúde pública. Ao cuidar de animais doentes, estamos evitando que sejam transmitidas doenças aos seres humanos”, concluiu.
PARA AJUDAR

A “Adote” aproveita sua ampla rede de contatos nas redes sociais para divulgar fotos de animais perdidos e anúncios de pessoas que tentam encontrar animais que se perderam. No período eleitoral, por causa dos rojões, houve mais de 50 cães desaparecidos. A maioria já foi localizada, felizmente.

Quem se interessar em colaborar com a “Associação Adote Animais Vira-Latas de Marília”, pode escrever para: adota_marilia@hotmail.com, telefonar para (14) 97840415 ou fazer doações de medicamentos e ração nas clínicas veterinárias parceiras: Planeta Animal (Rua Sorocaba, 91), Clínica CEDVET (Rua Álvares Cabral, 378), ou PET XV (Rua XV de Novembro, 1425).

FOTOS: M.ART’S E DOUGAS MOTTA – REVISTA D’MARÍLIA
* Reportagem publicada na edição de 14.10.2012 do Correio Mariliense

domingo, 7 de outubro de 2012

"UNIÃO ESPÍRITA JOÃO DE CAMARGO" ACOLHE NECESSITADOS, DÁ APOIO E ENSINA O CAMINHO DA SUPERAÇÃO.

Por Célia Ribeiro

Nas manhãs de domingo, bem antes do vai-e-vem frenético que toma conta da Avenida das Esmeraldas, solitários ou em grupo, necessitados de toda ordem rumam em direção ao socorro que lhes garantirá alimento para o corpo e para a alma. Estrategicamente localizada na Rua José Alberto Gonçalves, 120, vizinha ao Shopping Esmeralda, a “União Espírita João de Camargo” acolhe a todos, independente do credo, realizando um importante trabalho social que visa resgatar homens e mulheres da situação de vulnerabilidade em que vivem.

Refeições atraem necessitados
A instituição fundada por João Batista Albino, falecido há três anos, completa 41 anos em 2012 inspirando outras entidades que levam o nome “João de Camargo” para diversos municípios e até fora do Brasil, como Portugal e Canadá. Quem explica é o presidente, Amauri Corona, cuja fala mansa e pausada transmite paz aos interlocutores desde o primeiro contato.

 “A União Espírita João de Camargo surgiu com o objetivo de unir os trabalhos, porque temos várias casas espíritas para atender o público. Todas são iguais e falam a mesma língua. A diferença é pouca, de administração, mas a filosofia é a mesma”, informou o presidente. Como todo começo, a instituição enfrentou muitas dificuldades e consolidou-se graças ao trabalho voluntário e às doações de espíritas e de praticantes de várias religiões que simpatizam com a Doutrina Espírita.

Amauri mostra o estoque de alimentos doados
ENSINAR A PESCAR

A atuação assistencial é muito importante para atender as pessoas naquilo que mais precisam: comida. No entanto, o fornecimento de sopas às quintas-feiras (17h30) e aos domingos (10h30), e a distribuição de cestas básicas, são complementados por um trabalho profundo e silencioso destinado a resgatar a autoestima, dar noções de cidadania, boas maneiras e estímulo aos assistidos que, dessa forma, reúnem as condições para lutarem e ganharem o próprio sustento.

Segundo Amauri Corona, ao longo dos anos foram registrados inúmeros casos de necessitados que, graças ao apoio da entidade, conseguiram se reerguer, conquistaram trabalho digno e abriram mão das cestas básicas e das sopas em prol de outros mais carentes. “A ideia é fortalecer a pessoa materialmente, com a alimentação, mas espiritualmente também, com ensino, fazendo com que possa acordar e progredir”, assinalou.

Voluntárias: alegria em servir ao próximo
 O presidente da instituição ressaltou que ali vale a máxima “não só dar o peixe, mas ensinar a pescar”, revelando um cuidado para evitar “deixar o pessoal na ociosidade. E não criar uma sociedade doentia, tendo que dar, dar e dar, enquanto o indivíduo não vai produzir nada para si, para o País e para sociedade”.

Uma maneira criativa que encontraram de evitar o clientelismo e o mau uso das doações, como o comércio clandestino de cestas básicas, foi um intercâmbio com outras entidades assistenciais, principalmente as católicas: “Verificamos se a pessoa está pegando cestas básicas em outras entidades. Mantemos um cadastro e trocamos informações”. Assim, são atendidas as famílias que realmente necessitam.

Auditório onde ocorrem as palestras e cursos
Amauri Corona explicou que, às quintas-feiras, o mesmo grupo de voluntários se cotiza para adquirir os alimentos e prepara as refeições que são servidas após uma breve oração e leitura de textos de fácil assimilação. Já aos domingos, a partir das 9h30, são proferidas palestras, e aulas para adultos e crianças que terminam com o almoço coletivo.

“Deus tudo provê, mas não cai uma cesta básica na sua casa se você não levantar e for atrás”, disse o presidente, lamentando as críticas que o trabalho assistencial recebe muitas vezes: “Criticam que cuidamos de bêbados, de vagabundos. Mas, a gente tem que usar o ensinamento de Jesus. Veja se você quer que os outros te façam o mesmo que você está fazendo para eles”, provocou.

O presidente falou ainda sobre a evangelização infantil cujos frutos encantam os membros da entidade: “Tem uma menina de 13 anos, que mora num barraco na zona sul, e vem aos domingos para a sopa e aprender a fazer crochê com as senhoras. Ela conta que o pessoal a convida para as drogas lá na favela, para as promiscuidades sexuais. Mas, ela diz que não quer isso”. E acrescentou: “O meio é que é fruto do ser humano. Ela está onde as pessoas usam drogas, onde tem promiscuidade e mesmo com toda dificuldade financeira, ela vem para uma casa ouvir sobre o evangelho”.

Biblioteca aberta ao público
ALIMENTO PARA A ALMA

Aos domingos já chegaram a servir 200 refeições. Hoje, esse número foi reduzido devido à melhoria das condições de vida da população e pela atuação de outras entidades assistenciais espíritas, católicas e evangélicas, analisou Amauri Corona. Entretanto, o trabalho ainda é pesado e exige a colaboração do voluntariado e doações da comunidade, independente da religião.

Como entidade espírita, a casa possui um sólido trabalho que vai desde as palestras seguidas de passe, de segunda a sexta-feira, às 6h30, até atividades no período noturno, exceto nos finais de semana: Estudo do Livro dos Espíritos (segunda-feira), Estudo da Mediunidade (terça-feira), Estudo do Livro dos Médiuns (quarta-feira), Reuniões de equipe e palestra pública (quinta-feira) e Palestra sobre o Evangelho e passes ao público (sexta-feira).
Fachada da entidade, ao lado do Esmeralda Shopping
Quem quiser contribuir com o projeto social da “União Espírita João de Camargo” pode contatar o presidente, Amauri Corona, pelo celular (14) 97214858 ou ir direto à entidade, ao lado do Esmeralda Shopping. Doações de alimentos, brinquedos e colchões são bem-vindos.

* Reportagem publicada na edição de 07.10.2012 do Correio Mariliense