domingo, 21 de outubro de 2012

VETERINÁRIO DEFENDE CAMPANHAS EDUCATIVAS PARA POSSE RESPONSÁVEL DE ANIMAIS E ALERTA SOBRE AS DOENÇAS.

Por Célia Ribeiro

“As doenças transmissíveis entre animais e seres humanos correspondem a 60 por cento das doenças infecciosas conhecidas hoje”. A informação é do médico veterinário Lupércio Garrido, que por 12 anos coordenou a Divisão de Zoonoses da Secretaria Municipal da Saúde e para quem o complexo problema que envolve a posse responsável de animais só será resolvido a médio prazo, através de campanhas educativas.
 
Lupércio Garrido, da Divisão de Zoonoses
Dando continuidade ao tema que o Correio Mariliense abordou domingo passado, mostrando a bonita iniciativa de voluntários da entidade “Adote Animais Vira Latas de Marília”, responsável por recolher, tratar e dar em adoção animais abandonados, mostraremos hoje outro lado deste controverso assunto: os riscos à saúde da população.

“O Centro de Vigilância Ambiental, unidade financiada com recursos do SUS, centraliza as ações voltadas à vigilância das zoonoses, como castração, vacinação antirrábica, observação de animais agressores, isolamento de animais suspeitos etc”, explicou o veterinário. Ele assinalou que “sua finalidade é exercer ações de vigilância em saúde, logicamente dentro de rigorosos princípios éticos, mas não se trata de órgão voltado para a promoção do bem-estar animal”.

Lupércio Garrido afirmou que “ao longo dos anos, os abrigos destinados ao acolhimento de animais sem dono acabaram se transformando em simples depósitos, carentes dos recursos mais básicos”. Em sua opinião, “o País deve buscar políticas públicas sustentáveis e investir na redução da superpopulação animal para que se obtenham avanços significativos nesta área”.

Animais em observação no canil
Em Marília, estimativas indicam a existência de 50 mil cães e 15 mil gatos. Deste total, 60% são domiciliados, mas 30% são os chamados semi-domiciliados que causam preocupação: “A cadela entra e sai de casa na hora que quer, pode apanhar duas crias por ano. O proprietário vai alimenta-la durante a gestação, mas depois joga esses filhotes para o poder público, joga na rua, no bosque, enfim, dá uma destinação inadequada que resulta em crueldade e uma série de problemas em relação à saúde”, afirmou.

DIVISÃO DE ZOONOSES

Das 174 doenças infecciosas conhecidas hoje, 60 por cento são transmitidas entre animais e seres humanos. “Por desconhecimento ou confusão, as pessoas acabam trazendo problemas para a Divisão de Zoonoses que não são dela”, observou Lupércio Garrido, assinalando que os Centros de Controle de Zoonoses “são unidades que devem fazer a vigilância ambiental, vigilância epizoótica e a vigilância epidemiológica buscando evitar que ocorram doenças dentro das populações humanas por conta dos erros de manejo entre as espécies”.

O veterinário alertou para os riscos que representam os animais soltos nas ruas: “Não estão sendo vacinados, estão invadindo estabelecimentos em busca de comida e vão acarretar acidentes de trânsito tendo em vista o grande número de motocicletas e carros que transitam em Marília”.

Informação à população em eventos públicos
Ele prosseguiu explicando que “por não serem bem alimentados, nem vermifugados, estarão sujeitos a doenças”, como a temida Leishmaniose que leva à morte do paciente em 80 por cento dos casos. “A Leishmaniose Visceral Americana acaba de ser introduzida no município de Marília. Há mais de uma década a SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias), o Instituto Adolfo Lutz e a Divisão de Zoonoses vêm pesquisando, num trabalho muito intenso de vigilância, e observando essa doença avançar e se alastrar”, relatou.

LEISHMANIOSE MATA

Para se ter uma ideia da gravidade do assunto, o veterinário informou que o mosquito palha, transmissor da Leishmaniose, foi observado pela primeira vez em Marília, em 2.010. No ano passado, um menino de seis anos, residente na zona norte contraiu a doença, mas conseguiu se curar porque foi tratado a tempo. No entanto, muitas vezes a doença é descoberta em estadios avançados levando à morte dos pacientes.

Segundo Lupércio Garrido, nos primeiros casos foi descoberto tratar-se de animais vindos de outros municípios (Bauru, Lins, Guarantã e Araçatuba). Uma explicação é que, diante da necessidade de eliminação do animal doente, muitos donos optaram por mandar seus cães a casas de parentes ou solta-los em Marília evitando a eutanásia dos mesmos. A doença é transmitida quando o mosquito palha pica o animal doente e depois pica um animal sadio, (doença no animal) ou pica o animal doente e depois pica o ser humano (doença nas pessoas). Hoje, a Leishmaniose já não é mais importada e está circulando em Marília.
Equipes fazem monitoramento de casa em casa
O veterinário destacou a importância da detecção precoce da Leishmaniose a partir dos seguintes sintomas nos cães: crescimento exagerados das unhas, lesões ulcerativas da pele (em torno dos olhos e na ponta das orelhas), além de emagrecimento, perda de apetite, vômito, diarreia e descamação da pele.

Nas pessoas, os sintomas da Leishmaniose são: febre prolongada (mais de 15 dias), perda de apetite, vômito, diarreia, distúrbios gastrointestinais, emagrecimento e aumento do volume abdominal (crescimento do fígado e baço). Cerca de 80 por cento dos pacientes não resistem e vão a óbito.

“Não tem tratamento para o cão que tem que ser eliminado por ser um reservatório”, explicou o veterinário. No caso das pessoas, o tratamento é feito à base de medicamento quimioterápico administrado em ambiente hospitalar.

CONQUISTAS SIGNIFICATIVAS

De acordo com Lupércio Garrido, a cidade registrou muitos avanços nos últimos anos. “Temos um Centro de Vigilância Ambiental, 12 canis de isolamento para observação de Raiva, Leishmaniose e outras zoonoses”, citou. No entanto, ressaltou que “não temos abrigo para animais e nem pretendemos. Não é obrigação da Secretaria Municipal da Saúde, mesmo porque o Ministério da Saúde não vai financiar esse tipo de atividade”.

Centro de Vigilância Ambiental, na zona norte.
Para ele, a solução é o investimento em programas educativos para posse responsável de animais que só surtirão efeito a médio e longo prazos. Enquanto isso, a Prefeitura iniciou um Programa de Castração em parceria com 11 clínicas veterinárias da cidade. Por mês, cada clínica castra 10 animais, com material cirúrgico doado pelo município: 08 castrações são realizadas a baixo custo (40 reais pagos à clínica) e 02 castrações gratuitas (indicadas pelas ONGs que cuidam de animais).

Ele reconheceu que as 110 castrações mensais são insuficientes, mas significam uma grande ajuda para minimizar o problema da superpopulação animal. “O programa tem sido conduzido com a boa vontade das clínicas veterinárias”, disse, elogiando os profissionais “que devem ser parabenizados e respeitados”.

Finalizando, Lupércio Garrido informou que há muita expectativa quanto ao retorno da vacinação antirrábica, após 03 anos de suspensão pelo governo federal. Neste sábado, foram imunizados cães e gatos das zonas norte, leste e distritos. No próximo sábado, dia 27, a vacinação chegará às zonas sul e oeste em 63 postos (praças, escolas, unidades de saúde, clínicas veterinárias etc). Foram disponibilizadas 35 mil doses da vacina.

* Fotos: Mauro Abreu

* Reportagem publicada na edição de 21.10.2012 do Correio Mariliense

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