“O QUE EU SEMPRE QUIS FALAR”: PROJETO VOLTADO PARA A JUVENTUDE AMPLIA ATUAÇÃO E VAI PARA A PERIFERIA.
Por Célia Ribeiro
Formada em
Serviço Social e cursando pós-graduação na PUC (Pontifícia Universidade
Católica) de Goiás, em parceria com a Rede de Institutos da Juventude, Jaque,
como é conhecida pela moçada, cresceu independente. Aos 12 anos já trabalhava
vendendo desde chinelos e toalhas bordados por ela, até louças, enxovais de
Ibitinga, cosméticos etc. “Sempre fui muito inquieta e essas questões sociais
sempre me afetaram, principalmente na área da juventude, que desde o primeiro
contato me apaixonei pela causa”, revelou.
Da atuação
na Pastoral da Juventude, dois anos e meio atrás, surgiu a fagulha responsável
por acender o fogo interior que a motiva. A jovem queria abrir os horizontes de
garotos e garotas, tinha inúmeras ideias, mas faltavam um local e estrutura
para que os projetos se materializassem. Foi quando chegou ao Espaço Juventude
IRSC da Congregação Irmãos do Sagrado Coração, conhecida pelas escolas de alto
nível (como o Colégio Cristo Rei de Marília) e manutenção de obras sociais em
sete municípios (SP, MG e PR).
A primeira
edição do “O que eu sempre quis falar” aconteceu no período de agosto a
dezembro do ano passado. Em encontros semanais, foram realizadas rodas de
conversa com temática voltada às políticas públicas da juventude, a questão das
mulheres, a violência contra jovens negros e negras etc. “A gente sempre tenta
intercalar a discussão com alguma linguagem artística, oficina de teatro,
artesanato, fanzine (jornal), grafite, stencil”, explicou a coordenadora.
Dizendo-se
apaixonada pela causa da juventude, Jaqueline observou que a linha do projeto
“tem tudo a ver com a proposta de Cristo, de construção do reino. Esse é um
projeto que eu sempre quis vivenciar, ter um espaço onde poderia conversar
sobre as minhas dúvidas e inquietações. A maioria dos jovens é inquieta e não
tem espaço onde conversar, para onde direcionar essas inquietações”.
* Reportagem publicada na edição de 28.10.2012 do Correio Mariliense
Os traços
delicados e a voz suave da garota recém-saída da adolescência escondem a
personalidade forte de alguém que optou por arregaçar as mangas e trabalhar na
transformação da realidade de jovens em situação de vulnerabilidade social.
Demonstrando maturidade incomum para a idade, Jaqueline Santana Alves, 22 anos,
aproveita os conhecimentos da universidade e a experiência de anos de militância
nos grupos de jovens da igreja católica para coordenar o inovador Projeto “O
que eu sempre quis falar”.
Ao ar livre, roda de conversa no Espaço Juventude. |
E a causa da
juventude começou a interessa-la bem cedo: “Cresci na comunidade da ‘Sagrada
Família’, entrei para o grupo de jovens e essa vivência me ajudou a escolher
minha profissão. Cursei Serviço Social e faço pós-graduação porque quero
conhecer outras realidades e atuar mais com a juventude”, afirmou.
![]() |
Jaqueline, 22 anos e muita garra. |
O PROJETO
Localizado
estrategicamente na Avenida Campinas, 240, o Espaço Juventude IRSC foi criado
sob medida para o desenvolvimento dos projetos voltados aos jovens. Tem
alojamento com beliches e armários, cozinha, salas de reunião, ampla área verde
com bancos, equipamentos de som etc. O local é cedido para seminários,
encontros e atividades diversas, explicou Jaqueline.
Contratada
da entidade, onde faz um pouco de tudo, a jovem vislumbrou a possibilidade de
emplacar ali um projeto social que recebeu o apoio da Secretaria Municipal da
Juventude: “O que eu sempre quis falar”. Desde meados de 2011, já foram
realizadas oficinas, workshops artísticos e culturais e inúmeras outras
atividades mobilizando jovens de várias camadas sociais, mas com foco naqueles
mais carentes.
Descontração na oficina de artesanato |
Jaque
explica que o projeto tem por objetivo “auxiliar os jovens e as jovens a serem
agentes de seu meio, discutindo e fomentando a ideia do protagonismo, a
emancipação e o empoderamento juvenil, através de grupos de discussão com
temáticas que envolvem a dinâmica da vida dos jovens e das jovens, ressaltando
a vida comunitária, a cena política, a cidadania e estimulando seus
desenvolvimentos pessoais e sociais”.
Conforme
disse, “o Espaço Juventude quer se tornar um espaço para acolher os jovens e as
jovens”, oferecendo local para aprendizado, troca de experiências e vivências,
“visando articular ações socioculturais de prevenção e proteção, assim como
desenvolvimento de capacidades e potencialidades através de oficinas artísticas
e culturais, além de rodas de conversas com temáticas recorrentes à vida das
juventudes”.
Muito espaço nos alojamentos da instituição |
Jaque observa a entrada do Espaço Juventude |
Em 2.012
estão acontecendo workshops mensais: o de fotografia chamou muito a atenção e o
de questões de gênero atraiu um público interessado em discutir o tema
controverso. Mas, as atividades não se restringem ao “Espaço Juventude”. A
ideia, segundo Jaqueline, é levar o projeto aos bairros.
CULTURA
Para chegar
às comunidades mais distantes, o grupo segue conquistando aliados, como a ONG
“Psicologia e Integração Social” que atua em favelas da zona norte: “Fizemos
uma parceria para entrar na comunidade e conhecer a realidade deles e delas.
Vamos trabalhar com poéticas visuais, arte urbana, técnicas de grafite,
stencil, stiker (pinturas) e rodas de conversa sobre a questão juvenil”.
Ontem, o
projeto foi realizado durante todo o dia no salão anexo à Capela São Francisco,
no final da Rua Dermânio da Silva Lima. Nos intervalos entre as discussões em
grupo e as atividades culturais e artísticas foram servidos lanches aos
participantes. A previsão é que essa
etapa do projeto seja realizada até fevereiro de 2.013.
Grafite no mural interno: criatividade |
Jaqueline
contou que elaborou o projeto com auxílio de professores e que as ações
pretendem ser voltadas à juventude, como um todo: “Minha visão não é trabalhar
apenas com os jovens da igreja”, afirmou. Ela destacou o grande apoio da
Pastoral da Juventude, a quem inicialmente apresentou a ideia, e do Espaço
Juventude IRSC que abraçou a proposta viabilizando sua concretização.
PROTAGONISMO JUVENIL
“A pressão é
muito grande. A família, a escola e a sociedade empurram o jovem muito cedo
para o mercado de trabalho, sem ter vivenciado muitas coisas”, analisou Jaqueline,
que acrescentou: “A gente trabalha na contramão. A maioria dos cursos é para
formar para o mercado de trabalho formal e a gente quer mostrar outras
possibilidades. Por exemplo, tem o curso pré-vestibular da UNESP, de graça,
onde os jovens podem continuar estudando”.
A questão
das drogas e da violência é um dos temas que merecem muita atenção, também: “A
gente acredita na prevenção”, destacou a coordenadora explicando que nas rodas
de conversas esses assuntos são debatidos e que para prevenir a violência são
necessárias políticas públicas.
![]() |
Workshops atraem muitos jovens |
Questionada
como imaginava-se no futuro, Jaque mudou o semblante e disse, com firmeza: “A
causa da juventude, para mim, é proposta para a vida toda. Que eu saiba
enxergar meu papel hoje como jovem e, amanhã, como adulta que trabalha com
jovens”, finalizou.
* Reportagem publicada na edição de 28.10.2012 do Correio Mariliense
Comentários
Postar um comentário
Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.