sábado, 31 de dezembro de 2011

RETROSPECTIVA 2011: BONS EXEMPLOS DOS QUE CONTRIBUIRAM PARA MELHORAR A VIDA DOS MARILIENSES

Por Célia Ribeiro

O ano de 2011 foi muito rico em experiências inovadoras. Muitas pessoas, empresas e instituições ousaram, acreditaram em seus sonhos e contribuíram para melhorar a vida dos marilienses através de projetos sociais e investimentos em sustentabilidade. Vamos recordar, na edição de hoje, algumas das reportagens selecionadas. Todas as 88 matérias e notas publicadas ao longo do ano podem ser lidas neste blog. Basta clicar na barra lateral onde as reportagens estão separadas por mês.

Fevereiro
Coleta seletiva na escola
Escola Fisk: A preocupação em economizar energia elétrica, realizar a coleta seletiva de lixo e manter um pedacinho da natureza em todos os ambientes da escola é apenas uma pequena parte de um conceito global da Escola Fisk: os cerca de dois mil alunos que frequentam os cursos trabalham a questão da sustentabilidade e da solidariedade no dia-a-dia.
Segundo a diretora e sócia-proprietária, Sílvia Sampaio, “os alunos participam de todos os projetos sociais e ambientais. Desde a coleta de roupas e objetos para doação, até a campanha do óleo usado, eles se engajam de verdade e os resultados são melhores a cada dia”.


Março

Campanha da Fraternidade: Deus sempre nos perdoa. A natureza não”. A frase, lançada durante a entrevista sobre a Campanha da Fraternidade 2.011, pelo padre Marcos Roberto Marques Ortega, é autoexplicativa. O planeta não suporta mais as agressões do homem e se manifesta em incontáveis desastres ambientais, contabilizando um nefasto saldo de perdas materiais e, pior que isso, de milhões de vidas. A sustentabilidade foi discutida entre os fiéis pela igreja católica.

Viveiros da Fundação Bradesco em Marília
Fundação Bradesco: Em Marília, com a participação dos alunos, desde 2.005 os viveiros da Fundação Bradesco produzem e entregam cerca de 700 mudas por mês, cujo plantio e desenvolvimento são acompanhados pelo engenheiro agrônomo Gefferson Marconato. Os alunos de todos os cursos têm papel fundamental neste processo: “Eles participam do ciclo completo, da coleta de sementes, da quebra de dormência, do plantio e dos cuidados nos viveiros”, observou para destacar, em seguida, que os estudantes têm educação ambiental na prática incorporando os conceitos de sustentabilidade que levarão para a vida adulta.

 Abril

Equipe da Gota de Leite que
foi beneficiada em 2011
Tauste Ação Social: Praticamente todas as entidades de Marília já foram beneficiadas pelo grupo: “Desde o início, o Tauste traz em seu DNA a consciência da responsabilidade social que uma empresa deve fomentar. Marília possui uma extensa e importante rede assistencial que atende de forma humana e eficiente as diversas demandas da população mais carente, não apenas local, mas regionalmente. Através de parcerias, o Tauste tem atuado de forma contundente junto a estas entidades, a Secretaria Municipal de Educação, clubes de serviços e outras organizações que visam a melhoria na qualidade de vida da nossa gente”, informou o coordenador do “Tauste Ação Social”, Guilherme Rodrigues da Cunha.

Voluntários preparam almoço no Centro Espírita Luz e Verdade

Centro Espírita Luz e Verdade: A fila em frente à entidade, na rua XV de Novembro, começa antes de o sol nascer. Desde 6h, quando o burburinho de voluntários podia ser ouvido da calçada, engenheiros, advogados, médicos, professores, donas de casa, aposentados e trabalhadores em geral se revezam nas tarefas. A alegria é contagiante e nem parece que todo mundo saiu da cama de madrugada, em pleno domingo. A missão é servir o café da manhã, atender as famílias que assistem palestras e depois levam o almoço para casa. Além da assistência espiritual, as famílias cadastradas recebem cestas básicas, roupas, calçados e todo tipo de ajuda, graças aos abnegados voluntários.

Maio

A beleza dos jardins do Univem (Foto Ivan Evangelista)
Univem: O Centro Universitário Eurípedes de Marília, entidade reconhecida pela qualidade de ensino e berço de renomados profissionais, tem se destacado por um projeto de sustentabilidade modelo. O respeito ao meio ambiente não é apenas ensinado em sala de aula. Toda a comunidade acadêmica, incluindo os colaboradores dos diferentes setores, participa ativamente do trabalho que simboliza uma declaração de amor à natureza. Tudo o que pode ser aproveitado encontra uma destinação correta, explica a consultora de Jardinagem e Paisagismo, Lilian Aparecida Marques de Oliveira. Reciclagem de lixo, produção de sabão, oficina de bambu, entre outros, são algumas das atividades ali desenvolvidas.

 Junho
Colaboradores integram a ONG
da indústria de chocolate
Belajuda: O delicioso aroma do chocolate invade o ambiente. Para muitos “chocólatras”, trabalhar numa empresa assim seria um verdadeiro sonho. Mas, com olhar atento o que se vê é apenas a superfície de uma ideia inovadora que conseguiu levar a solidariedade ao chão de fábrica. Com unidades em Marília (Bel Chocolates) e Herculândia (Laticínios Hércules), o grupo Bel S/A emprega 700 colaboradores diretamente e outros 300 indiretamente. As campanhas tradicionalmente realizadas no mês de julho, por conta do aniversário da empresa, geraram ações sociais tão bem sucedidas que o caminho natural foi a criação de uma organização não governamental: a Associação Beneficente Belajuda que atua com apoio a diversos projetos sociais.

 Julho
Horta orgânica irrigada com água da chuva coletada em cisterna
Educação de Jovens e Adultos: O CEEJA “Professora Sebastiana Ulian Pessine” é um dos pioneiros na implantação de boas práticas sustentáveis. Por exemplo, adotou a coleta seletiva de lixo há alguns anos e foi premiado pelo projeto que utiliza água da chuva armazenada numa grande cisterna. Aliás, é essa água que irriga a horta e o pomar onde árvores frutíferas começam a produzir bem no coração da cidade.

Agosto

Lavanderia comunitária: Numa manhã fria, os varais cheios de roupas coloridas e um quarador próximo ao alambrado não deixam dúvida: chegamos à lavanderia comunitária da zona sul. Instalado estrategicamente em frente à Paróquia Santa Rita de Cássia, no bairro Nova Marília, o sistema de lavagem manual de roupas vem de longos anos e garante o sustento para inúmeras mulheres de baixa renda que tiram dali, pelo menos, um salário mínimo por mês. Elas chegam bem cedo --- antes das 6h30 --- e só vão embora ao final da tarde porque o trabalho, totalmente artesanal, exige atenção constante para que nenhuma roupa saia manchada do molho, explica a vice-presidente da Associação de Moradores do Nova Marília e coordenadora do grupo, Laudite Ferreira Gaia Vieira.
Setembro
Fernando, Paulo, Paula, Marcelo e Lupércio:
sócios-proprietários do Chaplin
Chaplin: Patrimônio gastronômico de Marília, desde 1.981, milhares de clientes têm alguma história para contar do Chaplin, o restaurante e pizzaria que as pessoas têm o prazer de apresentar aos parentes e amigos em visita à cidade. O que pouca gente sabe é que, por trás da gigantesca engrenagem, que faz tudo funcionar como um relógio suíço, está uma preocupação ambiental levada a sério nos mínimos detalhes. Para começar, o forno da pizzaria utiliza apenas madeira de reflorestamento. As embalagens (vidros, latinhas de alumínio, tampinhas, plástico e papelão) são doados a um coletor de recicláveis que tira dali o sustento de sua família. Da mesma forma, o óleo das fritadeiras tem destino certo: uma empresa certificada recolhe e transporta o material até a cidade de Sumaré, na região de Campinas.

 Outubro
Futuros agrônomos na Fazenda Experimental da Unimar
Unimar: Considerado celeiro do mundo, o Brasil tem todas as condições para aumentar a produção de alimentos, suprir o mercado interno e exportar o excedente, contribuindo para o saldo positivo da balança comercial do País.  No entanto, não basta produzir. É preciso garantir a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Essa visão, que parece de especialista do agronegócio, na verdade é encontrada na nova safra de engenheiros agrônomos que a Universidade de Marília (Unimar) está colocando no mercado. Acompanhada do professor Ronan Gualberto, ouvimos quatro estudantes na Fazenda Experimental: Bruno Felipe Gea Fernandes, Leonardo Pinhel, João Fernando Freitas e Luís Fernando Sgorlon. Os quatro futuros agrônomos foram unânimes em defender o uso racional de agrotóxicos, investindo em melhoramento genético para obter sementes resistentes às pragas e doenças e no controle biológico.

Novembro
Arte sacra é um dos destaques
Márcia de Oliveira: Os pescadores de fim de semana são alguns dos inúmeros personagens saídos da imaginação da artesã Márcia de Oliveira. Psicóloga de formação e renomada jornalista, nascida em Botucatu e que adotou Marília para viver, ela transforma em arte muitas coisas aparentemente inservíveis: cascas de amendoim e castanhas, folhas secas, caixinhas de fósforo, cacos de azulejo e cerâmica, além de recicláveis como papelão, garrafas PET, garrafas long neck etc. Aproveitando as vantagens da internet, atualmente a artesã produz muitas peças sob encomenda e despacha para todo o Brasil, com preços que variam de 15 a 80 reais. A arte sacra é um dos pontos fortes do seu trabalho. Os oratórios feitos em caixas de fósforo fazem o maior sucesso, assim como os santos muito solicitados por colecionadores. Fotos das criações estão disponíveis no seu perfil do Facebook.

Dezembro
Grupo de artesanato une
as mães de crianças com câncer

GAACH: Se cair um fio de lã no chão, vira arte. Nada é desperdiçado e qualquer sobra de material ou embalagens descartadas ganham nova vida em objetos criativos com acabamento impecável. O diferencial é que, antes de gerarem renda para as famílias, as tardes de terça-feira funcionam como um elixir de esperança, unindo as mães que têm filhos com câncer e hemopatias (doenças do sangue). A casa ampla e arejada, “melhor que casa de mãe e casa de sogra”, na avaliação bem humorada da ceramista Silza Más Rosa, fica na Rua Alfeu Cezar Pedrosa, 63 (em frente à escola Orbe). É a sede do GAACH (Grupo de Apoio à Criança com Câncer e Hemopatias), entidade filantrópica que, desde 2.003, tornou-se um porto seguro para famílias que vêm a Marília para o tratamento oncológico e de doenças como anemia falciforme, hemofilia etc. Um belo exemplo de que a solidariedade opera milagres.

BOAS FESTAS 

Aos leitores do Correio Mariliense e deste blog que nos prestigiaram em 2011, desejamos muita paz, saúde e sucesso em todos os dias de 2012. Em janeiro, retornamos com reportagens inéditas mostrando o que de melhor tem Marília nas áreas social e de sustentabilidade ambiental. Feliz Ano Novo!!!

* Retrospectiva publicada na edição de 31.12.2011 do Correio Mariliense

sábado, 24 de dezembro de 2011

ENQUANTO GARANTE O PRESENTE, ENTIDADE PREPARA O FUTURO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DA PERIFERIA

Por Célia Ribeiro

O espírito solidário da comunidade, aliado aos projetos socialmente responsáveis das empresas, encontrou solo fértil para a consolidação de um dos mais importantes trabalhos filantrópicos voltados às crianças e adolescentes da periferia de Marília. Perto de completar cinco anos de existência, a Associação Amor de Mãe mantém uma bem organizada estrutura de atendimento às famílias em situação de risco da Favela Argolo Ferrão e imediações do Jardim Califórnia, garantindo o dia de hoje, mas de olho no futuro.

Profa. Lúcia Helena de Souza acompanha aluna
A entidade presidida por Marluci da Silva Gripa e coordenada por sua filha, a professora Tammy Regina Gripa, foi apresentada em reportagem desta página na edição de 16 de maio de 2010. De lá para cá, o trabalho das voluntárias, que começou pela Pastoral da Criança da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cresceu e apareceu. Além das mães de baixíssima renda e seus filhos, a ONG passou a acolher crianças de trabalhadoras que não tinham onde deixar os filhos fora do período escolar.


Na ampla área verde, que aos poucos vai recebendo melhorias, está o prédio principal onde funcionam a oficina de costura e a padaria, responsáveis pela geração de renda das mães atendidas pelo projeto, além da estrutura educacional destinada às crianças e adolescentes que têm reforço escolar com duas professoras, de manhã e à tarde, bem como aulas de espanhol, flauta, coral, balé e capoeira.

SONHANDO ALTO

Perfeccionista, Tammy Gripa conta que não perde uma chance de profissionalizar as mães da entidade: “Sempre que surge um curso de salgado, de panetone etc, a gente envia as mães para que elas se aprimorem, produzam com mais qualidade e mantenham a clientela”. Atualmente, além dos pães já conhecidos, a padaria passou a produzir uma completa linha de integrais (pães de vários tamanhos), fatias húngaras, sonhos, lua-de-mel, chocotone e panetone.

Panetones e chocotones fazem muito sucesso
Em média, as mulheres fabricam 150 pães por dia, além dos outros produtos. Elas vendem nas ruas, no comércio e em alguns pontos, como a Igreja Nossa Senhora de Fátima, onde levam as mercadorias fresquinhas aos sábados. Recentemente, passaram a aceitar encomendas para salgados (bolinhas de queijo, esfirras, rissoles, coxinhas) que entregam para congelar ou fritam para as festas.


Hoje, cerca de 20 mães são assistidas pela entidade. Elas recebem quase um salário mínimo e uma cesta básica, enquanto os filhos permanecem na Associação onde realizam as tarefas, fazem atividades culturais e esportivas, lancham, almoçam e tomam banho antes de irem à escola.

ESCOLA DE COSTURA


Outra fonte de renda das mulheres é a oficina de costura. Bem montada, a estrutura permite todo tipo de trabalho industrial: de confecções a sacolas retornáveis, a ONG recebe as encomendas, orienta o trabalho e as mães ganham pelo serviço, incrementando o orçamento familiar.
Tammy acompanha de perto o trabalho
De olho neste mercado que têm mão-de-obra limitada, Tammy anuncia para 2012 os planos para criar uma “Escola de Costura”. Dessa forma, empresários do setor que quiserem investir na formação de mão-de-obra capacitada, poderão procurar a entidade, adotar uma adolescente dando uma ajuda de custo mensal (130 a 150 reais) mais uma cesta básica durante 04 ou 05 meses. Depois, é só abrir estágio para a aluna na empresa que poderá ser contratada e permanecer na profissão.

Bebê observa a mamãe em ação
“Sabemos que estão acabando as costureiras. A gente ouve dos donos de confecção que as mais velhas estão se aposentando e não tem outras para colocar no lugar. Com a escola nós ajudaremos essas meninas que não têm uma profissão e também colaboramos com as empresas que terão mão-de-obra de qualidade porque aqui nós trabalhamos não só os ensinamentos do ofício, mas também a postura delas”, assinalou.


CRIANÇA FELIZ


O corre-corre das crianças na hora do almoço mostra que energia elas têm de sobra. A explicação vem da coordenadora Tammy: “Criança bem alimentada é criança feliz. Percebemos que as crianças que atendemos estão melhorando 100% na escola. Elas estão mais concentradas, obedientes e bem nutridas”.
Alegria na hora do almoço
Tammy observa que as atividades extracurriculares são de grande auxílio: “Para dançar balé a menina precisa guardar a coreografia, os passos; para cantar, as crianças têm que gravar a música, então tudo isso reflete na escola, no aprendizado. Além disso, com as famílias assistidas, as crianças têm uma situação muito melhor em casa”.
Horta orgânica garante verduras fresquinhas


Para 2012, ela espera conseguir ajuda para concluir a quadra poliesportiva. Entre tantas empresas que colaboram com a entidade, o Supermercado Confiança proporcionou um evento que arrecadou 25 mil reais. Faltam outros 20 mil reais para finalizar a quadra e partir para os planos de iniciar as crianças e adolescentes nos esportes e, paralelamente, nas aulas de informática que serão oferecidas.


Tammy citou o apoio de diversas empresas e instituições, entre as quais o Supermercado Tauste, que à época do Troquinho Solidário permitiu a aquisição de muitos equipamentos para a ONG. A Prefeitura passou a pagar uma subvenção de dois mil reais por mês, cede as professoras e o alimento para as refeições das 20 mães e 84 crianças.

Para 2012, a Associação Amor de Mãe espera consolidar os projetos em andamento, investir firmemente na profissionalização das meninas e adolescentes e dar às famílias a possibilidade de sonharem com um futuro melhor que, se depender de energia e vontade, certamente virá.

Para conhecer a entidade, visite: Rua João Francisco do Nascimento, 320, próximo ao Condomínio San Remo. O telefone é (14) 34225525. A entidade aceita todo tipo de doação, principalmente alimentos e produtos para a padaria industrial (açúcar, farinha, leite e óleo).


* Reportagem publicada na edição de 24.12.2011 do Correio Mariliense

OBS: A primeira reportagem, publicada em 16.05.2010 pode ser lida AQUI!

domingo, 18 de dezembro de 2011

APAIXONADA PELA COZINHA MEDITERRÂNEA, SOCIÓLOGA CRIA HORTA DE TEMPEROS EM VASOS.

Por Célia Ribeiro

O paladar refinado pelas experiências sensoriais da culinária mediterrânea levou uma socióloga a mergulhar no fascinante universo das ervas aromáticas. Diante da impossibilidade de encontrar ervas frescas, como o estragão, Edna Aparecida da Silva, decidiu cultivar os próprios temperos em casa, mesmo sem ter um único centímetro de terra: nascia, assim, uma vistosa horta em vasos.
Cuidado para manter os vasos
Aos 41 anos, casada e mãe de um rapaz de 19 anos, Edna exala energia por todos os poros. Tudo indica que esse alto astral responda por grande parte do sucesso da empreitada de obter, nos fundos da confortável residência do Jardim Aeroporto, todos os temperos que costuma usar nas receitas que prepara para a família.

Eclética, a socióloga divide o tempo entre o tricô, que ensina voluntariamente na Unidade de Saúde da Família do bairro, e a mais nova paixão, o tear, com a finalização da tese de doutorado. Permeando os estudos e o artesanato, o cultivo das ervas ganha dimensão especial porque, a partir dos vasos cuidados com capricho, ela obtém a matéria prima para sofisticadas receitas das cozinhas francesa e italiana.
Temperos no quintal
A decisão de cultivar os próprios temperos nasceu quando, ao tentar comprar estragão para uma receita de “tian de legumes” (abobrinha, tomate e berinjela com ervas e azeite ao forno) ouviu do fornecedor que não comercializaria mais o produto por falta de demanda. Além dela, apenas um chef de cozinha e outra cliente costumavam procurar a erva.

Inconformada em usar temperos prontos, Edna mergulhou na pesquisa sobre cultivo doméstico. Foi quando soube de um curso de jardinagem que o SESI promoveu, no começo do ano, com a professora Kazumi Takeya, que o “Correio Mariliense” entrevistou na semana passada nesta página.

QUINTAL VERDE

Com baixo investimento e alta dedicação, Edna seguiu à risca os ensinamentos passados naquela tarde do curso: “Descobri que eu fazia muita coisa errada. Tudo isso aqui é resultado de três horas de curso com a Kazumi, que é maravilhosa. Quando cheguei em casa, passei dois dias revirando meus vasos, jogando terra fora e refazendo o preparo para começar o cultivo”, contou.

Edna Silva

Para ajudar na empreitada, Edna comprou um livro de jardinagem num sebo e usou a ferramenta da internet para pesquisar em sites alternativos. Como resultado, a área de lazer da residência exibe hoje, sobre o piso de cerâmica branca, bonitos vasos com tudo o que ela precisa para as receitas criativas.

O estragão “viçoso e verdejante”, como ela diz, está lá. Também há espaço para alecrim, tomilho, orégano, louro, manjericão, manjerona, menta, bálsamo, salsinha, cebolinha, levante, poejo, cidreira, melissa entre outros. Entremeando as ervas aromáticas, Edna plantou lavanda e cânfora porque, com seu cheiro característico, espantam os insetos sem necessidade de usar qualquer defensivo químico.

A emoção da primeira colheita foi inesquecível, recordou a socióloga, cujos olhos brilham ao falar sobre as belas sopas com tomilho, o famoso “tean de legumes” e o festejado ossobuco. Além das ervas frescas, ela seca o excedente à sombra no varal de roupa, guardando os temperos em potes de vidro. Outra forma de conservar as ervas é coloca-las frescas em forminhas e cobrir com água para congelar. Na hora de preparar um prato com ervas, basta colocar na panela o cubinho de gelo que o calor devolve o frescor do tempero como se tivesse acabado de ser colhido.
Diversidade de ervas aromáticas
Se o custo não é alto, a dedicação é redobrada: é preciso estar atenta, assinalou a socióloga. Embora haja alternativas para manter a umidade dos vasos por vários dias, Edna prefere contar com sua “rede solidária de vizinhas”. Segundo ela, várias amigas da vizinhança se inspiraram no seu exemplo e iniciaram hortas em vasos. Por isso, uma cuida para a outra que precisar se ausentar.

Para Edna, desde maio, quando começou a horta de temperos, todo esforço valeu a pena: “Meu marido curte muito o jardim, a culinária. É só vir no fundo de casa e escolher o que usar em determinado prato. Dá uma sensação de independência, de bucolismo, de incremento do sabor da comida”.
Depois de secas, as ervas são estocadas.
Ela ressalvou, no entanto, que é preciso educar o paladar. Quem está acostumado com a tradicional dupla “alho e cebola”, precisa introduzir as ervas aos poucos. Uma das vantagens é que quando o paladar se acostuma, um dos efeitos colaterais benignos é a possibilidade de redução do sal. O sabor das ervas compensa e a saúde do coração agradece!

DE OLHO NAS FLORES

Como a maioria das pessoas, Edna também traçou os planos para 2012. Entre outros, está o cultivo de flores e chás. Ela já aproveita as flores de lavanda que cultiva em vasinhos para enfeitar a casa, mas quer muito mais. Por isso, mergulhou na pesquisa sobre o assunto e espera iniciar o ano novo não apenas com a gastronomia em dia, mas com o perfume e a beleza das flores dando ainda mais vida ao espaço verde que criou para a família.

REFERÊNCIAS
Flores ganham destaque
Para conhecer o lado artístico da socióloga, acesse seu blog: http://tricosemcostura.com Para saber mais sobre plantas em vasos e quadros, acesse: www.quadrovivo.com

* Reportagem publicada na edição de 18,12,2011 do Correio Mariliense

domingo, 11 de dezembro de 2011

Kazumi Takeya usa a cultura preservacionista na arte-educação

Por Célia Ribeiro

Embora poucas pessoas se recordem, a ESALQ (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz), de Piracicaba, famosa por oferecer um dos melhores cursos de engenharia agronômica do País, há mais de 20 anos mantinha um curso de nome sugestivo: economia doméstica. Foi lá que as sementes preservacionistas foram lançadas no coração da arte-educadora Kazumi Takeya que vem se destacando por ministrar cursos e oficinas relacionados à sustentabilidade do planeta.

Kazumi e a original pá de jardinagem
Aos 58 anos e com um currículo invejável, Kazumi lecionou no SESI de Marília por muitos anos. Atualmente, dedica-se ao ensino de jardinagem, cultivo de orquídea e bonsai na FUNDEPE (Fundação para o Desenvolvimento do Ensino, Pesquisa e Extensão) que um grupo de professores da UNESP criou e funciona na Avenida Vicente Ferreira, 1346.

Consciente da importância do educador na formação das futuras gerações, Kazumi relata o início de sua jornada ao deixar a cidade natal de Pompéia para estudar economia doméstica: “Esse é um curso que não existe mais. Ele me deu um leque de opções: nutrição, meio-ambiente, saúde pessoal e moda. Escolhi a área de saúde e dentro desta área comecei ensinar às crianças a parte da higiene, depois a preservação, aí entrou a reciclagem e não só para preservação do planeta, mas também para a geração de renda.”.
Bijuterias usam revistas e sementes como matéria-prima

Os trabalhos com sementes para confecção de bijuterias e chaveiros, jornais e revistas como matéria-prima para práticos suportes de copos, travessas e panelas, e as garrafas PET com suas 1001 utilidades, que hoje são muito difundidos, fazem parte da rotina de trabalho da arte-educadora há quase duas décadas.

Mas, são os brinquedos de sucata que fazem brilhar os olhos da educadora: embalagens de plástico resistente são reaproveitadas para a construção de bilboquês originais. A maioria das crianças nem imagina o que seja esse brinquedo que encantou gerações mais antigas. Tomando o cuidado com a escolha dos materiais e a confecção de maneira segura para cada faixa etária, a educadora transforma em diversão o que seria lançado no lixo.

OFICINAS

Kazumi Takeya costuma ministrar cursos e oficinas em “Semanas do Meio-Ambiente” de escolas e empresas, além de proferir palestras sempre que convidada. Uma das entidades que costuma requisitar sua colaboração é a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, através da educadora ambiental Jane Bocchi.
Descanso de copos faz sucesso
Perfeccionista, a educadora procura passar seus conceitos visando a qualidade e o bom gosto: “Eu dizia sempre: não é porque é reciclado que tem que ser feio. Tem que ser bonito e tem que ser durável. Como a minha área é meio-ambiente eu queria, dentro da questão preservacionista, trabalhar os objetos com semente”, disse, repudiando o extrativismo puro e simples: “De cada 10 sementes, pelo menos uma tem que plantar e as outras 09 que vai utilizar. E nunca colher à força e fazer disso um comércio. A gente coletava aquelas que realmente tinham caído”, explicou.

Em mais de 20 anos, Kazumi comandou oficinas voltadas a todos os públicos, mas sua preferência são as crianças: “Na terceira idade, num grupo de 200 pessoas, consegue 10% de pessoas que ainda acham que é importante porque, para eles, o futuro é agora. A juventude hoje pensa um pouco mais. É para eles que o planeta vai ficar”, observou.
Bilboquê de garrafa PET
Finalizando, a arte-educadora lembrou a importância de todos darem sua contribuição para minimizar as agressões ao meio-ambiente, praticando a coleta seletiva de lixo, economizando água, energia elétrica etc. “É preciso pensar no futuro, nas pessoas que estão vindo que também tenham qualidade de vida. Porque a matéria prima que a gente utiliza são os recursos naturais, alguns esgotáveis. Se não completar o ciclo do que a gente utiliza, um dia vai acabar”.

CURIOSIDADES

Um dos materiais informativos distribuídos pelo SESI relaciona algumas curiosidades. Por exemplo: 01 tonelada de alumínio reciclado (latinhas de cerveja e refrigerante) evita a extração de 05 toneladas de minério de ferro; 100 toneladas de aço reciclado poupam 27 kWh de energia elétrica; 01 tonelada de vidro reciclado evita a extração de 1,3 tonelada de areia; 100 toneladas de plástico reciclado evitam a extração de 01 tonelada de petróleo; 01 tonelada de papel reciclado evita o corte de 15 a 20 árvores, economiza 50% de energia elétrica e 10 mil metros cúbicos de água.

Uma dica interessante: muitas pessoas trocam computadores, celulares e outros aparelhos eletrônicos nesta época do ano. O que fazer com os objetos antigos? Acesse www.ambiente.sp.gov.br/mutiraodolixoeletronico

Obs: Infelizmente, Kazumi faleceu em 14.03.2012
* Reportagem publicada na edição de 11.12.2011 do Correio Mariliense


domingo, 4 de dezembro de 2011

MÃES DE CRIANÇAS COM CÂNCER SE UNEM NAS TARDES DE ARTESANATO DO GAACH

Por Célia Ribeiro

Se cair um fio de lã no chão, vira arte. Nada é desperdiçado e qualquer sobra de material ou embalagens descartadas ganham nova vida em objetos criativos com acabamento impecável. O diferencial é que, antes de gerarem renda para as famílias, as tardes de terça-feira funcionam como um elixir de esperança, unindo as mães que têm filhos com câncer e hemopatias (doenças do sangue).
Clima natalino encanta as crianças

A casa ampla e arejada, “melhor que casa de mãe e casa de sogra”, na avaliação bem humorada da ceramista Silza Más Rosa, fica na Rua Alfeu Cezar Pedrosa, 63 (em frente à escola Orbe). É a sede do GAACH (Grupo de Apoio à Criança com Câncer e Hemopatias), entidade filantrópica que, desde 2.003, tornou-se um porto seguro para famílias que vêm a Marília para o tratamento oncológico e de doenças como anemia falciforme, hemofilia etc.

Criada por um grupo de voluntários que se sensibilizaram com a causa, o GAACH é presidido pela médica oncopediatra e atual diretora do Hemocentro de Marília, Dra. Doralice Marvule Tam. São 47 voluntárias que se revezam nas manhãs e tardes, e ainda realizam atividades para arrecadação de recursos como bazares, bingos mensais e venda de artesanato.

Mães aprendem artesanato às terças-feiras
Atualmente, 170 crianças estão cadastradas e 30 famílias são assistidas com uma cesta básica todo mês. Sem subvenções oficiais, contando apenas com a ajuda da Prefeitura para o pagamento de uma parte do aluguel do imóvel, o GAACH sobrevive da motivação de suas voluntárias que têm um talento incrível para descobrirem novas fontes de renda.

Silza Más Rosa
Um exemplo é a cozinha: “Lá dentro é que estão as talentosas”, avisa Silza Más Rosa, a artesã que transforma em alegria as tardes de terça-feira com as aulas para as mães. Na última quarta-feira, o movimento lembrava uma cozinha industrial. O aroma dos temperos chegava à calçada avisando que, dali a pouco, sairiam as primeiras guloseimas.

Para se ter uma ideia, a cada semana, as voluntárias produzem cerca de 50 tortas de frango e palmito. Com preço acessível (20 reais a unidade que pesa quase 1,5kg) e bem recheadas, as tortas caíram no gosto da vizinhança. “Só o pessoal da Fiat Ogata encomenda 20 tortas de uma vez. Os funcionários da Receita Federal compram mais de 20 bolos de cenoura com cobertura de chocolate e saem uns 60 pães toda semana”, revela a tesoureira Maria Angélica Viana.

 CAMA, MESA E BANHO

As voluntárias precisam ser criativas. É que para manter o atendimento no GAACH os custos não são pequenos. No abrigo, tem almoço todo dia. O pessoal vai chegando e se acomodando sem cerimônia. Ao invés de ficarem pelas imediações do HC e Hemocentro, famílias inteiras são acolhidas no GAACH onde há acomodações para pernoite. Depois, a condução passa lá para leva-las às cidades de origem.
Voluntárias do GAACH
“Tem família que dorme uma noite, outras que passam uma semana, um mês e até mais de ano, num vai e vem de internações”, explica a tesoureira. Para contribuir na manutenção da entidade, as voluntárias contam com o coração generoso da população. Cerca de 90 por cento do custeio da casa são provenientes de doações da comunidade.

Pode-se doar tudo: alimentos, materiais de limpeza, leite, complemento alimentar (Sustagen), fraldas descartáveis, etc. Mas, as pessoas também podem contribuir comprando as delícias culinárias (tortas, bolos, pães, esfirras, bolachinha de nata, palitinho de pimenta), bem como as lindas peças de artesanato confeccionadas pelas voluntárias ou os trabalhos das mães da oficina comandada pela artesã Silza Más Rosa. Basta telefonar para (14) 3422.4111 ou ir ao local.

Artigos natalinos para presentear

Segundo a tesoureira, a entidade recebe “qualquer doação, tudo o que tem numa casa e também roupas”. Ela citou que uma grande ajuda vem da Escola Realize. Duas vezes por ano, no ato da matrícula, os pais que levarem uma lata de Sustagen recebem desconto no preço. A

Cada semestre, cerca de 100 latas do complemento alimentar reforçam o estoque do GAACH que distribui às famílias carentes cujos filhos estejam em tratamento.

Casal de Ribeirão do Sul chegou para almoçar
Para o casal Eloir e Lucilene Pereira Manzano, de Ribeirão do Sul (região de Ourinhos), que quarta-feira foi almoçar levando o bebê de um ano e oito meses, que está em tratamento no HC, o GAACH representou uma pausa para descanso. “Ouvi falar muito bem e resolvi vir conhecer”, disse, olhando a mesa posta e o almoço quentinho sendo servido sem cerimônia.

ARTESANATO TERAPÊUTICO

Silza Más Rosa é daquelas figuras que as pessoas ficam pensando: “Como vivi até hoje sem conhecê-la?” Com uma energia incrível, ela é a motivação em pessoa. Por isso não surpreende que quando a artista levou uma doação à entidade, cinco anos atrás, encantou-se pela instituição e resolveu ficar.

 Com uma alegria contagiante, Silza comanda a oficina de artesanato para as mães onde as crianças também podem participar. De artigos natalinos, objetos de decoração, sacolas retornáveis, tapetes e tudo o que imaginação alcançar, tudo pode ser criado a partir de materiais inusitados.

Caixas de pizza ganham revestimento especial e com sementes colhidas no bosque viram lindas mandalas. Vasinhos de plástico são lixados, pintados, recebem flores de tecido e depois de aromatizadas enfeitam e perfumam os lavabos. Sobras de tecido se transformam em lindos saquinhos de lixo para carro, duas bandejas de isopor forradas com filtro de café usado são modernos porta-retratos.

Neusa, orgulhosa do seu trabalho
 “Quando cheguei aqui, esse projeto já existia. Eu me ofereci para trabalhar junto, dando aulas de artesanato. Comecei a ver uma possibilidade, não apenas uma fonte de renda porque ninguém ganha tanto com artesanato, o material é caro e o tempo aqui é curto. Mas, é uma maneira de reuni-las, de estar passando valores, informações, de elas estarem ocupadas. É uma terapia em grupo”, avalia a artesã.

“Elas encontram seus pares. Começam a perceber que outras pessoas têm os mesmos problemas. E isso acaba dando força. Tudo o que é feito em grupo tem muito mais peso”, acrescenta a tesoureira Angélica Viana. Já Silza Más Rosa ressalva que “algumas pessoas têm dificuldade no artesanato, enquanto outras deslancham. Então, nisso eu vi a possibilidade de ensinar solidariedade porque todo mundo pode doar alguma coisa”.
Os maiores ganhos dessa atividade são invisíveis aos olhos, mas tocam o coração: “No começo eu tinha que pedir para uma ajudar a outra. Hoje, não preciso mais, virou uma grande família. Tem uma batizando o filho da outra, uma mãe visitando o filho doente da outra. Aqui é um lugar de alegria”, afirma Silza, complementando: “Ninguém fala de doença. O tempo é de Deus”.O que torna o GAACH tão especial, além de todo o suporte às famílias fragilizadas, é que mesmo as mães que perderam seus filhos continuam sendo apoiadas. Algumas ainda frequentam as aulas de artesanato e apoiam as outras, num ciclo de amor e solidariedade.

PARA AJUDAR

Para ajudar o GAACH, a população pode ir à sede na Rua Alfeu Cezar Pedrosa, 63 (em frente á Orbe), no bairro Fragata ou ligar para (14) 34224111 e fazer encomendas de tortas, salgados, pães, bolos, petiscos etc. Outra opção é comprar o artesanato para presentear neste Natal. Há lindas peças confeccionadas pelas voluntárias cuja renda vai para a entidade. Também tem trabalhos das mães e, neste caso, a renda vai para as famílias. Uma boa dica de presente com uma energia toda especial.


* Reportagem publicada na edição de 04.12.2011 do Correio Mariliense















domingo, 27 de novembro de 2011

ARTESÃ SE INSPIRA EM CASCAS DE AMENDOIM, CAIXA DE FÓSFOROS E MATERIAIS RECICLÁVEIS

Por Célia Ribeiro

Depois de uma semana de trabalho duro, dois amigos organizam as tralhas de pescaria, verificam as iscas, conferem se há gelo suficiente para manter as cervejas geladas e só então colocam o bote na água. Tudo pronto para algumas horas de lazer que, com um pouco de sorte, podem render alguns peixes. A semelhança com a vida real para por aí: o barquinho dos pescadores é, na verdade, uma simples casca de amendoim.
Pescadores na casquinha de amendoim
Os pescadores de fim de semana são alguns dos inúmeros personagens saídos da imaginação da artesã Márcia de Oliveira. Psicóloga de formação e renomada jornalista, nascida em Botucatu e que adotou Marília para viver, ela transforma em arte muitas coisas aparentemente inservíveis: cascas de amendoim e castanhas, folhas secas, caixinhas de fósforo, cacos de azulejo e cerâmica, além de recicláveis como papelão, garrafas PET, garrafas long neck etc.

Criada numa grande família ---cinco irmãs e três irmãos--- Marcinha, como é mais conhecida, busca nas lembranças de infância a inspiração para seus trabalhos. Apesar de sempre ter feito artesanato, a exemplo da mãe e das irmãs, a artesã passou a se dedicar às artes em 2.000, quando se desligou do último jornal em que trabalhou como repórter.
Marcinha de Oliveira e suas criações
“Jornal toma muito tempo. Só tinha o domingo livre e neste dia eu queria descansar. Depois que eu saí do jornal eu tinha todo tempo do mundo. Em dois dias montei meu ateliê. Ficava o dia todo trancada produzindo”, conta lembrando, no entanto, que teve um insight em 2007 quando visitou uma irmã em Campo Grande. Como o artesanato é muito forte naquela região, Marcinha conseguiu comercializar algumas peças através de uma associação de artesãos. Ela viu ali a possibilidade de gerar renda com o hobby.

ENCOMENDAS

Aproveitando as vantagens da internet, atualmente a artesã produz muitas peças sob encomenda e despacha para todo o Brasil, com preços que variam de 15 a 80 reais. A arte sacra é um dos pontos fortes do seu trabalho. Os oratórios feitos em caixas de fósforo fazem o maior sucesso, assim como os santos muito solicitados por colecionadores. Fotos das criações estão disponíveis no seu perfil do Facebook.

Presépio do Laboratório Osvaldo Cruz
Rindo, ela conta que tem uma cliente de Marília com quem só mantém contato por e-mail e telefone. A moça costuma solicitar as peças, paga com depósito eletrônico e manda um mototáxi buscar os trabalhos. Nunca se encontraram pessoalmente. Coisas da vida moderna!

As miniaturas que a artesã cria chamam a atenção pela riqueza de detalhes. Sem usar lupa, ela consegue fazer peças muito originais: “A acuidade visual é uma coisa que você vai aprimorando quanto mais você faz”, comenta. Da mesma forma, a matéria-prima dos trabalhos é um diferencial: “Uma folha vira um presepinho. Eu sou uma catadora de coisas contumaz. As caixas, além de usar nos trabalhos, aproveito para mandar as peças para fora”, explica, revelando que tem clientes em São Paulo, Rio de Janeiro e estados do Nordeste.

Márcia de Oliveira faz questão de frisar que as peças são todas exclusivas. Ela conta que fez um curso de modelagem na Capital e domina a técnica para replicar os trabalhos a partir de um molde, mas se nega a fazê-lo: “Aí não é arte. Para fazer em série já tem a China”, observa a artista que, às vezes, tem trabalho para se desapegar das suas criações: “Alguns santos, como esse aqui (aponta para um São Judas) ficam dias comigo. Depois é duro quando vão embora”.

Oratórios na caixinha de fósforo
 Nesta época do ano, há muitos pedidos de presépios. Um deles, como da foto nesta página, está no Laboratório Osvaldo Cruz. As peças são produzidas segundo o tamanho que o cliente quiser, desde miniaturas que cabem na palma da mão.

 TERAPIA

O ateliê montado em casa, mais que uma fonte de renda é um local terapêutico. Afastada por problemas de saúde, Marcinha está em vias de se aposentar. Nascida com uma doença congênita (luxação coxofemoral), ela já fez 06 cirurgias, a última aos 19 anos, e está relutando em fazer mais uma. Aos 52 anos, a artista recorre a medicamentos para controle da dor, faz acompanhamento médico semestral e pratica hidroterapia.

Artesanato exclusivo
Os pescadores e outros personagens saídos das casquinhas de amendoim, caixas de fósforo, ou das massas de papietagem, são sua fonte de abastecimento, a energia que a artista precisa para viver com mais leveza, espalhando sua arte ao vento como as folhas que se soltam das árvores no outono, fechando o ciclo da vida.

 * Reportagem publicada na edição de 27.11.2011 do Correio Mariliense

TOME NOTA!

CHAPLIN DE SUCATA  

Conhecido pelos trabalhos em madeira, o artesão Abílio aceitou o desafio proposto pelo empresário Marcelo Diniz, um dos sócios-proprietários do tradicional Chaplin: criar um mascote, em tamanho natural, a partir de sucata. O resultado já pode ser conferido em dois bonecos (1,40 metro e 50 centímetros) que viraram atração no hall de entrada do restaurante.


Carlitos de sucata
 “Como temos trabalhado a questão da sustentabilidade, pensamos em linkar o tema na criação do Chaplin. As peças de bicicleta e automóveis foram encontradas em ferro-velho”, contou Marcelo, explicando que se inspirou no filme “Tempos Modernos” para criar o mascote do restaurante: “Queríamos mostrar as várias facetas do Chaplin”, assinalou.


domingo, 20 de novembro de 2011

ANTES DE CASAR, AMBIENTALISTAS REFORMAM APARTAMENTO COM GERAÇÃO MÍNIMA DE RESÍDUOS.

Por Célia Ribeiro

Como todo casal apaixonado que define a data do casamento, assim que começou a contagem regressiva, os pensamentos estavam voltados para a futura moradia. Neste caso, a diferença é que mais que um imóvel seguro e confortável, dois jovens queriam aplicar tudo o que aprenderam para provar que é possível construir ou reformar gerando um mínimo de resíduo, com baixo impacto ambiental.

Rafael e Sônia: bom começo
Os noivos, que sobem ao altar em abril de 2.012, são a analista socioambiental Sônia Cristina Guirado Cardoso e o engenheiro florestal Rafael da Silva de Souza, sócios na Consultoria Aviva – Estratégias de Sustentabilidade. Com determinação, eles assumiram os riscos para fazerem diferente, apesar de todo o trabalho que a empreitada demandou.

“Quando a gente idealizou a reforma do apartamento, começamos a pensar que a gente tinha a possibilidade de aliar a teoria com a prática nesta questão de geração de menos resíduos”, contou a analista, explicando que a partir de uma planilha de custos, iniciaram a pesquisa sobre o que fazer com os restos da construção bem como em relação à aquisição dos novos materiais.

Por incrível que pareça, a reforma do apartamento, de aproximadamente 60 metros quadrados, com a substituição de todo o acabamento, além de tomadas, lustres, luminárias, pias e armários, não necessitou da contratação de nenhuma caçamba. Os tacos, por conterem verniz e pregos, não poderiam ser destinados a fornos de pizzaria ou caldeiras, por exemplo. Assim, o casal encontrou uma família de baixa renda que retirou todo o piso e levou para a construção que está levantando na periferia.

Tacos retirados e doados
A mesma família aceitou as peças da cozinha e do banheiro (pias e vasos sanitários em bom estado), bem como os azulejos retirados com cuidado. Alguns armários foram desmontados e instalados em outro imóvel da família e uma porta de madeira maciça foi vendida para outro interessado que a aproveitou em sua obra.

CERTIFICAÇÃO

Vencida a etapa dos resíduos, Sônia e Rafael se debruçaram na escolha dos fornecedores dos novos materiais. A partir de alguns orçamentos detalhados na planilha de custos, foram em busca de informação sobre os fabricantes, para saber se possuíam certificações ambientais (ISO 14001, por exemplo) ou de responsabilidade social.

Pias, vasos sanitários e outros materiais
foram doados a uma família da periferia
Nesta fase, as dificuldades foram muitas. Segundo a analista, os funcionários das lojas de materiais de construção têm certa dificuldade para informar sobre os selos de certificação dos fabricantes. Os noivos tiveram que pesquisar, acessando sites das empresas, enviando e-mails etc, até que estivessem seguros da opção de compra privilegiando fornecedores que têm preocupação ambiental e social. “Tem alguns produtos com informação na embalagem sobre certificação. Mas, não informam qual o processo de certificação. Às vezes, não é toda a indústria que é certificada, mas só um processo”, justificou a analista.

As escolhas focadas na sustentabilidade são a base desta reforma tão especial. Sônia Cardoso contou que eles optaram pelos ventiladores para aproveitar o bom fluxo de ventilação do imóvel, além de serem mais econômicos que os aparelhos de ar condicionado. As lâmpadas foram pensadas para garantir luminosidade com economia. Da mesma forma, até as luminárias foram selecionadas de modo a iluminar melhor os espaços e os vasos sanitários são do sistema Ecoflush com duplo comando para liberação de água.

Sônia Cardoso
Diante disso, também a compra dos materiais exigiu um estudo sobre a localização dos fornecedores. “Primeiro, fizemos orçamentos com lojas no entorno do apartamento. Depois, fizemos nas lojas mais distantes. Quando a diferença de preço foi pequena, optamos por comprar perto de casa”, disse, explicando que a medida visou contribuir com a menor incidência de poluição dos caminhões transportadores, além do trânsito que está cada dia mais complicado na cidade.

O planejamento da reforma foi tão detalhado que o casal, antes de mais nada, visitou cada futuro vizinho para explicar que iria começar a obra, oferecendo materiais que poderiam ser retirados do local, além de se informarem sobre horários permitidos para a execução dos trabalhos. Mais que política de boa vizinhança, os jovens ambientalistas queriam fazer tudo da melhor maneira para que pudessem se mudar com tranquilidade.

ECONOMIA

A analista socioambiental disse que, colocando na ponta do lápis, todo o cuidado com a reforma não custou mais caro. Ao contrário, gerou economia em vários aspectos como a retirada de portas, armários e do piso de taco que não tiveram que pagar porque os beneficiários se incumbiram da tarefa.

Interior do apartamento
antes do início da reforma
Para ela, valeu muito a pena: “É uma vida nova. Vou casar. A partir da construção, a gente já começou uma vida nova, de olhar para o outro, do lugar onde a gente vai morar estar sendo feito sem prejuízo para o meio-ambiente, com impacto mitigado”, disse, acrescentando que se sente muito bem quando vê “que é mais fácil do que a gente imagina, que é possível”.

Finalizando, Sônia fez um apelo a que cada um faça sua parte. “Tem gente trabalhando com meio-ambiente que não separa o lixo de casa. Tem gente que fala que sustentabilidade é modismo. Mas, como pode ser modismo se estamos em novembro ainda usando blusas de frio? Alguma coisa está acontecendo com o clima, com o planeta. Por isso todos devemos fazer a nossa parte”.

Para conhecer a Aviva, acesse: http://www.aviva-br.com/

* Reportagem publicação na edição de 20.11.2011 do Correio Mariliense