Célia Ribeiro
Imagine ter uma empresa com clientela fidelizada, bons funcionários e uma frota de veículos novos e, em poucas semanas, ver tudo desmoronar ao ponto de quase fechar as portas. No olho do furacão, o empresário Ricardo Furlaneto viu na crise uma oportunidade e, sem querer, acabou criando um negócio rentável do ramo de pimentas, geleias, compotas e picles que agregou ao comércio de vidros reutilizáveis.
Produtos expostos na empresa na zona norte
Para entender como se deu a virada
de chave, é preciso voltar a 2020. Na época, a empresa de entregas estava a
todo vapor com dezenas de clientes corporativos, recebendo, em média, sete
reais por entrega. De boletos a encomendas, a frota de Fiorinos e motos não
parava. Com a pandemia e o comércio eletrônico bombando, Ricardo imaginou que
seu negócio prosperaria.
Ricardo Furlaneto
Depois de atuar no ramo de entregas por 22 anos, os boletos, notas fiscais e encomendas diversas, ficaram em segundo plano. A empresa que ocupa uma área privilegiada na zona norte virou o coração do novo negócio com a produção dia e noite das delícias cujas receitas foram se adaptando ao gosto dos clientes.
Hellen organiza as tampas da embalagem
EMBALAGEM
O negócio em franca expansão demandou uma grande quantidade de embalagens de vidro que Ricardo adquiria na vizinha cidade de Garça: “Estava gastando R$ 3 mil a R$ 3,5 mil por mês de embalagem. E não tinha lucro porque os meus produtos eram consignados em muitos pontos de venda. Começamos a ver vidros espalhados no lixo, nas ruas. E começamos a pegar. Nós limpamos a Cascata inteira e andava na cidade toda. E vimos que a gente não precisava mais comprar. Já tinha uma demanda boa”, contou.
Em cursos on line, tanto para aprimoramento da produção, quanto sobre a correta higienização das embalagens, Ricardo, a esposa e o filho, começaram a aproveitar vidros descartados em ecopontos, em frente aos bares e restaurantes etc: “Descobri o ecoponto da Prefeitura e pedi para comprar, quando soube que eu poderia pegar o que quisesse”, explicou, acrescentando que voltou para a empresa com o carro cheio.
Empório da Cachaça, an Rua Rio Grande do Sul, vende os produtos
Nesta época, leu nas redes sociais
uma postagem do Ademar Aparecido de Jesus, o popular Dema, sobre os vidros que
recolheu e não estava encontrando destinação. Ocorre que o preço pago pelo vidro
é muito baixo e os catadores não se interessam em transportar tanto peso e
receber migalhas. Foi então que Ricardo procurou Dema que lhe propôs levar todo
o vidro cristal (branco transparente) que quisesse.
Molho tártaro é campeão de vendas
Foi aí que, de consumidor de vidros reutilizáveis Ricardo passou a fornecedor. Ele higieniza os vidros de diferentes formatos e os comercializa junto a clientes da região em uma corrente que gera renda e emprego movimentando a economia além de retirar do meio ambiente nada menos que 30 toneladas de vidro, mensalmente.
“Pensei em montar uma loja de vidro, de um lado a minha pimenta e de outro só vidro. Eu não imaginava que teria uma procura boa. Pensei, o que não vender de vidro eu encho com produto meu. Faço compota, doce, pimenta, tem garrafas diferentes e fazemos mosaicos. Vi que isso estava começando a girar e eu não estava tirando dinheiro do bolso”.
Pimenta, o começo
de tudo!
Visionário, Ricardo expandiu tanto o negócio que também compra de pequenos fornecedores que vendiam o vidro quase de graça, pagando o preço que considera justo: “Eu compro vidros de várias pessoas que venderiam a 8 centavos o quilo, porque não têm volume. No meu caso, pego 10 vidros para dar um quilo e pago 2,50”, comentou.
O empresário disse que seu negócio está atraindo concorrentes porque deu certo, mas alertou que exige muito trabalho e dedicação. No caso da higienização dos vidros, na primeira etapa eles ficam cinco dias em tambores com uma solução própria antes de partirem para a limpeza, secagem e esterilização.
Picles prontos para entrega
Ricardo retira tonetadas de vidro do meio-ambiente
Preocupado com a degradação ambiental,
Ricardo disse que sonha em ver uma mudança de mentalidade com mais empresas
investindo no reuso: “O gasto de energia para fazer uma garrafa de vidro equivale
a 72 horas de um bico de luz. Precisa de 52 litros de água para resfriar a alta
temperatura e que vira vapor”, sendo que as fábricas de bebidas podem recolher
as garrafas de vidro e reutiliza-las sem danos ambientais.
Se depender do Ricardo, essa história terá um final feliz. Só em Marília, ele entrega para distribuidoras de bebidas e pequenos mercados 30 mil garrafas de cerveja por mês. Isso que é revolução!
Para saber mais, acesse no Instagram @emporiofamiliafurlaneto. O WhatsApp da empresa é (14) 998103262
*Reportagem publicada na edição de 05/06/2022 do Jornal da Manhã
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