domingo, 20 de fevereiro de 2022

EM PARCERIA COM RESTAURANTES, PROFESSORA COLETA UMA TONELADA DE VIDRO POR SEMANA

Por Célia Ribeiro

Na sala de aula, a professora explica o impacto da reciclagem no meio-ambiente. Após o expediente, ela coloca em prática o que ensina aos alunos de 1º ao 5º ano da rede municipal de Marília ao comandar um corajoso projeto de coleta e destinação de vidro. Graças à parceria com o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Marília e Região(Sinhores), Marli do Nascimento Bôas faz um trabalho de formiguinha ao recolher na caçamba de seu utilitário nada menos que uma tonelada de vidro por semana. 

Professora e recicladora Marli do Nascimento Bôas

Material que teria como destino o aterro sanitário, o vidro não é muito valorizado pelos catadores de recicláveis devido ao peso e por ocuparem muito espaço. Foi observando isso que Marli resolveu iniciar a coleta de vidro, a princípio fazendo uma experiência ao armazenar no quintal de casa, antes da pandemia, em 2019.

“Eu senti a necessidade porque em casa eu separo todos os recicláveis. E eu separava as garrafas, as latinhas, papelões, garrafas PET e os catadores pegavam tudo, menos vidro. Daí, fiquei pensando por que não pegam. Eles diziam que era muito pesado, que tinham que transportar muito peso e o valor pago era muito pouco”, recordou, em entrevista ao JM esta semana.

 

Lupércio e Marli na coleta da Cachaçaria

A professora contou que começou a pesquisar sobre o assunto na internet, comprou um triturador que instalou no quintal da residência e foi em busca de parceiros. “Meu primeiro contato foi com o Chaplin. Eles adoraram a ideia porque o senhor que recolhia os vidros tinha parado de buscar”, revelou, acrescentando que o próximo passo foi contatar o chefe do Meio Ambiente da Prefeitura, Cassiano Rodrigues Leite “que me deu todo o incentivo para continuar”. 

Vidros prontos para o transporte

Mas, o divisor de águas foi quando o Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Marília não só apoiou a iniciativa, mas disponibilizou sua estrutura para incentivar os estabelecimentos associados, ajudando Marli com uma quota mensal de combustível para o transporte do material coletado. Atualmente, ela percorre cerca de 20 bares e restaurantes, toda semana, e ainda coleta de outros locais como adegas, distribuidoras de bebidas e residências.

 LOGÍSTICA

 

Vidros recolhidos
na Cachaçaria

Recolher uma tonelada de vidro, por semana, não é uma tarefa fácil. Para a professora Marli representa esforço físico ao carregar caixas e caixas com vidro depois que chega do expediente na escola municipal. Para os estabelecimentos, o desafio é armazenar corretamente as garrafas em local coberto para não atrair o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e febre amarela, observou o empresário Lupércio Fagundes, da Cachaçaria Água Doce.

 Conforme disse, “temos que ter logística, dedicar tempo e definir um local correto de armazenamento, coberto. A gente tem que fazer nosso papel social. Essa ação dela deixa de colocar 40 toneladas de vidro no aterro, no mínimo, todo ano, sem contar os riscos aos coletores de lixo”. Lupércio destacou, no entanto, que a coleta de garrafas de cerveja diminuiu porque a Ambev optou por produzir embalagens retornáveis. Atualmente, a maior parte da coleta é de garrafas de destilados e outros vidros descartáveis.

 

Marli lembrou que antes desta mudança da indústria cervejeira, a coleta de vidro era muito maior. Ela admitiu que colocar embalagem retornável no lugar da descartável faz bem para o meio-ambiente, e que é preciso buscar outras opções. “Antigamente, eu chegava a pegar 40 caixas de garrafas da cerveja Stella no Chaplin, por semana. Hoje, pego mais de uísque, vodca, gin etc”, assinalou.

Paula com os pais Cleide e Paulo (in memorian)
e irmãos Fernando e Guilherme no Chaplin

A chef de cozinha e uma das proprietárias do Chaplin, Paula Diniz, afirmou que a coleta seletiva no restaurante “vem desde sempre, não apenas com vidro, mas com latinhas de alumínio, garrafas PET, óleo e até outros materiais como motor de compressor de freezer, ventilador de câmara fria. Enfim, tudo o que pode ser reaproveitado nós doamos aos coletores que nos procuram”.

 

Marcelo Diniz, vice-presidente do Sinhores
e sócio da  Cachaçaria Água Doce

SINDICATO

Marcelo Diniz, vice-presidente do Sinhores e sócio da Cachaçaria Água Doce, disse que “há três anos, a gente tinha um grande problema e não tinha como resolver sozinho, que era onde colocar o vidro que é renegado porque tem um valor monetário baixo e exige espaço, estrutura, equipamento para triturar etc”. Neste sentido, a parceria com a recicladora Marli chegou na hora certa.

 

“Porto Vidros” recolhe o material em Marília

Ele explicou que precisava de volume para o projeto decolar. Foi quanto o sindicato atuou junto aos associados para que abraçassem a causa: “É necessário ter, pelo menos, 10 toneladas para o caminhão vir buscar, para valer a pena o transporte”. Marli Bôas comercializa o vidro triturado junto à empresa “Vidro Porto” da cidade de Porto Ferreira, conhecida pela produção de cerâmica.

Triturador no barracão 

Marcelo Diniz lembrou que o Sindicato “começou a falar com nossos pares e hoje temos entre 20 e 25 estabelecimentos participantes. Além disso, damos uma ajuda de custo para o combustível porque a Marli percorre os pontos uma vez por semana para coletar os vidros”.

 No caso da Cachaçaria Água Doce, apenas os vidros de palmito têm outra destinação: Marcelo contou que há dois anos o restaurante doa os frascos para o Banco de Leite Humano que higieniza os vidros, descarta as tampas e coloca tampas novas para armazenar o leite humano doado aos bebês  que necessitam.

 CONTATO

 A professora Marli encerrou a entrevista mostrando-se confiante no futuro da reciclagem dos vidros porque “o que coletamos não chega a cinco por cento do que poderíamos coletar. Mas, é um trabalho de formiguinha que fazemos, apesar dos desafios”. Atualmente, ela mantém um barracão para triturar e armazenar os vidros que são recolhidos pela empresa de Porto Ferreira. Para entrar em contato, seu telefone é (14) 9.97437392.

 * Reportagem publicada na edição de 20/02/2022 do Jornal da Manhã

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