domingo, 19 de setembro de 2021

DESCONECTA: PROJETO SOCIAL RESGATA BRINCADEIRAS DA INFÂNCIA SEM TECNOLOGIA

Por Célia Ribeiro

Do toque do despertador no smartphone à música que se ouve por aplicativos, transitando pelo comércio, trabalho remoto e até estudos on line, a tecnologia está presente em todos os lugares. Por isso, não surpreende que as brincadeiras do passado sejam pouco conhecidas pelas crianças do século XXI cada vez mais isoladas em uma espécie de bolha que começa a preocupar pais e educadores.

 

Gincana movimentou a garotada

Inconformado com essa situação, um grupo de mães da zona sul de Marília, liderado pela esteticista Lauriele da Silva, decidiu intervir para desplugar os filhos dos celulares e dos computadores. Nascia, assim, o projeto social “Desconecta” com o objetivo de resgatar a socialização através das atividades ao ar livre.

 

Atividade ao ar livre no Costa e Silva

Em entrevista ao JM, Lauriele contou que a ideia surgiu por ocasião do “Setembro Amarelo” de prevenção ao suicídio: “Em 2019, vendo adolescentes e pré-adolescentes com pensamentos suicidas, e algumas coisas que acompanhei no meu convívio de amizade, eu e algumas mães sentimos a necessidade de tirar as crianças da internet e das redes sociais para voltar a brincar, realmente”.

Ela contou que tem uma filha portadora de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade): “Lembro que quando conversei com a neurologista, ela falou que minha filha precisava ser bem assistida, bem cuidada em relação ao transtorno, porque ela poderia ser uma futura adolescente com pensamentos suicidas se ela não se encontrasse no mundo dela. E isso me assustou muito”.

Lauriele

Lauriele afirmou que a filha foi uma inspiração para o futuro projeto: “Passei a fazer as terapias com a Lara. Na época, eu trabalhava e saí do emprego para cuidar mais de perto. Minha filha usou medicação tarja preta por dois anos e teve uma grande melhora, de 70 por cento, com as atividades físicas. Aproveitei o gancho da minha realidade mais o ganho de algumas mamães com crianças com transtorno de depressão e também passando muito tempo dentro de casa”.

 COSTA E SILVA

 Moradora do Costa e Silva, Lauriele reuniu um grupo de mães com as mesmas necessidades para criar o “Desconecta” que começou com algumas crianças que faziam atividades ao ar livre. Com a autorização para utilizar o centro comunitário do bairro, a proposta ganhou musculatura e chegou a receber 22 crianças de 07 a 12 anos, em dois encontros semanais, das 18 às 19h30 e uma roda de conversa às sextas-feiras.

 Segundo Lauriele, “fomos divulgando na comunidade e foram chegando mais crianças. Chegamos a atender crianças com transtorno de ansiedade, a minha com déficit de atenção e tinha uma outra criança com autismo leve e uma criança com transtorno alimentar. As mamães foram acompanhando o desenvolvimento dessas crianças, mais ativas e mais felizes em voltar para o projeto, querendo que fosse todos os dias”.

Início do projeto em 2019

No entanto, a falta de estrutura para atender um número maior de crianças, sobretudo de faixa etária menor, gerou frustração. Ela contou que muitas crianças tinham irmãos menores e as mães queriam que eles também fossem beneficiados. “Eram só três monitoras e crianças menores exigem cuidados maiores. Nosso maior desafio foi ter que falar não”, recordou.

 

Entrega de doces e brinquedos antes da pandemia

Lauriele lamentou,  por outro lado, a falta de engajamento de mães que deixavam os filhos no local sem se envolverem. Conforme disse, “muitas não queriam dar o nome, se comprometer, só queriam deixar a criança e ir embora. Foi difícil disciplinar as mães que o projeto não era um lugar para jogarem as crianças e irem embora. Era um projeto que tinha um por quê e precisava da parceria delas”.

 PANDEMIA

 Após seis meses, o projeto sofreu um duro golpe com o Covid e precisou ser paralisado: “Estávamos a todo vapor. Fizemos festa de Natal para as crianças e em março parou tudo por conta da pandemia. Como eu tinha o cadastro dessas mães, teve algumas ações sociais na cidade com a distribuição de cestas básicas. Consegui cadastrar minhas crianças e as famílias ganharam cestas básicas”, destacou. 

Kits prontos para entrega
No “Dia das Crianças” do ano passado, com apoio de parceiros, como a ONG “Amigos do Bar” e doações de amigos e empresários, foram montados kits com doces e brinquedos entregues às crianças do bairro. Além dos inscritos no projeto, foram entregues 150 kits a outras crianças  marcando a data festiva, apesar da tristeza da pandemia. 

Outubro do ano passado

Além das atividades ao ar livre, Lauriele falou com tristeza da pausa no projeto porque as rodas de conversa, às sextas-feiras, eram muito importantes ao abordar temas que nem sempre se discute em família. Ela contou que uma criança confidenciou ter trocado mensagens no WhatsApp com uma pessoa que conheceu em um jogo on line.

 “Depois, a pessoa, que era um adulto, passou a mandar fotos pornográficas, pedindo foto e querendo encontrar a criança que ficou com medo e excluiu o contato. Mas, não chegou a contar para a mãe”, recordou. A voluntária disse que as crianças eram orientadas sobre os perigos da internet, principalmente do contato com estranhos.

 “A pandemia vai passar e vamos voltar a brincar, socializar e fazer com que nossas crianças vivam uma infância saudável porque a gente sabe que internet, videogame e computador não são boas distrações para nossos filhos. Às vezes é cômodo para nós, porque eles estão quietos. Mas, só Deus sabe a que eles estão tendo acesso, o que eles estão vendo e que formação estão tendo através de informações que vêm de várias maneiras erradas, distorcidas”, frisou.  

 A voluntária observou que a pandemia tem causado muito estresse às crianças que ficaram longos meses em casa enquanto os pais precisaram voltar ao trabalho. Sem escola, sem o projeto, sem socializar, muitas apresentam problemas de compulsão alimentar, entre outros. Por isso, ela aguarda, ansiosamente, o momento de retomar o “Desconecta” que sonha ver replicado em outros bairros da cidade.

 *Reportagem publicada na edição de 19.09.2021 do Jornal da Manhã

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