domingo, 21 de fevereiro de 2021

A QUALIDADE DA ÁGUA, OS AGROTÓXICOS E TRANSGÊNICOS ESTÃO NA MIRA DA ASP

Por Célia Ribeiro

Os recursos naturais são finitos e o planeta Terra dá sinais de exaustão. Por isso, a ação de ambientalistas em voo solo ou através de organizações não governamentais (ONGs) nunca foi tão necessária como agora. Em Marília, como o Jornal da Manhã divulgou na semana passada, a recém fundada Associação Sustentabilidade Popular (ASP) reuniu profissionais de várias áreas em torno do mesmo objetivo: lutar pela preservação ambiental.

Encontro da água pura da nascente e do esgoto
no Distrito de Avencas

Segundo o gestor ambiental Antônio Luiz Carvalho Leme, os integrantes da ONG “têm militância na área socioambiental como a questão da agroecologia, recuperação de áreas degradadas, a questão das águas, a questão dos agrotóxicos e transgênicos, a educação ambiental, palestras educativas na área entre outras”. Dessa forma, com o fim da quarentena eles pretendem definir o cronograma de ações.

Leme adiantou que o primeiro projeto da lista será operacionalizado nas próximas semanas: “Contempla uma ação de combate aos agrotóxicos e ao comprometimento da água potável na cidade de Marília. Como ainda estamos em pandemia e o contato humano e aglomerações devem ser evitados, preparamos um carro com banners contendo dados e som para ficar em locais de grande passagem de pessoas como nas imediações do terminal urbano e feiras”.

Gustavo Shorr, Leme e Suzana Más Rosa

O ambientalista citou a pesquisa publicada pelo Ministério da Saúde (SISAGUA) “onde ficou constatado que em 2.300 cidades foram encontrados agrotóxicos na água da torneira, água potável envenenada servida à população, isso em 2017.  Na água das torneiras de Marília foram identificados 27 tipos de agrotóxicos, sendo 11 associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos”.

DAEM RESPONDE

Procurada pela coluna, a Assessoria de Comunicação da Prefeitura divulgou nota informando que o DAEM (Departamento de Água e Esgoto de Marília) tomou conhecimento da pesquisa, e esclareceu: “A Legislação que rege o serviço de tratamento de água e o controle de qualidade da água distribuída à população está acompanhando a questão mundial de utilização de agrotóxico nas áreas próximas a mananciais superficiais, ajustando os parâmetros exigidos nos anexos”.

Represa Cascata 
(Foto Wilson Ruiz/Prefeitura)

A assessoria prossegue informando que “em 2004, a Portaria 518 apresentava 22 agrotóxicos, já em 2011 a Portaria 2914 indicou 27 agrotóxicos para serem analisados nos mananciais e água tratada. Isso nos mostra que constantemente a Legislação se ajusta em busca da segurança da qualidade da água buscando um rígido controle de cada parâmetro indicado”.

A nota anexou uma planilha técnica destacando que “não foi constatado nenhum agrotóxico acima do V.M.P. (Valor Máximo Permitido) pela legislação vigente e, portanto, não há protocolo indicado pela vigilância e outros órgãos fiscalizadores em relação ao uso dos mananciais e distribuição da água para a população. As metodologias analíticas para determinação dos parâmetros atendem normas nacionais e internacionais. Como em 2017, nunca tivemos resultados analíticos para os agrotóxicos acima do V.M.P. pela legislação vigente”.

E concluiu: “O controle de qualidade no sistema de distribuição é realizado por coleta e análise da água dos reservatórios e cavaletes residenciais em todos os bairros da cidade com análises in loco e laboratoriais, onde conferimos os parâmetros de controle e vigilância.  As análises complementares dos anexos indicados na Portaria são realizadas através de laboratórios credenciados que comprovem a existência de sistema de gestão da qualidade”.

Imagem cada vez mais rara: água para o lazer

A resposta é assinada pelas profissionais Denise Rodrigues e Simone Festa. No fim desta página  está  a resposta na íntegra, incluindo a planilha para conhecimento público.

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

De acordo com Leme, há um projeto que “servirá de base para a conscientização da população em relação ao que estamos perdemos com a constante degradação ambiental: a História Ambiental do município tendo como objetivo a conscientização das perdas ambientais da população de Marília”. 

Grandes erosões comprometem o entorno de Marília

E por falar em qualidade da água, um projeto ambicioso lançado anos atrás será retomado com um novo dimensionamento devido à limitação de recursos financeiros: trata-se do acompanhamento da contaminação por agrotóxico nas águas dos rios e riachos de Marília (rio do peixe e Aguapeí). O projeto foi elaborado por Suzana Más Rosa, integrante da ONG.

Oficina de plantas medicinais

Leme explicou que o estudo tinha por objetivo “fazer análises nos pontos que os dois rios entram no município e também nos pontos que os dois saem dos limites de Marília, acompanhando, assim, a qualidade da água que entra e a qualidade das águas que saem do município medindo a ‘pegada ecológica’ de Marília no que diz respeito aos recursos hídricos. 

Conforme disse, “esbarramos nos custos. Por necessitar de análises laboratoriais caras, precisaríamos de financiamento e acabou não dando certo. Mas, não esquecemos o projeto. faremos algo mais chão. A intenção é trabalhar com essa proposta com foco na educação ambiental como é feito no projeto ‘Observando os Rios’ da SOS Mata Atlântica que acompanha a qualidade dos cursos d´água a partir de kits de educação ambiental que medem alguns parâmetros. É um trabalho menos científico e mais focado na educação ambiental, no monitoramento participativo com a população fazendo com que haja uma a reaproximação da população com os rios urbanos e rurais”.

A análise da água é fundamental, mas custa caro.

Há, ainda, um projeto focado nas plantas medicinais, com a promoção de rodas de conversa: “A intenção é a de termos um ponto onde seria criada uma ‘farmácia viva’, uma horta de plantas medicinais, onde seriam plantadas e colhidas ervas medicinais pela comunidade e para a comunidade juntamente com uma atividade de reflexão sobre o uso dessas ervas”, anunciou o ambientalista que cultiva plantas medicinais no amplo terreno da sua residência em um condomínio fechado próximo a Padre Nóbrega. Reportagem sobre o tema foi publicada no JM em 26 de janeiro de 2020 e também pode ser lida AQUI 

Fotos desta reportagem: Antônio Luiz Carvalho Leme

Acesse a matéria sobre o trabalho de Suzana Más Rosa neste LINK

ÍNTEGRA DA RESPOSTA ENVIADA PELO DAEM

O Ministério da Saúde divulgou estudo sobre contaminação da água de 2.300 municípios (SISAGUA) e  Marília apareceu com 27 tipos de agrotóxicos identificados na água distribuída à população, sendo 11 agrotóxicos associados a doenças como o câncer. 

Pergunta: O DAEM tem conhecimento deste estudo?

Sim, o DAEM tem conhecimento da publicação “Você bebe agrotóxico? Descubra se a água da sua torneira foi contaminada, de acordo com dados do SISAGUA”. É válida e necessária a preocupação com esta questão, porém, o uso de termos técnicos como o LQ na publicação foi orientado pelos manuais das metodologias. No SISÁGUA utilizamos LD que é a menor concentração da espécie analisada que pode ser detectada pela técnica instrumental e o LQ que é a mais baixa concentração que pode ser quantificada dentro dos limites de precisão e exatidão do método utilizado. Por exemplo, em 30/08/2017 tivemos um resultado do parâmetro Alaclor <0, 007 µg/L (o LQ deste método é 0, 007 µg/L), na amostra de água do Rio do Peixe. Concluímos que esse valor está bem abaixo no Máximo Permito (V.M.P. é 20,0 µg/L) pela Portaria de Consolidação nº05/2017 do MS. Se houvesse o Alaclor nessa amostra seria menor que 0,007µg/L não sendo possível DETECTAR e nem QUANTIFICAR valores abaixo deste índice.

A Legislação que rege o serviço de Tratamento de Água e o Controle de Qualidade da Água Distribuída à população está acompanhando a questão mundial de utilização de agrotóxico nas áreas próximas a mananciais superficiais, ajustando os parâmetros exigidos nos anexos. Em 2004 a Portaria 518 apresentava 22 agrotóxicos, já em 2011 a Portaria 2914 indicou 27 agrotóxicos para serem analisados nos mananciais e água tratada. Isso nos mostra que constantemente a Legislação se ajusta em busca da segurança da qualidade da Água buscando um rígido controle de cada parâmetro indicado.

Segue planilha com resultados das amostras realizadas pelo Laboratório Terceirizado e Credenciado do ano de 2017 contendo todos os parâmetros exigidos pela Portaria 2914/2011 do MS.

Análises Agrotóxicos - 2017

Parâmetros ETA Peixe Rio do Peixe Arrependido ETA Cascata Cascata Norte

Agrotóxicos Unidade V.M.P 12/07/2017 30/08/2017 13/11/2017 30/08/2017 14/09/2017 12/12/2017

2,4 D + 2,4,5 T µg/L 30,00 <0,070 <0,070 <0,100 <0,100 <0,100 <0,100

Alaclor µg/L 20,00 <0,070 <0,007 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Aldicarbe + Aldicarbesulfona +Aldicarbesulfóxido µg/L 10,00 <5,0 - - <5,0 - -

Aldrin + Dieldrin µg/L 0,03 <0,030 <0,003 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Atrazina µg/L 2,00 <0,060 <0,006 <0,02 <0,02 <0,02 <0,02

Carbendazim + benomil µg/L 120,00 <50,0 - - <50,0 - -

Carbofurano µg/L 7,00 <0,050 - - <5,0 - -

Clordano µg/L 0,20 <0,010 <0,001 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Clorpirifós + clorpirifós-oxon µg/L 30,00 <0,020 - - <0,02 - -

DDT+DDD+DDE µg/L 1,00 <0,010 <0,001 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Diuron µg/L 90,00 <0,5 - - <0,5 - -

Endossulfan (a b e sais) µg/L 20,00 <0,040 <0,004 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Endrin µg/L 0,60 <0,020 <0,002 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Glifosato + AMPA µg/L 500,00 <5,0 <65,0 <65,0 <5,0 <65,0 <65,0

Lindano (gama HCH) µg/L 2,00 <0,012 <0,0012 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Mancozebe µg/L 180,00 <100,00 - - <100,00 - -

Metamidofós µg/L 12,00 <0,02 - - <0,02 - -

Metolacloro µg/L 10,00 <0,030 <0,003 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Molinato µg/L 6,00 <0,050 - - <0,02 - -

Parationa Metílica µg/L 9,00 <0,130 <0,02 <0,02 <0,02 <0,02 <0,02

Pendimentalina µg/L 20,00 <0,030 - - <0,02 - -

Permetrina µg/L 20,00 <0,090 - - <0,00025 - -

Profenofós µg/L 60,00 <0,5 - - <0,5 - -

Simazina µg/L 2,00 <0,06 <0,006 <0,02 <0,02 <0,02 <0,02

Tebuconazol µg/L 180,00 <0,5 - - <0,5 - -

Terbufós µg/L 1,20 <0,5 - - <0,5 - -

Trifluralina µg/L 20,00 <0,040 <0,004 <0,00025 <0,00025 <0,00025 <0,00025

Legenda: V.M.P = Valor máximo permitido / " - " = análise não realizada

Como observado na planilha não foi constatado nenhum agrotóxico acima do V.M.P. pela Legislação Vigente e, portanto não há protocolo indicado pela vigilância e outros órgãos fiscalizadores  em relação aos uso dos mananciais e distribuição da água para população. As metodologias analíticas para determinação dos parâmetros atendem normas nacionais e internacionais. Como em 2017 nunca tivemos resultados analíticos para os agrotóxicos acima do V.M.P. pela Legislação Vigente. 

O DAEM poderá disponibilizar informações de outros anos aos interessados solicitados mediante a ofício.

Pergunta: Como é garantida a qualidade da água captada e tratada em Marília?

O sistema de abastecimento de água do município de Marília confere um padrão de potabilidade devidamente estabelecido com a legislação do Ministério da Saúde – Portaria de Consolidação n°05 anexo XX.

A integridade do sistema de Tratamento e Distribuição da água de Marília é conferida através de análises laboratoriais realizadas nas ETAS 24 horas por dia por servidores qualificados e treinados. O Controle de Qualidade no Sistema de Distribuição é realizado por coleta e análise da água dos reservatórios e cavaletes residenciais em todos os bairros da cidade com análises in loco e laboratoriais, onde conferimos os parâmetros de controle e vigilância.  As análises complementares dos anexos indicados na Portaria são realizadas através de laboratórios credenciados que comprovem a existência de sistema de gestão da qualidade, conforme os requisitos especificados na NBR ISSO/IEC 17025:2005 em cumprimento as exigências dessa portaria. As metodologias analíticas para determinação dos parâmetros atendem normas nacionais e internacionais, tais como: Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA), (AWWA) E (WEF); United States Environmental Protection Agency (USEPA); Normas publicadas pela International Standartization Organization (ISO).

Denise Rodrigues e Simone Festa

18.02.2021

* Reportagem publicada na edição de 21.02.2021 do Jornal da Manhã

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