Um trabalho solitário, realizado no tempo livre e com uma chance de sucesso em torno de cinco por cento: se para qualquer pessoa esses indicadores bastariam para abortar a empreitada, um ambientalista dá de ombros ao semear para o futuro sabendo que a colheita virá dentro de alguns anos. O visionário atende pelo nome de Cassiano Rodrigues Leite, servidor público municipal de carreira que dedica seus finais de semana ao cuidado das áreas de preservação permanente (APPs).
Água pura em nascente na zona norte |
Lotado na Secretaria do Meio Ambiente e Limpeza Pública, após mapear quase todas as nascentes de Marília, ele resolveu dar sua contribuição para reflorestar o máximo de áreas que conseguir em um trabalho de formiguinha. Para tanto, juntou sementes de espécies nativas recolhidas no bosque municipal e de frutíferas, do consumo de sua casa, como matéria prima.
No último final de semana, ele deu o pontapé inicial ao plantar 300 sementes na região do Ribeirão dos Índios, na zona norte. Enquanto uma muda de um metro e meio de altura tem 80 por cento de chance de sobreviver e uma muda de 20 centímetros somente 20 por cento de sobrevida, estatisticamente, para a semente brotar e se desenvolver são menos de cinco por cento.
Mesmo assim, Cassiano não desanima: “Para eu plantar as mudas ficaria inviável, primeiro pelo recurso financeiro que eu teria que dispor; segundo, o fator tempo e terceiro a necessidade de cuidar. Plantar é fácil. As pessoas gostam muito de plantar na ‘Semana da Árvore’, saem plantando, batem foto, mas e depois? É como uma criança. Quem vai trocar fraldinha e dar leite? Tem que ter dois ou três anos de cuidado com carinho”, observou.
Cassiano: exemplo para gerações futuras |
Conforme disse, “como é uma área muito grande, com muitas nascentes, resolvi partir para o lado das sementes. Plantei cerca de 300 sementes e não me preocupei só com nativas, mas com as frutíferas para atrair os pássaros. No total espero plantar de 4 a 5 mil sementes”. Ele calcula ter mapeado 70 nascentes e observou que muitas estão perdidas pela ação do ser humano.
Cassiano Leite afirmou que “na cidade, principalmente no centro, não temos mais arborização. E na periferia, além de não haver arborização, existe uma degradação muito grande.
Nossas nascentes estão sendo aterradas, nossas árvores estão sendo cortadas, é lixo para todo lado e isso não é culpa do poder público. É culpa da cultura da população, da educação ambiental que está faltando”.
INICIATIVA
Casado e com um filho de 08 anos, Cassiano disse que não se deve esperar que o poder público resolva todos os problemas da cidade “porque é preciso olhar para a saúde, a educação etc. Estou cansando de reuniões e de esperar que façam as coisas. Eu vou tentar semear algo que fique para o futuro do planeta, fazer pela nossa geração, mas deixando um planeta apropriado para a geração que vem por aí. Comecei a fazer com esse intuito”, pontuou.
Sementes de frutíferas e espécies nativas |
Ele explicou como começou: “No primeiro passo identifiquei todas as nascentes de Marília, mapeei todas as 74 urbanas. Nas principais estou tentando fazer o cercamento e o plantio para a preservação. Muitas outras nós já perdemos porque foram aterradas por caçambas de lixo, por invasão popular, construção de casa e lançamento de esgoto. Muitas estão mortas e não tem o que fazer. Outras ainda dá tempo de recuperar. Nesta do Ribeirão dos Índios o homem ainda não chegou, mas está pertinho”, alertou.
Perguntado sobre a pequena chance de êxito, Cassiano mostrou-se otimista: “A possibilidade da semente brotar é de 5 por cento e para mim já é uma grande vitória. Conforme elas forem brotando, a própria natureza e o trabalho dos pássaros vai cuidando. Chega a ser utópico que sozinho vou reflorestar uma mata ciliar de uma nascente. Isso depende de uma estrutura. Estou dando apenas o pontapé inicial. É um trabalho que vou fazer a longo prazo”.
Com cargo de chefe do Meio Ambiente há oito anos e servidor concursado há 15 anos, Cassiano concluirá a formação em Gestão Ambiental em dezembro e já se matriculou para a pós-graduação na área. Seu sonho é contribuir com políticas públicas que melhorem a questão ambiental na cidade.
Área de preservação permanente |
Cassiano afirmou que Marília, com quase 250 mil habitantes, poderia ter uma arborização muito melhor “se cada um plantasse uma árvore. Mas, vemos o contrário, pessoas cortam árvores, fazem podas drásticas. Outro dia um senhor de idade veio pedir para cortar a árvore em frente à sua casa porque ela fazia sujeira. As pessoas não entendem que a árvore sequestra o carbono da atmosfera e devolve o oxigênio, abriga pássaros, dá flores, frutas, dá sombra, puxa água com as raízes que evapora, transpira e melhora qualidade do ar”.
Se nada for feito, essas áreas serão destruídas |
Conheço poucas pessoas que lembram de carregar sementes nos bolsos. Mas é algo que todos podemos fazer e toda vez que visitarmos uma área rural lembrar de deixar algumas no solo. Excelente reportagem e parabéns pela iniciativa do Cassiano Leite.
ResponderExcluirMuito obrigada, Ivan. Realmente, o trabalho do Cassiano é incrível. Abraço
ResponderExcluirImportante ação a do Cassiano... Infelizmente sao poucas pessoas com essa preocupação...
ResponderExcluirEle nos inspira, mesmo.
ExcluirParabéns Cassiano pelo seu belo e muito importante trabalho!!
ResponderExcluirNossa que trabalho!!!! Que disposicao e que exemplo. Super Parabéns e que tenha muito mais disposição. E a vc por nos mostrar cidadãos que fazem toda a duferença.
ResponderExcluirÉ muito bom poder divulgar essas notícias, querida Maristela. bjs
ExcluirTenho orgulho de ser irmão desse garoto. Parabéns meu irmao.
ResponderExcluirMuito bom o exemplo do amigo, amigo este iluminado. Segue um vídeo muito a ser compartilhado. Bom final de semana a todos.
ResponderExcluirhttps://youtu.be/EWBR9Vs2AQU