domingo, 28 de abril de 2019

UM PLANETA EM MINIATURA: OS TERRÁRIOS SÃO ORIGINAIS, BONITOS E FÁCEIS DE MANTER.


Por Célia Ribeiro

Quando os primeiros raios de sol surgem ao amanhecer, no interior de um mundo em miniatura o menino observa, surpreso, o que há do outro lado do vidro translúcido. Como os personagens da lendária “Terra de Gigantes”, o garoto vê pessoas, animais, objetos e muitas plantas em tamanho descomunal, dezenas de vezes maiores do que o espaço que ocupa. Os gigantes, que Irwin Allen imortalizou na série dos anos 60, são os humanos de hoje. E o menino nada mais é que um bonequinho no interior do terrário!
Menino em terra de gigantes: pura imaginação
Se para quem tem menos de 50 anos (ou não assistiu “Terra de Gigantes” na TV em preto e branco), é difícil compreender a cena descrita acima, fica mais fácil quando se conhece o mini ecossistema que imita o planeta Terra. Conquistando cada vez mais pessoas, os terrários desafiam a imaginação com plantas que vivem em pequenos espaços de maneira auto sustentável.

Arte em miniatura
Utilizando vidros ou plásticos transparentes, cortiças, plantas, pedras, areia e miniaturas, os terrários duram muito tempo sem necessidade de irrigação, como explica uma das especialistas na área, a arquiteta Maria Brasil. Junto com os biólogos Aline Brasil e Guilherme Bessa, ela criou a “Terra Azul  Pequenos Jardins", executando projetos que encantam pela beleza e criatividade, e que são comercializados em feiras, como a da Vila das Artes, realizada ontem em Marília, em exposições e pela internet.

“O terrário é um mini ecossistema que imita nosso planeta. Dentro do vidro a planta tem tudo o que precisa para viver: água, solo e ar. Observamos o ciclo da água: o vapor d'água ao tocar no vidro se condensa como as nuvens no céu e volta para a terra como a chuva. Por isso, não é necessário regar com frequência, somente quando observar que as gotículas de água diminuíram”, informou.

Segundo ela, “a planta não morre sufocada, pois ocorre o ciclo dos gases: em contato com a luz, as plantas realizam a fotossíntese e todo oxigênio e gás carbônico produzidos são consumidos pela planta”. Há casos de terrários que ficam mais de um ano sem necessidade de regar.
(Esq) Aline, Maria e Guilherme no ateliê
Maria explicou que os terrários surgiram em 1829 “quando o médico Nathanael Ward fez uma experiência com pupas de borboleta e terra vegetal dentro de um recipiente fechado. Os esporos na terra terminaram e se desenvolveram. Satisfeito com o resultado, Ward iniciou suas experiências com diversas espécies de plantas. Nascia a técnica de transportar plantas entre países e continentes, garantindo assim que estas delicadas encomendas chegassem em perfeitas condições aos seus destinos”.

O PRINCÍPIO

A arquiteta revelou como tudo começou: “O contato e o amor pelas plantas cresceram e nos levaram a expandir as experiências com outras técnicas de cultivo, daí chegamos no terrário. Foi incrível acompanhar algo encapsulado, vivo e cheio de ciclos”. Ela observou que a oportunidade de utilizar diferentes materiais também contribuiu para aumentar o interesse do trio: “Trabalhamos com projetos de pequenos jardins, instalação de hortas domésticas, terrários e arranjos de cactos e suculentas”, frisou sobre a empresa “Terra Azul Jardins”.
Terrário fechado com tampa em cortiça
Segundo Maria Brasil, os trabalhos podem ser elaborados utilizando “potes de vidro ou plástico transparentes, plantas compradas ou cultivadas em casa, pedras de tamanhos e formatos variados, areia, miniaturas para recriar paisagens em escalas pequeninas.  Reutilizamos potes de conserva, garrafinhas de sucos e molhos, redomas de plafons, garimpamos muito em brechós e, quando os arranjos são abertos, as possibilidades são imensas. Tudo pode virar suporte para plantas”.

MODELOS

A arquiteta destacou a versatilidade do trabalho em que podem explorar a criatividade em várias frentes: “Produzimos terrários fechados, em recipientes de vidro com tampa do mesmo material ou cortiça. As cenas reproduzidas nos terrários podem remeter a pequenos fragmentos florestais, um parque ou uma borda de um lago com casais apaixonados num barquinho. São infinitas as possibilidades. Basta combinar os vegetais com os elementos decorativos como as pedras, miniaturas e, claro, a criatividade”, observou.
 
Miniaturas dão um clima bucólico
Maria Brasil comentou o aumento da procura por este tipo de trabalho: “Acreditamos que o interesse das pessoas aumenta em consequência da necessidade humana de retornar à natureza. Atualmente, o ser humano se distanciou muito da sua natureza primitiva. Novos hábitos de vida e a rotina extenuante de trabalho, principalmente nos centros urbanos, provocam esgotamento mental e até mesmo da criatividade”.

Por isso, prosseguiu, “quando temos contato com a natureza ou mesmo quando temos algo vivo perto de nós, como plantas ou animais, nos sentimos revigorados. Isso é muito natural. Está em nossa ancestralidade. No Japão existe uma técnica de relaxamento chamada banho de floresta. A imersão neste ambiente revigora a saúde física e mental, então o praticante está renovado após seu banho de floresta e quem não gosta?”

Falando sobre o momento em que a exploração dos recursos naturais tem causado tantos problemas para o equilíbrio do meio-ambiente, a arquiteta afirmou que “por essas e outras é que acredito que o interesse e a busca por ambientes mais verdes tenha aumentado e espero que expanda muito mais. Precisamos de cidades mais verdes, mais parques, mais florestas em pé, pois são importantíssimas para o equilíbrio do nosso querido Planeta”.
 
Os terrários podem ser abertos ou fechados
Sobre a manutenção de terrários, ela explicou que “os cuidados básicos são mantê-los em ambientes seguros, por serem de vidro. Mas, principalmente em local com boa claridade, porém sem luz solar incidindo diretamente no vidro. Isso causaria um superaquecimento dentro do recipiente e as plantas podem não resistir. Quanto às regas, deve-se observar a necessidade de água. Isso pode ser feito observando as plantas mesmo. Neste caso, uma das características seriam as folhas murchas ou com aspecto seco. Mas temos terrários no nosso ateliê que estão há quase dois anos sem precisar de água”.

Variando de acordo com o tipo de terrário, a arquiteta informou que, “a depender do tamanho do vidro, há necessidade de manutenção, como retirar alguma folha morta, limpar o vidro, acrescentar ou retirar plantas, que são cuidados que teríamos com um vaso comum”.

PROJETO

As imagens bucólicas podem enganar: o processo de criação é trabalhoso e exige atenção e dedicação. Envolve pesquisa, elaboração do projeto e execução que pode levar várias horas utilizando pequenas ferramentas como pinças capazes de passarem pelo gargalo estreito de um vidrinho.

Maria Brasil explicou que “antes de iniciar a produção, fazemos um planejamento de acordo com a feira, evento ou loja onde apresentaremos as peças. Levamos em consideração a época do ano. Existem datas festivas que vendem mais, como o Natal, por exemplo. Depois, elaboramos nossa lista de compras: plantas, vidros, terra, pedriscos, miniaturas entre outros. É necessário higienizar os vidros e com as ferramentas, todas em pequena escala como colheres, ancinhos, funil e pinças, iniciamos a elaboração das paisagens dentro dos vidros”.
 Opção de presente que agrada
Ela observou que “para cada trabalho há um tempo. Tudo depende de como foi pensando o projeto e quão fino é a entrada do nosso vidro. Os de gargalos menores são mais trabalhosos, mas não impossíveis. Depois de colocar as plantas, finalizar com pedrinhas e enfeites, molhamos as mudas, fechamos o vidro e finalizamos uma limpeza, a fim de deixar o vidro translúcido e pronto para mostrar toda beleza do terrário recém elaborado. O tempo de produção de cada peça varia de acordo com suas especificidades. Temos alguns mini terrários que conseguimos montar em até dez minutos, outros maiores podem chegar a uma hora ou mais”.
Trabalho minucioso 

Os preços variam a partir de 15 reais. O valor é determinado de acordo com a encomenda, tamanho e modelo do vidro, elementos utilizados, quantidade e tipo de plantas, grau de dificuldade na elaboração etc. As lembrancinhas são muito pedidas pelo seu diferencial e já houve até quem quisesse reaproveitar um aquário em que o peixinho morreu para transforma-lo em um lindo mini-jardim com iluminação da própria peça.


* Reportagem publicada no Jornal da Manhã, edição de 28.04.2019

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