sábado, 19 de janeiro de 2019

MÚSICA E MOVIMENTO: PROTAGONISTAS, AS CRIANÇAS SE DESENVOLVEM NO SEU RITMO.

Por Célia Ribeiro

A Educação Musical vai muito além de ensinar alguém a cantar ou a tocar um instrumento. No mundo todo, não é de hoje que pesquisadores se debruçam sobre diferentes trabalhos estudando abordagens que contribuam para a formação musical das crianças desde os primeiros meses de vida. Em Marília, Caroline Alaby Manzano fundou uma escola aonde tem a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos em formações no Brasil e no exterior recebendo desde bebês até crianças de 08 anos, inclusive portadores de deficiências.
Carol e os pequenos:
turma de fraldas

Pedagoga, embora mais conhecida como artista (pianista, cantora, bailarina, sapateadora, acrobata, atriz e contadora de história), Carol Alaby realiza performances em eventos culturais com o “Cacarecos” em parceria com o ator Calu Monteiro, e leciona para alunos de Educação Infantil do Colégio Cristo Rei.

Um ano atrás, na entrevista concedida à coluna “Marília Sustentável”, ela falou sobre o sonho de fundar uma escola, que conseguiu concretizar em meados do ano passado: “Eu queria um espaço onde pudesse construir o meu jeito de ensinar e ter a liberdade de escolher como eu quero a estrutura da coisa toda”, explicou.

Ao encontrar o imóvel, localizado à Rua Palmares, 77, Carol teve a ajuda da irmã arquiteta, Daniele Mazuti, para elaboração do projeto e acompanhamento das obras de adequação. O local foi concebido para atender bebês a partir dos seis meses de idade e por isso há um trocador no banheiro. A escola conta com acessibilidade, como barras de apoio nos sanitários e portas com abertura suficiente para cadeiras de roda, andadores etc.

Recém-chegada do “III Simpósio Internacional Orff Schulwerk no Brasil”, realizado na UNICAMP (Campinas), na semana passada, e após ter participado do San Francisco Orff School - 2018 Summer Course (SFORFF 2018), nos Estados Unidos, em julho de 2018, Carol assinalou: “O que eu tenho é uma pesquisa muito pessoal que fiz e estou trazendo. Embora eu saiba que tem muitas pessoas em Marília fazendo coisas incríveis, eu queria fazer aquilo que eu fui lá pesquisar. Não pensei em começar grande, fazendo parcerias e colocar gente para trabalhar comigo”.
Recepção da escola colorida

MÚSICA EM FAMÍLIA

As turmas são pequenas e para os grupos de seis meses a três anos as aulas são em família. Ou seja, a criança precisa estar acompanhada do pai, mãe, tia ou outro familiar responsável. “É música em família”, brincou Carol, acrescentando que também recebeu  crianças portadoras de deficiências, principalmente autistas.
Um dos ambientes em que acontecem as aulas 
Ela explicou que “o trabalho é para exercer bem na prática uma abordagem ‘Music Learning Theory (teoria da educação musical)’ MLT e Orff-Schulwerk, que são duas abordagens que a gente chama de ativas dentro da pedagogia musical porque considera a criança protagonista do processo. Mas, o que me apaixonei é que tem a possibilidade de trabalhar com a família”.

Carol afirmou que “a gente precisa voltar o olhar para essa coisa do indivíduo, de ser cuidado, dessa coisa de um para um que na primeira infância é essencial. Eu acredito nesse modelo de educação porque, quando você é referência para 15, você não consegue olhar individualmente o tempo todo. Agora, ali tem a minha referência e cada um tem a sua. Tem a possibilidade da criança construir um ambiente bem seguro afetivamente para ela poder se expressar. Eu construo uma aula todinha baseada no que eles me oferecem”.
Carol no curso em San Francisco
Na “Escola de Música e Movimento Carol Alaby”, as turmas são divididas da seguinte maneira: grupo de seis meses a três anos (um familiar acompanhando), grupo de transição (entre três e quatro anos) “em que as crianças já falam, querem dar opinião e a aula é conduzida de outro jeito. E o grupo de 04 a 08 anos”, informou, explicando que aceita no máximo 07 alunos em cada turma.

Sobre sua metodologia, Carol observou que “a música é uma linguagem. Assim como quando você vai aprender uma língua estrangeira tem que estar imerso naquela língua, a música é a mesma coisa. Então, estou oferecendo um ambiente de imersão na música. Como professora, sei o que estou oferecendo em termos musicais. Estou pensando melodicamente, harmonicamente, ritmicamente, em variação de timbres para oferecer a maior variedade possível de coisas para essa criança estar imersa na cultura musical”.
Nos Estados Unidos, no ano passado, oportunidade de
conhecer educadores de vários países
Ela prosseguiu afirmando que nesta escola, “a criança tem a chance de vivenciar o ambiente musical, tanto que a gente não fala na aula, a gente só canta tudo dentro do conceito musical. A partir dos 04 anos, falo uma coisa ou outra porque entram os jogos com regras e tenho que dar algum direcionamento, mas tem aquele momento em que a coisa flui sem explicação. Aqueles 45 minutos de aula, uma vez por semana, em que pára tudo para a música acontecer. Quantas vezes o pai ou mãe param 45 minutos para brincar com seu filho, para falar que estou aqui sentada no chão, sem celular, com a atenção voltada para a criança?”

BENEFÍCIOS
Atualização no concorrido simpósio da Unicamp
Apesar do pouco tempo de funcionamento, a escola tem apresentado resultados surpreendentes, segundo a pedagoga: “Eu canto em modos gregos, que não é muito comum da gente ouvir, um jeito de se construir música que a gente não está muito acostumado no ocidente. Faço isso porque quero oferecer variedade. Eu ofereço um tipo de música que as crianças não estão acostumadas a ouvir e já aconteceu de criança chorar, por exemplo. De parar, olhar pra mim e encher os olhos de água. Então, estou trabalhando a emoção à flor da pele. Eu acho isso muito poderoso porque a criança pode ter contato e chance de se expressar”.
As apresentações fazem sucesso com as crianças

Carol disse estar feliz pela “participação de muitas crianças autistas porque essas crianças estão vivenciando coisas com outras crianças e essas outras crianças estão tendo a oportunidade de vivenciar coisas com elas. Estão se sentindo acolhidas e estou vendo essas crianças desenvolverem a fala”.

Ela acrescentou que “a ideia é depois escolher um instrumento e a criança vai estudá-lo. Mas, já vai estar pronta musicalmente e vai ser muito mais tranquilo o aprendizado deste instrumento, da voz ou da dança. Além disso, tem todas outras questões que a gente acaba desenvolvendo, porque estou pensando em movimento, no corpo todo, na relação palavra-som e movimento; estou pensando na relação afetiva da criança com sua família, comigo e com música”.

Conforme disse, “meu objetivo de vida é oferecer esse espaço de possibilidades. A gente fez duas rodas de conversas com as mães em que contei os princípios norteadores do trabalho. Quero tentar ser um espaço de encontro. A gente precisa se olhar, precisa de conexões. As conexões estão muito desgastadas por causa das redes sociais, do celular. Às vezes, estamos conectados com 1.000 pessoas e não estamos conectados com quem está do nosso lado”.

FUTURO

Lembrando o curso realizado nos Estados Unidos, em julho do ano passado, em contato com pessoas de vários países, Carol falou com entusiasmo sobre o futuro: “Espero continuar com o mesmo vigor em mim mesma na hora de elaborar para não perder a essência de fazer um trabalho cuidadoso e autoral, embora eu use tudo que aprendo. Mas, na hora que a gente aplica, coloca a nossa cara. Quero manter esse nível profundo de conexão entre mim e as crianças e espero atingir mais as pessoas, criar esses espaços de troca para as pessoas sentirem possibilidade de serem quem são, principalmente as crianças. É uma coisa meio utópica, mas eu sou artista, né?”
Acessibilidade: barras e
trocador para os bebês

Carol planeja compartilhar seus conhecimentos “no sentido de dividir essas descobertas com pessoas que trabalham na Educação, seja na escola pública ou rede privada. Tenho um projeto quase pronto de uma oficina para professores, em formação ou formados”, adiantou. Para entrar em contato com Carol Alaby, seu email é: carol_alaby@hotmail.com

Leia a reportagem de janeiro de 2018 AQUI.

* Reportagem publicada na edição do Jornal da Manhã de 20.01.2019

2 comentários:

  1. Que que linda! Nossa, quantas coisas maravilhosas existem em Marilia e eu nem sei. Muito, mas muito bacana mesmo. Sucesso á Carol

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    1. Obrigada, Maristela querida. Realmente, Marília guarda tantas surpresas e me sinto privilegiada por poder dar visibilidade a algumas delas. Apareça sempre!!!!

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