UM MUNDO MELHOR: ATIVISTA REUNIU EM LIVRO SUAS EXPERIÊNCIAS COM A PERMACULTURA.
Por Célia Ribeiro
Quando menino, ele corria livre pelo imenso quintal de pé no chão em harmonia com a natureza. A terra fértil, onde se plantando tudo dá, também fez brotar no rapaz alto, magro e de olhar doce o desejo de descobrir uma alternativa à exploração desmedida dos recursos naturais que está levando o planeta ao colapso. Adulto, o ativista e sociólogo Djalma Nery tem agora o desafio de compartilhar o que aprendeu sobre a permacultura.
Na última semana, ele esteve em Marília para proferir uma palestra no CEEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) e lançar o livro “Uma Alternativa para a Sociedade – Caminhos e Perspectivas da Permacultura no Brasil” que reuniu tudo o que ele aprendeu em anos de viagens ao Brasil e diversos países da América Latina conhecendo modelos inovadores de interação do homem com o meio ambiente.
“Permacultura é um sistema em que o habitante, a moradia e o meio-ambiente estão integrados em um único organismo vivo”: esta é uma das inúmeras definições e que se encontra no portal www.ecycle.com.br As pesquisas que Djalma Nery fez ao longo de vários anos foram sistematizadas na sua tese de Mestrado (USP/Piracicaba) em 2014, “quando decidi trazer essa paixão da permacultura para dentro da academia”.
Ele explicou que realizou “um trabalho de mapeamento dos grupos que estavam trabalhando com isso a nível nacional e o resultado está neste trabalho que virou livro”. Se esta é a parte mais visível do seu trabalho, vale voltar alguns anos quando ele fundou a ONG Associação Veracidade (www.veracidade.eco.br) em 2012, em São Carlos, cidade que considera seu berço porque ali chegou aos seis meses de idade.
“Cresci com meus pais muito conectados com a questão ambiental. Sempre tive horta em casa, cresci em quintal grande e sempre fui sensível a esta questão. Mas, conheci mesmo uma proposta concreta em 2008 em contato com o movimento de hortas urbanas. Comecei a ver um grupo de pessoas se organizando para ocupar espaços ociosos transformando em horta e produzindo dentro da cidade”, recordou.
O fascínio pelo movimento fez com que Djalma começasse a viajar em busca de conhecimento: “Visitei grupos, pessoas e iniciativas que estavam desenvolvendo esses projetos de permacultura no Brasil e na América Latina. Fui para a Argentina e Peru e passei três anos viajando. Ficava dois meses aqui, seis meses ali, trabalhando como voluntário, trocando hospedagem e alimentação por trabalho e depois disso voltei para São Carlos”.
Aproveitando o quintal de 1.000 metros quadrados na propriedade da família, na Vila Prado, o ativista fundou a Associação Veracidade em uma espécie de comunidade urbana: além dele, de sua companheira e da mãe, alguns amigos vivem no local em que são aplicados os conceitos da permacultura.
PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS
“Mais do que só falar do assunto e pesquisar, o lance é viver”, afirmou, assinalando que a experimentação é a base de tudo. As propostas são testadas e o que dá certo é implementado. Segundo Djalma, aquele espaço familiar e comunitário “acabou se tornando uma referência regional. A gente recebe visita de grupos, de escolas com crianças e também de universitários”.
Para viabilizar a difusão do conhecimento, foi criado um roteiro de visitas “passando por cada um desses espaços. Mostramos como funciona a horta orgânica, a nossa compostagem, o banheiro seco, pegamos a água da chuva, geramos nossa energia, enfim, mostramos todas as tecnologias e apresentamos esse universo da permacultura”.
Em pouco tempo a proposta ganhou visibilidade, chamando a atenção em outras regiões. Atualmente, a ONG possui projetos em outras cidades, como um desenvolvido em parceria com a Fundação Banco do Brasil no Vale do Ribeira.
Voltando ao livro, diante das dificuldades do mercado editorial, Djalma partiu para o financiamento coletivo, um tipo de “vaquinha virtual”, arrecadando 37 mil reais para a impressão de 1.500 exemplares. Cerca de 1.000 pessoas adquiriram a obra antecipadamente e outros quinhentos exemplares estão com o autor que tem visitado várias cidades divulgando a permacultura.
EXPERIÊNCIA RICA
“Em termos gerais, o que me surpreende muito é a criatividade do povo brasileiro que tem a capacidade de superar situações e conseguir contribuir para as mudanças”, comentou ao falar sobre as viagens para conhecer os projetos em desenvolvimento no País. Conforme disse, “comecei a ver que esses grupos, que nem se conheciam entre eles, tinham um projeto comum de mudança para a sociedade”.
Neste sentido, prosseguiu o ativista, “estava cada um no seu espaço praticando e não tinham uma conexão. Juntos, eles põem uma possibilidade de mudança concreta. O pouco que eu trago neste livro é como transformar experiências como as que a gente vive em experiências mais amplas, mais conhecidas e mais praticadas”.
De acordo com Djalma Nery, “falta bastante comunicação entre eles. E, por serem coisas que vão na contramão do que está estabelecido, dificulta um pouco o processo de divulgação”. Ele citou como exemplo a gestão de resíduos: “É uma coisa assustadora o que a gente faz com nossos resíduos. A gente enterra, basicamente, nos buracos que chama de aterro sanitário, contamina água e solo, gera gás metano, sendo que uma coisa simples como a compostagem poderia ser uma solução para os resíduos e não é aplicada”.
O ambientalista destacou a dificuldade em expandir o conhecimento lembrando que poucos sabem o que é permacultura e até a agroecologia, mais conhecida, ainda é pouco difundida. Ele defendeu a importância “do poder público ter uma visão estratégica e incentivar esse tipo de prática”.
Em Marília, ele conheceu a Horta Comunitária Vinha do Senhor que tem à frente voluntários da Paróquia do Jardim Santa Antonieta em área cedida pela CEAGESP. “Achei um projeto social incrível. E, andando por Marília, que não é muito diferente de São Carlos, vi muitos terrenos ociosos que estão juntando entulho e lixo. Vejo que as hortas urbanas são um caminho muito simples para produzir alimentos dentro da cidade, gerando o contato da população com a natureza”, destacou.
CONCEITO DE CSA
No interior de São Paulo, vários municípios descobriram a importância das CSAs (Comunidades que Sustentam a Agricultura) onde a população, cada vez mais, apoia o relacionamento direto entre os produtores de alimentos orgânicos e os consumidores. Ourinhos, Lins, Bauru, Botucatu e São Carlos são exemplos de iniciativas bem sucedidas de CSAs que Djalma Nery acredita ser viável em Marília.
O conceito da CSA é que um grupo de pessoas se reúne em torno de uma família de produtores. Mediante o pagamento mensal, que varia de 100 a 160 reais, toda semana cada uma das famílias de consumidores recebe uma cesta de alimentos orgânicos (verduras, legumes e frutas) da época. Em São Carlos, desde 2013, 40 famílias apoiam uma família de pequenos produtores, mas há casos de grupos de 30 a 50 famílias para cada produtor.
“Na CSA a ideia é colocar junto quem produz e quem consome e torna-los parceiros que estão interessados não só no pé de alface, mas no modo de produção sem veneno, que não agride a natureza”, explicou. Ele acrescentou que a sociedade vale para os tempos bons e os tempos difíceis. Isto é, se tiver uma chuva de granizo e houver perda na produção, os consumidores receberão menos produtos. O mesmo vale se houver uma grande produção e, neste caso, a cesta de orgânicos estará muito mais recheada e variada.
Finalizando, Djalma Nery afirmou que na região de Marília há vários pequenos agricultores que poderiam ser fornecedores de uma CSA: “Se come comida boa e barata garantindo o bem-estar dos produtores. O maior drama da agricultura familiar é plantar sem saber se vai vender, se vai colher. Esse modelo dá segurança porque eles plantam sabendo que serão sócios dos consumidores, colhendo ou não, e todo mundo se beneficia”.
Para saber mais sobre a ONG, acesse: http://veracidade.eco.br/ e nas redes sociais: https://www.facebook.com/AVeracidade
Crédito das fotos: ONG Veracidade
Quando menino, ele corria livre pelo imenso quintal de pé no chão em harmonia com a natureza. A terra fértil, onde se plantando tudo dá, também fez brotar no rapaz alto, magro e de olhar doce o desejo de descobrir uma alternativa à exploração desmedida dos recursos naturais que está levando o planeta ao colapso. Adulto, o ativista e sociólogo Djalma Nery tem agora o desafio de compartilhar o que aprendeu sobre a permacultura.
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Dia de campo para conhecer de onde vem o alimento |
“Permacultura é um sistema em que o habitante, a moradia e o meio-ambiente estão integrados em um único organismo vivo”: esta é uma das inúmeras definições e que se encontra no portal www.ecycle.com.br As pesquisas que Djalma Nery fez ao longo de vários anos foram sistematizadas na sua tese de Mestrado (USP/Piracicaba) em 2014, “quando decidi trazer essa paixão da permacultura para dentro da academia”.
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Limpeza de terreno para horta urbana em S. Carlos |
“Cresci com meus pais muito conectados com a questão ambiental. Sempre tive horta em casa, cresci em quintal grande e sempre fui sensível a esta questão. Mas, conheci mesmo uma proposta concreta em 2008 em contato com o movimento de hortas urbanas. Comecei a ver um grupo de pessoas se organizando para ocupar espaços ociosos transformando em horta e produzindo dentro da cidade”, recordou.
(Esq.) Gustavo Schorr e Djalma Nery em Marília |
Aproveitando o quintal de 1.000 metros quadrados na propriedade da família, na Vila Prado, o ativista fundou a Associação Veracidade em uma espécie de comunidade urbana: além dele, de sua companheira e da mãe, alguns amigos vivem no local em que são aplicados os conceitos da permacultura.
PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS
“Mais do que só falar do assunto e pesquisar, o lance é viver”, afirmou, assinalando que a experimentação é a base de tudo. As propostas são testadas e o que dá certo é implementado. Segundo Djalma, aquele espaço familiar e comunitário “acabou se tornando uma referência regional. A gente recebe visita de grupos, de escolas com crianças e também de universitários”.
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Sistema de produção sem agrotóxico |
Em pouco tempo a proposta ganhou visibilidade, chamando a atenção em outras regiões. Atualmente, a ONG possui projetos em outras cidades, como um desenvolvido em parceria com a Fundação Banco do Brasil no Vale do Ribeira.
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Compostagem: solução para resíduos |
EXPERIÊNCIA RICA
“Em termos gerais, o que me surpreende muito é a criatividade do povo brasileiro que tem a capacidade de superar situações e conseguir contribuir para as mudanças”, comentou ao falar sobre as viagens para conhecer os projetos em desenvolvimento no País. Conforme disse, “comecei a ver que esses grupos, que nem se conheciam entre eles, tinham um projeto comum de mudança para a sociedade”.
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Visita de estudantes à ONG Veracidade |
De acordo com Djalma Nery, “falta bastante comunicação entre eles. E, por serem coisas que vão na contramão do que está estabelecido, dificulta um pouco o processo de divulgação”. Ele citou como exemplo a gestão de resíduos: “É uma coisa assustadora o que a gente faz com nossos resíduos. A gente enterra, basicamente, nos buracos que chama de aterro sanitário, contamina água e solo, gera gás metano, sendo que uma coisa simples como a compostagem poderia ser uma solução para os resíduos e não é aplicada”.
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Djalma em limpeza de área para plantio |
Em Marília, ele conheceu a Horta Comunitária Vinha do Senhor que tem à frente voluntários da Paróquia do Jardim Santa Antonieta em área cedida pela CEAGESP. “Achei um projeto social incrível. E, andando por Marília, que não é muito diferente de São Carlos, vi muitos terrenos ociosos que estão juntando entulho e lixo. Vejo que as hortas urbanas são um caminho muito simples para produzir alimentos dentro da cidade, gerando o contato da população com a natureza”, destacou.
CONCEITO DE CSA
No interior de São Paulo, vários municípios descobriram a importância das CSAs (Comunidades que Sustentam a Agricultura) onde a população, cada vez mais, apoia o relacionamento direto entre os produtores de alimentos orgânicos e os consumidores. Ourinhos, Lins, Bauru, Botucatu e São Carlos são exemplos de iniciativas bem sucedidas de CSAs que Djalma Nery acredita ser viável em Marília.
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Estudantes de várias idades visitam a ONG Veracidade |
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O cuidado com a terra atrai cada vez mais pessoas |
“Na CSA a ideia é colocar junto quem produz e quem consome e torna-los parceiros que estão interessados não só no pé de alface, mas no modo de produção sem veneno, que não agride a natureza”, explicou. Ele acrescentou que a sociedade vale para os tempos bons e os tempos difíceis. Isto é, se tiver uma chuva de granizo e houver perda na produção, os consumidores receberão menos produtos. O mesmo vale se houver uma grande produção e, neste caso, a cesta de orgânicos estará muito mais recheada e variada.
Finalizando, Djalma Nery afirmou que na região de Marília há vários pequenos agricultores que poderiam ser fornecedores de uma CSA: “Se come comida boa e barata garantindo o bem-estar dos produtores. O maior drama da agricultura familiar é plantar sem saber se vai vender, se vai colher. Esse modelo dá segurança porque eles plantam sabendo que serão sócios dos consumidores, colhendo ou não, e todo mundo se beneficia”.
Para saber mais sobre a ONG, acesse: http://veracidade.eco.br/ e nas redes sociais: https://www.facebook.com/AVeracidade
Crédito das fotos: ONG Veracidade
Parabéns excelente reportagem ..fica claro a importância da agricultura familiar..
ResponderExcluirOutro item tAntos terrenos com lixos.entulhos que poderiam ser aproveitos...
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