domingo, 29 de julho de 2018

COMPOSTAGEM: COMO DESCARTAR OS RESÍDUOS SÓLIDOS E PRODUZIR ADUBO ORGÂNICO.

Por Célia Ribeiro

A natureza é sábia: onde tem pássaros, animais, insetos e plantas, há vida. E quando a natureza é cuidada com respeito ela devolve a atenção mantendo o equilíbrio do meio-ambiente. Um exemplo se observa na residência do ambientalista Antônio Luiz Carvalho Leme em um condomínio fechado, na zona oeste de Marília. Lá, ele pratica o que defende dando a correta destinação aos resíduos sólidos, através da compostagem, obtendo adubo orgânico utilizado na horta, pomar e orquidário da família.
Leme explica como é simples o processo
Cada vez mais pessoas se conscientizam sobre a problemática do lixo urbano, o que explica o aumento da procura por informações sobre a compostagem. No entanto, embora existam vários modelos de composteiras à venda, quem quiser pode começar com três baldes de plástico com tampas perfuradas que, quando empilhados, fazem a vez do sistema necessário para a degradação lenta da matéria orgânica.
Legumes, frutas, verduras
e pó de café 

Segundo o site www.ecycle.com.br, “compostagem é o processo biológico de valorização da matéria orgânica, seja ela de origem urbana, doméstica, industrial, agrícola ou florestal, e pode ser considerada como um tipo de reciclagem do lixo orgânico. Trata-se de um processo natural em que os microorganismos, como fungos e bactérias, são responsáveis pela degradação da matéria orgânica, transformando-a em húmus, um material muito rico em nutrientes e fértil”.

Restos de podas de plantas e árvores estão se decompondo no terreno
Acompanhado do filho, Gustavo Schorr Carvalho Leme e de Suzana Más Rosa, sócios da Consultoria Ambiental Agenda 22, Antônio Luiz Carvalho Leme, membro do Coletivo Socioambiental, contou como iniciou o sistema de compostagem doméstica aproveitando cascas de frutas, legumes, sobras de verduras e borra de café. Em caixas plásticas, com minhocas no seu interior, ele deposita as sobras da cozinha e cobre com folhas secas, restos de podas etc.

Assista o vídeo abaixo:



Ao contrário do que se pensa, a composteira não tem cheiro. O chorume, líquido que desce até a última caixa e é recolhido através da torneira instalada no local, também é utilizado na pulverização das plantas (uma parte de chorume diluída em 10 partes de água). Além de frutas, legumes e verduras, podem ser utilizados sobras de podas de árvores e jardins, saquinhos de chá e casca de ovo. Proibidos estão: carnes, gorduras, papel higiênico, fraldas descartáveis etc.

Na casa do ambientalista, há dois baldes na pia da cozinha: um recebe materiais que irão para a composteira e outro para os demais resíduos, incluindo-se cascas de frutas cítricas (abacaxi e laranja) que são descartados junto com o lixo doméstico porque não são bem aceitos pelas minhocas. Quem cuida disso também se beneficia com o resultado da compostagem: a esposa, Shirlei Schorr, tem verdadeira paixão pelas plantas e mantém um bem cuidado orquidário onde cultiva belas espécies graças ao adubo orgânico que sai do seu quintal.
As plantas e flores estão sempre vistosas no quintal
TRÊS MODELOS

Antes da composteira ao lado do canil, a degradação dos resíduos sólidos era feita de outras duas maneiras na propriedade: Shirlei até hoje mantém enterrados sobras de legumes, verduras e frutas com pó de café em uma pequena área onde micro-organismos decompõem a matéria orgânica gerando o adubo natural.

Baldes de plástico com tampas também podem ser usados

Na parte superior do terreno, onde está sendo formada uma horta de fitoterápicos, existe um local coberto por restos de podas de árvores e plantas em que ocorre outro processo de compostagem que leva algum tempo, mas com os mesmos resultados. Nos três tipos de compostagem, quando o processo se encerra os resíduos são aproveitados para se devolver nutrientes às plantas e flores de maneira natural e sem custos.
Existem vários  modelos de composteira no mercado
POLÍTICAS PÚBLICAS

Leme afirmou que a compostagem doméstica deve ser estimulada, mas pouco adiantará se o poder público não tiver uma solução definitiva para a correta destinação dos resíduos sólidos. Conforme disse, “do lixo coletado nas cidades, cerca de 50 por cento são lixo orgânico, 30 por cento reciclável e só 17 a 20 por cento teriam que ir para os aterros”. Dessa forma, destacou a “necessidade de adoção de políticas públicas adequadas contemplando não só a coleta seletiva como a compostagem do lixo orgânico”.

Gustavo, Leme e Suzana
Ele citou a experiência da capital paulista na década de 80, quando a Prefeitura realizava a compostagem de material orgânico em um grande terreno próximo à Marginal Tietê. O material passava por processo mecanizado e os resíduos eram aproveitados na adubação de árvores em parques e áreas públicas.
As minhocas são grandes aliadas
Por sua vez, Suzana Más Rosa observou que “quando se fala em gestão de resíduos, as pessoas pensam em recicláveis. Tem muitos municípios, como Alvinlândia, que falam que têm coleta seletiva, mas só pegam o reciclável. As pessoas esquecem o orgânico que indo para o aterro gera muito mais chorume e acaba favorecendo o carreamento de substâncias e elementos tóxicos para o lençol freático”.

Neste sentido, prosseguiu: “É importante que as pessoas façam em casa, mas que as prefeituras resolvam o problema do orgânico, sem pensar só no reciclável, porque está muito sério e a gente não vê uma solução imediata que seria atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Temos uma lei, existem diretrizes e a compostagem é super incentivada por esta lei”.
Chorume: líquido diluído em 10 partes de água vai direto para as plantas

ABELHAS

Em meio às flores, plantas, legumes e verduras da horta, a propriedade tem novos hóspedes há algum tempo: são abelhas sem ferrão atraídas por um sistema utilizado por Leme e seu filho. Além de produzirem mel, elas atuam na polinização das plantas contribuindo para o equilíbrio ambiental.
No Orquidário de Shirlei as flores têm cuidado especial
Gustavo Schorr contou que quando a família se mudou para o local, o terreno era pobre, sem vida, e uma das primeiras providências foi trabalhar na recuperação do solo: “Era uma terra super pobre, não crescia nada”, recordou. Foi então que resolveram trabalhar na compostagem e levar minhocas californianas, especialistas em comerem substrato apodrecido (folhas e galhos), para o local que hoje está cada vez mais nutrido.
"Casinha" para atrair abelhas. No interior, mel e própolis.

E para completar, atualmente estão investindo e aprendendo a técnica do Bokashi, microorganismos eficientes a partir do uso da “Serapilheira” que consiste na camada formada por acúmulo de material orgânico vivo. Em um recipiente, colocam arroz cozido coberto com restos de folhas e gravetos de árvore da mata nativa ao lado da propriedade, no próprio condomínio.

Serapilheira: devolvendo vida à terra
“Em 10 a 20 dias, são geradas bactérias pretas e cinzas, que são descartadas, e as coloridas que são depositadas em vasilha com água sem cloro e garapa. Desta fermentação, após 45 dias, resulta um líquido riquíssimo em microorganismos eficientes deste bioma. São resíduos do mato deste local com que regamos a terra devolvendo-lhe a vida”, finalizou o ambientalista.
Shirlei e suas orquídeas
Dos janelões da cozinha, enquanto preparava o almoço, Shirlei Schorr observava a movimentação no terreno durante a reportagem, separando mais material para a composteira. No seu entorno, como uma moldura viva, dezenas de vasos de flores e plantas multicoloridas testemunhavam o cuidado que a família dedica à natureza que, como todos sabem, retribui como ninguém!

3 comentários:

  1. Muito legal esta matéria e as dicas sobre (re)aproveitamento do lixo doméstico e sobre técnicas de manejo dos restos orgânicos. Achei interessante a ideia de incluir o vídeo.

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  2. Sensacional o trabalho dessa família! Parabéns

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  3. Boa tarde...linda reportagem. Eu tb faço uso dessa compostagem.
    Será que ele pode dar um curso na feira de organicos ?meu telefone
    997727917

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