domingo, 27 de maio de 2018

PROJETO DESENVOLVIDO POR MISSIONÁRIOS TRANSFORMA A VIDA DE MULHERES.


Por Célia Ribeiro

Encrustada em uma das regiões mais carentes de Marília, a Vila Real costuma frequentar o noticiário devido aos índices de criminalidade relacionada ao tráfico e ao consumo de drogas nas favelas do entorno. No entanto, quem consegue penetrar esse espaço descobre um oásis de esperança construído com perseverança pelos missionários da 8ª Igreja Batista.
As reuniões acontecem às terças-feiras à tarde
Através de um projeto social fundamentado no Evangelho, o Pastor Antônio Manhani e esposa Rita juntamente com o casal Pedro e Solange Diniz Epiphanio, têm contribuído para transformar a vida de dezenas de mulheres e suas famílias. Iniciado há sete anos, desde que o Pastor e esposa voltaram ao Brasil após vários anos no exterior, o projeto conta com o apoio dos profissionais do NASF (Núcleo de Apoio à Estratégia Saúde da Família) da USF da Vila Real.

“Viemos de Portugal há sete anos para trabalhar com o projeto e com a Igreja Batista”, explicou a portuguesa Rita com seu sotaque característico. De sorriso fácil, ela contou sobre o início da empreitada quando conheceu os profissionais da unidade de saúde “que tinham o mesmo desejo, mas não tinham espaço. Iniciamos uma parceria, através da enfermeira Juliana Carvalho Bortoleto e toda equipe, que tem sido muito importante e persistente neste trabalho”.
Os eventos reúnem dezenas de crianças na Igreja Batista
Solange disse que trabalhou na área da Enfermagem por mais de 20 anos e “tinha o desejo no coração de trabalhar e ajudar as mulheres. Quando conheci a Rita, fizemos a parceria e começamos a desenvolver o projeto”. Ciente das dificuldades em atrair a participação das moradoras do bairro, os missionários não se abateram quando fizeram a primeira reunião e apareceu só uma pessoa.

“No nosso olhar não tinha esse negócio de fazer diferente porque era só uma ou duas pessoas. Tudo o que fazemos com uma, fazemos com 30 ou 60 mulheres”, acrescentou Solange, mais conhecida como “Sol” e que, pelo visível entusiasmo ao se referir ao trabalho, justifica o apelido.
(Esq.) Rita, Pastor Antônio e Solange
ARTESANATO

Os missionários explicaram que, através de atividades como artesanato nas mais diferentes frentes (pintura, tricô, crochê, decoupage), costura, reaproveitamento de recicláveis etc, as mulheres se reúnem na igreja onde se socializam, recebem informações e caso sejam detectados problemas mais sérios, são encaminhadas à Unidade de Saúde para o atendimento psicológico.

Segundo os organizadores, muitas mulheres que chegaram depressivas tiveram um ganho na qualidade de vida. Algumas são enviadas pela própria USF cujos profissionais, sensíveis e bem preparados, percebem que o projeto social pode ajuda-las a superarem o momento difícil: “Temos uma parceria com a equipe que merece nota 10. São todos maravilhosos”, assinalou Rita Manhani.
Concentração na aula de artesanato
Solange acrescentou que há muito que comemorar em todos esses anos: “As mulheres nos dão feedback. Havia muitas mulheres com depressão, que não saíam de casa. São essas mulheres que nós queremos porque vamos trabalhar a autoestima, o respeito, mostrar que elas têm valor”.

Rita Manhani contou que, às terças-feiras à tarde, durante as reuniões do grupo de artesanato, “conversamos muito e identificamos um assunto que elas gostariam de saber mais. Uma vez por mês temos o Grupo da Cidadania” onde são proferidas palestras por convidados que abordam justamente os temas levantados pelas participantes do projeto, como saúde, legislação etc.

Louvorzão Kids: brincadeiras e evangelização
Solange Diniz observou que “tem vários locais que ensinam artesanato na cidade, como no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). O nosso diferencial é que entendemos que essas mulheres, às vezes, precisam de ajuda de fora e não só ali no artesanato”. As missionárias revelaram que chegaram a ir às casas de algumas para ensinar sobre organização doméstica, por exemplo. Além disso, na própria igreja, há uma sala reservada onde as mulheres podem ser atendidas com privacidade.

Com relação aos trabalhos manuais, enquanto algumas participantes são mais resistentes à rotina dos encontros semanais, outras agarram a oportunidade e fazem do aprendizado uma fonte de renda, comercializando seus trabalhos. Para as aulas, os missionários contam com doações de empresas e pessoas que se sensibilizam com a proposta. Podem ser doados tecidos, retalhos, lãs, agulhas, vidros etc.

EVANGELIZAÇÃO

Em todas as oportunidades, os missionários aproveitam para proclamarem a palavra de Deus, através do Evangelho. Seja, no “Louvorzão Kids”, voltado às crianças e que já reuniu 200 delas em uma só edição, até os encontros trimestrais em que as mulheres participam de lanches coletivos em um ambiente todo preparado para recepciona-las festivamente. Nestas ocasiões, em que todas as mulheres do bairro são convidadas, o projeto tem o apoio do Tauste com a doação dos alimentos.

“Estou no campo missionário há 35 anos e sempre trabalhei com gente excluída: em presídio, crianças de rua, imigrantes na Europa, pessoas com necessidades especiais”, afirmou o Pastor Antônio Manhani, citando João 8-32 (Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará). Ele prosseguiu dizendo que “quando olho para o ser humano, vejo corpo, alma e espírito. Creio muito em uma transformação completa através do Evangelho, através de Jesus”.
Aula de costura com tecidos doados
Deixando claro que não há imposição religiosa e as pessoas de todos os credos são bem-vindas, o Pastor destacou que “nosso interesse pelas mulheres, jovens e crianças do bairro é um interesse movido pelo amor. Cada mulher alcançada, cada jovem alcançado, cada criança alcançada para nós é gratificante porque é um trabalho árduo e muito difícil”.
Nutricionista do NASF orienta sobre alimentação saudável
O pastor lembrou que a maioria da clientela do projeto “veio de um contexto muito complicado, de violência doméstica, pobreza e rejeição. No bairro o consumo de drogas é muito grande e depois os filhos vão por esse caminho. Nosso alvo não é atingir só as mulheres, mas atingir as famílias”.
E assim, usando as tardes de terça-feira para os trabalhos manuais e os diversos eventos focados na difusão de informações e orientações, além da evangelização, os missionários seguem acreditando na importância do trabalho de formiguinha, às vezes não valorizado, mas que tem provado ser uma fagulha de luz e esperança para quem tem tão pouco e estava acostumado a isso.

Para conhecer e colaborar com o projeto, a 8ª Igreja Batista localiza-se à Rua Zoroastro Alves de Souza, 123, Vila Real. Os contatos de Rita Manhani e Solange são, respectivamente, (14) 982004424 e 997481966.

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