Os ventos de outono sopravam timidamente lançando as folhas secas de um lado ao outro da rua. Era pouco mais de 19h de segunda-feira (07) quando os primeiros veículos começavam a estacionar em uma rua deserta da Zona Leste de Marília. Do seu interior, saíam homens e mulheres, de várias idades, ávidos pelo que os esperava: a reunião semanal da ONG “Amor- Exigente”.
No auditório, a palestra inicial: sigilo é essencial |
Com sede em Campinas e presente em Marília há 27 anos, a instituição “atua como apoio e orientação aos familiares de dependentes químicos e às pessoas com comportamentos inadequados”, explica seu material informativo. Através de auto e mútua ajuda, o “Amor-Exigente” desenvolve “preceitos para a reorganização familiar, sensibilizando as pessoas e levando-as a perceber a necessidade de mudar o rumo de suas vidas a partir de si mesmas, proporcionando equilíbrio e melhor qualidade de vida”. O AE visa ajudar as famílias a superarem desafios de toda ordem.
Várias publicações podem ser emprestadas aos interessados |
QUEBRANDO O GELO
Na recepção aos participantes, há voluntários que enfrentaram e superaram problemas semelhantes e também pessoas que, mesmo sem problemas na família, se sensibilizam com a causa e oferecem ajuda. Todos passam por capacitações e cursos de formação de modo a darem seu melhor no desenvolvimento dos trabalhos.
Voluntário Mário César: entusiasmo pela causa |
Toda semana, a rotina se repete: pontualmente às 20 horas, todos se dirigem a um grande auditório climatizado, com capacidade para 150 pessoas, onde assistem a uma palestra de 20 minutos. A cada vez, um novo tema é abordado e, ao final, é lembrada a máxima segundo a qual “o que você diz aqui, o que você ouve aqui, quem você vê aqui, aqui permanece”.
Sorteio de brindes |
Uma das coisas que chama a atenção é a preocupação com a prevenção. Há dois grupos: um de pais de filhos que não passaram pela experimentação do álcool e drogas; e outro de jovens de 10 a 15 anos, que apresentam problemas comportamentais. Esse último é conhecido por “Amor-Exigentinho”.
SUPERAÇÃO
O “Amor-Exigente” coleciona centenas de histórias de luta, sofrimento e superação. Uma delas é contada por uma professora aposentada, viúva de 68 anos, que há 24 anos participa do AE. Sob a condição do anonimato, ela aceitou compartilhar sua experiência com objetivo de mostrar que é possível vencer um problema tão grave, aparentemente insolúvel, e dar esperança a outras mães.
Professora aposentada buscou ajuda 24 anos atrás: hoje é voluntária |
A professora aposentada disse que o grupo era pequeno, com poucos voluntários que se reuniam na Igreja Nossa Senhora de Fátima: “Foi lá que eu encontrei suporte para superar essa dificuldade, aplicando a proposta, as metas semanais. Eu e meu marido íamos juntos”.
Ela observou que no começo não foi fácil: “O AE é uma proposta onde você tem que tomar atitudes e para isso, primeiramente, tem que mudar seu comportamento. Até então, a gente era muito facilitador, dava tudo o que eles queriam. Éramos pais facilitadores. No AE aprendemos que precisa de limite para tudo porque tudo que é demais faz mal. Até comida demais faz mal”, pontuou.
ACOLHIMENTO
Hoje voluntária do AE de Marília, a aposentada lembrou que o que mais lhe chamou a atenção foi a receptividade: “São pessoas muito simples e todos são iguais. Não existe problema maior ou menor. Problema é tudo o que nos aflige. Nos identificamos pelo acolhimento e a proposta que, a princípio parecia difícil de ser aplicada, conforme frequentávamos percebemos que nada daquilo era difícil”.
Neste sentido, complementou: “Tudo aquilo fazia parte da vida de uma pessoa que queria qualidade de vida real, que os filhos pediam limites. Muitas vezes, a gente não quer enxergar, não tem coragem de colocar limites”. O sigilo também foi apontado como um recurso importante porque deixa as pessoas à vontade para se abrirem e pedirem ajuda.
Princípios do Amor-Exigente |
Mas, em sua jornada, ela acompanhou alguns dramas. Nem tudo são flores: “Já teve muito preconceito com o AE de que era grupo que colocava filho pra fora de casa, que era grupo de drogado. Na verdade, o ponto principal nosso não é o dependente e sim a prevenção”.
Prosseguindo, ela comentou que “às vezes, a gente recebe pais com filho de 40 anos que usa drogas, mora com eles e vivem em sofrimento sem conseguirem tomar uma atitude. São idosos de 60, 70 anos. A gente faz os pais entenderem que aquele filho precisa ter uma vida própria, fazer uma escolha porque é cômodo usar drogas e continuar na casa dos pais”.
Ela afirmou que os casos de sucesso são inúmeros, com registros de “rapazes que passaram pelo AE, pela internação, recuperaram sua vida e hoje estão em cargos importantes, com trabalho e família”. Mas, infelizmente, também houve casos de perdas como de um jovem que desistiu de viver após 10 anos de tentativas de superação.
MENSAGEM PARA AS MÃES
Em alusão ao “Dia das Mães”, comemorado neste domingo, a professora aposentada deixou uma mensagem às mães: “Jamais desistam do seu problema. Nós, como mães, não podemos desistir dos nossos filhos mesmo que eles estejam no fundo do poço, presos, perdidos, talvez nas ruas. Não podemos desistir. Aqui no AE a gente sempre fala que existe uma saída e que a luz não está no fundo do túnel. A luz está na gente. A luz está em você”.
Para saber mais sobre o AE, acesse: www.amorexigente.org.br As reuniões acontecem às segundas-feiras, às 20h, no endereço: Rua Maria Angelina Zillo Vanin, 75 (no fim da Rua Santa Helena), em Marília. Nas redes sociais, acesse: https://www.facebook.com/amorexigente.marilia/
Somos voluntários do Amor Exigente há vinte anos. Eu e minha família somos prova de que Prevenção com Amor Exigente dá certo. Nos colocamos à disposição para ajudar, mas somos os maiores beneficiados.
ResponderExcluirObrigada Célia, pelo seu relato fiel do que presenciou em sua visita ao grupo.
Volte sempre!
Paz e bem!
Eliana Souza Trevizo
Eliana, parabéns pela dedicação a uma causa tão nobre. Fiquei muito feliz por divulgar esse trabalho. Grande abraço
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