Célia Ribeiro
Ao despertar, seu primeiro desafio é manter-se forte para atravessar mais um dia e ainda estender a mão àqueles que precisam de ajuda para permanecerem sóbrios. Leandro Pereira de Castro, 35 anos, divorciado, passou metade da vida sob a dependência química. Ex-usuário de cocaína, que conheceu na juventude, está recuperado há três anos e hoje dedica-se a ajudar quem luta para superar a dependência.
Coordenadora Diocesana, Vanda Ramos, na sede da Aurora Boreal |
Vida Nova: Leandro virou o jogo |
De fala mansa, medindo as palavras, Leandro explica que “o maior desafio é a pessoa admitir a dependência e buscar ajuda. Não adianta os outros falarem. A pessoa tem que aceitar que é doente e precisa de ajuda. Foi assim comigo”, frisou. Por isso, ele valoriza tanto seu trabalho na comunidade terapêutica: quer ser exemplo para os que estão iniciando a jornada.
Exemplos como o de Leandro, felizmente, têm aumentado. Muitos ex-dependentes (álcool, drogas, cigarro, jogos, internet etc), após passarem por tratamento, decidem devolver um pouco do que receberam e participam de cursos de formação tornando-se agentes nos diversos grupos da Pastoral presentes nas igrejas católicas de Marília.
Segundo a coordenadora Diocesana, Vanda Leite da Silva Ramos, 50 anos, a Pastoral da Sobriedade foi criada na Diocese de Marília em 2010, constituindo-se em “uma ação concreta da igreja católica que evangeliza e busca a sobriedade como um modo de vida. Através da terapia do amor, propõe mudanças de comportamento visando valorizar a pessoa”.
Com uma coleção de histórias tristes para contar, ela não disfarça a emoção ao relatar a situação em que muitos chegam à Pastoral: “Outro dia, tivemos a presença de uma mãe completamente desesperada. O esposo é usuário de drogas, a filha e o filho também são dependentes químicos. Como ela tem duas crianças pequenas, não sabe o que fazer e foi buscar auxílio”.
Curso de formação de novos agentes de pastorais em Marília |
REUNIÕES
Em várias paróquias são realizadas reuniões semanais de modo que se a pessoa perdeu o encontro da sua paróquia, pode se dirigir a outra e assim por diante. Na oportunidade, são vivenciados os “12 passos com temas bíblicos do Programa de Vida Nova que está fundamentado no Evangelho e na doutrina cristã e que acata as diretrizes gerais da ação evangelizadora da CNBB”.
Vanda com o esposo Willians, Leandro e novos agentes |
Ela explicou que há o momento da partilha em que todos podem se manifestar e os agentes da Pastoral permanecem em silêncio, ouvindo os depoimentos. Caso haja familiares, procuram dividi-los em grupos separados para que tenham privacidade para exporem suas colocações sem constrangimento.
“No programa de autoajuda, as pessoas aprendem a lidar e a resolver seus problemas através da ajuda mútua. Durante a partilha das experiências de vida, os participantes conseguem identificar parte de sua própria história pelo sofrimento, pela experiência e pelos anseios dos outros”, pontuou a coordenadora.
Divulgação na missa |
Ela prosseguiu informando que o grupo “utiliza o modelo sistemático para ajudar as famílias a encontrarem soluções aos abalos que sofrem quando um ou mais membros estão afetados pela dependência química, ou seja, a dificuldade de um dos membros da família é compartilhada por todos e cada um tem sua participação e responsabilidade no processo de mudanças”.
Vanda destacou que “o objetivo da reunião é tratar o problema da dependência química abrangendo o grupo familiar sem, no entanto, promover um confronto entre eles”. Catequista na Paróquia São João Batista (Jardim Bandeirantes), ela repete as frases que estão na mente de todos: “A droga é um mal e ao mal não se dá trégua” e “Pastoral da Sobriedade: fazer dos excluídos os nossos preferidos”.
EM FAMÍLIA
Esposa de Willians Ramos, coordenador da Pastoral da Sobriedade na Paróquia São João Batista, Vanda está há dois anos e meio nesta caminhada. Mas, sua dedicação é tamanha que parece veterana. Ela contou que a atuação nos grupos trouxe outro sentido à sua vida: “Às vezes, a gente se lamenta por pouco. Quando ouço o problema de um irmão, vejo que tem gente com problemas muito piores. E Deus manda essas pessoas pra gente”.
Ao mesmo tempo em que coleciona histórias tristes, ela se abastece dos resultados exitosos. “Muitas pessoas venceram. Saíram das comunidades terapêuticas e aqueles quem nem frequentavam igreja, nunca foram batizados, procuram fazer a catequese de adultos para a primeira comunhão e continuam batalhando um dia de cada vez. Temos muitos que dão testemunhos nas escolas, que falam sobre as drogas e os que são agentes de Pastorais após terem superado a dependência”. Ela frisou que todos podem participar, independente da religião, citando uma evangélica que tem frequentado os encontros.
Capacitados, novos agentes vão atuar nas Pastorais da Sobriedade |
“Temos algumas limitações. Não podemos fazer rifa ou bingo, por exemplo, porque é um jogo. E temos pessoas viciadas em jogos tentando se recuperar. Então, nossa dificuldade é como obter esses recursos de maneira a não contrastar com nosso trabalho”, assinalou. O contato da coordenadora é: vanda_ramos67@hotmail.com
ONDE ENCONTRAR APOIO
As reuniões acontecem à noite, uma vez por semana, nas seguintes paróquias: Nossa Senhora de Fátima – Jóquei Clube (Rua Japão, 239) às terças-feiras, às 20h; Nossa Senhora de Guadalupe – Nova Marília (Av. João Ramalho, 1150) às quartas-feiras, às 20h; Santa Antonieta (Avenida João Dal Ponte, 853), às sextas-feiras às 20h; Santa Rita de Cássia – Nova Marília (R. Fernando Nogueira Cavalcante, 115) às sextas-feiras, às 20h; São João Batista – Jardim Bandeirantes (R. Alexandre Fernandes, 442) às quartas-feiras, às 20h; e São Miguel (Av. Castro Alves, 867), às segundas-feiras às 19h30.
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