No fim de uma rua de terra batida, o terreno fértil responde brotando as sementes transformadoras que lhe são lançadas. Onde parece que a cidade termina é o princípio de tudo: uma construção simples abriga os sonhos de centenas de crianças e adolescentes, dos Jardins Cavalari e Higienópolis, assistidos pela ONG Projeto Semear Marília.
As crianças são acompanhadas no contra turno da escola |
Mãe de três filhos, Sandra Mara Luiz Ribeiro, 38 anos, sonhava com um futuro diferente para as crianças da vizinhança no Jardim Cavalari, Zona Oeste de Marília. “Meu pai foi o primeiro morador da favela ali de baixo”, contou com olhar sereno lembrando a infância. Em seguida, como uma boa contadora de história, mergulhou no tempo para relatar como tudo começou.
Adriano, Valéria, Sandra e Breno |
Dos primeiros grupos de crianças e adolescentes, o boca-a-boca se encarregou de espalhar a boa nova como o vento espalha o pólen das plantas. Em pouco tempo, já eram quase 20 crianças cada domingo. Para preparar o café da manhã, Sandra contava com doações de amigos para o leite, uma irmã fazia bolos e assim, a cada semana, a contação de histórias atraía um público fiel.
Aula de Jiu-Jitsu |
SEMEADURA
Segundo a pedagoga Valéria de Oliveira Munhoz Evangelista, “trabalhou-se durante muito tempo só aos domingos. Mas, na busca de reconhecimento e certificado inserimos as atividades da semana no contra turno da atividade escolar, porque o objetivo é a criança ir para escola em um período e ter atividade em outro”.
As atividades são comandadas por profissionais voluntários |
Dessa forma, há dois anos, crianças a partir dos cinco anos e adolescentes até 17 anos têm acesso a uma programação diversificada durante a semana: Jiu-jitsu (arte marcial japonesa), balé, sapateado, dança, pintura em tecido, inglês, oficina de jogos para crianças com déficit de aprendizagem etc.
E como os brotos que se espalham em terra bem cuidada, a ONG atraiu importantes parcerias: a EMEFEI Chico Xavier avalia as crianças e adolescentes encaminhando-os para o projeto que dispõe de psicopedagogas voluntárias prontas a auxiliarem os estudantes em dificuldade. Além disso, a ONG “Psicologia e Integração Social” oferece atendimento psicológico individual a crianças e mães, durante sessões realizadas aos domingos em sala privativa construída no fundo do terreno da casa de Sandra.
Apresentação musical no evento de fim de ano |
Aos domingos, mantendo a tradição, os voluntários são distribuídos em escalas com 20 pessoas para apoiarem as atividades desenvolvidas por temas. Por exemplo, o Natal, cuja culminância aconteceu no dia 17, foi o tema central que norteou os trabalhos desde novembro.
CULTIVE UM CAMPEÃO
“Através do Jiu-jitsu, do esporte, conseguimos patrocínio com empresas que pagam para o adolescente uma pequena bolsa de 250 reais por mês e uma cesta básica para a família”, acrescentou Valéria Munhoz. Para participar, o estudante não pode ter faltas e nem notas ruins na escola. Atualmente seis atletas são contemplados.
Um dos fundadores da ONG e atual coordenador geral, o juiz do Trabalho Breno Ortiz Tavares Costa afirmou que “o programa é para o adolescente que frequenta com seriedade, que treina sério, que aceita essa proposta”. O apoio vai além. Os jovens têm suporte para leitura de textos, de livros e elaboração de redações que são corrigidas pelos voluntários em preparação para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).
Pais e familiares se uniram aos voluintários na festa de 17 de dezembro |
Ele prosseguiu assinalando que “a ideia é incentivar o adolescente a terminar o colegial e se preparar para o curso técnico ou vestibular. A ideia é pegar a criança até adolescência indo para o vestibular e o mercado de trabalho”.
SONHANDO ALTO
A auxiliar de limpeza Kelly Borges, 42 anos, participou da festa de Natal de domingo passado com o filho de 16 anos e uma neta de 8 anos. Para ela, a ONG “é excelente porque ocupa a cabeça das crianças. A gente percebe a melhoria, uma mudança grande neles. Meu filho, que gosta de balé, ganhou uma bolsa de estudo para uma escola da cidade a partir de 2018”.
Tales com a mãe Kelly |
NOVA SEDE: FINCANDO RAÍZES
Apesar das ampliações na estrutura física, a casa da Sandra ficou pequena para as mais de 100 crianças e adolescentes assistidos. Por isso, a proposta do NEAP (Núcleo Espírita Amor e Paz) de doar um terreno, localizado nas imediações, e os recursos iniciais para construção da sede própria chegaram como uma benção. Quando estiver concluído, em meados de 2018, o prédio funcionará com o projeto da ONG Semear durante o dia e à noite receberá as atividades do NEAP.
Obras da sede própria na fase de fundação |
E por falar em recursos, este ano o Papai Noel chegou mais cedo com a campanha do Panetone Solidário do Tauste. A meta é chegar a 30 mil unidades, até 31 de dezembro, com renda totalmente revertida para a construção da nova sede do Semear. Neste Natal, ao levar para casa ou presentear família e amigos com panetones, todos podem colocar mais um tijolinho nesta obra.
* Reportagem publicada na edição de 24.12.2017 do Jornal da Manhã
Obs. Fotos de atividades são do site da ONG (http://www.projetosemearmarilia.org.br/)
e Fotos da comemoração do Natal são de Célia Ribeiro
Linda reportagem Célia.
ResponderExcluirObrigada, querido amigo!
Excluir