Por Célia Ribeiro
Quando os
olhinhos assustados do menino viram a imponente construção, pela janela do
ônibus que o trouxe de São Paulo, emoções desencontradas invadiram-lhe a alma.
Junto com outros 40 garotos, órfãos como ele, o pequeno iniciava naquela manhã
uma nova fase da sua vida no Educandário Bento de Abreu Sampaio Vidal. Passados
50 anos, Francisco Santana, professor de marcenaria, continua na entidade que
luta para não fechar as portas com o apoio da Sociedade São Vicente de Paulo, da
Associação dos Amigos do Educandário e de voluntários.
Desde sua
criação, em 1957, o Educandário acolheu e cuidou de mais de 3.000 meninos formados,
em sua maioria, por órfãos. Até o ano 2000, a entidade foi mantida
exclusivamente pela Santa Casa de Misericórdia de Marília, explicou o diretor,
Irmão Agenor Lima Rocha. Com a crise que assolou os hospitais filantrópicos, a
instituição começou a receber auxílio da Prefeitura através do fornecimento de
funcionários e alimentação para os cerca de 150 meninos.
Em 2006, com
o agravamento da situação financeira, um grupo de voluntários decidiu criar a
Associação dos Amigos do Educandário que realiza eventos beneficentes para
apoiar a obra iniciada por Bento de Abreu. O pioneiro foi buscar no Canadá os
primeiros religiosos da Congregação São Vicente de Paulo que lutam para impedir
que esse importante projeto social feche as portas.
Isto porque,
a partir de 2014, a Santa Casa de Misericórdia que detém a posse da imensa área
em que está instalado o Educandário, pretende reaver o imóvel. Os religiosos
foram comunicados da decisão. No entanto, não aceitam encerrar essa obra
humanitária que deu formação a milhares de meninos órfãos e de famílias
extremamente pobres.
No último
dia 30 de outubro, uma reunião no refeitório da entidade representou um sopro
de esperança aos presentes: Antônio Celso Lopes, presidente do Conselho
Metropolitano da Sociedade São Vicente de Paulo, anunciou a disposição de a
SSVP assumir o Educandário como um de suas obras unidas, a exemplo do Asilo São
Vicente de Paulo.
Para tanto,
serão mobilizados recursos para a construção de um novo prédio em área que se
encontra em estudos, na zona sul, graças à SSVP, Associação dos Amigos do
Educandário e voluntários da comunidade. “O que precisamos é de mais prazo para
desocuparmos as instalações atuais. Se em 2014 a Santa Casa autorizar nosso
funcionamento, ao fim do ano que vem teremos condições de mudarmos para novo
prédio e mantermos o atendimento aos meninos”, assinalou o Irmão Agenor.
COMOÇÃO
Na reunião
da semana passada, com a presença do promotor Isauro Pigozi, dos vereadores
Cícero do Ceasa e delegado Wilson Damasceno, vicentinos, empresários,
voluntários e religiosos, o clima era de comoção. Todos que usaram a palavra
apresentaram sugestões para enfrentamento do problema visando impedir o fim do
Educandário. “Cuidamos daqui durante 55 anos e agora estamos perdendo nossa
casa”, desabafou, desolado, o diretor da instituição.
Sensibilizado
com a situação, Antônio Celso Lopes anunciou que apresentaria a proposta para
que a SSVP assumisse o Educandário como uma de suas obras unidas, três dias
depois, na Conferência Nacional que seria realizada em Brasília. A resposta
positiva foi recebida com muitas orações pelo Irmão Agenor que revelou a aprovação
da proposta, em primeira mão, ao blog “Marília Sustentável” na tarde deste
domingo (03/11).
Ele disse
que a corrida contra o relógio já começou. Na próxima semana haverá reunião com
os pais. Como estava tudo caminhando para o encerramento das atividades, as
crianças seriam distribuídas para outras entidades da cidade. O fato novo
gerado pela SSVP muda a situação e a luta será por garantir a matrícula em
2014, nas mesmas instalações, desde que a Santa Casa autorize novo prazo e a
Prefeitura mantenha o mínimo de funcionários e a alimentação.
TRABALHO EXEMPLAR
As 137
crianças de 5 a 16 anos chegam de ônibus ao Educandário logo cedo. Tomam café
da manhã, realizam tarefa escolar com monitoramento de professoras, fazem um lanche,
participam de atividades esportivas, tomam banho, almoçam e vão para a escola.
Depois da aula seguem para casa, também com o transporte escolar.
Anteriormente,
além de 150 meninos, havia 30 adolescentes em cursos de panificação e marcenaria,
no período da tarde. Mas, com as mudanças, eles foram dispensados. “Passaram
pelo Educandário mais de 3000 meninos. Em quase 60 anos nunca houve uma
denúncia, um problema de violência ou maus tratos contra as crianças. Aqui eles
sempre receberam orientação, formação, alimentação e carinho”, observou o
diretor da entidade.
O desafio de
dar prosseguimento à obra sonhada por Bento de Abreu, ainda que com outra
denominação, é o que move um grande número de apoiadores. Agenor Lima agradeceu
aos vereadores Wilson Damasceno e Cícero do Ceasa, presentes à reunião
decisiva. “Antes de ser vereador, Damasceno sempre nos ajudava pelo Rotary. O
Cícero, também, muitas vezes vinha trazer verduras da horta comunitária da zona
norte. Agora, esperamos contar com o presidente da Câmara, Dr. Nardi, que nos
ajudou na reforma da marcenaria, para mantermos o Educandário de pé, intercedendo
por nós junto à Santa Casa e à Prefeitura”, finalizou.
Obs: As fotos da entidade são de arquivo do Educandário.
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