Os longos anos de exposição a todo tipo de veneno, incluindo o temido BHC (Hexaclorocicloexano), pulverizado pelos trabalhadores sem os equipamentos de proteção disponíveis atualmente, provavelmente não afetaram dois aposentados da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) que, na melhor idade, mantém a sólida amizade nutrida por uma paixão em comum: a apicultura.
Lau e Dirceu: amigos de longa data |
Para contar a história desses personagens intrigantes é preciso voltar à década de 50. Foi na infância que Wenceslau Gomes Soares (Lau), 73 anos, e Dirceu Manzon, 70 anos, se encantaram com a criação de abelhas. Durante toda a vida, através de tentativas bem e mal sucedidas, aprenderam as lições da atividade tornando-se referência na produção de mel, própolis, cera e pólen, em Marília.
A sintonia entre os ex-colegas de trabalho é tamanha que quando um fala o outro completa a frase! Ao contarem suas experiências, recordam o fascínio que a manipulação das colmeias exercia sobre os garotos da época. Lau, que mantém uma barbearia na Rua Euclides da Cunha, ao lado da residência, lembra que aos oito anos de idade se interessou pelo assunto e não parou mais.
No alto do terraço de Dirceu, colmeias estrategicamente posicionadas |
Detalhe da colmeia no tubo |
O dublê de barbeiro e apicultor observa que as podas drásticas nas árvores dos bairros e o plantio de espécies inadequadas quase inviabilizaram a criação de abelhas na cidade: “No viveiro de mudas da Prefeitura tem mudas de árvores que poderiam melhorar muito o pasto apícola, como a astrapeia que dá muita flor e atrai abelhas. Não sei por que caiu no gosto do povo plantar quaresmeira, espirradeira, que são tóxicas e não servem para as abelhas”.
Na casa do Lau, mel, própolis e cera: tudo certificado |
PARAÍSO NO TERRAÇO
Apesar do trabalho e das manchas escuras na parede, que merecem sonoras broncas da esposa, dona Carmem, o aposentado Dirceu Manzon é um apicultor dedicado. No terraço da residência, localizada nas imediações da Igreja Maria Mãe, ele mantém dezenas de colmeias em lugares inusitados: das caixas de madeira e papelão, ao tubo plástico, tudo serve para manter em dia a produção de mel e própolis para consumo próprio.
Lau mostra colmeia na varanda de casa |
A fonte da juventude para Dirceu é tomar mel com própolis, diariamente, para garantir vitalidade e a imunidade contra doenças, além de sucos de vegetais que não dispensa no dia-a-dia. “Isso aqui é uma maravilha”, comenta, sorridente, além de iniciar uma sessão de degustação dos vários tipos de mel e própolis que não aceita vender.
Em três pavimentos acima da casa, uma profusão de plantas e hortaliças, cuja irrigação é garantida por um original sistema de gotejamento, o paraíso suspenso de Dirceu dá trabalho. Mas, também, muita satisfação. Ele fala com paixão das várias espécies de abelhas que cria e, como não poderia deixar de ser, tem sempre uma resposta na ponta da língua: “A abelha só se defende quando a gente a agride, quando passa na linha de voo”.
Quando o assunto é ataque, então, as histórias são muitas. Dirceu mantém em casa a terrível “Oxytrigona tataira”, mais conhecida como “caga-fogo” devido ao ácido que libera pela mandíbula quando se vê ameaçada. Esse peculiar sistema de defesa já rendeu queimaduras nos braços, abdômen e costas do Lau, alguns anos atrás, quando aceitou o desafio de vizinhos para retirar um enxame.
Dirceu e Lau no terraço |
Rindo muito, os dois se divertem com as histórias e, mostrando que aprenderam a lição às duras penas, dizem manter a disciplina necessária para o manuseio adequado e seguro das colmeias e extração de mel: “Quando vamos fazer a colheita na beira do rio, longe da cidade, é uma festa, uma bagunça só. Mas, agora a gente toma muito cuidado”, revela Lau, que pretende continuar, ainda por muitos anos, brindando seus clientes com o doce sabor que a natureza, pacientemente, reservou.
Esta é nossa Marília Sustentável e este é o trabalho da Célia, gente que sabe valorizar nossa gente e as boas causas ambientais.
ResponderExcluirIvan, obrigada, querido! Foi graças à sua sugestão que conheci essas duas figuras maravilhosas. Abraços
ResponderExcluirOi Célia, bom dia! Começo meu domingo lendo sua reportagem.
ResponderExcluirAdorei!
Bjs
Obrigada, querida Edna! É um privbilégio ter leitoras como vc. beijosss
ExcluirObrigada Célia, pela excelente reportagem e por poder mostrar um pouco da experiecia e do trabalho desses dois grandes apicultores, o qual tenho o grande prazer de conhecer e vivenciar as atividades desenvolvidas pelos mesmos, pois sou filha de um , o Lau e amiga do outro, o Dirceu.
ResponderExcluirAdriana, obrigada pelo comentário. Eu que agradeço a oportunidade de levar aos leitores do Correio Mariliense, e desse blog, o conhecimento sobre duas pessoas tão especiais. Grande abraço!
ExcluirSou sobrinha do Lau e há muitos anos que vejo a admiração dele pela apicultura, atividade que exerce com muito prazer e responsabilidade. Parabéns Célia pela reportagem e parabéns ao meu tio e ao amigo Dirceu que dão lições de como cuidar bem do meio ambiente.Ana Firmino.
ResponderExcluirBoa noite, Ana! Agradeço suas palavras. Foi um prazer fazer essa reportagem que merecia página dupla no jornal. Se vc quiser o arquivo PDF da página, exatamente como publicado no Correio Mariliense, escreva-me: mariliasustentavel@terra.com.br Abraços!
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