domingo, 29 de janeiro de 2012

FÓSSEIS DE DINOSSAUROS DEVEM ATRAIR TURISTAS AOS PAREDÕES DE ROCHAS DE MARÍLIA

Por Célia Ribeiro

Como era o planeta Terra há 65 milhões de anos? Quais espécies conseguiam se reproduzir num ambiente hostil e repleto de vulcões devido à intensa atividade geológica da época? Para responder a essas e muitas outras questões é preciso tempo. Estudiosos levam anos para comprovarem pequenas evidências de suas teorias. Neste contexto, as recentes descobertas de fósseis colocaram Marília no seleto rol de sítios paleontológicos, atraindo um novo tipo de turista: aquele que vem à cidade para observar os belíssimos paredões rochosos dos vales e itambés.

William Nava e alguns fósseis na mesa de trabalho
Historiador e jornalista por formação, mas paleontólogo por profissão, o coordenador do Museu Paleontológico de Marília, William Nava, provavelmente é mais conhecido no Brasil e no exterior que na própria cidade. Apaixonado por dinossauros desde os 12 anos de idade, sua trajetória exibe números grandiosos como os fósseis que estuda: mais de 5.000 recortes de publicações reunidos no acervo particular e 20 anos de dedicação à Paleontologia.

A curiosidade do menino, que aguardava ansiosamente a chegada do jornal Folha de S. Paulo, que o pai assinava, para ler reportagens sobre os dinossauros, o acompanha desde sempre. Adolescente, percorria as estradas rurais, córregos e rios procurando pedras ou qualquer vestígio que indicasse rastros do passado.

Ossos de dinossauro em exposição no museu
Veio a fase adulta, casou-se e foi trabalhar num banco. Nem assim deixava de pesquisar e dedicava os finais de semana e feriados à exploração da região. Em 1.991, com a demissão, encarou alguns anos de desemprego onde desenvolveu outras atividades para se manter, juntamente com a esposa, com quem está casado há 26 anos. Ao invés de se deixar abater pelo infortúnio, William Nava aproveitou para pesquisar mais a fundo.

Assim, a resposta de sua carta, enviada pelo Instituto Geológico de SP, informando que Marília estava inserida na “Bacia Bauru”, com grandes chances de abrigar fósseis, deu-lhe a certeza que todo o esforço não fora em vão. Como um presente de Páscoa, num domingo, 11 de abril de 1.993, William Nava vislumbrou no chão de uma rocha, na estrada de terra entre os distritos de Padre Nóbrega e Rosália, um vestígio do que se comprovaria ser um fragmento de dinossauro.

PARQUE DOS DINOSSAUROS

A época não poderia ter sido melhor: nos cinemas de todo o mundo, Steve Spielberg batia recordes de bilheteria com o seu “Parque dos Dinossauros”. Os “Dinos” viraram uma febre e a descoberta teve grande repercussão, o que valeu a William Nava o convite do prefeito Salomão Aukar para trabalhar no Museu Histórico.

William durante escavações
Em 1.996, com as mudanças políticas, Nava estava desempregado, mais uma vez. Somente em 2002 ele foi convidado novamente a retornar ao Museu e hoje, 10 anos depois, é coordenador do Museu de Paleontológico de Marília que funciona em duas salas ao lado da Biblioteca Municipal.

Durante todos os anos, empregado ou não, o paleontólogo se virou como pode: firmou parcerias com instituições renomadas (Universidade de Brasília – UnB, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, UNESP – Campus de Bauru, Universidade Federal do Rio Grande do Sul etc) e trouxe pesquisadores para Marília.
Escavações são demoradas e trabalhosas
A última grande descoberta aconteceu no dia primeiro de abril de 2009. Ao passar na beira de uma estrada, no caminho para Guaimbê/Lins, os olhos afiados de William Nava vislumbraram marcas numa parede rochosa. Experiente, fotografou tudo e encaminhou as imagens aos parceiros que voltaram a Marília para se certificarem: sim, ali está um Titanossauro!

ESCAVAÇÕES

A saga do pesquisador mariliense inspirou a novela “Morde & Assopra”, da TV Globo, que teve muitas gravações nas imediações da cidade e alavancou o interesse do público pelo assunto. Do ponto de vista científico, trata-se de uma das mais importantes descobertas: “Na próxima semana faremos a terceira campanha de escavação. Após ser retirado das rochas, esse fóssil vai trazer muita informação para sabermos qual dinossauro era, como era a região naquela época”, observou.

Equipe da TV Globo em Marília
Para arcar com os altos custos da escavação, que utilizará maquinário pesado, o projeto conta com financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) obtido por pesquisadores da Universidade de Brasília. Neste fim de semana, aliás, chegam a Marília os parceiros de William Nava: Rodrigo Santucci (UnB), Marco Brandalise de Andrade (UFRGS), e Adriano Mineiro (Fundação E. de Fernandópolis).

Desde a aprovação do projeto, em meados de 2010, os pesquisadores vêm se preparando. No ano passado, houve duas escavações. A partir da semana que vem, por 25 dias ininterruptos, eles realizarão a terceira campanha, usando maquinário pesado, como dois tratores, para retirada da camada mais pesada das rochas. Quando chegar a meio metro, terá início o trabalho manual até atingir o fóssil.

“A sensação é de uma volta ao passado. Para mim é uma realização e para Marília será a principal descoberta”, afirmou o incansável Willian Nava que torce para que o tempo fique mais firme. Depois de extintos, há 65 milhões de anos, espera-se que os ossos dos dinossauros do fim do período cretáceo tenham muitas evidências para que os estudiosos possam compreender melhor nossa história.

MUSEU PALEONTOLÓGICO
Monitoras Márcia e Izabel ladeando
Iara Pauli, secretária da Cultura,
e William Nava
Em novembro do ano passado, o Museu Paleontológico de Marília completou sete anos. Funcionando em duas salas anexas à Biblioteca Municipal, o museu tem duas monitoras --- Márcia Saoncella Hernandes e Izabel Brandão --- que se revezam nas explicações aos grupos de crianças, estudantes e turistas que chegam de toda parte.

O museu tem um blog e, segundo William Nava, há um projeto em estudo para construção de instalações adequadas, com mirante, réplicas de dinossauros e tudo mais, de frente ao vale nas margens da Via Expressa. Com alto potencial turístico, o museu atrairia um novo tipo de turista para Marília reforçando a vocação da cidade como importante sítio paleontológico no interior de São Paulo.
Crianças atentas às explicações no museu
* Reportagem publicada na edição de 29.01.2012 do Correio Mariliense

Um comentário:

  1. Muito boa a reportagem. Os fósseis chamam muita atenção e, por isso, o sucesso das exposições. O Brasil precisa valorizar esses profissionais. Existe um site brasileiro (www.biosreplicas.com) que fabrica réplicas de fósseis e animais.

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