domingo, 17 de julho de 2011

PROJETO DE LÍDER COMUNITÁRIA CONTRIBUI COM O MEIO AMBIENTE E RESGATA A DIGNIDADE DE FAVELADOS

Por Célia Ribeiro

Como muitos migrantes, ela deixou o nordeste, há 20 anos, em busca do sonho de uma vida melhor. Enfrentou, como a maioria, todo tipo de dificuldade e privações. O que a difere dos conterrâneos é a fibra que não a deixa curvar-se diante de poderosos e nem sentir-se pequena porque acredita que as pessoas só precisam de uma oportunidade para alcançarem seus objetivos. Hoje, o “Correio Mariliense” vai contar a saga da pernambucana Oziane Batista dos Santos, moradora da Favela do Tóffoli, em Marília, interior paulista, que está lutando para emplacar um projeto inovador de geração de renda e preservação ambiental.
Favela do Tóffoli, na zona sul de Marília

Passa das 10 horas e ela está atrasada para a entrevista. Em contato telefônico, justifica a demora com a maior simplicidade, como se conhecesse sua interlocutora: “Vou me atrasar um pouquinho. É que consegui um remédio e estou levando para uma pessoa doente. Daqui a pouco chego aí”. Finalmente, 40 minutos depois, Oziane aparece toda sorridente e com um bom humor invejável que ilumina o lugar.

Oziane, mulher de fibra
Articulada, a artesã de 40 anos, solteira, que afirma manter um ótimo relacionamento com o ex-marido, também artesão, começa a falar sobre a vida difícil na favela onde se instalou há 18 anos. “Fui uma das primeiras moradoras”, recorda, dizendo que tem os pés no chão e abomina a ideia da ociosidade. Para ela, as pessoas precisam ganhar o próprio sustento para terem dignidade.

 Ex-catadora de recicláveis, Oziane sobrevive do artesanato com papel reciclável e garrafas PET. Por isso, a partir de oficinas no SENAC, surgiu a ideia de elaborar um projeto para capacitar as mulheres das diferentes favelas da cidade para a produção de vassouras à base de PET: “A reciclagem é a solução do planeta. Não tem para onde correr e com ela vem a sustentabilidade de mãos dadas”, ilustrou.
 
Eprosseguiu: “Segundo as pesquisas, a garrafa PET é o maior poluidor ambiental e a gente precisa dar uma definição para essas garrafas. Do PET se faz milhões de coisas”, disse mostrando os objetos que produz e vende (arranjos florais, bijuterias, jogo americano, sacola retornável etc).

Ressalvando que esse não é um projeto inédito, Oziane explica que em Marília será pioneiro e, com determinação, procura o apoio de parceiros. Segundo ela, serão necessários 30 mil reais para a aquisição de maquinário e a construção de um barracão. O resto fica por conta dela: capacitar as mulheres das favelas para que produzam as vassouras a partir das garrafas PET e com a venda da produção possam mudar de vida.
Sacola de restos de fita plástica

 Habitação

Autodidata, a artesã procura se informar sobre tudo. Assim, quando fala sobre desfavelamento e projetos habitacionais populares coloca logo seu ponto de vista, sem meias palavras: “Geração de renda e habitação caminham juntas. Se a gente não se unir, não se organizar para resolver esse problema vai ficar muito sério mesmo. Como uma pessoa ganha uma casa, que custe 30 reais de prestação, se ela não tem geração de renda como ela vai pagar?”, questiona.

A artesã vai além e observa que “ninguém dá nada de graça para ninguém. A gente precisa organizar essa sociedade que está à margem da pobreza, da miséria, que vive do resto das pessoas”.

 A líder comunitária, que integra os Conselhos Municipais da Saúde e da Habitação e, recentemente, o Fórum Social de Marília, só não quer uma coisa: que o projeto seja usado para política como moeda de troca entre os políticos profissionais. Por isso, disse que ficou feliz ao apresentar sua ideia à ONG Marília Transparente (Matra): “Senti que na Matra eles levam a coisa a sério. Espero que me apoiem nesta luta”.

Garrafas PET viram vassouras resistentes
Oziane disse que já fez contato com algumas empresas para tentar viabilizar o projeto, mas não há nada de concreto ainda. Enquanto isso, ela trabalha na articulação das lideranças das principais favelas (Tóffoli, Salvador Salgueiro e Argolo Ferrão): “Estamos chamando pessoas que não tenham vínculos políticos” assinalou, acrescentando que a geração de renda possibilitará que as famílias consigam pagar por uma unidade habitacional e deixem as favelas devolvendo as áreas ocupadas ao cinturão verde da cidade.

A delicada flor de garrafa PET
 “A gente precisa de apoio para deslanchar. É uma questão ambiental, principalmente, porque entregaremos o cinturão verde que eles tanto querem, que é a área verde que contorna Marília, para que seja reflorestada e preservada, dando uma casa decente” àqueles que hoje vivem em situação irregular em áreas de preservação permanente.

* Reportagem publicada na edição de 17.07.2011 do "Correio Mariliense"

Um comentário:

  1. O Projeto é muito importante para o meio Ambiente,e a Artesã tem talento pra tocar esse Projeto que vai gerar renda para as pessoas que realmente precisa, a participação de Políticos, pode atrapalhar, pois ela tem uma experiencia com a criação de uma Cooperativa de Trabalhadores de Materiais Recicláveis que foi arbitrariamente transferida para fins eleitorais, contra a vontade da referida Artesã.

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