Por Célia Ribeiro
Antes do corte |
Aquelas crianças, que estão aprendendo sobre preservação ambiental, viram seus esforços caírem junto com os galhos e troncos das frondosas árvores. Apesar da mobilização que fizeram, dias antes, na esperança de impedir a erradicação dos pinheiros, tiveram que conviver com o ruído das máquinas destruidoras enquanto tentavam prestar atenção à aula. Como explicar esse contraste àqueles a quem se pretende ensinar, desde a mais tenra idade, a importância da preservação ambiental?
Rodrigo Más |
Para ele, “temos que pegar o jovem que está sendo jogado no mercado de trabalho, que está naquele consumo tecnológico, naquele consumo de alimento extremamente industrializado, num momento delicado da sua vida, e trazê-lo para um nova ordem, de concepção holística de vida, de bem estar, de consumo moderado, de valores de cidadania, de democracia participativa e mostrar que meio ambiente não é apenas um fetiche da sociedade moderna”.
Na cartilha que elaborou para a faixa etária de 14 a 19 anos, Rodrigo Más quer os jovens despertando para temas como a economia criativa e ocupação urbana: “Nós temos que quebrar o paradigma de desenvolvimento do século 20”, centrado nas grandes obras como indicadores de crescimento. “No nosso entendimento, a cidade está ótima, não precisa crescer mais. O que nós precisamos agora é agregar qualidade de vida porque a ocupação urbana está sendo irregular”.
PODAS RADICAIS
O ambientalista deixa claro que não está criticando pessoas ou órgãos. Mas, ressalta que falta planejamento: “As grandes obras, às vezes, não são tão bem utilizadas, às vezes são desnecessárias, são muito impactantes. Temos que ter um nivelamento social, fazer a ocupação urbana regular e não entrar nas APPs (Áreas de Preservação Permanente)”.
Na Rua Paraná, o contraste entre as duas árvores |
Prosseguindo, Rodrigo comenta que “as pessoas levam muito para o campo da pessoalidade. Não critico o município nem tampouco alguma pasta. Mas, o meu olhar é de um ambientalista e eu não acredito que uma cidade que não preserve a paisagem urbana traga bons comportamentos aos cidadãos”, observa lamentando as podas drásticas que estão mutilando as árvores por toda a cidade.
Para ele, uma cidade “bem arborizada, bem oxigenada, vai refletir na saúde das pessoas, no dia-a-dia”. Ele acrescenta que “isso é um fato tão concreto que as pessoas buscam a Avenida Esmeralda para caminhar e não as margens das rodovias que têm um sentido de desertificação”.
Desolação na rua |
Ele afirma que isso é possível. Em visita a Presidente Prudente, Rodrigo Más conheceu o Parque do Povo, localizado na região central: “Fiquei deslumbrado. As sibipirunas fazem parte da paisagem urbana. As fiações se adequam às sibipirunas e não as árvores se adequam às fiações. O parque tem internet Wi-Fi, concha acústica para as bandas se apresentarem e, por incrível que pareça, não achei um papel jogado no chão”.
CARTILHA
Não sobrou nada |
Neste sentido, prossegue, assinalando que “Marília é uma cidade genuinamente industrial e nós precisamos estimular mais a parte criativa do jovem. Hoje, não dá mais para incentivar o jovem a fazer curso de marcenaria ou torneiro mecânico. Você tem que incentivar o jovem a criar software”.
Em sua opinião, “o Brasil se mantém muito em cima da economia primária. Estamos investindo pouco em economia criativa. É necessário, nessa economia globalizada, em que os mercados oscilam muito, investir mais nessa área para nos precavermos de uma possível crise mundial. Penso que Marília está na hora de começar a incentivar isso”.
Através da cartilha intitulada “Marília e Sustentabilidade – Transformações do Século 21”, Rodrigo Más espera colaborar com os professores nas discussões com os alunos: “Não podemos subestimar a capacidade dos jovens. Hoje estamos falando em plataformas de comunicação muito avançadas, de internet e tem a falsa impressão que o jovem está emburrecendo, o que não é verdade. Se você levar informação oxigenada, bem pautada, o jovem vai recepcionar, sim”.
Finalizando, o ambientalista revela o desejo de que “essa cartilha seja objeto não só de estudo, mas de muito prazer para o jovem”.
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