domingo, 25 de março de 2018

NAS TARDES DO GACCH, ARTESANATO UNE MÃES DE CRIANÇAS EM TRATAMENTO.

Por Célia Ribeiro

Em meio ao colorido dos fios de lã, barbante ou malha, mãos habilidosas executam movimentos cadenciados com a agulha de crochê. Aos poucos, o que era um esboço no caderninho de anotações materializa-se em delicados trabalhos que, para grande parte dessas artesãs, tornou-se importante fonte de renda. Elas formam um grupo muito especial: são mães de crianças em tratamento que se reúnem, nas tardes de terça-feira, no GACCH (Grupo de Apoio às Crianças com Câncer e Hemopatias), em Marília.
Silza: voluntária foi aprender crochê para ensinar
Voluntária há 12 anos na instituição, Silza Más Rosa lidera o grupo das terças. Ela é uma das mais de 50 voluntárias que, diariamente, desenvolvem algum tipo de atividade voltada para as crianças e suas famílias. O GACCH, que conquistou sede própria após uma grande ação apoiada pelo Panetone Solidário do Tauste, existe há 15 anos e é reconhecido por sua importância no acolhimento a milhares de pessoas, vindas de 62 municípios da região, que ali encontram um porto seguro.
Um dos quartos do GACCH: hospedagem para quem vem de longe
Denominado “Projeto Conviver”, as oficinas de arte movimentam a instituição. No início da tarde, as primeiras mães começam a chegar com os filhos que são recebidos com alegria pelas voluntárias. Há espaço para brincar, leitura, jogos e, claro, um delicioso lanche preparado com carinho pela equipe da cozinha. Na última terça-feira havia pãezinhos recheados de presunto e queijo e vários bolos servidos com café.

GERAÇÃO DE RENDA
Bolsa em fio de malha: sucesso que gera renda
“A Casa de Apoio foi criada para dar assistência às crianças e famílias que vêm de fora para tratamento. Mas, nossa casa é diferenciada nisso. O projeto que coordeno é para dar assistência às mães que moram em Marília”, explicou Silza Más Rosa. Ela continuou citando que “o objetivo é tira-las de casa um dia por semana, pelo menos, porque aqui elas encontram seus pares, são mães que passam pelos mesmos problemas e que juntas se fortalecem”.
Marlei (1ª esq) tem filha e neto com anemia falciforme
Além disso, prosseguiu a voluntária, “é uma oportunidade para tomarem um bom lanche, deixarem as crianças brincando porque temos sempre alguém para cuidar delas, passando uma tarde legal”. E as incursões pelo artesanato deram tão certo que, como frisa a coordenadora, “é uma brincadeira que pode se tornar uma brincadeira rentável” em um projeto de geração de renda.
Ângela perdeu o filho e continua no GACCH apoiando outras mães
Segundo a assistente social Ieda Santos Silva, poucas mães conseguem o benefício do INSS (Prestação Continuada da LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social) que garante um salário mínimo por mês. Elas não podem trabalhar porque os filhos muitas vezes são hospitalizados, estão fazendo quimioterapia ou submetidos a exames, e através do artesanato conseguem confeccionar produtos de fácil comercialização.
Roupas em ótimo estado são doadas

Um exemplo é a dona de casa Ângela Maria da Silva, 41 anos, sete filhos e três netos. Ela perdeu um filho há três anos e não cortou o vínculo com o GACCH. Através do artesanato ela conseguiu colocar piso na casa em que vive com a numerosa família no bairro Figueirinha. Na última terça-feira, manifestando a solidariedade própria daquelas que enfrentam o mesmo drama, Ângela pediu autorização para levar material a uma das mães. “Ela não está legal e por isso não veio. Vou lá dar uma força”, confidenciou.

Ela contou que há muitos anos frequenta a entidade e que recebeu muito apoio nos momentos finais do filho: “Ele passou por tanta coisa e não resistiu. Mas, temos que erguer a cabeça e lutar até o fim. Tem que colocar na mão de Deus”. Agora, se dedica a apoiar outras mães enquanto se aperfeiçoa nos trabalhos manuais.

TRISTE REALIDADE

Uma das frequentadoras mais antigas do GACCH é Marlei Cristiane da Cruz, moradora do CDHU, na zona sul de Marília. Ela tem uma filha de 16 anos portadora de anemia falciforme e frequenta a instituição há 15 anos. Recentemente, descobriu que o neto Giovane, filho da filha Jéssica, também é portador da doença.

Tardes alegres: crianças são recebidas pela voluntária
Ela elogiou o acolhimento da instituição que assiste as famílias em suas necessidades mais urgentes: para quem vem de fora, hospedagem e alimentação, e para todos que têm crianças em tratamento de câncer e hemopatias (doenças do sangue), leite, complementos, sondas, medicamentos que não se encontra na rede pública de saúde, cestas básicas etc.
Voluntária finaliza pintura na parede: cores para alegrar o ambiente
A importância do apoio às famílias é um combustível do voluntariado da entidade: “A gente vê crianças que chegam cedinho ao HC, ao Hemocentro, para fazerem exame de sangue ou a quimioterapia e precisam ficar horas esperando a condução para levá-los de volta às suas cidades. Para isso temos o GACCH: eles tomam um banhinho, descansam, dormem, tomam o lanche, brincam e ficam aqui até a hora de irem embora”, observou Silza Más Rosa.
No quintal, muitos brinquedos recebidos em doação fazem a festa das crianças

"Supla" está na moda
A coordenadora do artesanato das terças assinalou que “as mães que se reúnem no GACCH viraram uma grande família, com uma batizando o filho da outra. Temos muitas comadres aqui”, disse sorrindo. A união do grupo é visível na pausa para a prece, às 15h, antes do lanche coletivo. De mãos dadas, uma delas comanda a oração que pede saúde e bênçãos aos que precisam, seguida do Pai Nosso e da Ave Maria.
Detalhe em um dos quartos: carinho

Com uma energia contagiante, Silza Más Rosa está sempre se impondo novos desafios: ela foi aprender crochê para poder ensinar e, agora que até cria receitas elaboradas, quer empoderar as alunas. “Queremos usar a internet ao nosso favor. Já temos algumas mães com páginas na internet vendendo seus produtos. Elas precisam ganhar asas e voar”.  E, enquanto alçam voos cada vez mais altos, essas mães criativas sabem que podem ir longe e voltarem ao ninho: toda terça tem lãs e linhas coloridas, café quentinho e muito amor e solidariedade à espera de todas!

FONTE DE RENDA 

Localizado à Rua Julio Mesquita, 50 (perto da Santa Casa) , o GACCH é mantido com eventos beneficentes e doações da comunidade, empresas e clubes de serviço. A próxima promoção é a 4ª Festa da Pizza, ao preço de 22 reais a unidade, que pode ser encomendada pelo telefone da instituição (14 – 3422.4111). Além disso, são produzidas sob encomenda várias delícias como esfirras, pães, tortas, palitinhos de pimenta etc e um bazar permanente, na entrada da entidade, com artesanato e vários produtos garante uma parte importante
do custeio.
Para ajudar, ligue: (14) 34224111


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