Por Célia Ribeiro
Quando as luzes se apagam na pequena livraria de segunda mão, após as caixas com os títulos da promoção serem recolhidas, o silêncio impera na Rua 21 de abril, nº 532, no Jardim Maria Izabel, zona leste de Marília. Mas, basta o Zé Luiz virar as costas que começa o sarau em que personagens, desde a antiguidade até os dias atuais, sacodem a poeira dos trajes para se confraternizarem no “Cafofo Livros”.
"Cafofo Livros" abriu as portas esta semana |
A cena poderia ser imaginada por quem assistiu o clássico “Meia Noite em Paris” de Woody Allen. No filme, escritores como Ernest Hemingway, Zelda e Scott Fitgerald, ganham vida junto com músicos e pintores como Pablo Picasso, ao encontrarem um escritor norte-americano que viaja no tempo, todas as noites, quando o relógio marca meia-noite na escadaria ao lado do Pantheon, na Montaigne Sainte-Geneviève, em Paris.
Maria Luiza e Léo: Zé Luiz incentiva a leitura |
Licença poética à parte, a boa
nova é que Marília acaba de ganhar um verdadeiro presente. O auditor fiscal do
Ministério do Trabalho, ex-vereador José Luiz Queiroz e apaixonado pela
literatura, resolveu se desapegar de parte de seus quase seis mil livros, alguns raros,
colocando-os à venda em uma espécie de sebo.
Em entrevista ao blog, ele contou que há mais de 15 anos o gosto pela leitura começou a crescer de tal modo que se tornou um voraz comprador de livros que vão da mitologia grega, filosofia, história, literatura brasileira à literatura estrangeira. Quando se deu conta, havia entre 5.000 e 6.000 livros espalhados pela residência que divide com a esposa Mariana e os filhos Maria Luiza e Léo.
Vale conferir as promoções |
O diferencial do “Cafofo do José”, como foi registrada sua conta na Estante Virtual, é que por ser um leitor assíduo e atualizado, através de revistas literárias, Zé Luiz exerce uma espécie de curadoria. Por isso, coloca à venda na internet e agora na loja física, não apenas obras comuns, mas também livros valiosos.
PARA TODOS
Se na internet ele já vendeu livros raros na faixa de dois mil reais, no Cafofo do Jardim Maria Izabel, os leitores encontrarão um pouco de tudo: de preços a partir de três ou cinco reais, até promoções do tipo dois livros por dez reais. Ele explicou que está selecionando, gradativamente, as obras que serão comercializadas, confessando que “está difícil desapegar”.
Há uma grande variedade de livros |
Zé Luiz afirmou que trabalhará “com
uma linha em torno de dois a três mil livros com uma espécie de curadoria. Como
gosto disso, leio revista literária, tenho acesso a muita coisa e gosto de ler.
Acabo me tornando uma referência e os amigos perguntam porque sei o que vai
lançar no mês que vem”.
Ele revelou que possui obras de 70 a 100 anos, citando “Os Sertões” de Euclides da Cunha. Um dos destaques é “um box raro, com 20 livros, do poeta Manoel de Barros que fizeram uma vez só. Esse box custa de 1200 a 1500 reais. Com o tempo pego até livro autografado”, assinalou, citando o cartunista Laerte, que veio a Marília e autografou para o Sindicato dos Bancários.
Zé Luiz está organizando tudo com cuidado |
Passando da “Divina Comédia”, outra raridade do seu acervo, para autores contemporâneos, Zé Luiz citou o campeão de vendas, Itamar Vieira Junior, que vendeu 30 milhões de exemplares de “Torto Arado” e conquistou os principais prêmios literários. Por isso, quem procura autores de peso pouco conhecidos pode se valer da curadoria do Cafofo.
Zé Luiz e Mariana que se tornou uma grande leitora |
RESISTÊNCIA
Zé Luiz recordou que desenvolveu o hábito da leitura na adolescência. Ele sempre gostou de filosofia e sociologia, seguido de poesia. Mas, com “Os Ensaios” de Montaigne foi arrebatado de tal forma que seu gosto literário foi se aprimorando cada vez mais. Além de ler em inglês e espanhol, ele começou a estudar francês para ter acesso a obras não traduzidas no Brasil.
Zé Luiz observou que em uma época muito tecnológica, com a concorrência das séries e da internet, dedicar uma hora por dia para o saudável hábito da leitura se torna cada dia mais desafiador. “Precisamos resistir à velocidade do mundo, principalmente em relação às crianças porque sabemos o mal que isso causa, como ansiedade e doenças”, pontuou.
Zé Luiz explicou que o Cafofo vai abrir em horários alternativos, de terça a sexta-feira das 14h às 19h e aos sábados das 10h às 15h: “A ideia é fazer deste espaço um ponto de encontro literário. Poucos e bons livros, com preços bons, para transformar o Cafofo em um ponto de cultura literária”.
E finalizou: “Quero que as pessoas encontrem aqui o que elas não estavam esperando. A melhor coisa do mundo é encontrar o livro que você queria e, do lado, encontrar um livro que você nem procurava e pegar o do lado. Que as pessoas descubram o Cafofo e que seja um ponto de referência para que a gente tenha a literatura cada vez mais forte. É uma briga perdida, mas se não tiver esses focos de resistência nas cidades, morrerá mais rápido”.
Para saber mais sobre a iniciativa de José Luiz Queiroz acesse as redes sociais: @cafofolivros. Na Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br) o perfil é “Cafofo do José”.
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