domingo, 1 de outubro de 2023

CAFOFO LIVROS: COM 6.000 TÍTULOS, JOSÉ LUIZ QUEIROZ INAUGURA SEBO COM CURADORIA

Por Célia Ribeiro

Quando as luzes se apagam na pequena livraria de segunda mão, após as caixas com os títulos da promoção serem recolhidas, o silêncio impera na Rua 21 de abril, nº 532, no Jardim Maria Izabel, zona leste de Marília. Mas, basta o Zé Luiz virar as costas que começa o sarau em que personagens, desde a antiguidade até os dias atuais, sacodem a poeira dos trajes para se confraternizarem no “Cafofo Livros”.

"Cafofo Livros" abriu as portas esta semana

A cena poderia ser imaginada por quem assistiu o clássico “Meia Noite em Paris” de Woody Allen. No filme, escritores como Ernest Hemingway, Zelda e Scott Fitgerald, ganham vida junto com músicos e pintores como Pablo Picasso, ao encontrarem um escritor norte-americano que viaja no tempo, todas as noites, quando o relógio marca meia-noite na escadaria ao lado do Pantheon, na Montaigne Sainte-Geneviève, em Paris. 

Maria Luiza e Léo: Zé Luiz incentiva a leitura 

Licença poética à parte, a boa nova é que Marília acaba de ganhar um verdadeiro presente. O auditor fiscal do Ministério do Trabalho, ex-vereador José Luiz Queiroz e apaixonado pela literatura, resolveu se desapegar de parte de seus quase seis mil livros, alguns raros, colocando-os à venda em uma espécie de sebo.

Em entrevista ao blog, ele contou que há mais de 15 anos o gosto pela leitura começou a crescer de tal modo que se tornou um voraz comprador de livros que vão da mitologia grega, filosofia, história, literatura brasileira à literatura estrangeira. Quando se deu conta, havia entre 5.000 e 6.000 livros espalhados pela residência que divide com a esposa Mariana e os filhos Maria Luiza e Léo. 


Vale conferir as promoções
Zé Luiz disse que, mais de uma vez, comprou livros em duplicidade por não se lembrar que já tinha determinadas obras. Foi quando decidiu começar a vender os que havia lido ou não tinha mais interesse. Como consequência, descobriu um novo mundo na internet e, claro, ao mesmo tempo em que vendia, também comprava outros livros...

 No site www.estantevirtual.com.br ele abriu uma conta onde comercializa algumas jóias raras para o Brasil inteiro: “Rio Grande do Sul, Minhas Gerais e Rio de Janeiro são os locais para onde envio 90 por cento das minhas vendas. Mas, envio para vários outros estados como na semana passada para o Amazonas, Piauí e Pará”.

O diferencial do “Cafofo do José”, como foi registrada sua conta na Estante Virtual, é que por ser um leitor assíduo e atualizado, através de revistas literárias, Zé Luiz exerce uma espécie de curadoria. Por isso, coloca à venda na internet e agora na loja física, não apenas obras comuns, mas também livros valiosos.

PARA TODOS

Se na internet ele já vendeu livros raros na faixa de dois mil reais, no Cafofo do Jardim Maria Izabel, os leitores encontrarão um pouco de tudo: de preços a partir de três ou cinco reais, até promoções do tipo dois livros por dez reais. Ele explicou que está selecionando, gradativamente, as obras que serão comercializadas, confessando que “está difícil desapegar”. 

Há uma grande variedade de livros

Zé Luiz afirmou que trabalhará “com uma linha em torno de dois a três mil livros com uma espécie de curadoria. Como gosto disso, leio revista literária, tenho acesso a muita coisa e gosto de ler. Acabo me tornando uma referência e os amigos perguntam porque sei o que vai lançar no mês que vem”.

Ele revelou que possui obras de 70  a 100 anos, citando “Os Sertões” de Euclides da Cunha. Um dos destaques é “um box raro, com 20 livros, do poeta Manoel de Barros que fizeram uma vez só. Esse box custa de 1200 a 1500 reais. Com o tempo pego até livro autografado”, assinalou, citando o cartunista Laerte, que veio a Marília e autografou para o Sindicato dos Bancários. 

Zé Luiz está organizando tudo com cuidado
Conforme disse, sabendo do seu gosto literário, muitas pessoas lhe enviam muitas caixas repletas de livros: “Outro dia cheguei no Ministério do Trabalho e tinha uma caixa imensa que deixaram na minha mesa”, contou. Quanto às doações, há muitos livros de pouco valor, alguns sem capa ou com páginas riscadas, que são descartados. Mas, uns cinco por cento são verdadeiras joias e muitas vezes o próprio Zé Luiz estava procurando. Nestes casos, após ler, ele garantiu que vai se desapegar e vender.

Passando da “Divina Comédia”, outra raridade do seu acervo, para autores contemporâneos, Zé Luiz citou o campeão de vendas, Itamar Vieira Junior, que vendeu 30 milhões de exemplares de “Torto Arado” e conquistou os principais prêmios literários. Por isso, quem procura autores de peso pouco conhecidos pode se valer da curadoria do Cafofo. 

Zé Luiz e Mariana que se tornou uma grande leitora

RESISTÊNCIA

Zé Luiz recordou que desenvolveu o hábito da leitura na adolescência. Ele sempre gostou de filosofia e sociologia, seguido de poesia. Mas, com “Os Ensaios” de Montaigne foi arrebatado de tal forma que seu gosto literário foi se aprimorando cada vez mais. Além de ler em inglês e espanhol, ele começou a estudar francês para ter acesso a obras não traduzidas no Brasil.

Graças ao seu incentivo, a esposa Mariana também se tornou uma grande leitora e, obviamente, ele disponibiliza muitos livros infantis para os pequenos Maria Luiza de 9 anos e Léo de cinco anos. “Eu procuro não forçar. Mas, como em casa tem em torno de seis mil livros em todos os cantos, espero que eles sejam leitores”, comentou.

Zé Luiz observou que em uma época muito tecnológica, com a concorrência das séries e da internet, dedicar uma hora por dia para o saudável hábito da leitura se torna cada dia mais desafiador. “Precisamos resistir à velocidade do mundo, principalmente em relação às crianças porque sabemos o mal que isso causa, como ansiedade e doenças”, pontuou.

Zé Luiz explicou que o Cafofo vai abrir em horários alternativos, de terça a sexta-feira das 14h às 19h e aos sábados das 10h às 15h: “A ideia é fazer deste espaço um ponto de encontro literário. Poucos e bons livros, com preços bons, para transformar o Cafofo em um ponto de cultura literária”.

E finalizou: “Quero que as pessoas encontrem aqui o que elas não estavam esperando. A melhor coisa do  mundo é encontrar o livro que você queria e, do lado, encontrar um livro que você nem procurava e pegar o do lado. Que as pessoas descubram o Cafofo e que seja um ponto de referência para que a gente tenha a literatura cada vez mais forte. É uma briga perdida, mas se não tiver esses focos de resistência nas cidades, morrerá mais rápido”.

Para saber mais sobre a iniciativa de José Luiz Queiroz acesse as redes sociais: @cafofolivros. Na Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br) o perfil é “Cafofo do José”.


Falar em público com desenvoltura pode alavancar 
sua carreira, seus negócios e seus estudos.
Com o curso de oratória da jornalista Célia Ribeiro
as aulas são personalizadas para cada necessidade.
Saiba mais no WhatsApp (14) 991645247


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.