Por Célia Ribeiro
A tradição dos tapetes bordados em lã sobre tela de juta ou de algodão se popularizou na Vila de Arraiolos, em Portugal, embora haja relatos desta arte desde o século XII, na Península Ibérica. Em Marília, Rosana Cristina Serafim é o nome por trás das telas, lãs e agulhas que atraem cada vez mais interessadas. No entanto, nas tardes do ateliê no bairro Maria Izabel, mais que aprender sobre o ponto arraiolo, as alunas se deparam com uma lição de vida e de superação.
Rosana e um dos tapetes bordados por suas alunas |
Uma das alunas, a ex-secretária municipal da Educação de Marília, Rosani Puia de Souza, falou com entusiasmo sobre a tapeçaria em sua vida: “Sempre que eu passava na rua Mecenas eu via a placa ‘Arraiolo Chão Bonito’. E sempre tive muita vontade de aprender a bordar em arraiolo, que eu acho um trabalho fantástico. Mas, eu trabalhava e não tinha muito tempo. Quando me aposentei, uma das primeiras coisas que eu fiz foi procurar a Rosana para iniciar essa aprendizagem. Comecei com um tapete mais simples, passei para outro mais floral, e ela sempre com muita paciência e, principalmente, muita generosidade”.
Rosani observou que “o arraiolo, como todo artesanato, é algo que auxilia na saúde mental. Assim como o crochê, quando você presenteia com algo que você fez, você doa não apenas o presente; você doa um pouco do seu trabalho, o seu carinho, um pouco de cada coisa que você sente quando está fazendo aquele trabalho. Ainda sou iniciante e não tenho peças muito trabalhadas, tapetes grandes, como algumas alunas que têm trabalhos maravilhosos”.
Rosana e Rosani no ateliê |
E citando os benefícios do arraiolo para a mente, ela lembrou o momento difícil que a professora enfrentou ao contrair Covid, no início de 2021. Rosana ficou hospitalizada por 60 dias na UTI onde teve dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral) e chegou a ser desenganada pelos médicos. Ao receber alta, com membros superiores e inferiores sem movimento, ela lutou bravamente pela vida e seu retorno ao bordado é considerado um milagre.
Materiais na mesa do ateliê |
Rosani falou com carinho da professora: “A Rô é assim. Ela se doa. É o tipo de pessoa que gosta de passar o que ela sabe. Então, essa generosidade da Rosana é o que mais me impressiona nela, além da força de vontade e da fé que ela tem. A Rosana representa, para mim, um dos muitos milagres que Deus fez na vida de muitas pessoas que superaram isso”.
Tapetes em arraiolo |
RENASCIMENTO
Cássia, amiga e aluna de Rosana |
Assim, ao se ver com a terrível doença que tantas vítimas fez, sobretudo antes da vacinação em massa, Rosana se apegou à fé e lutou muito. “Tem uns amigos que brincam perguntando se eu vi a luz”, disse em alusão às experiências de “quase-morte” que algumas pessoas que estiveram no limite relatam.
À esquerda, material riscado pronto para bordar |
No entanto, ela disse ter sofrido um apagão naquelas semanas: “O que me recordo é de ter ido à UPA, da falta de ar, e da médica ter me internado. Depois tem os dois meses sem qualquer lembrança. Só que acordei em uma maca indo para casa, sem mexer as pernas e os braços”.
Conjunto de tapetes |
Rosana disse que seu maior temor era
não conseguir retomar os movimentos. Além disso, ela precisou tratar uma escara
nas costas provocada pelo tempo prolongado de internação e se submeteu a
sessões na câmara hiperbárica (Oxigenoterapia) na Santa Casa, com a ajuda de
amigos. Para a recuperação dos movimentos, contou com a Fisioterapia da Unesp e
muita vontade de voltar ao normal.
Rosana: gratidão por nova chance |
AMIGA INSEPARÁVEL
Aposentada da Justiça do Trabalho e atualmente atriz, Cássia Silva, é a amiga inseparável que sofreu muito no período de internação de Rosana. Ela contou que costumavam se falar todos os dias e que, de repente, ficou sem contato. Ao saber da gravidade do quadro, ela chegou a ter um bloqueio que a impediu de bordar por muitos meses. Apenas, recentemente, com a amiga recuperada, Sandra conseguiu voltar ao arraiolo.
Cassia Silva |
Sandra começou a bordar com Rosana em
2009 e conta que as aulas em grupo são terapêuticas. Eu tive câncer de mama e
no grupo havia pessoas que já tinham tido e estavam bem. Outras tiveram depois
de mim e uma apoiou a outra”, assinalou. Conforme disse, “as aulas são muito
divertidas. Tem a mulherada que faz tapetes enormes, cheios de florzinhas. Eu
já gosto de arte moderna. O arraiolo produz peças bonitas e tira um estresse
danado”, assinalou, comentando que integra o Conselho Municipal da Cultura de
Marília.
Para saber mais sobre este trabalho, acesse: https://www.instagram.com/arraioloschaobonito/ O endereço do ateliê é Rua Mecenas Pinto Bueno, nº 730, Jardim Maria Izabel, em Marília. Contato: (14) )99713-0507
*Reportagem publicada na edição de 06.11.2022 do Jornal da Manhã
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