domingo, 20 de dezembro de 2020

ESPALHANDO BONECAS: ARTESÃ LEVOU ALEGRIA A MAIS DE 700 CRIANÇAS E IDOSAS EM ASILOS

Por Célia Ribeiro

Era uma vez uma linda garotinha, de olhos espertos e muito brilhantes, que se encantou com uma boneca de pano. Trajando um alegre vestido de moranguinho, a nova amiguinha tornou-se inseparável no seu aniversário de um ano. Dez anos depois, Lívia continua apaixonada pelas bonecas que se multiplicaram nas mãos de sua mãe, Luciana: ela é o coração do projeto que confeccionou e espalhou nada menos que 700 delas em orfanatos, instituições filantrópicas, hospitais e asilos. 

Pequena Lívia: inspiração

Aos 48 anos, é difícil imaginar que uma profissional da área econômica possa ser uma artista diferenciada. Luciana Sabatine Peralta Battilani é fiscal de rendas da Prefeitura Municipal de Marília e atua com auditoria em empresas de prestação de serviços. Quando sua filha nasceu, em 2010, ela resolveu confeccionar toda a decoração da festinha de primeiro aniversário inspirada na personagem “Moranguinho”. Estava dada a largada para algo que lhe transformaria profundamente.

 

Garotinha ganhou sua boneca no Hemocentro

A artesã contou que tentou comprar uma boneca parecida e não encontrou. Procurou, então, a Vila das Artes em busca de um curso para confeccionar a boneca porque já tinha estudado corte e costura, aos 13 anos, e sempre gostou de artesanato. Deu certo! Luciana acabou produzindo toda a decoração da festinha. “Minha filha se encantou com a boneca da decoração”, recordou, assinalando que ficou empolgada com a ideia de continuar fazendo bonecas, mas para doação.

 AMÉLIE BOUDET

 Espírita, Luciana Battilani procurou a entidade “Amélie Boudet”, em 2011. Havia 16 órfãs que, naquele Natal, tiveram a companhia de suas bonecas de pano. “Aos poucos, fui aumentando a produção, ficando até meia-noite, uma hora da manhã, costurando. E eu morro de sono de madrugada porque trabalho oito horas por dia”, comentou.

 

Luciana e suas criações

Lívia era a maior entusiasta. Só tinha um pedágio: a cada nova boneca que saía do ateliê de Luciana, uma tinha que ir para a coleção da filha que tem um baú com mais de 50 delas. Com a ajuda da mãe Laura e da amiga Sandra, a fabricação de bonecas de pano ganhou novo ritmo até que a artesã chegou a programar a confecção de 180 para três entidades diferentes.

Foi quando ela se deu conta que precisaria de 1.500 reais para aquisição dos materiais. O que fazer? “Eu já havia me comprometido. Então, pensei em dar cursos para ensinar a fazer bonecas e com o dinheiro da inscrição comprar os materiais. Deu certo. Mostrei a apostila para uma professora de Patchwork bem exigente e ela me estimulou a prosseguir. Dei dois cursos na Vila das Artes e o Celso Nakamura, dono da Casa Ono, me procurou oferecendo o espaço gratuitamente para que eu também desse os cursos lá e levantasse mais dinheiro para o projeto”, explicou.

Bonecas que farão alegria de crianças e idosas

TERAPÊUTICO

 Os cursos foram um sucesso, com lista de espera de até três meses. E com a evolução do projeto, foram surgindo voluntárias que hoje são em torno de 25. Mas, as bonecas também atravessaram fronteiras. Luciana participou de um congresso espírita em Uberlândia quando conheceu um projeto social, com atuação na África, que precisava de apoio. Lá foi a artesã fazer bonecas que, após comercializadas, geraram 4 mil reais. Ela também conheceu um projeto de apoio a crianças com hidrocefalia, de Campina Grande (Paraíba) que ajudou com bonecas e um dia pretende visitar para dar cursos e orientar voluntários a gerarem renda para o projeto.

Bonecas do último curso

Ao longo dos anos, Luciana levou suas bonecas (e bonecos para os meninos) a um grande número de entidades até que, em 2014, teve a ideia de presentear as vovós nos asilos. Ela relatou, com indisfarçável emoção, a reação das idosas: “Entregamos bonecas nos quatro asilos. Foi incrível a reação delas. Teve uma senhorinha que se emocionou muito dizendo que perdeu a mãe quando tinha dois anos e que nunca teve uma boneca. Ela abraçou a boneca e não soltou mais”.

Luciana e Lívia

Houve um registro de idosa que não se comunicava mais e que, ao receber sua boneca, teve uma rápida recuperação, surpreendendo os cuidadores. Reação positiva também foi observada junto às pacientes psiquiátricas em tratamento no Hospital Espírita de Marília (HEM) que se mostraram mais calmas ao receberem suas bonecas de quem não se separam por nada.

 Nesta semana, a entrega foi para as crianças em tratamento no Hemocentro de Marília. Luciana e suas voluntárias confeccionaram 68 bonecas e bonecos que fizeram a alegria dos pacientes pediátricos: “As bonecas são terapêuticas. A gente percebe a reação de quem recebe”, observou, com a sensação do dever cumprido por proporcionar momentos de ternura no Natal de um ano tão difícil.

E assim, após espalhar 700 bonecas de pano, a artesã quer continuar levando amor a quem mais precisa. Para saber mais sobre este trabalho, acesse seu blog:  http://liluatelie.blogspot.com/

 *Reportagem publicada na edição de 20.12.2020 do Jornal da Manhã




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