Ao cair da tarde, depois de enfrentar o trânsito caótico na região do Campus Universitário, ingressar na rotatória de acesso ao Jardim Acapulco carrega um simbolismo especial para dezenas de pessoas que repetem o percurso, toda quarta-feira. Localizada quase no final de uma rua tranquila, a Clínica TAO oferece atendimento gratuito a até 100 pessoas, por noite, com a ajuda de quase 50 terapeutas voluntários que aplicam as terapias da Medicina Tradicional Chinesa.
Sérgio atende paciente de câncer: alívio da dor |
Sala do Escalda-pés: iluminação que acalma |
As pessoas sussurram. O clima de relaxamento é completo e ninguém quer atrapalhar quem está passando pelos atendimentos. Na quarta-feira (22), comemorava-se o “Dia do Abraço”. Mas, pelo que se observou, o acolhimento caloroso não tem dia especial. Sorrisos, abraços, afagos e olhares se comunicavam silenciosamente, em uma atmosfera difícil de descrever para quem estava lá pela primeira vez.
CORPO E ALMA
A reportagem do JM conversou com várias pessoas, de diferentes idades. De pacientes oncológicos em tratamento a pessoas lutando contra a depressão, o grupo de quase 100 pessoas que passou pela clínica incluiu muitos jovens. Neste caso, a explicação de Larissa Garrido e Mateus Cardoso, 24 anos, e Rebeca Nunes, 20 anos, foi obter equilíbrio energético e o autoconhecimento. Os três chegaram quase ao final dos trabalhos e se acomodaram nas cadeiras de entrada como quem se sentia em casa.
Sala de Reiki: energia pela imposição das mãos |
Denise Martins |
O produtor rural Osney dos Santos de Souza, 47 anos, falou sobre sua experiência: “Eu vim porque estava me sentindo muito mal. Desde a primeira vez eu me senti muito bem. Tirei um fardo das minhas costas. Eu falo para as pessoas com quem convivo que aqui é um lugar mágico. Eu me senti mais aliviado porque tinha uma depressão muito forte”. Era sua sexta vez.
O acolhimento foi um dos principais pontos destacados pela enfermeira Melissa Lopes, 41 anos. “Foi uma amiga que me trouxe porque tenho passado por tratamento de depressão e só o tratamento convencional não vinha dando o resultado satisfatório. A partir do momento que eu comecei a fazer aqui, há um mês, toda quarta-feira, eu senti uma grande melhora”.
Osney dos Santos |
Melissa afirmou que “é bem nítida a diferença quando faço o Reiki e o tratamento da medicação. Aqui é um aliado que complementa a medicação”. Para ela, a maneira como as pessoas são recebidas contribui para o bem-estar: “A gente precisa muito desse lado espiritual, do amor, que a medicação não faz”.
VOLUNTÁRIA
De fala mansa e olhar delicado, a massoterapeuta Fatsue Him, que gosta de ser chamada de Maria, tem 68 anos e mais de 20 anos de experiência. Ela aprendeu as técnicas no Japão e quando foi convidada para o trabalho voluntário não pensou duas vezes antes de mergulhar no desafio.
“No Japão eu estudei a Medicina Tradicional Chinesa, mas numa língua que eu não entendo nada. Eu sentia falta de alguma coisa e estou adorando estar aqui”, assinalou. Ela observou que “para entrar neste trabalho integrativo você tem que fazer uma reforma íntima para saber quem é você na integridade, para fazer um diagnóstico com certeza no seu paciente. São emoções que penetram. Se você tem as mesmas emoções, não consegue fazer a distinção. Temos que ter esse conhecimento interior nosso para poder ajudar”.
Maria prepara o material descartável para o escalda-pés |
Melissa (esq.) e jovem após a sessão de escalda-pés |
O terapeuta Sérgio Garcia Rodrigues, que é um dos professores do Curso de Práticas Integrativas e Complementares que a ACC está promovendo, e que esta página divulgou domingo passado, é o fundador da Clínica TAO. Todo de branco e com um sorriso pronto para saudar quem se aproximava, ele contou sobre o início do trabalho.
Muitos jovens frequentam a Clínica Tao, semanalmente. |
Os calçados são deixados na entrada |
Sérgio disse que “o Instituto TAO começou na minha casa, seis anos atrás. Eu recebia as pessoas lá, cuidava delas em casa. Formamos um grupo de terapeutas, que se reunia em casa, também, e esse grupo foi crescendo. A ideia era reunir pessoas que se interessavam pela área”. Foi formada uma entidade que, dois anos depois, “não deu certo no formato que tinha de Associação. Uma parte do grupo achou que o mais importante era o trabalho e não a pretensa formalização”.
Escalda-pés |
Foi então que ele construiu a Clínica TAO para atender seus pacientes. E o grupo de terapeutas, já numeroso, abraçou a ideia de abrir para atendimento ao público, gratuitamente, uma vez por semana. “Atualmente, tem mais de 50 pessoas que trabalham voluntariamente. Atendemos de 80 a 100 pessoas por quarta-feira, sendo que cada atendimento leva de uma a duas horas, às vezes, até três horas. Por isso, precisamos de um número grande de terapeutas voluntários”.
Sérgio explicou uma das terapias mais procuradas: “A gente oferece o escalda-pés, que é lavar o pé da outra pessoa. Quem recebe se senta, coloca os pés na água quente com sais, com ervas, e recebe uma massagem com óleos, em que a gente faz uso de pontos de reflexologia, para levar ao relaxamento e amenizar as dores, sem contar o acolhimento. O Ambiente é favorável, com energia positiva e as pessoas estão focadas só nisso. Isso vai construindo uma atmosfera que auxilia, principalmente, nas questões emocionais das pessoas”.
Ele acrescentou que “tem a Sala do Reiki, mas a gente faz várias técnicas de energização através de imposição de mãos. O nosso jeito de aplicar o Reiki é pouco convencional porque, às vezes, a pessoa recebe o Reiki de uma pessoa ou de 05, 10 ou 20 pessoas ao mesmo tempo. É um momento mágico. Trabalhamos também com massoterapia, auriculoterapia, acupuntura etc.”.
A Clínica TAO está localizada à Rua Rubens Fukugawa Tamotu, 445 A, Jardim Acapulco. Telefones (14) 33671607 e (14) 997841608.
DEPOIMENTO: UM DIA DE PACIENTE
Para fazer essa reportagem, precisei sair da pele da jornalista e entrar na pele de uma paciente em busca de relaxamento e alívio para o estresse. Ao chegar, me surpreendi com o ambiente zen. Pacientemente, aguardei minha vez até chegar à Sala de Reiki. As luzes difusas e o cheiro de ervas, com o fundo instrumental em baixo volume, proporcionaram uma incrível sensação de relaxamento quando me deitei em uma das macas.
A terapeuta se aproximou, passou um spray em minhas mãos, cujo aroma herbal não consegui identificar, me orientando a friccionar as mãos e aspirar bem fundo. Ela passou o mesmo spray em suas mãos e pediu que eu mantivesse os olhos fechados e respirasse calmamente. De olhos fechados, não pude ver o que ela fez. Só sentia um arrepio, pequenos choques e formigamento em algumas partes do corpo. Depois, ela pressionou, com incrível suavidade, suas mãos em meu rosto, olhos, pescoço, braços, pernas e demorou-se nos meus pés. Era uma sensação muito agradável. Permaneci de olhos fechados e não sei quanto tempo se passou até que abri os olhos e vi que ela não estava mais lá. Levantei-me e fui para a sala dos escalda-pés.
Maria massageando meu pé |
Éramos três, com uma voluntária para cada um.
À minha frente, a enfermeira Melissa Lopes e um jovem que não consegui entrevistar porque foi embora antes de mim.
Maria, a massoterapeuta oriental, mergulhou meus pés em água bem quente. Antes, uma das voluntárias pediu que a gente permanecesse com os olhos fechados e imaginasse uma luz sobre nossa cabeça. Obedeci. Maria, sentada em um banquinho, pegou meu pé direito com muita delicadeza, enxugou-o, passou um óleo e iniciou a massagem ativando os pontos de reflexologia. Quase adormeci sentada.
Depois, repetiu com o pé esquerdo. Foram momentos de puro relaxamento, com a luz amarela no canto da sala, a música e os aromas indescritíveis completando a sensação de bem estar. No trajeto até minha residência, um sentimento de muita gratidão às duas terapeutas se apossou de mim. Ao chegar, depois de um banho quente, adormeci quase que imediatamente. Foram as melhores horas de sono que tive em muito tempo!
Reportagem publicada na edição de 26.05.2019 do Jornal da Manhã