Célia Ribeiro
As passadas largas, com os pés descalços desviando dos galhos, convidam ao passeio pela floresta onde o visitante se encanta com a variedade de espécies exóticas. A poucos quilômetros de Marília, no Distrito de Padre Nóbrega, o refúgio formado pelo produtor agroecológico José Antonio Nigro se funde a outro paraíso: o das nascentes e cachoeiras do entorno que ele sonha ver preservadas para as futuras gerações.
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Cachoeira no entorno de Marília: natureza ameaçada |
Conhecido pelas pimentas, ervas aromáticas, compotas, licores e uma infinidade de produtos que saem da propriedade diretamente para as feiras orgânicas, restaurantes e consumidores fieis, Nigro é um homem do mato. Mas, também, é um homem de forno e fogão. “Nasci cozinheiro”, costuma brincar ao explicar a paixão pela boa mesa.
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Todos os espaços são aproveitados para produção de mudas |
Por isso, zelar pela matéria prima de seus pratos passou pelo investimento na produção própria dos temperos, ervas aromáticas, frutas, legumes e verduras. Na chácara que divide com a mãe, dona Geni, a recepção é sempre calorosa. Não faltam um delicioso bolo de milho assado na hora e um cafezinho para perfumar o ambiente.
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Nigro e o pilão que fez para socar temperos |
Antes, porém, é preciso deixar a preguiça de lado e percorrer a propriedade enquanto ele explica, como um professor dedicado, o nome, a origem e a utilidade de cada planta. “Temos mais de 80 tipos de ervas e pimentas e 60 variedades de frutas como cajá-manga, cajá, umbu, açaí, tomate andino, cereja, caqui, seriguela, manga, abacate, maracujá etc”, revela enquanto colhe um fruto aqui e outro ali deliciando-se ao prova-los.
As galinhas espalhadas pela propriedade disputam o acesso aos canteiros bem cuidados que Nigro protege com telas: “Soltamos as galinhas e prendemos as plantas”, brinca. Os temperos são um caso à parte: uma infinidade de opções para dar sabor e aroma às preparações dos cozinheiros mais exigentes. “Orégano, sálvia, menta, manjericão, araruta, açafrão, hibisco, arnica e todo tipo de erva que se possa imaginar eu plantei aqui porque não uso tempero pronto ou conservantes. Minha cozinha é natural”, faz questão de frisar.
EXPERIÊNCIA
Definindo-se como homem do mato, Nigro mostrou sua flexibilidade ao trocar a terra firme pelo mar. Viveu a experiência de cozinhar em plataforma de petróleo durante o período de dois anos que viveu no Nordeste: “Trabalhava 14 dias embarcado e 14 dias em terra. Quando cheguei lá, joguei fora tudo o que era tempero pronto. Levei meus temperos, minhas ervas e o pessoal adorou. Quando fui embora eles sentiram muito e também senti porque foi uma experiência incrível”, revelou.
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Dezenas de espécies presentes neste pequeno paraíso |
Realizado por morar cercado de verde e lidar com a terra, o agroecologista confessa que “não aguentaria morar na cidade ou em apartamento. Se me tirar do mato, por três dias, acho que morrerei”. Atualmente, ele divide o tempo com o cuidado da horta e pomar, a produção de conservas e licores e a cozinha dos eventos em que é contratado para festas e reuniões”.
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A caminho do paraíso |
CACHOEIRAS E NASCENTES
Como seu dia começa bem cedo, Nigro tem tempo para explorar o entorno fazendo incursões na Área de Preservação Ambiental (APP) das imediações. E foi justamente nessas andanças que ele se deparou com as agressões ao meio-ambiente: muito lixo deixado por quem frequenta a cachoeira localizada nos fundos de um condomínio residencial.
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Água cristalina direto da fonte |
Sacos de lixo, latas e plástico e até restos de roupas são deixados pelo caminho: “Dá muita tristeza ver como a cidade avançou e as pessoas não têm consciência da importância da gente cuidar e preservar isso aqui. Como será para nossos filhos e netos?”, pergunta. Em sua opinião, deveria haver fiscalização para impedir que se comprometam as nascentes de água.
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Nigro recolhe um pedaço de madeira que se transformará em algum utensílio em casa |
“Sempre que posso, venho até a cachoeira tomar um banho. Isso me devolve a energia”, contou o produtor que também recolhe o lixo que encontra pelo caminho. Mesmo sendo um local cujo acesso não é tão fácil, muitas pessoas descobriram esse paraíso e para lá se dirigem esquecendo de recolher latas, vidros, plásticos e todo lixo produzido.
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Lixo deixado por visitantes |
Nigro revela o sonho de um dia ver o local preservado e disponibilizado para a comunidade de maneira organizada. “Marília tem muitas coisas bonitas, muitos locais que poderiam atrair turismo. Mas, de qualquer jeito, isso não vai funcionar porque podem destruir uma coisa linda que é a natureza”, concluiu. Para falar com o produtor, o contato é: (14) 99803-2327.
PREFEITURA EXPLICA AÇÕES PARA PROTEÇÃO AMBIENTAL
A Secretaria do Meio Ambiente e de Limpeza Pública, através da Divisão do Meio Ambiente, informou que está sendo realizado o cadastramento de todas as nascentes de Marília, incluindo os seis distritos e a Fazenda do Estado. Além disso, destacou o “trabalho de preservação, com cercamento das áreas e plantio de mata ciliar, no intuito de cuidar desse bem tão precioso e cada vez mais escasso, que é a água”.
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Prefeitura está plantando 30 mil mudas (Foto: Assessoria de Imprensa) |
Por se tratar de um trabalho de longa duração, realizado com vistorias bairro a bairro, os trabalhos ainda se encontram em fase de desenvolvimento: “Quando identificada a nascente, a mesma passa por um registro fotográfico, identificação de sua localização com as devidas coordenadas (UTM) e inicia-se o projeto para cercamento e plantio”.
A nível estadual, a Prefeitura de Marília participa do “Projeto Nascentes” onde está em busca de recursos para expansão da preservação de áreas verdes do município, aliando a conservação de recursos hídricos à proteção da biodiversidade”. Informações na internet:
http://www.ambiente.sp.gov.br/programanascentes/.
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Mudas preparadas |
Por fim, esclarece que “esta secretaria vem reflorestando e recuperando o córrego Caingangue, um importante afluente do rio Aguapeí. Com projeto para plantio de 30 mil árvores, esta recuperação de mata ciliar dá início aos trabalhos de identificação e preservação de todos os recursos hídricos do município, servindo como modelo para preservação das demais nascentes”
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A Prefeitura informou que “também são realizadas palestras educacionais aos alunos das EMEIs e EMEFs do município, através do Centro de Educação Ambiental, localizado no Bosque Municipal, no intuito de desenvolver a consciência ambiental desde cedo em nossos pequenos cidadãos”. Na próxima semana, de 19 a 23, o Bosque Municipal receberá as escolas devidamente agendadas, nos períodos da manhã e tarde em comemoração ao 22 de março, Dia Mundial da Água.
Os moradores que desejarem colaborar com a preservação das nascentes em seus bairros, deverão entrar em contato com a Prefeitura Municipal de Marília, através do telefone 3454-3400, e falar com Cassiano Rodrigues Leite, Chefe da Divisão do Meio Ambiente, informando a localização da nascente para a devida identificação e cadastramento e posterior preservação com cercamento e plantio de mata ciliar.
Fantástico... não só a matéria como também o "Guardião da Floresta"... meu irmão Eduardo já havia falado sobre ele mas não de forma tão contundente... parabéns... Quem sabe um dia cruze com ele...
ResponderExcluirOLá, Leme! Seja sempre bem-vindo ao blog. Tbém gostei muito de fazer essa matéria. Precisamos de mais pessoas com essa consciência. Abraço
ResponderExcluirOlá, sou o Cazão do www.agendamarilia.com
ResponderExcluirgostei da matéria, tenho interesse em divulgar as cachoeiras de Marília, porém, sei que preciso fazer uma ação de conscientização para que os turistas cuidem dos locais e também policiem as atitudes alheias.
Nossa cidade tem um enorme potencial turístico, no entanto pouco explorada. Como turismólogo, sei da necessidade da atividade turística, e de seu planejamento para diminuir os impactos ambientais dessa atividade.
Parabéns pela matéria.
Cazão, por favor, envie e-mail para: blogmartiliasustentavel@gmail.com com seus contatos. Me interessa muito fazer essa matéria. Abraço
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