Por Célia Ribeiro
Após um período chuvoso, o céu azul sem nuvens e o sol se derramando sobre o vale revelam um cenário digno de cartão postal. Para completar, a chegada de um grupo de seriemas com seu andar garboso avisa aos forasteiros: este lugar já tem dono. Esse “paraíso na Terra”, como definiu a artista plástica Márcia Zaros, é o embrião do futuro parque ecológico que os moradores do Jardim Acapulco II sonham ver implantado às margens do vale na Rua Benedito Nery de Barros.
Seriemas tomam conta do lugar |
Tudo começou em 2001, quando Sebastião Osni Mieto, 51 anos, mudou-se para a rua. O mato alto e a sensação de lugar abandonado o incomodavam. “Pensei em começar pela frente da minha casa, cuidando do terreno cheio de colonião, braquiária, napiê e muito mato que atraía as cobras, principalmente cascavel”, recordou, contando que sempre gostou do contato com a natureza.
No entanto, esse belo exemplo não chegou a sensibilizar os vizinhos: “Muitos moradores vinham perguntar o que eu estava fazendo, diziam que eu era louco por estar limpando a área e iniciando o plantio de espécies em extinção, como mogno, cedro-rosa, pau-brasil etc”, disse, lamentando o ceticismo de alguns moradores do bairro.
Pacus e tilápias: vida no lago próximo ao vale |
À exceção ficou por conta de um vizinho igualmente motivado que ele fez questão de destacar: José Basílio. Há alguns anos eles têm cuidado da ampla área, retirando o mato, molhando as mudas de árvores, recolhendo a sujeira etc. “O Basílio é um dos mais entusiasmados e, ao contrário de muita gente, sempre valorizou esse trabalho e fez questão de ajudar”, frisou Osni.
Além das árvores, um destaque são os dois pequenos lagos formados a partir de nascentes da APP (Área de Proteção Ambiental). Mais uma vez, Osni encarou o desafio e costuma dizer que grande parte do trabalho “fez no braço”, manualmente. Na época em que estavam trabalhando nas obras do esgoto naquela região da cidade, o morador sensibilizou um maquinista que estava parado nas proximidades e ele ajudou na escavação do terreno.
“No entanto, não podemos evoluir por causa de problemas com a contenção. Precisaríamos de uns dois caminhos de terra vermelha para a barragem”, destacou Osni. Mesmo assim, os lagos de 100 metros quadrados chegam a 1,30 metro de profundidade onde podem ser encontrados pacus de 07 quilos e tilápias de bom tamanho.
PARQUE ECOLÓGICO
“As pessoas querem ter um lugar bacana, mas acham que devem ganhar esse lugar. Elas não entendem que o tempo de cidadãos passivos, não representativos, já passou. Hoje, você precisa ser ativo, participativo, não espere que o governo venha fazer do jeito que a gente quer. Isso não vai acontecer porque não é prioridade. Existem outras prioridades para o governo que ele não está conseguindo cumprir”, afirmou a artista plástica e moradora Márcia Zaros.
Em março de 2012 e julho de 2011, o “Correio Mariliense” mostrou a atuação de Márcia Zaros, responsável pela horta comunitária da zona oeste, instalada ao lado do Poliesportivo Américo Capeloza, em duas reportagens.
Ao se mudar para a Rua Benedito Nery de Barros, há pouco mais de um ano, conheceu os vizinhos Osni e Basílio e também passou a sonhar com o parque ecológico em que trilhas em meio a árvores e o lago repleto de peixes serão usados para o lazer da população, não apenas dos moradores do entorno, além de contribuirem com a educação ambiental das crianças e adolescentes.
Márcia Zaros |
Para que este sonho saia do papel, além do auxílio da Prefeitura, com a limpeza periódica do mato e horas-máquina com tratores, eles precisam de dois caminhões de terra vermelha para a contenção dos lagos. Paralelamente, estão estudando a formalização de uma associação ambiental a ser criada com o fim exclusivo de cuidar do parque.
“Os membros da associação ambiental não precisam ser só moradores. Podem ser amigos dos moradores que queiram ajudar. O Osni, por exemplo, se mudou daqui e continua vindo quase todo dia”, afirmou a artista plástica enquanto atraía um grupo de aves com alimentação. “As pessoas acham a ideia legal, querem que faça, mas na hora de assumir responsabilidades poucos são os que têm essa coragem”, pontuou Márcia Zaros.
Ao lado, o amigo Osni concordou com a artista. O único ponto de discórdia, pelo jeito, será na hora de nomear o local: “Eu sugeri ‘Parque das Seriemas’. Mas, o Osni quer ‘Parque das Águas’ por causa do lago. Então, vamos ter que chega num acordo”, finalizou Márcia, arrancando gargalhadas do morador pioneiro.
* Reportagem publicada na edição de 07.07.2013 do Correio Mariliense
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