domingo, 11 de março de 2012

UM BANCO FEITO DE SOLIDARIEDADE SALVA MILHARES DE VIDAS INDEFESAS EM MARÍLIA E CIDADES DA REGIÃO.

Por Célia Ribeiro

Uma estrutura complexa, que exige um rigoroso controle de qualidade, funciona como um relógio suíço, independente de suas instalações, que nem sempre foram adequadas. O segredo do Banco de Leite Humano (BLH) de Marília está no comprometimento da equipe multidisciplinar liderada pela enfermeira Sandra Domingues. Unindo conhecimento técnico a uma sensibilidade invejável, na condição de mãe e avó, ela entende a importância da promoção do aleitamento materno exclusivo e da doação do leite humano para a sobrevivência de seres indefesos que chegam ao mundo pesando até inacreditáveis 500 gramas!
Rigoroso controle de qualidade
Na semana em que se comemora o “Dia Internacional da Mulher”, o Correio Mariliense deu um mergulho neste universo fantástico que envolve doação de corpo e alma. Ouvimos a coordenação do Banco de Leite Humano, vinculado à Secretaria Municipal da Saúde, e também jovens doadoras que alimentam seus filhos e ainda ajudam a salvar a vida de bebês internados nas UTIs Neonatais de Marília e região.

Gratidão: essa palavra está sempre presente nos lábios de Sandra Domingues. Ela recorda o início do Banco de Leite, quase 30 anos atrás, quando começou a funcionar próximo ao Yara Clube. Agradece a todo o momento, a dois ex-secretários municipais da Saúde --- Dr. Antônio Domingues e Dr. Ênio Sevilha Duarte --- pelo apoio ao BLH e, como não poderia deixar de ser, manifesta sua gratidão aos funcionários do banco que superam desafios, diariamente, para que a estrutura não páre.

Sandra Domingues: gratidão
A trajetória de Sandra Domingues merecia uma reportagem à parte. Afinal, ela começou sua atuação na saúde pública pelo Distrito de Dirceu. Sem saber, já praticava a “Saúde da Família”, ao visitar os moradores e dar um atendimento humanizado a todos que procuravam o postinho do lugar.
Entretanto, é como coordenadora do Banco de Leite Humano que aparece sua face mais vistosa. Instalado em um prédio amplo na Avenida Santo Antonio, antiga sede da Polícia Federal, o BLH coleta e processa cerca de 2.000 litros de leite humano por ano, segundo as mais rigorosas normas preconizadas pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

CONTROLE DE QUALIDADE
Antes de ser pasteurizado, o leite passa por diversas análises. Da mesma forma, a sorologia das doadoras é encaminhada para o Hemocentro de Marília para garantir qualidade total ao produto oferecido aos bebês em situação de risco. Além de Marília, onde o único veículo do BLH passa recolhendo as doações nas residências das doadoras cadastradas, são recebidas doações de cidades da região.

Alguns anos atrás, Sandra Domingues observou um grande número de bebês, internados nas UTIs de Marília, provenientes de municípios da região: “Nossa maior preocupação era qual alimento esse bebê receberá depois se essa mãe não é trabalhada? Nosso olhar tinha que ser mais longe porque matávamos a necessidade naquele momento, mas ao ter alta, tínhamos que pensar na saúde e na qualidade de vida desse bebê”.
Ivanilde mostra parte da doação
que faz em uma semana
Foi quando o BLH avançou para a região, sensibilizando os dirigentes de saúde para a causa. Hoje, há 12 postos de coleta em cidades como: Pacaembu, Lucélia, Adamantina, Pompéia, Quintana, Lupércio, Vera Cruz, Alvinlândia, Garça, Herculândia etc. As equipes foram treinadas para promoverem o aleitamento materno, apoiarem as mães, e também captarem doadoras, cujo leite é encaminhado para Marília. O BLH fornece toda a vidraria esterilizada.

ESTRUTURA
No Banco de Leite Humano de Marília funciona o Ambulatório Municipal de Aleitamento materno com médica pediatra, odontopediatra, entre outros profissionais. No BLH, há defasagem de pessoal e nem mesmo um auxiliar de escrita foi designado para digitar os dados enviados à Secretaria Municipal da Saúde. Além disso, o banco só funciona de segunda a sexta-feira, sendo que aos sábados tem plantão não remunerado. Ou seja, os funcionários se revezam e armazenam horas para posterior utilização, lamenta a coordenadora.

Em Marília, nascem entre 300 e 400 bebês por mês, assinala Sandra Domingues, citando que o ideal seria contar com 100 doadoras de leite. No entanto, atualmente, apenas 46 mães estão doando, semanalmente ao BLH. Ela destacou que além da promoção do aleitamento com atividades voltadas às mulheres, como palestras e eventos próprios, o Banco de Leite dá todo suporte às mães que têm dificuldade para amamentarem seus filhos.
O final do ano e o inverno são dois períodos críticos para a coleta de leite: primeiro porque coincide com viagens de férias e, no caso das baixas temperaturas, ocorre a vasoconstrição que dificulta a retirada do leite humano.  Sandra Domingues não se importa de pegar o próprio carro e dirigir até alguma cidade da região se lá houver leite em condições de atender alguma emergência em Marília. Não importa o dia nem a hora!

Feliz por ter amamentado a filha caçula por 4,5 anos, Sandra Domingues agora vê a filha mais velha amamentar sua neta. Visivelmente emocionada, ela justifica sua dedicação à causa: “Você precisa ter amor pelo que faz. Eu sei para quem eu faço. Você está vendo um ser humano de 500, 600 gramas que precisa de você, lutando para sobreviver”, disse sem controlar as lágrimas.

Lamentando não ter a estrutura e o apoio necessários ao BLH, a coordenadora não desanima, lembrando que o trabalho é essencial, independente da classe social. Nas UTIs Neonatais, há bebês prematuros de mães do SUS, portadoras de convênios e particulares. No entanto, nenhum convênio médico, que se beneficia desse leite que salva vidas, auxilia o BLH.
A doadora Ivanilde e a filha Bianca, que dorme tranquilamente.

Finalizando, Sandra Domingues disse que “às vezes, nós mulheres e mães nos preocupamos que nossos filhos não tenham fome. As mulheres produzem um alimento que foi uma dádiva de Deus e que elas podem alimentar seus filhos e matar a fome de um bebê que elas não conhecem, mas que precisa delas para salvar sua vida”. 
O Banco do Leite Humano de Marília fica na Avenida Santo Antônio, 136. O telefone é (14): 34138696.

JOVENS DOADORAS
Mãe de primeira viagem, a biomédica Natália Bernine Gallo, 26 anos, recorda que no começo tinha dificuldade em amamentar. Encontrou ajuda no Banco de Leite Humano e hoje, além de alimentar a pequena Giovana, de dois meses, coleta até 03 frascos de 500 ml de leite, por semana. “É muito importante doar. Já que tenho leite para alimentar minha filha, porque jogar fora o excedente se tem bebês precisando?”, observa.

Natália e a pequena Giovana
Mais experiente, a estudante de Administração, Ivanilde Neves Silva, de 37 anos, já é mãe de Matheus, 05 anos. Quando chegou Bianca, atualmente com três meses, ela não pensou duas vezes: “Eu tenho bastante leite e sei da dificuldade de muita gente”, disse. Ela se programa para retirar o leite, que congela até que a viatura do BLH passe para recolher, e ainda guarda para a filha tomar enquanto ela estuda à noite. Ivanilde conta com alegria que consegue doar entre 06 e 07 frascos de 500 ml de leite por semana!

* Reportagem publicada na edição de 11.03.2012 do Correio Mariliense

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