Numa época em que se enxergava em preto e branco e a cidade tinha pouco mais de 10 mil habitantes, visionários relacionaram entre as causas da mortalidade infantil a falta de saneamento básico. Quase 70 anos depois, apesar de todas as informações disponíveis, Marília ainda se prepara para tratar o esgoto que continua sendo lançado “in natura” nos córregos e rios, ao passo que os três sistemas implantados na década de 40 perderam-se no tempo.
Voo de parapente na pista do Jardim Lavínia: potencial turístico (Foto Ivan Evangelista) |
A observação é do ambientalista e filósofo Emílio Carlos Peres, técnico agrícola e fundador da ONG Origem, que possui farta documentação sobre a história do saneamento básico mariliense. Autodidata, ele começou a se interessar pelo assunto ainda menino e hoje, aos 56 anos de idade, revela o mesmo entusiasmo da juventude quando fala sobre o assunto.
Emílio, ambientalista e filósofo |
“Há 70 anos, já mostravam preocupação com a mortalidade infantil e doenças como a difteria”, observou Emílio Peres, lembrando que “cada casa tinha que abrir um poço e uma privada. Por isso, havia contaminação e doenças”. Conforme disse, “foram buscar na Alemanha o modelo de estação de tratamento de esgoto, segundo as normas da Organização Mundial da Saúde, para construir nas bacias do Pombo, do Palmital e do Barbosa”.
Projetadas para a população da época, conforme Marília crescia o sistema de três estações ficava insuficiente. Com o passar dos anos, comentou o ambientalista, os administradores preferiram investir em redes de água e na busca de novas fontes de abastecimento, como a construção das adutoras do Rio do Peixe, na década de 60, pelo prefeito Armando Biava.
A beleza do entorno de Marília, com seus itambés, deveria ser preservada. (Foto Ivan Evangelista) |
No fim dos anos 70, canalização do Córrego do Pombo (Foto Comissão de Registros Históricos) |
Emílio Peres criou os três filhos em contato com a natureza. Ele costumava acampar nas proximidades da cidade se reabastecendo da energia do verde e das águas límpidas de rios e córregos. Para ele, que já ocupou o cargo de coordenador ambiental na Prefeitura, muitos anos atrás, a cidade precisa acordar para promover a educação ambiental e preparar os marilienses do futuro segundo uma visão preservacionista.
Ação da ONG "SOS Rio do Peixe" plantando mudas de peroba rosa em Nóbrega (Foto Ivan Evangelista) |
Exemplo de preservação: roda d'água em nascente em área do Distrio de Nóbrega (Foto: Ivan Evangelista) |
"Pássaros pretos do brejo" que só se procriam em áreas preservadas, no flagrante de Ivan Evangelista |
Na opinião de Emílio Peres, o entorno de Marília, com os itambés e áreas verdes cortadas por córregos, tem potencial para gerar negócios como o turismo ecológico trazendo benefícios econômicos para a cidade e, consequentemente, para a população. Mas, faz um alerta: se a sociedade civil não se engajar e lutar para reverter esse processo de degradação, e os políticos não se comprometerem, pouca coisa restará para quem for contar a história de Marília do século 21.
Célia, essa sua arqueologia humana de Marília é fantástica! Bom domingo!
ResponderExcluirObrigada, Edna! É uma tremenda responsabilidade escrever para leitores diferenciados, como vc. beijos
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