A brisa leve, que desalinha os cabelos, acaricia o rosto marcado por uma existência de lutas. Enquanto isso, os passarinhos se posicionam solenemente nas árvores, de frente ao velho portão de madeira, aguardando, tal como os músicos de uma orquestra, o momento de iniciarem sua apresentação. A diferença é que a única convidada não usa traje de gala: vestindo roupas simples e confortáveis, ela coloca na vitrine seu melhor sorriso antes de saudá-los com um sonoro “bom dia”. E o espetáculo começa!
Escola a céu aberto |
Dona Aoraci e Rodrigo Más, vice-presidente da ONG |
Com uma organização invejável, incluindo balancetes, registros de atas, contabilidade irretocável e muita transparência, a ONG existe há cinco anos, sobrevivendo sem subvenções oficiais. Graças aos voluntários, à ajuda de algumas empresas e, principalmente, à determinação de uma mulher de fibra que ama a natureza, a entidade acolhe meninos e meninas, todos os sábados, oferecendo-lhes educação ambiental com o objetivo de formar cidadãos dispostos a frearem a degradação ambiental.
O PRINCÍPIO DE TUDO
Com seu jeito delicado de ser, dona Aoraci conta como tudo começou. Da infância passada no Mato Grosso, ela guarda com carinho as lembranças da vida no campo: “Fui criada na roça, trabalhando na lavoura. Amo a natureza e acho que a natureza tem tudo a ver com a minha vida. Da falta desse convívio e o desejo de fazer algo pela natureza é que surgiu a vontade de criar a ONG”.
Crianças atentas às orientações |
Muito religiosa, a presidente do “Instituto Salve o Planeta Terra” atuava nas pastorais da Igreja Católica quando teve um insight. Na Campanha da Fraternidade de 2.006, cujo tema era “Vida e Missão nesse chão”, ela percebeu que “as pessoas tinham muita dificuldade de falar sobre o meio-ambiente” quando estimuladas a discutirem as questões propostas pela igreja. Era o momento de mudar essa situação e investir na educação ambiental.
Tendo como braço direito o marido, falecido há dois anos, dona Aoraci começou pela vizinhança: “Fui pegando criança daqui e dali. Fiz a primeira reunião na horta do Cícero (a conhecida “Vinha do Senhor”) onde levei as crianças e a ONG foi nascendo. Acho que é coisa de Deus, mesmo”, recorda emotiva.
Atividades acontecem aos sábados de manhã |
“Quando eu chego aqui, parece que a alma da gente renova. Os passarinhos cantam muito, alegres. Se todos os seres humanos soubessem olhar para esse lado e ver a riqueza e a beleza que a natureza tem para nos oferecer, o mundo seria diferente”, filosofa.
Dona Aoraci registra as atividades |
Todo sábado, às 9hs, as crianças são esperadas com ansiedade pelos voluntários que oferecem o suculento café da manhã. Na sequência, agrupadas por faixa etária, elas partem para as atividades programadas e, antes de irem embora, ao meio-dia, participam do almoço coletivo em que se confraternizam saudando a “Mãe Natureza”.
Detalhe da água que brota na área |
Para arcar com os custos de manutenção, principalmente dos alimentos, dona Aoraci recebe o apoio da comunidade e de algumas empresas. O Walmart, por exemplo, permite que em alguns sábados a ONG distribua folhetos entre a clientela do hipermercado para arrecadar doações: “Às vezes, numa tarde, a gente consegue alimentos para dois ou três meses”, revela.
Mas, os itens frescos como pães, carnes, verduras e legumes, precisam ser comprados toda semana. A solução é tirar do bolso: “Uso parte da minha aposentadoria”, explica a simpática senhora. Ela faz questão de destacar que a ONG “nunca recebeu um centavo de dinheiro público”.
PLANTIO DE MUDAS
Neste sábado, a ONG promoveu mais um plantio de mudas. Já há 2.000 metros quadrados de verde e terreno recuperado, mas outros 10.000 metros quadrados ainda aguardam a vez. Com a ajuda dos ambientalistas da ONG Origem foram plantadas espécies nativas, acrescentando mais um toque de verde àquela vasta área.
Os pequenos aprendem o respeito à natureza |
A recuperação da vegetação não é o único benefício. A sementinha que dona Aoraci planta no coração das crianças também começa a brotar: “Percebemos muitas melhorias nas crianças, principalmente de comportamento. Tinha umas que falavam muito palavrão e a gente foi trabalhando isso”, conta, orgulhosa. Na verdade, o que ela espera é que quando crescerem elas possam praticar o que aprenderam e repassarem para as futuras gerações os ideais de amor e respeito à natureza. “Estou aqui de passagem. Espero que eles tenham consciência que o planeta precisa de nós”, finaliza.
PARA AJUDAR
Para conhecer a ONG e contribuir, acesse: www.salveoplanetaterra.org.br clicando em contato para enviar uma mensagem. Toda contribuição é bem-vinda.
* Reportagem publicada na edição de 05.01.2012 do Correio Mariliense
Parabéns Celinha!
ResponderExcluirNossa que delicia de texto bem no estilo de um jornalismo literário. Obrigado por nos brindar com assuntos que muitas vezes passam desapercebidos pela mídia.
Cido de Almeida
Que trabalho lindo,
ResponderExcluirParabéns! Bjs Celinha!
Que trabalho maravilhoso, td começa na infância.
ResponderExcluirParabéns