Por Célia Ribeiro
Até poucos meses atrás, a rotina da economista Patrícia Eras estava focada em números, planillhas de custos e toda a burocracia que envolve a área financeira. No entanto, apesar de ter passado por uma transição de carreira ao deixar o emprego de oito anos para se dedicar aos negócios da família, ela sentia que faltava alguma coisa. E foi durante esta busca que ela encontrou, na produção de terços personalizados, um sentido ao trabalho manual porque, mais que criar, ela utiliza os objetos para evangelizar nas redes sociais.
Patrícia Eras |
Ela recordou que a mãe, devota de Nossa Senhora, reza o terço diariamente e gosta de ter a família junto, no mínimo uma vez por semana: “Ela fazia questão. Não era uma obrigação, mas a gente tinha esse encontro, eu, ela, meu pai e meu irmão, os quatro de joelhos fazendo a oração do terço”.
Com o hábito de rezar o rosário, a mãe de Patrícia foi juntando terços que ganhava de presente de amigos e parentes que traziam de Israel ou de Aparecida do Norte, além daqueles que comprava. “Como ela é uma usuária assídua, gasta e às vezes quebra, arrebenta o terço. E como minha mãe é muito cuidadosa, sempre guardava as pecinhas que caíam”, observou. Foi aí que surgiu a ideia de aprender a restaurar os terços e começar a produzir suas próprias peças.
Opções de crucifixos |
“O fio acaba arrebentando, porque a madeira e a pedra em si não
estragam. Mas, os fios de metal ou de corda se deterioram. Então, quando eu vi,
falei que poderia aprender e conseguir resgatar. Eu sabia que se a gente fizer
uma reforma, uma restauração, trocar um fio ou repor uma pecinha que caiu, a
gente não perde o sacramento da benção que o padre faz naquele objeto”,
explicou.
Peça da coleção noivas |
Patrícia contou que durante a quaresma de São Miguel, “certa noite, quando eu acordava de madrugada para orar, ouvi o frei falando que a gente poderia fazer a oração do rosário fazendo alguma coisa; que a gente não precisava, necessariamente, ficar ajoelhado ou sentado só na oração. Disse que se tivesse algo para fazer e que não saísse do contexto da oração, a gente poderia fazer”.
Restauração de terços |
MISSÃO
“Sempre fui da área financeira. Trabalho com financeiro desde os meus 15 anos e fiz faculdade de economia com intenção de me formar e trabalhar com consultoria financeira. Eu pedia a Deus, nas minhas orações, que eu pudesse fazer algo para as pessoas, que eu também levasse o nome dele, mostrasse o amor dele, que pudesse ajudar as pessoas não só financeiramente. A consultoria financeira levaria uma prosperidade e conhecimento na área material e não espiritual”, revelou.
Quando decidiu empreender com os artigos religiosos, Patrícia encontrou o que lhe faltava: “Pensei em continuar trabalhando na área financeira, que eu amo fazer nesta empresa que eu e meu irmão herdamos dos meus pais. Mas, vou poder fazer um trabalho onde vou levar o amor de Deus para as pessoas através de um objeto que vou confeccionar”.
Encomendas prontas |
Chaveiro de jornalismo |
As redes sociais são o canal que ela utiliza para divulgar seu trabalho. No perfil @atelie.patriciaeras, além de fotos dos terços, de dezenas para carro e chaveiros, Patrícia posta informações, orações e músicas. Aliás, um diferencial de suas peças é que vai junto um pequeno cartão com os mistérios do terço para que seja levado na carteira ou deixado em local de fácil acesso no momento da oração.
E por falar em informação, uma curiosidade que ela postou nessa semana refere-se à destinação de artigos religiosos (terço, roupa, escapulário) que foram abençoados: “Não pode jogar fora porque tem um sacramento ali. No Catecismo explica que a gente tem que enterrar ou queimar como se fosse um corpo vivo. Se não puder, deve levar a uma paróquia que dará a destinação correta”.
Rafael, Patrícia e Guilherme Ravanelli |
Entre as técnicas utilizadas, Patrícia iniciou a produção de peças com fotos resinadas. É um trabalho minuscioso que exige muito cuidado para inserir a imagem pretendida. Patrícia resolveu aprender essa técnica quando encomendou, pela internet, um terço com a foto do marido e do filho: “O terço tem um singificado muito grande pra mim e para minha família. Eu quis um terço com a nossa imagem e fui em busca na internet de nós três juntos”, disse.
Terço em madeira para cliente do litoral |
Ela prosseguiu contando que encontrou “uma pessoa de outro estado, de difícil acesso e produto muito caro. Quando chegou pra mim, todas as vezes que eu pegava para rezar eu pensava que podia fazer e não precisaria ter um custo tão alto. Há dois anos, paguei 200 reais e vi que era possível fazer uma peça assim por muito menos. Hoje, as minhas peças personalizadas com fotos variam de 90 a 100 reais em média, dependendo do entremeio”.
Dezena para carro |
A artesã disse que não tem peças prontas porque todas são personalizadas de acordo com a escolha do cliente. No caso dos terços ou dezenas com fotos, são utilizadas também imagens de santos. Além disso, as peças são confeccionadas de acordo com o uso: “Tem terço para quem reza e terço para quem quer deixar em um local como enfeite” e, assim, varia o tipo de material que pode ser pedra, cristal de vidro ou pérola de vidro que não descasca ou quebra. Quem quiser, tem a opção mais simples de pérola acrílica ou de plástico, também.
Seis meses após iniciar a atividade como renda extra, Patrícia se sente realizada: ao encerrar a jornada de 08 horas na empresa da família, ela se recolhe ao ateliê montado em casa onde trabalha na confecção das peças: “Coloco muito amor em tudo o que eu faço. O tempo voa e fico muito emocionada de poder evangelizar e levar Deus para as pessoas. É como se fechasse o meu ciclo no dia”, finalizou.
Trabalho noturno: realização |